Sr. Rui Moreira, boicote à TAP?

Caro Rui Moreira, não conheço o seu currículo profissional mas posso já dizer que tem mais jeito para gestor político que gestor privado. Como presidente da Câmara Municipal do Porto para si é fácil exigir que todos os contribuintes portugueses paguem as viagens de avião de e para o Porto.

Entendo a sua posição. Sendo socialista (de esquerda ou de direita) a grande maioria da população, estou seguro que o senhor não foi eleito para zelar pela liberdade de escolha dos portuenses. É que, apesar do crescimento da carga fiscal, as exigências de mais despesa estatal continuam a sobrepor quaisquer outros queixumes do eleitorado. E o senhor faz-lhes a vontade.

Boicote à TAP? O senhor por acaso tem noção que a região Norte do país (e estrangeiros) já boicota há muito tempo a TAP? É que desde a chegada das low-cost ao aeroporto Francisco Sá Carneiro a escolha tem sido crescentemente para essas companhias aéreas. Aliás, para benefício dos portuenses (habitantes e comerciantes), consequência do crescimento do turismo ao qual o senhor tentou puxar para si os méritos da iniciativa privada.

Ryanair

E se a TAP mantivesse as rotas que o senhor deseja?

Sim, a TAP passou a ser 50% pública mas foram decisões semelhantes que, no passado, colocaram esta companhia em situação de falência técnica. Mas mesmo que fosse possível ao Estado português injectar dinheiro para financiar tais rotas, há que considerar se essa seria (ou não) a melhor alocação de recursos. O senhor Rui Moreira não consegue imaginar outras aplicações para esse dinheiro? Eu como liberal defendo sempre a redução de impostos mas se o senhor – socialista que é – não equaciona diferentes clientelas para agradar, talvez tenha de pôr em causa também o seu jeito como gestor público…

Nota final: se puser de lado o seu egocentrismo e tiver alguma humildade para reconhecer que nunca paramos de aprender (eu assim penso), recomendo-lhe a leitura do esclarecedor post “Criar hubs por decreto”, do blasfemo LR.

26 pensamentos sobre “Sr. Rui Moreira, boicote à TAP?

  1. Pedro Alves

    “consequência do crescimento do turismo ao qual o senhor tentou puxar para si os méritos da iniciativa privada.”
    Umas aulas de Português davam jeito…

  2. André

    A questão aqui é se a TAP ficou publica mais uma (com dinheiro de todos) para supostamente manter rotas “estratégicas” (outra palavra para financeiramente não viáveis, porque outro motivo um investidor privado nao iria as manter), que rotas são essas e porque é que as rotas que ligam o porto não são mantidas. Como nortenho vejo que somos todos a pagar mas o centro mais uma vez recebe tudo, ou seja admitisse que uma companhia não seja viável, mas que n seja viável apenas em Lisboa, no porto tem que o ser. E isso ta francamente mal.

  3. André, a avaliação sobre a viabilidade financeira da TAP cabe aos accionistas. Até podem ter a estratégia errada mas é o dinheiro deles que está em jogo, não o teu ou o meu.

  4. Pedro Alves

    BZ, mas como o accionista estado tem 50% do capital e o estado é financiado pelos nossos impostos, É o nosso dinheiro que está em jogo sim.

  5. André

    BZ
    Nos accionistas inclui o estado Portugues certo? Eu como contribuinte tenho algo a dizer sobre todos os activos do estado. Ou estado é so de alguns?

  6. André e Pedro Alves, o Estado tem 50% de uma TAP falida. A injecção de capital privado dá-lhe, por isso, direitos económicos de cerca 18%. Claro que tal significa que a estratégia da TAP deve seguir critérios económico-financeiros e não políticos.

  7. maria

    Este Rui Moreira nunca me enganou com aquelas idas á TV dar uns bitaites. É claramente um vaidoso convencido.Ficar-lhe-ia bem um pouco de humildade.Porque carga d’água os 10 milhões de portugueses que não viajam hão-de pagar os prejuízos dos desejos deste senhor e doutros senhores e das esganiçadas?

  8. Simon Templar

    A “chegada das low-cost” foi mérito de Rui Rio, não Rui Moreira! Ele que se lembre disso, se conseguir…

  9. Luis

    O caso da TAP é muito mal contado e se houvesse verdadeiro jornalismo de investigação o novelo seria desenrolado.

    É que a TAP envolve também o GES, o BES, o PS, o BPN, etc. O desvio para Lisboa, a forma como se privatizou a ANA, tudo isso em um objectivo, forçar a construção de um novo aeroporto na Margem Sul e de uma nova ponte no rio Tejo. É isso que querem as grandes construtoras, é isso que querem o PS, o BE e o PCP.

    Quem tem coragem de desvelar as verdades inconvenientes da teia de interesses da Esquerda em torno da TAP?

  10. Tiago

    O BZ crê que a TAP é gerida segundo critérios de um mercado livre… Tem piada. Principalmente vindo de um “liberal”. Também deve achar que os Bancos operam num mercado livre e coisas desse género.

    Se a TAP operasse como uma empresa privada num mercado livre, não acredito que durasse muito tempo… Mas tem sempre a almofada dos políticos e terá num futuro próximo. Nesse sentido, os argumentos do Rui Moreira têm que ser julgados numa base política e não em falsas crenças que simplesmente vender uma empresa a privados implica uma liberalização do mercado. Quando o que acontece é apenas passar um monopólio estatal para as mãos de uns privados duvidosos, com a protecção do Estado no caso das coisas correrem mal…

    Liberais de meia tigela…

  11. tina

    Rui Moreira é um palhaço. Ora vejam como ele falava há uma ano atrás:

    “Como portuense não estou muito preocupado, a TAP há muito que abandonou o Aeroporto Francisco Sá Carneiro, que hoje não é tão importante como foi. (…) A TAP não é estrutural para o Aeroporto Francisco Sá Carneiro nem para a região, nem a região parece ser estrutural para a TAP, não dramatizo essa situação, é um problema do Governo, não é um problema nosso»

    http://impertinencias.blogspot.pt/2016/02/acredite-se-quiser-metamorfose-de-um.html

  12. Fernando S

    Tiago,

    Não sei se existem mercados completamente livres.
    Prefiro falar em mercados mais ou menos livres.
    O mercado dos transportes aéreos de longa distância já assentou em monopólios estatais em diversos paises.
    Em Portugal foi monopólio da TAP, empresa então 100% do Estado.
    Mas este mercado tem vindo a ser progressivamente liberalizado, internacionalmente e em Portugal, e já é bastante livre. Há diversos operadores em concorrência e outros podem entrar. No seio da UE as ajudas do Estado estão fortemente limitadas e regulamentadas.
    Até por esta razão ainda faz menos sentido ter uma empresa de transportes com participação do Estado.
    Mas tendo ou não participação do Estado, mesmo que fosse de 100%, o que é certo é que a TAP ou qualquer outro operador não pode ser viável e rentável se não for gerida como qualquer empresa privada num mercado relativamente concorrencial.
    Pelo que se sabe, com a actual composição do capital e com o pacto social acordado entre o actual governo e o principal accionista privado da TAP, o Estado português não tem poderes para impor critérios de gestão à sua administração (o actual governo fez uma operação de nacionalização forçada de parte do capital apenas para tentar salvar a face mas é no minimo um péssimo negócio : gasta dinheiros publicos para … nada !…).
    Claro que não se pode excluir que, contra o que o bom senso ditaria, o governo português interfira politicamente no mercado e numa empresa como a TAP.
    Como pretende o Presidente da CM do Porto.
    Se for o caso, então, efectivamente, o mercado torna-se menos livre e a TAP volta a ser uma empresa essencialmente estatal.
    Liberais que não sejam “de meia tijela” só podem ser contra este tipo de situação.

  13. Tiago

    O Fernando S, não percebe o ponto.

    A questão aqui é entre diferentes interferências políticas e não entre interferência vs não interferência, como sugere o BZ, na sua santa inocência. Porque, pura e simplesmente, a ideia de uma empresa privada sem interferência do Estado neste momento é uma não verdade.

  14. Tiago

    Ou seja, por outras palavras é uma “ilusão” que deixa, volto a repetir-me, liberais de meia tigela todos contentes, como os que pulam aqui pelo insurgente.

  15. André

    Então esperem la. Estão para aqui a dizer que a TAP é privada, quando o estado fica com 50 % , nomeá metade do concelho administrativo mais o CEO. Em que o governo justifica voltar a dar mais n sei quantos milhões para comprar x % da TAP, supostamente para salvar as tais rotas estratégicas. E mais uma coisa, a TAP foi privatizada pelo o governo anterior, e mesmo assim tinha manter o supostamente HUB em Lisboa como parte do contrato ??? Mesmo que n seja lucrativo o tal HUB em lisboa. Mas quando se fala em manter rotas do Porto supostamente tem que ser lucrativo.

    O meu ponto de vista é este, a TAP não é privada nem um bocadinho, nem é gerida de maneira privada, se não ainda n tinha 5 sindicatos. Se é para esbanjar o dinheiro de toda a gente, que n centralizem esse dinheiro como tem feito, seria pedir o mínimo de justiça no meio desta injustiça toda.

  16. Fernando S

    Tiago : “a ideia de uma empresa privada [como a TAP] sem interferência do Estado neste momento é uma não verdade.”

    Uma vez que pelos vistos não “concorda com o que o Rui Moreira afirmou”, qual é “neste momento” a “interferência do Estado” na TAP a que se refere ?

  17. Fernando S

    André : “a TAP não é privada nem um bocadinho, nem é gerida de maneira privada, se não ainda n tinha 5 sindicatos.”

    A TAP já foi menos privada, já foi completamente estatal.
    Também já foi mais privada, depois da maioria do capital ter sido vendida aos privados e antes da renacionalização parcial pelo governo actual.
    Mas mesmo com os 50% do Estado no capital social, a situação financeira da empresa, dependente dos privados, e o acordo de accionistas, dá aos privados a gestão efectiva.
    Ou seja, sem interferrências abusivas do Estado, a TAP é actualmente bem mais privada do que estatal.
    A situação actual é a ideal ?
    Não, de maneira nenhuma.
    A situação ideal seria a TAP ser 100% privada. Nem 66% nem 50%, 100%.

    .
    André : “a TAP foi privatizada pelo o governo anterior, e mesmo assim tinha manter o supostamente HUB em Lisboa como parte do contrato ??? Mesmo que n seja lucrativo o tal HUB em lisboa. Mas quando se fala em manter rotas do Porto supostamente tem que ser lucrativo.”

    Também aqui, teria sido preferivel não ter existido nenhuma cláusula deste tipo na privatização da TAP : total liberdade de decisão para os acionistas privados.
    Dito isto, a manutenção do Hub em Lisboa, que tinha essencialmente que ver com a eventualidade do centro da companhia poder ser deslocado para fora de Portugal, e não com qualquer outra alternativa em Portugal, é relativamente fácil de aceitar por qualquer investidor privado porque o que mais interessa na TAP é precisamente o facto de ser uma companhia de bandeira portuguesa históricamente centrada em Lisboa.
    Ou seja, na perspectiva do investidor privado, a viabilidade e rentabilidade da TAP não passaria nunca pelo fim do Hub em Lisboa.
    Quanto ao Porto, pelos vistos, ou pelo menos do ponto de vista do investidor privado, não é a mesma coisa.
    Deixemos os privados livres de decidirem.
    Sejamos liberais antes e em vez de sermos regionalistas !!

  18. Tiago

    Fernando S neste momento (nove e treze da noite) não deve haver grande coisa. Mas se quiser podemos fazer uma aposta como num futuro relativamente próximo tal coisa não vai continuar.

    (O Rui Moreira simplesmente antecipou-se ao jogo político.)

  19. André

    ” é relativamente fácil de aceitar por qualquer investidor privado porque o que mais interessa na TAP é precisamente o facto de ser uma companhia de bandeira portuguesa históricamente centrada em Lisboa.” Ja tentou comprar a TAP para saber se é facil ou nao aceitar, talvez podemos ver pelo o numero de investidores que tentaram comprar. … Mais uma vez a TAP tem que ser rentavel no porto, mas n renteval em Lisboa.

    E quanto a achega do “Sejamos liberais antes e em vez de sermos regionalistas !!” deixo-lhe um artigo aqui para completar o seu curso 101 de liberalismo. Pelos visto a descentralização de poder faz parte do core do liberalismo, quem diria.

    http://www.libertarianism.org/publications/essays/rise-fall-renaissance-classical-liberalism

    “The first people to revolt against this system were the Dutch. After a struggle that lasted for decades, they won their independence from Spain and proceeded to set up a unique polity. The United Provinces, as the radically decentralized state was called, had no king and little power at the federal level. Making money was the passion of these busy manufacturers and traders: they had no time for hunting heretics or suppressing new ideas. Thus, de facto religious toleration and a wide-ranging freedom of the press came to prevail. Devoted to industry and trade, the Dutch established a legal system based solidly on the rule of law and the sanctity of property and contract. Taxes were low, and everyone worked. The Dutch “economic miracle” was the wonder of the age. Thoughtful observers throughout Europe noted the Dutch success with great interest.”

  20. Fernando S

    Tiago,

    Concordo que com o governo actual existe um perigo real de interferência na TAP.
    (Não arrisco em apostar o contrario !… 😉 )
    O que importa combater.
    Inclusivamente, criticando e recusando exigências ou antecipações de “jogos politicos” como as de Rui Moreira.

  21. Fernando S

    André : “Ja tentou comprar a TAP para saber se é facil ou nao aceitar, talvez podemos ver pelo o numero de investidores que tentaram comprar. …”

    Nem eu nem o André (imagino !.. 🙂 ) tentámos … O que não nos impede de termos uma ideia !
    Repare-se que eu disse “relativamente fácil”. Claro que uma privatização sem qualquer tipo de condição e restrição imposta pelo Estado tende a atrair mais interessados e a ser mais valorizada. Mas não foi assim e agora é preciso raciocinar relativamente à situação existente.

    .
    André : “Mais uma vez a TAP tem que ser rentavel no porto, mas n renteval em Lisboa.”

    Mas quem é que disse que a TAP não é ou não vai ser rentável em Lisboa ?…
    Se não for rentável em Lisboa dificilmente será rentável no conjunto das suas actividades.
    Mas claro que deve ser rentável em todas ou quase todas as suas rotas. Incluindo as que teem o Porto como destino.

    .
    André : “Pelos visto a descentralização de poder faz parte do core do liberalismo”

    São planos diferentes …
    Muito mais importante no liberalismo é a livre concorrência (neste caso, económica).
    O que, diga-se de passagem, pode inclusivamente passar por processos “centralizadores” ou “unificadores”.
    Por exemplo, o desenvolvimento do capitalismo fez-se muito através da extinção de fronteiras e barreiras de tipo feudal, por sinal favoráveis a fortes autonomias locais e regionais, tipicas da Idade Média.
    O mercado livre é essencialmente um mercado alargado e unificado.
    A descentralização do poder tem antes a ver com a organização do Estado. É sobretudo administrativa.
    Não se confunde com qualquer tipo de interferências do Estado nas actividades dos agentes económicos privados, incluindo as empresas.

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