Obama 2016

Sobre Obama escrevi três artigos antes deste ser presidente dos EUA. O primeiro, em Janeiro de 2007, no dia a seguir a ter anunciado o lançamento do seu exploratory committee para apreciar as suas possibilidades de chegar à Casa Branca. Nesses três parágrafos está descrito o caminho que Obama iria percorrer até à presidência, quais os candidatos democratas que iria derrotar (desde Edwards, Vilsack e Hillary Clinton), até à vitória final sobre John McCain, que afastaria sem dificuldades Giuliani, Romney e Huckabee. Estávamos em Janeiro de 2007, praticamente dois anos antes da eleição, em Novembro de 2008, mas os indícios estavam à vista de todos.

O segundo, já em Dezembro desse ano de 2007, mesmo em cima do início das primárias e com o caucus no Iowa à porta, era uma referência ao que muitos americanos viam em Obama. Pegando num belíssimo texto de Andrew Sullivan para a Atlantic e intitulado ‘His Face’, referia que Obama personificava um virar de página da América. Com Obama as guerras culturais dos anos 60, da geração baby boom, tão bem retratadas na Pastoral Americana de Philip Roth, ficavam para trás. As divisões raciais, entre crentes e ateus, conservadores e progressistas, entre os que combateram nas guerras e os que delas fugiram. Obama era um salto por cima da violência associada a isto tudo. Era um ponto final no século XX americano e o início de uma nova era; de um período de pacificação, concórdia, estabilidade e felicidade.

Como referi nessa altura, não acredito em milagres e não acreditei em Obama. É aí que entra o terceiro artigo, já em Outubro de 2008, no blogue da Revista Atlântico, depois do Lehman Brothers, quando a vitória era tida como certa por todos. Obama excitou tantos que agora, que o seu mandato está no fim, se reduzem ao silêncio. Há quem diga que não teve culpa pelo excesso de confiança que nele depositaram. É verdade. Mas usou esse excesso, explorou-o, incentivou-o apelando a uma esperança oca, sem conteúdo, sem programa, sem rumo. O resultado foi uma presidência normal, que o tempo, extintas as paixões que já estão mornas, permitirá concluir o que verdadeiramente foi.

Entretanto, a escolha de quem o sucederá já vai adiantada e é um espelho do que foi o seu mandato: é que se Hillary Clinton é o passado com que Obama não conseguiu romper, Trump e Sanders, são o futuro que o presidente-messias não conseguiu evitar, e de certa forma ajudou a criar. Resta-nos fechar os olhos e aguardar que God Bless America (embora nesses tempos o cinema desse parte da resposta como se vê no minuto 4.09).

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