Depois de escrever, esta semana, para o i – o que publico em baixo – deparei-me com este outro texto de um eurocrata influente, Fraser Cameron, que começa assim: “Referenda are becoming a huge problem for the EU…” e acaba assim “Perhaps it is time for an EU ban on referenda!“. Portanto, os referendos, a democracia directa, são uma maçada; (mais) uma pedra no sapo nessa grande empreitada que é a construção da União Europeia.
Aqui fica o meu texto:
“A semana passada, entre panamás e eternas promessas de bofetadas, passou despercebido um novo atentado à União Europeia e aos seus valores tradicionais: o povo de um Estado-membro participou efetivamente na construção desta pesada e burocrática estrutura.
Imagine o leitor que, na Holanda, há um diploma que permite a realização de referendos sobre legislação da União Europeia (UE) relacionada com o país. A possibilidade de o povo participar: tal coisa nunca se viu, nem se verá, por estas latitudes onde nunca se realizou um referendo sobre legislação ou tratados da UE.
Leio no “Telegraph” que, na passada quarta-feira, 61% dos votantes rejeitaram um acordo comercial celebrado entre a União e a Ucrânia. Apesar da sua natureza meramente consultiva – o acordo com a Ucrânia entrou em vigor no dia 1 de janeiro –, o resultado levou o governo holandês a reconsiderar a ratificação do Tratado e, imediatamente, o presidente da Comissão Europeia declarou-se “triste”. Compreendo: o povo holandês falou e não está de acordo com a parceria.
O que seria da UE se, ao menos num único Estado-membro, o povo pudesse determinar e influenciar o seu destino? O que para uns é dar voz à vontade do povo, para outros é um empecilho à concretização da utopia de uma Europa unida, nem que seja por arames.”
a utopia de uma Europa unida
No caso vertente não se trata dessa utopia, trata-se tão-somente de um acordo comercial.
Há muitíssimos países que, permanecendo perfeitamente separados, têm acordos comerciais entre si. É o caso da Ucrânia com a União Europeia.
Os senhores socialistas sabem o que nós gostaremos de gostar, mesmo que o odiemos até à exaustão.
Povo a votar contra os socialistas? Deixa o povo de votar, que é limpinho.
A postura desse ‘eurocrata influente’ é apenas expressão do conhecido e elitista/eurocrata ‘Método Monnet’, salientado por Wolfgang Wessels (Professor titular da Cátedra Jean Monnet da Universidade de Colónia) em “Jean Monnet – Person and Method”:
> “The consensual elite decisions are not citizen-oriented. National parliaments and citizens are left out. Referendums do not belong to the Monnet method.”, Professor titular da Cátedra Jean Monnet da Universidade de Colónia, Wolfgang Wessels, “Jean Monnet – Person and Method”
[http://www.horizons-et-debats.ch/index.php?id=3035] [http://aei.pitt.edu/280/1/pw_74.pdf] Ver tb [http://kenadams.name/content/monnet-method]
Que está de acordo com o que lhe é atribuído:
> «As nações da Europa devem ser conduzidas na direcção de um super-Estado sem que as pessoas percebam o que se está a passar. Isto pode ser conseguido através de sucessivos passos que, sob a capa de um propósito económico irreversível, deverão originar uma federação», Jean Monnet (“Pai Fundador” da União Europeia, numa carta para um amigo – 30 de Abril de 1952).