O governo pode fazer todas as tropelias com o conceito de carga fiscal, umas vezes computando-a de uma maneira, outras de outra, consoante a inspiração de momento, sempre criativa na tortura dos números até eles confessarem o que o governo quer. E lá isso o governo fez: fez todas as tropelias que se podiam imaginar, forçando a UTAO a vir a público fazer uma longa e pedagógica explicação sobre as quatro aceções em que se pode falar de carga fiscal. Deixemos a carga fiscal, que jaz temporariamente inútil para o propósito de esclarecer o que quer que seja, depois das trafulhices em que o governo a atolou. Sabemos agora que, com Centeno, de uma forma ou de outra ela vai baixar, dê lá por onde der, suceda no matter what.
Agora o que Centeno ou quem quer que seja não pode dizer é que em 2016 os portugueses vão pagar menos impostos e menos contribuições, porque não vão pagar menos impostos e não vão pagar menos contribuições. Já ontem publiquei aí em baixo uma tabela de variações absolutas em sede de imposto, mas não alinhei uns quantos comentários que porão a ênfase onde se impõe pôr a ênfase.
De acordo com o Orçamento do Estado a coisa vai ser assim:
Os portugueses, e não os chineses, ou os marcianos, as famílias portuguesas e as empresas portuguesas, e não as famílias búlgaras e as empresas búlgaras, ou as famílias venusianas e as empresas venusianas, vão pagar A MAIS, em termos líquidos, do que pagaram em 2015 só em imposto sobre os produtos petrolíferos 1.196,6 milhões de euros, vá, arredondemos: 1.200 milhões de euros. E sim, as famílias portuguesas vão pagar menos IRS, em termos líquidos, no montante de: 300 milhões de euros. E sim, as empresas portuguesas vão pagar menos, em termos líquidos, 54 milhões de euros em IRC. E é tudo. TU-DO.
Vá que um tipo (eu) é lixado e não vai na cantiga do ladrão nas habilidades do ministro das Finanças, naquela marosca do damos 2 às famílias e tiramos 1, e resolve sintetizar a sua objeção de forma ainda mais gráfica, cobrindo agora toda a receita fiscal e contributiva do Estado. Zás:
E não é que comparativamente a 2015 os portugueses (e não etc.) vão pagar na rubrica dos impostos sobre a produção e importação mais 1.700 milhões de euros, e vão pagar, os portugueses (não, não são marcianos) em contribuições sociais mais 600 milhões de euros, e vão pagar menos 400 milhões de euros em impostos sobre o rendimento e património, e não há mais nada para a troca do lado da receita do Estado (quer dizer, da despesa fiscal dos portugueses)? O quê? Vão pagar um acréscimo líquido de 2.000 milhões de euros, entre o que pagam a mais e pagam a menos, face a 2015 ?
– Ora, nem mais, nem menos.
Ah! Ma não, o governo vai gastar 450 milhões com mais salários na função pública, e mais 20 milhões a aumentar os salários mínimos da sua responsabilidade, e mais 135 milhões a aumentar o rendimento social de inserção, e mais 60 milhões a atualizar as pensões mais baixas, e mais 17 milhões a repor os complementos de reforma dos sujeitos dos transportes públicos, e pronto, não há mais nada! Vá, arredondando aquilo que o governo vai gastar a mais aumentando o rendimento das pessoas, chega-se aos 700 milhões de euros.
Em todo aquele relambório, só há um erro: não é o governo que vai gastar a mais 700 milhões de euros, é você que vai pagar a mais 2.000 milhões em impostos, para cobrir, entre outras despesas a mais, aqueles 700 milhões, dos quais dois terços são para os mandarins da administração pública, isto é, para a freguesia eleitoral do PS e sua vizinhança.
– Ah! Ma não! Ma não! Não pode ser! Desses 2.000 milhões uma parte pelo menos é do crescimento económico, de haver mais gente empregada e a receber melhores salários do que no ano passado, etc. E argh!!! Nos impostos indiretos as pessoas têm escolha e por aí adiante.
– Olhe, meu caro, será do que quiser, virá donde entender, mas, para nos encurtarmos de razões, diremos que vem do bolso dos portugueses. E não, como vocelência bem sabe, ao IVA e ISP, e por aí adiante, é que não me posso furtar, nem por nada deste mundo. Essa é mesmo uma das razões da sua preferência por carregar nos impostos indiretos: não tenho como evitá-los. Deixe lá cair essa blague de mau gosto sobre a escolha. A outra razão, sejamos claros, é que com os indiretos, como o nome indica, vocelência vai-me ao bolso e eu não estou bem a ver a conta. Um truque. É feiote, mas é assim.
– O quê? Transformou-me o «damos 2 por cada 1 que tiramos» em «sacamos 2 por cada 0,7 que damos»?!
– Mas há algum erro de contagem?
Estou mais descansado quanto à possibilidade de atingirmos as metas de Bruxelas! Espero que os cortes na despesa venham a seguir. Mas cuidado, esses cortes podem gerar nova despesa, o que interessa é o saldo.
“Espero que os cortes na despesa venham a seguir” – está a ser irónico ou também acredita no pai natal?!?!
Adivinhe lá qual das partes representadas na primeira figura é que a SICN esteve a apresentar ao povo agora mesmo 🙂
Era uma vez um borra botas que atraiçoou um camarada de partido para o despejar e lhe ocupar o lugar á custa do poucochinho pelas contas deste lambão. Só lhe restava fazer melhor ganhando ainda que por poucochinho mas perdeu á vara larga. Perante o fim á vista da própria vida politica, tal guloso rastejando manhosamente na própria sombra lá contratou jagunços que o despejaram no pedestal onde se rebola roto e sujo. Como diz o ditado, não se refastelará por muito tempo naquela assentadeira porque não é seu o cu que lá esfrega
Poucha,sempre quais aqui venho deparo-me com estes pafistas bafientas a cheirar a salazar..
Mas, repetindo-me, eleições para legislativas, cá no reino luso, só daqui a 4 anos, pomto.
Que bem exposto, Jorge, não restam quaisquer dúvidas que a carga fiscal aumenta e muito!…
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A desonestidade irá agora repetir-ser em relação ao défice, com Centeno a dizer que é inferior ao realmente observado, pois as contas finais só saem mais tarde e assim pode ir tentando enganar os portugueses. Teixeira Santos acusava MFL de estar a inventar quando esta desconfiou das contas do défice, e afinal o défice atingiu mesmo os 10%. Vai ser uma repetição do mesmo, sem tirar nem pôr.
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Socialistas = trafulhas desonestos sem princípios
Como diz muitas vezes o Medina Carreira, no tempo dele era muito mais fácil ser Ministro das Finanças do que agora: “dávamos 10% de aumento nos salários, os sindicatos ficavam todos contentes, desvalorizávamos a moeda, a inflação era de 20 ou 25%, as pessoas perdiam poder de compra, empobreciam mas nem se apercebiam e seguiam contentes e felizes com os escudos que recebiam a mais no final do mês”. A táctica actual da geringonça é exactamente a mesma: pagar mais ás pessoas para elas ficarem contentes e não se aperceberem que vão gastar mais no final do mês e ficar igual ou pior que antes. Só me custa a aceitar é que depois de tantos anos e tanta mais informação as pessoas continuem a não ver a mentira. Infelizmente, começo a achar que esta batota do governo vai resultar. Para mal de todos nós.
“deparo-me com estes pafistas bafientas a cheirar a salazar..”
sim porque o liberalismo económico tem tudo a ver com fascismo :p senhor anticapitalista porque é que não admite simplesmente que o fascismo tem políticas ecónomicas mais próximas da esquerda do que da direita e limpa a sua casa em vez de deitar as culpas para os outros?
Gostava de ver esta noticia actualizada com os dados em finais de 2017. Obrigado, e se possível a comparação dos n úmeros com esta.