Depois de ter defendido um modelo de negócio (?) para os jornais, em que estes não deveriam ser orientados pelo lucro, tentando perpetuar, como muito bem diz Jorge Costa aqui n’O Insurgente, “esta mania de ter direito a parasitar alguém para poder fazer qualquer coisa cuja justificação está acima do consentimento das pessoas comuns expresso no ato simples, honesto, inequívoco e livre de pagar para a poderem ter”, Alexandra Lucas Coelho insiste na mesma tecla, desta vez com um texto sobre os coitadinhos dos escritores que não têm subsídios para poder investigar e escrever as suas obras.
No entanto, quando me falam de subsídios do Estado para apoiar actividades de criação intelectual como, por exemplo, a literatura ou o cinema, a minha pergunta é a de sempre: por que haveriam de os receber?
Nunca ninguém me conseguiu dar uma boa explicação.
É certo que Alexandre Lucas Coelho também fala de um outro facto: de muitos organizadores de eventos literários esperarem que os escritores compareçam à borla nos eventos que organizam. Para este problema, penso que, como posição de princípio, este artigo Borlas nunca mais de Miguel Esteves Cardoso responde bem à questão.
“a minha pergunta é a de sempre: por que haveriam de os receber?”
Muita brandura, devia antes acusar a imoralidade de se pagar a escritores para olharem para o seu umbigo quando há ainda tanta miséria no país. A esquerda é uma fraude, tudo o que eles querem é proteger as suas elites, que abundam nos meios intelectuais (da treta) e no funcionalismo público.
Espinoza era polidor de lentes. Se lhe tivessem dado bolsa se calhar tinha escrito filosofia. Aí não, escreveu à mesma, não andava à procura de bolsas? Não, Luis XIV propôs-lhe uma larga pensão para que lhe dedicasse um livro mas Espinoza recusou de modo educado. Mas esse não era um escritor a sério.
Kafka trabalhou em seguros, como tal desenvolveu a sua atividade de escrita em regime pós-laboral. Como não tinha bolsa não escreveu nada de jeito. Se tivesse bolsa teria escrito sobre colóquios literários e coisas giras, assim como amanuense escreveu sobre coisas sem interesse como acerca da burocracia.
A minha pergunta é: o que leva as pessoas a desenvolverem o parasitismo como forma de vida? Não têm vergonha de depender dos outros, até daqueles com poucas possibilidades?
Eu não gosto de trabalhar, a Sociedade devia subsidiar-me o ócio.
Prepara-se o caminho para a chegada de uma taxa sobre o papel de fotocópia destinada a manter essa estirpe de chulos.
Olá, Rui.
Eu admito que o tema “subsídios” possa ser (ou parecer) polémico. Não sou escritor de livros. Mas sou escritor e produtor de cinema. Se tiver vontade de perder algum tempo comigo, terei todo o prazer em explicar-lhe os motivos pelos quais existem subsídios e também as formas boas e más de funcionamento de subsídios que, do meu ponto de vista, podem fazer toda a diferença entre “filmes que criam riqueza” e “filmes que não servem para nada”.
Já agora, se quiser dar uma olhada no trailer de um filme de terror que estou a produzir, diga-me e terei todo o prazer em enviar-lhe o link e explicar-lhe como foi financiado.