Quem afundou a Caixa?

A extrema-esquerda da “geringonça” não se cansa de dizer que toda a banca deve ser pública. E os partidos mais ao centro na Assembleia da República, sendo um pouco mais brandos no grau de socialismo, defendem, mesmo assim, presença  estatal neste sector de actividade.

CGD_afundaMas a situação financeira da Caixa Geral de Depósitos (CGD) começa a mostrar-nos os perigos de tal política. Tal como muitos outros bancos, a CGD foi obrigada a assumir imparidades referentes a créditos incobráveis. Conjugando os factos de i) se tratar do maior banco a operar em Portugal e ii) de estar mais vulnerável à gestão política do dinheiro depositado, podemos esperar que o volume dessas imparidades seja… gigantesca (entre 2011 e 2015 já atingiram 6,1 mil milhões de euros e, provavelmente, não ficará por este valor). Que o contribuinte pagará.

Ainda, como o André Abrantes Amaral ontem afirmou no EconómicoTV, a existência de um banco público com uma agenda política (se objectivo fosse apenas lucro, seria privado!) já desvirtua a concorrência ao competir no mercado por recursos limitados, sabendo que terá sempre a “costas cobertas” pelos impostos dos portugueses.

O jornal Correio da Manhã revelou-nos hoje a lista dos maiores devedores (“Crédito a Amigos Afunda Caixa”), entre eles o grupo espanhol Artland, que o Carlos Guimarães Pinto aqui muito bem nos elucidou sobre  a relação destes com a CGD. Fala-se agora da abertura de inquérito parlamentar para investigar os erros(!) de gestão no banco público. Contudo, se qualquer ser humano não está isento de erros (muito menos aqueles que escolhem uma carreira política), a mais importante conclusão ficará muito provavelmente fora do documento final: é o sistema de reserva fraccionária que permite aos bancos arriscarem o dinheiro dos depositantes sem o seu conhecimento. E prolongando-se o status quo, continuará no horizonte que quanto maior o erro dos gestores bancários, maior a factura para os contribuintes.

 

4 pensamentos sobre “Quem afundou a Caixa?

  1. jo

    Quem lhe vendeu que o objetivo de um banco privado é apenas o lucro?
    E o apoio Às restantes empresas dos acionistas? Esqueceu-se do que aconteceu ao BES?

  2. “é o sistema de reserva fraccionária que permite aos bancos arriscarem o dinheiro dos depositantes sem o seu conhecimento.”

    Sem o seu conhecimento? Ok, tenho quase a certeza que quando abri a minha conta no BPI ninguém me disse “olhe que vamos emprestar o seu dinheiro a outros clientes, que até podem não pagar”, mas sempre achei que estivesse implícito.

  3. Miguel Madeira,

    O sistema de reserva fraccionaria, não tem nada a ver com dar ou não autorização ao seu banco na utilização do seu dinheiro. É simplesmente o requisito percentual, sobre o total de depósitos, de reservas bancárias obrigatórias. Ou seja, uma fracção, muito pequena, dos depósitos tem de se manter em activos de fácil liquidação, reservando o banco uma fracção, que ou fica no banco central ou no próprio banco, o resto o banco pode emprestar sem lhe dar cavaco nem lhe pedir autorização. É por isso que se diz que o sistema bancária é apoiado somente na confiança dos depositantes e na assunção dos bancos que os depositantes não irão levantar o dinheiro todos ao mesmo tempo.

    O que seria interessante seria recriar uma peça legislativa mais ou menos nos moldes do Glass–Steagall Act, separando a banca comercial da banca de investimento. Adaptada aos dias de hoje e à banca de hoje seria uma solução que poderia resolver maior parte dos problemas da banca. Infelizmente as últimas pessoas que querem tal lei são os próprios banqueiros por ser uma limitação enorme à sua actividade.

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