Respeito muitíssimo o Niall Ferguson, cuja obra conheço e aprecio. De um modo geral, tendo a concordar com quase tudo o que ele pensa. Também me parece que o Ocidente está em declínio. Também me parece que o seu fim está a precipitar-se, por todas as razões que ele aduz. Também me parece que o mais provável é que o declínio seja irreversível. Também me parece que é um inverno japonês aquilo que o futuro nos reserva (talvez preenchido com inúmeros sírios); e que, depois, acabou.
Aqui chegados, compreendendo isto sem grandes dramas e lamúrias, e apesar de tudo indispostos a trocar a ideia de Ocidente por seja lá o que for, resta-nos a reconciliação com a evidência: mas por que razão misteriosa haveria qualquer artefacto humano, por muito belo e nobre que seja, ser eterno?, o que não implica, de modo algum, a queda na pura inação, no torpor; sempre podemos pensar que nos sobra a muito nobre tarefa de ajudar a retardar a chegada do fim (e levar muito a sério a ideia de não nos levarmos demasiadamente a sério).
Ser reacionário, nestes precisos termos, parece-me incomparavelmente superior à alternativa, a de acelerar a chegada do fim, em que estão embalados todos os progressistas, todos os pacifistas e todos os socialistas do mundo. Parece-me que é assim que o Niall Ferguson se entende. Pelo menos é assim que eu o entendo. Ora, leiam-nos aqui.
Que pobreza de entrevistador.
Sobre as razões do declínio do Ocidente ele nada disse. E o jornalista não teve curiosidade alguma.
Também não lhe pergunto o que é que guerras de desvalorização de moeda iriam fazer à União Europeia. O que é que significa na verdade a palavra : crescimento. E os custos do crescimento.
Paupérrimo.
Desde pelo menos 1918 que se diz que o ocidente está em declinio, mas a tendência a longo prazo parece-me ter sido para os valores ocidentais expandirem-se mais e mais pelo mundo (a única exeção parece ser o islão, que é capaz de ser menos “ocidental” hoje em dia do que era em 1970, mas se calhar ainda é cedo para extrapolar tendências de longo prazo)…
Ele pôr o dedo na ferida: são as leis laborais mais flexíveis dos EUA que lhes permitem ter um crescimento muito maior do que a Europa e são as leis laborais rígidas da Europa que a estão a matar.
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Para perceber como leis laborais rígidas – e eu diria mais, todo o tipo de burocracia, normas da UE, ASAE, etc. – são tão más para a economia é preciso o legislador pôr-se no lugar do potencial empresário, perceber a vulnerabilidade que este sente, como as leis se lhe assemelham a uma ameaça e como tem de gastar muitos recursos e tempo para controlar esta ameaça, senão um dia cai-lhe sobre a sua cabeça qual guilhotina. Mas o legislador, o Estado, o Parlamento Europeu, são meros funcionários públicos, que nunca na vida sentiram nenhuma pressão a não ser chegar a horas ao trabalho, não percebem como aquelas grandes e pequenas e mais algumas coisas que pedem são simplesmente demasiadas para uma pessoa só.
Gostei muito da entrevista, especialmente desta parte:
“Acha que o euro vai acabar?”
Não. Fui contra a sua criação, mas uma vez que foi criado não faz sentido acabar com ele. Durante a crise da zona euro, quando pessoas como Paul Krugman diziam que ia tudo desmoronar-se, eu disse que não acreditava. E não acreditava porque o projeto é político, e os alemães não deixariam que tal acontecesse, independentemente da dor que tivesse de ser inflingida. O que acontece é que na Europa criaram um sistema que não é bem federal, é mais confederal, com um centro fraco, têm uma união monetária e legal, mas o resultado líquido é um crescimento medíocre e dívidas muito altas.
“O crescimento já não era estrondoso antes…”
As projeção para a eurozona nos próximos cinco anos são de um crescimento de um por cento, ou algo assim.
“Está a falar com um português. Crescermos a esse ritmo já é mais que nos últimos anos…”
Isso é porque as vossas expectativas foram reduzidas devido à experiência da última década. Aliás, deixe-me dizer-lhe que acho que o Governo português foi heroico em levar a cabo uma tarefa quase impossível e tenho simpatia por quem fez isso.
“Heroico porquê? Por termos cumprido o que a Grécia não conseguiu cumprir?”
Exato. Deve ter sido altamente tentador seguir o caminho grego. Mas Portugal, como a Espanha e a Irlanda, viram que não havia uma opção populista. Não há qualquer saída. É uma fantasia pensar o contrário. A união monetária é virtualmente indestrutível por isso mesmo, a menos que os alemães a decidam destruir.
“Desde pelo menos 1918 que se diz que o ocidente está em declinio, mas a tendência a longo prazo parece-me ter sido para os valores ocidentais expandirem-se mais e mais pelo mundo”
Ele fez uma distinção entre o ocidente e os EUA.
Aqui vai:
“Irreversível?”
Sim. Económica, demográfica e psicologicamente. Os europeus têm as instituições mas não acreditam nelas. Aliás, nas nossas próprias escolas ensinamos quão fraco é o Ocidente. Temos instituições mas elas estão corroídas. Ao contrário da Europa, os EUA conseguem corrigir-se e aguentar-se.
“Desculpe interrompê-lo: Diz que estamos em declínio, mas a construção europeia é um extraordinário caso de sucesso. A paz, a segurança, a economia, o estado social.”
Temos de ter cuidado com o que falamos. Estamos a falar do século XXI. E aqui, a Europa está hoje a perder terreno.
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Basicamente ele está a alertar para o caminho atual da UE estatal e de baixo crescimento económico.
Este discurso do Ocidente estar no fim dos seus dias é um discurso recorrente. Recordo que na última metade dos anos 1970 também se achava isso. Com fracos governantes europeus e com o lamentável Jimmy Carter na presidência dos EUA. Tempo da Guerra fria e o Ocidente averbou derrotas atrás de derrotas geo-estratégicas. Vietname, fim do Xá no Irão com a consequente subida dos Ayatolahs ao Poder, golpe de Estado em Portugal com perda das colónias para a esfera soviética, etc.
O que aconteceu foi que o Ocidente se regenerou com o aparecimento de líderes a sério como Ronald Reagan nos EUA, Margaret Thatcher em Inglaterra e Helmut Kohl na Alemanha Ocidental. O Ocidente recuperou a liderança mundial e acabou por conduzir o sistema comunista soviético à falência.
Hoje não será diferente. As derrotas dos populismos socialistas na América do Sul, o avanço das direitas conservadoras na Europa (não apenas em França), uma provável entrada republicana na presidência dos EUA são indicadores de que as coisas já estão a mudar.
Depois de épocas de grande declínio travaram-se importantes batalhas: Covadonga, Lepanto, etc.
Quando ele diz “Em França, por exemplo, há enormes subúrbios deprimidos cheios de emigrantes de segunda e terceira geração desempregados que não se conseguiram integrar. Isto não vai acabar bem. A economia europeia não está preparada para absorver tantos imigrantes.” eu fico a pensar porque é que é a progressista França, com o galopante desemprego já em 11% é tão diferente do Reino Unido, cujo desemprego tem vindo a decrescer e ronda atualmente os 5%. Acho que a politicamente correta França nunca quis saber se estava ou não a aceitar demasiados emigrantes. Nunca se preocuparam muito, pois os progressistas nunca se preocupam muito com nada a não ser com eles próprios e com as aparências, fazer o politicamente correto. Se as pessoas e os políticos não forem minimamente patrióticos, o país não sobrevirá.
“Desde pelo menos 1918 que se diz que o ocidente está em declinio, mas a tendência a longo prazo parece-me ter sido para os valores ocidentais expandirem-se mais e mais pelo mundo (a única exeção parece ser o islão, que é capaz de ser menos “ocidental” hoje em dia do que era em 1970, mas se calhar ainda é cedo para extrapolar tendências de longo prazo)…”
Só se considerarmos o Marxismo como valor Ocidental.
Para mim é um claro valor anti-Ocidental.
Mas pior, a Democracia está-se a transformar em Democracia Totalitária o que é também claramente um valor anti-ocidental.
E contrário do que ele diz (e os comentários) os EUA estão em declínio mais acelerado que a Europa embora ainda não tenham chegado ao nível onde está a Europa.
“Só se considerarmos o Marxismo como valor Ocidental.”
Sempre é mais “ocidental” (inventado em Londres por um alemão; inspirado pela filosofia e pela teoria económica que na altura dominavam no “Ocidente”; com uma crença na possibilidade da razão humana perceber e dominar o funcionamento do mundo…) do que, digamos, o tradicionalismo islâmico (onde é que um ocidental se sentiria melhor: no Cabul de 1985 ou de 2000?)
Não se assarapantem, que não vale a pena.
Façam tranquilamente duas perguntas: quem é que manda nisto? e o que é que eles querem?
Depressa chegam à conclusão que os nossos donos estão a mudar a decoração da casa.
Não quer dizer que seja bom para o gado …
Mas também suspeito que parte do problema desta conversa de decinio da civilização ocidental (e agora estou a falar no geral, não no Neil Ferguson em particular) é que há muitas coisas (p.ex., irreligiosidade; predomínio da família nuclear sobre a família alargada; uma cultura que valoriza os direitos sobre os deveres; uma estratégia reprodutiva mais parecida com a dos pinguins – ter poucos filhos com alta probabilidade de sobrevivência – do que com a das tartarugas-marinhas – muitos filhos com baixa probabilidade de sobrevivência, etc.) que para umas pessoas são o que define a civilização ocidental, e que para outras são sintomas da decadência da civilização ocidental.
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Eu vejo antes o Império Europeu a formar-se e a passar pelas normais dores de parto.