
Índice
- O que é o salário mínimo nacional?
- O SMN português é alto ou é baixo?
- Quem é a favor do aumento do SMN? E quem é contra?
- Mas o aumento do SMN não gera procura? E isso não é bom?
- Todos os países têm SMN?
- Qual é o impacto negativo do SMN?
- Porque é que o desemprego aumenta quando aumenta o SMN?
- Mas o novo Governo tem um estudo sério que o justifica!
- Mas os custos salarais só aumentaram 2.9%! Qualquer empresa o suporta!
- Mas 500€ não permitem uma vida digna!
- Mas uma transferência do «capital» para o «trabalho» é algo positivo!
1. O que é o salário mínimo nacional?
O salário mínimo nacional é uma medida legislativa que fixa o valor mínimo a que o trabalhador pode ser contratado por uma empresa. Foi criado na Nova Zelândia há cerca de dois séculos atrás, e visava proteger os mais vulneráveis, com menor poder negocial.
2. O SMN português é alto ou é baixo?
A maior parte dos comentadores e até alguns economistas fazem uma análise profundamente errada, que consiste em comparar directamente o valor absoluto do SMN entre países, não ajustando à diferença na paridade dos poderes de compra (PPP). Países em diferentes níveis de desenvolvimento têm preços e salários diferentes. Por exemplo, o nível geral de preços num país como a França ou a Suíça é muito superior ao registado num país como Portugal.
Uma comparação mais válida, ou menos grosseira, consiste em comparar o SMN com a mediana dos salários. Isto porque a mediana dos salários já reflecte o nível geral de preços, permitindo assim comparações relativas entre países, e é a melhor aproximação que temos ao preço de equilíbrio no mercado de trabalho.
E o que observamos quando comparamos o SMN em % do salário mediano com o de outros países? Que o SMN em Portugal é elevado.

Mais grave ainda, e como veremos adiante, o SMN afecta em particular trabalhadores menos qualificados e jovens. E o desemprego jovem é muito elevado em Portugal, cifrando-se actualmente nos 34,8%.
3. Quem é a favor do aumento do SMN? E quem é contra?
Os sindicatos, que se preocupam mais com quem está empregado do que com quem está desempregado, pois estes últimos estão menos disponíveis para integrar piquetes de greve, querem sempre o mesmo — que seja aumentado.
As confederações dos patrões, e ao contrário do que se possa imaginar, geralmente também concordam com o aumento. Isto porque as confederações, que integram grandes grupos económicos, não são directamente afectadas pelo aumento do SMN. A percentagem de trabalhadores a auferir o SMN nestas empresas é marginal, e em alguns casos mesmo inexistente (caso do grupo Jerónimo Martins). No entanto, o aumento do SMN afecta directa e negativamente as PMEs com quem estes competem. Portanto, é proveitoso para estes, pois beneficiam com o aumento da procura agregada, ainda que marginal, e não pagam os custos desse aumento. Estes serão suportados pelas PMEs, que, recordemos, representam 99.9% do sector empresarial português.
Os Governos, por regra, também são a favor, visto que não têm de o pagar. Adicionalmente, o SMN é um instrumento eleitoral eficaz, pois os seus efeitos negativos são desfasados no tempo (o aumento do desemprego não é imediato), mas os seus efeitos positivos são — quem aufere o SMN tem imediatamente um aumento salarial. As empresas pagam, os governos ficam com os louros.
E alguns economistas que acham que a procura por trabalho menos qualificado (aquele que é pior remunerado, ao nível do SMN) é inelástica, isto é, o efeito rendimento do aumento do SMN é maior do que o efeito de substituição. Contudo, e como veremos na pergunta 6, a elasticidade estimada para Portugal é negativa.
Não há ninguém contra? Há. Os economistas bandidos sem coração, que procuram abordar estes temas com a frieza e a racionalidade que se exige, e que evitam apelos à emoção daqueles que tentam justificar os aumentos de SMN como uma «questão de dignidade» ou de «bom senso». Esses, por regra, sabem que, pese embora os 20€ ou 30€ adicionais que certamente farão muito falta a quem aufere o SMN, o custo para quem agora receberá 0€ porque não conseguiu emprego é, ainda assim, maior. E esse é um risco muito grande para ser tomado de forma ligeira.
4. Mas o aumento do SMN não gera procura? E isso não é bom?
Quem defende a medida tende a contar a seguinte história: o aumento dos salários leva a que os trabalhadores tenham mais rendimento. Como estes trabalhadores consomem tudo o que auferem, pois não conseguem poupar, o rendimento é imediatamente transformado em consumo, que faz com que as empresas vendam mais, invistam mais e empreguem mais, num círculo virtuoso. E o país foi próspero para sempre.
Se a história se resumisse a isto, estava encontrada a fórmula mágica para o crescimento económico — aumentar o SMN para 2000€ em todos os países pobres. Infelizmente, a história está incompleta, e padece de várias falácias, que são repetidas ad nauseum, incluindo por economistas. Ou melhor, especialmente por economistas.
Não coincidentemente, o exemplo que é frequentemente dado nos livros de macroeconomia para explicar este círculo despesa -> rendimento -> consumo -> despesa começa com uma nota de 20€ que alguém encontrou na rua. Depois, vai ao café e gasta-os. O dono do café tem agora mais 20€, que usa para comprar mais café. E assim sucessivamente, até que do café nascem células fotovoltaicas e robôs biónicos, que orgulhariam Keynes. Esta história não parece algo estranha?
Parece e é. Os 20€ que alguém encontrou na rua não surgiram do nada. Alguém os perdeu. Isso significa que essa pessoa agora já não vai comprar nada com os 20€. Ou seja, o senhor do café tem mais 20€, mas o alfarrabista deixou de vender uma edição antiga do livro Eusébio Macário ou de Amor de Perdição. Transpondo isto para a empresa, o aumento do SMN é um custo directo para a empresa, pelo que esta terá agora menos disponibilidades de capital para fazer outro tipo de investimentos, incluindo comprar mais aos seus próprios fornecedores, e poderá mesmo ter problemas de tesouraria. É importante recordar que muitas empresas dependem de contas caucionadas, sujeitas a elevadas taxas de juro, que os bancos têm reduzido unilateralmente nos últimos anos. Mas o maior efeito nefasto nem é o aumento dos custos, é o impacto do nível de emprego, situação que analisamos na pergunta 6.
Não. Países como a Áustria, Dinamarca, Suécia, Finlândia, Chipre ou Itália, e mesmo a Alemanha até 2014, não têm SMN. Alguns destes países, contudo, negoceiam o salário mínimo região a região, sector a sector, sendo que muitas vezes ele até desce porque o crescimento estimado será negativo.
Este regime é muito menos lesivo para todos. Diferentes sectores e diferentes regiões têm uma capacidade diferente para pagar o SMN. Como o SMN é pago pelas empresas locais e não por uma transferência do Estado, o impacto será, também ele, local. Ora, se o SMN quase não tem impacto em regiões como Lisboa, cujo salário médio está muito acima da média salarial do país, terão particular impacto em regiões mais pobres, como o Norte ou o Alentejo (cf. P6 – Qual é o impacto negativo do SMN?).
6. Qual é o impacto negativo do SMN?
Do ponto de vista da teoria económica, e excepto em casos muitos particulares em que o o mercado laboral tem características de um monopsónio, os efeitos são claros: o aumento dos preços gera uma diminuição na quantidade procurada. Aplicado ao mercado laboral, isto pode ler-se como o aumento do salário (mínimo) diminui a quantidade procurada. Efeito prático? Aumenta o desemprego. Existem ainda outros spillovers que não estão directamente relacionados com o mercado de trabalho. Por exemplo, um SMN elevado é um incentivo a que muitos jovens desistam do ensino e procurem trabalho, pondo em causa a sua formação.
Existem diversos estudos empíricos que procuram atestar isto para o caso português. Alguns desses estudos são da autoria do actual Ministro das Finanças, Mário Centeno, que enquanto economista e investigador sempre foi muito claro a apontar os efeitos nefastos do aumento do SMN.
Em “The impact of the minimum wage on low-wage earners”, da autoria de Mário Centeno, Cláudia Duarte e Álvaro Novo, os autores olham para o efeito dos aumentos do SMN, entre 2002 e 2010, e observam que por cada aumento do SMN existe uma diminuição do emprego. As conclusões são claras: o aumento do SMN prejudica a estabilidade do trabalho especialmente daqueles que auferem SMN — um resultado previsto na teoria —, compensado apenas com ganhos marginais em termos de salários.
Num outro artigo, “The Impact of the Minimum Wage on Match Stability”, datado de Dezembro de 2014, os mesmos autores estudam o efeito do SMN na rotatividade dos trabalhadores que ganham o SMN em Portugal, e derivam as seguintes recomendações em termos de políticas:
- Aumentar o SMN desincentiva as empresas a criarem postos de trabalho para trabalhadores menos qualificados (i.e., baixa o nível de emprego e trabalhadores sem qualificações são particularmente afectados);
- O efeito de desemprego do SMN pode ser maior do que o seu efeito directo nos salários;
- Rotação excessiva dos trabalhadores, resultado de aumentos do SMN, poderá originar uma redução na formação e experiência dos trabalhadores
O Pedro S. Martins, economista especializado em mercados de trabalho, também chega a conclusões similares no seu artigo “30,000 Minimum Wages: The Economic Effects of Collective Bargaining Extensions”. Ele analisa os efeitos de contratos colectivos de trabalho, incluindo a fixação estatutária do SMN, e conclui que existe uma diminuição na procura de emprego (no mercado de trabalho as empresas procuram trabalho e as famílias oferecem trabalho), um aumento do encerramento de empresas, assim como um aumento do emprego informal.
Finalmente, um outro artigo recente, que resultou de uma cooperação entre a Universidade do Porto e Universidade do Minho, intitulado “Estudo sobre a Retribuição Mínima Mensal Garantida em Portugal”, conclui também que os efeitos negativos suplantam os positivos no caso de Portugal. Em particular:
- O efeito sobre o emprego das mulheres é cerca do dobro do encontrado para os homens (i.e., o aumento do SMN agrava desigualdades de género)
- O efeito sobre o emprego dos trabalhadores menos qualificados é particularmente adverso, ultrapassando os 3% (em valor absoluto) em 2009 na categoria de Praticantes e Aprendizes, e de 2% no caso dos Profissionais não Qualificados (resultado que vem em linha com os obtidos por Centeno et al)
- A diminuição do emprego na região Norte devida ao aumento do SMN tenha sido, em 2009 e 2010, superior a 1%;
- Os jovens com idade inferior a 25 anos e, especialmente, os jovens entre os 16 e os 18 anos, sejam os mais penalizados pelo aumento do SMN, sofrendo perdas de emprego muito significativas – acima dos 5% desde 2007;
7. Porque é que o desemprego aumenta quando aumenta o SMN?
Ao contrário do que muitos imaginam, o aumento do SMN não é no desemprego, isto é, as empresas não despedem porque o SMN aumentou, mas sim no nível de emprego, isto é, as empresas contratam menos porque o SMN aumentou. Obviamente que ambos acabam por se cruzar, e a redução na criação de emprego tem como efeito o desemprego.
Porque é que isto acontece? Imagine que tem uma empresa que produz atum em conserva. Um trabalhador pouco qualificado consegue produzir aproximadamente 550 latas por mês, que no final serão vendidas a 1€ cada. Se o SMN estiver fixado em 500€, então ainda lhe compensa contratar este trabalhador, pois o benefício (o que produz) é maior do que o seu custo (o salário). De forma simples, 550€-500€ > 0. Imagine agora que o SMN aumenta para 550€. Continua a compensar contratá-lo? Para esta empresa não.
O que faz então a empresa quanto isto acontece? Substitui os trabalhadores menos qualificados por máquinas (capital). Quando o preço de um dos factores aumenta, a empresa opta pelo outro factor para o substituir. A isto chama-se a taxa marginal de substituição técnica, e explica porque é que países muito desenvolvidos usam muito mais capital do que trabalho (o capital é mais barato do que o trabalho) e países pobres usam mais trabalho do que capital (o trabalho é muito mais barato do que o capital). O que acontece quando o SMN sobe é que o preço do factor trabalho também sobe, pelo que muitas empresas irão comprar mais máquinas.
Mas isso é óptimo, dir-me-ão. É, no longo-prazo e de forma natural. É bom que as empresas adquiram máquinas e consigam produzir bens com mais intensidade tecnológica, assim acrescentando mais valor e obtendo melhores margens. É péssimo se essa transição for administrativa, como com a fixação do SMN, pois as empresas ainda não produzem esses produtos de valor acrescentado, e a transição forçada gerará desemprego.
8. Mas o novo Governo tem um estudo sério que o justifica!
Infelizmente, o que o novo Governo tem não parece ser nem um estudo, nem sério. Pelo que é reportado, o «estudo» tem como base um outro estudo coordenado por Carvalho da Silva, ex-líder da CGTP, a maior central sindical do país, a par com a UGT. Não é o facto de um líder sindical coordenar o estudo e ser parte interessada no processo que o descredibiliza, é o «estudo» em si. Nas 14 páginas do estudo, onde não consta uma única regressão econométrica para tentar quantificar efeitos económicos do aumento do SMN, apenas um exercício de contabilidade simples, a palavra «desemprego», que é o maior efeito gerado pelo aumento do SMN, aparece referida amiúde, e nunca com uma referência directa ao aumento do SMN. Não é, portanto, um «estudo» credível, que contraponha, por exemplo, os anos de trabalho de Mário Centeno na área, que apontam no caminho oposto — o aumento do SMN poderá ter efeitos muito negativos em Portugal.
9. Mas os custos salarais só aumentam 2.9%! Qualquer empresa o suporta!
Outro argumento frequentemente usado para justificar o aumento do SMN é que isso representa um aumento marginal da massa salarial para as empresas. Estimam que um aumento do SMN para 600€ representaria um acréscimo nos custos totais da empresa de de 2.9%. Isto porque, argumentam, a massa salarial representa, em média, 20% dos custos que uma empresa portuguesa tem. A tese é defendida aqui, mas pode ser encontrada também no relatório do Governo e do «estudo» do CES.
Se leu as respostas às perguntas anteriores a esta sabe perfeitamente porque é que este argumento é uma enorme falácia. Se não leu, comecemos com uma analogia. Imagine o caro leitor que se atira de uma ribanceira de 100 metros. A morte é certa, resultado de múltiplas fracturas e traumatismos. Os defensores desta tese, constatando o acontecimento, diriam: «Atentai! A perna direita continua intacta!». Quem usa o argumento do custos da massa salarial ignora olimpicamente os mecanismos através dos quais o aumento do SMN gera desemprego, optando por se focar no menos importante: na perna partida.
Recordando, os efeitos mais nefastos do aumento do SMN não resultam do aumento dos custos salariais. A vasta maioria das empresas terá capacidade para absorver tal aumento. O problema é o efeito agregado na taxa de crescimento do emprego, tal como explicado na resposta à pergunta 7 — “Porque é que o desemprego aumenta quando aumenta o SMN?“.
No entanto, ainda assim poderão não ser desprezíveis, principalmente em sectores exportadores onde os custos unitários do trabalho representem um parte significativa da estrutura de custos destas empresas. Por exemplo, no sector do têxteis ou da hotelaria. Seja como for, a mensagem a reter é que o problema do aumento do SMN não se prende com o aumento dos custos salariais.
10. Mas 500€ não permitem uma vida digna!
Em 2014, o salário médio líquido mensal foi de 984€. A renda de um apartamento T2 no Porto é cerca de 500€ mensais e em Lisboa é ligeiramente superior. Sobrariam, então, 484€ para tudo o resto — despesas de alimentação, vestuário, etc. Tal salário permite «uma vida digna»?
Isto serve para ilustrar que o problema não é o SMN, que aliás reflecte a realidade portuguesa. O problema é a economia portuguesa como um todo ser pouco competitiva e produtiva, não gerando rendimento suficiente para um aumento generalizado das condições de vida dos portugueses. E esse crescimento e prosperidade não se alcança com fixações administrativas de salários nem com soluções milagrosas decretadas em Diário da República. Quando lhe disserem que a solução é simples e que basta «devolver rendimentos aos portugueses», desconfie sempre. Das duas uma: ou o país produz esses rendimentos ou tem de pedir emprestado ao exterior. Não existe uma terceira opção.
11. Mas uma transferência do «capital» para o «trabalho» é algo positivo!
Existe um enorme equívoco sobre entre que agentes económicos se dá a transferência de rendimentos quando o salário mínimo aumenta. Muitas pessoas acham que a transferência ocorre das empresas (o capital) para os trabalhadores (trabalho). A nível micro isto é inteiramente verdade. Atente-se à seguinte figura:
No entanto, o efeito macroeconómico é diferente. É aliás irónico que tenha sido Keynes o primeiro economista a alertar para a falácia da composição: efeitos micro podem ter resultados diferentes quando agregados, isto é, numa perspectiva macro.
O que efectivamente acontece quando agregamos este efeito é que a transferência mais significativa não é entre capital e trabalho, mas sim entre trabalho e trabalho, em particular daqueles que agora não conseguirão obter o emprego (e que, como tal, terão um salário de 0€), para aqueles que agora terão um aumento ou para aqueles que farão horas extra para evitar contratar um novo trabalhador. Note-se que também existe uma transferência para os detentores de máquinas (capital), no sentido em que os empresários procurarão agora adquirir mais capital para substituir o factor trabalho, tal como explicado na pergunta 7 da FAQ sobre o Salário Mínimo Nacional.
Ja que vale tudo
“Se a história se resumisse a isto, estava encontrada a fórmula mágica para o crescimento económico — aumentar o SMN para 2000€ em todos os países pobres.”
vamos inverter a situaçao
“7. Porque é que o desemprego aumenta quando aumenta o SMN?”
Solução para o desemprego corta-se SMN em 50 %
“Porque é que isto acontece? Imagine que tem uma empresa que produz atum em conserva. Um trabalhador pouco qualificado consegue produzir aproximadamente 550 latas por mês, que no final serão vendidas a 1€ cada. Se o SMN estiver fixado em 250€, então ainda lhe compensa contratar este trabalhador, pois o benefício (o que produz) é maior do que o seu custo (o salário). De forma simples, 550€-250€ =250€ lucro”
“O que faz então a empresa quanto isto acontece? Substitui os trabalhadores menos qualificados por trabalhadores ainda menos qualificados. Quando o preço de um dos factores aumenta, a empresa opta pelo outro factor(trabalhador ainda mais baratos) para o substituir”
Parabéns rrocha, com cada resposta que escreve consegue sozinho demonstrar a incomensurável estupidez da generalidade dos comentadores esquerdalhos.
É um feito realmente digno de nota!
Da minha parte agradeço a Sua atenção tentarei continuar a tentar agradar Vossa Excelencia
rrocha,
“Substitui os trabalhadores menos qualificados por trabalhadores ainda menos qualificados.”
Ou, por a margem ser maior:
– a empresa pode baixar o preço das latas de atum para vender mais;
– haverá mais investidores interessados nessa área, sendo criados mais postos de trabalho.
Pensar por dois minutos que seja antes de comentar artigos sobre Economia ajuda. Devia tentar.
Mas antes de se meter em coisas mais complicadas, o melhor é começar por aprender Álgebra a nível do ensino básico. É que o rrocha ainda nem sequer domina a subtracção.
Não tem nada que agradecer rrocha,
nas palavras desse grande filósofo português, Nuno Markl, os idiotas só existem para que possamos gozar com eles e eu agradeço-lhe do fundo do coração que continue a desempenhar esse papel tão útil cá n’O Insurgente.
“Se você tem o poder de fazer alguém feliz, FAÇA! O mundo precisa disso!”
Frases Anónimas
Excelente post, Mário! Parabéns!
O post está bastante bom, faltam apenas dois pormenores, 1) Produtividade e Custos Unitários do Trabalho, 2) Inflação
Quando a produtividade aumenta, a economia é capaz de sustentar taxas de desemprego mais baixas sem causar uma rápida inflação. Ou seja, a “taxa natural” de desemprego parece cair quando a produtividade aumenta rapidamente, e parece subir quando o crescimento da produtividade é lenta.
Não sei se houve algum forte aumento de produtividade este ano que justifique o aumento do SMN já no próximo ano, mas com certeza o CES já tem uma estimativa desse valor feito “à medida”.
Os esquerdistas ainda não se aperceberam que é melhor receber 505€ do que ser despedido.
Dizem que vão aumentar a austeridade para cumprir o défice mas continuam com a péssima da ideia de subir o SMN. Pois claro, não são eles que pagam ao final do mês, são os patrões que se matam a trabalhar para conseguir pagar aumentos desnecessários.
Falta ai uma variável de peso, a inflação, de resto nada a dizer.
Ainda a poucos dias li o capitulo sobre o salário mínimo no “Economics in one lesson” e fiquei a pensar no bom que seria alguém traduzir o texto para português. Folgo em ver que o Mário Amorim Lopes fez algo parecido ao escrever este post tornando publica uma clara analise do problema do salario minimo.
“e fiquei a pensar no bom que seria alguém traduzir o texto para português”
Joao Bettencourt:
Existe uma tradução relativamente recente, com um ou dois anos, da Actual Editora.
Este livrinho do Hazlitt devia ser distribuído de forma gratuita pelas redacções do nosso país…
O que é giro é que quem comenta contra é logo apelidado de “esquerdalho”. E nem sequer ofenderam ninguém. Quanto ao texto, vale o que lhe quiserem dar por ele.
Caro msantos, acabou de resumir a teoria do valor subjectivo: um objecto vale a sua escassez e a sua utilidade subjectiva — «vale o que lhe quiserem dar por ele». Posto isto, tenho a informar-lhe que nunca dará um bom marxista.
Fui procurar ao documento do CES a palavra “Produtividade”, só lá está mencionada uma vez e apenas para falar do salário mínimo actualizado a 1974.
Exemplo de Produtividade e Mercado Aberto)
“Say that there is an international market for widgets. The going price is $5 per widget. Most productive countries are able to produce widgets and sell them for this price. One country, which is lagging in productivity, can only produce widgets at half the speed of the other countries. But, because the lagging country is only able to sell widgets at $5 each, it must reduce its costs of production. Since labor is the only cost that can be changed, as the machines are paid for and their maintenance cannot be put off, workers are paid less to make the country that lags in productivity competitive in the international marketplace.”
Aumentar os custos sem aumentar a produtividade é contra producente, a consequência imediata é uma menor competitividade das empresas no mercado aberto onde todas competem com os mesmos preços (preços de equilíbrio) e disputam os mesmos clientes. Isto é particularmente verdade na indústria de mão de obra intensiva, têxteis, calçado, agricultura, ou qualquer outro produto indiferenciado.
http://www.heritage.org/research/reports/2013/07/productivity-and-compensation-growing-together
Boa noite, acho que é uma abordagem interessante para se debater. Surgem-me, no entanto, algumas interrogações. Qual seria o resultado da comparação entre salários mínimos na Europa se em vez do rácio com o salário mediano, se utilizasse diretamente a paridade do poder de compra como fator de ajustamento?
Adicionalmente gostava de saber como comenta estes excertos de declarações do professor Carlos Paz ao EconómicoTV sobre a definição e o significado do SMN que introduzem também a dimensão social do mesmo: “O salário mínimo não existe para recompensar a produtividade. (…) O salário mínimo é o salário que um trabalhador tem que ter para sobreviver condignamente tendo um trabalho a tempo inteiro. (…) Com o salário mínimo de hoje não se consegue sobreviver.”
Falta aí um argumento, Mário, que também é usado muitas vezes:
“As empresas que não conseguem pagar 600€ por mês, também não deviam de existir, porque não fazem falta nenhuma.”
Depois de ler o artigo de forma interessada, gostava de fazer alguns reparos.
O primeiro é a ideia “econométrica” que se encontra na base da opinião. Sendo tais análises bastante importantes, não se esgotam em tal análise.
Relativamente à SMN, o gráfico apresentando (SM em % do SMediano), não prova que o SMN português é elevado. Apenas prova que grande parte dos trabalhadores portugueses auferem ordenados baixos, próximos do SMN, e a grande desigualdade salarial, onde Portugal, infelizmente, apresenta uma péssima prestação.
Os 20€ que um individuo encontra na rua, e que gasta posteriormente no café, poderá terem sido “perdidos” por outro individuo que na suas diversas contas bancárias possui grandes quantidades de capital que não são utilizadas, ou não utilizadas produtivamente, e por isso, tal círculo vicioso pode muito bem acontecer.
Um último reparo Histórico: A ideia de aumentar salários mínimos relativamente à evolução da produtividade não ocorre há decadas. A produtividade têm aumentado exponencialmente, enquanto os salários reais quase estagnaram. É histórico. É possível que, como diz, as PME’s tenham algumas dificuldades em suportar determinados salários, mas isso só ocorre porque a maioria das mesmas foram proletarizadas, fornecendo serviços a grandes empresas, onde os lucros são absorvidos na sua maior parte. Resultado: Aumento da desigualdade, como se tem verificado. Convém portanto analisar os problemas numa perspetiva sistémica, para não cairmos no campo das fatalidaes. O capital existe, e está disponível. Está sim, mal distribuído.
Aqui está um exemplo de como a ciência económica não serve claramente para nada. Então o aumento do SMN em dezenas de euro vai logo justificar despedimento de trabalhadores? Então eu despeço trabalhadores porque vendo menos ou porque tenho que pagar-lhes mais? Mas a produção não está relacionada com a capacidade de vender os produtos? Então despeço trabalhadores porque aumenta o SMN e depois espero produzir o mesmo? Como ficamos? Se for para poupar dinheiro nem trabalhadores tenho.
Depois comparar níveis de vida na Europa é algo que tem que ser feito com a realidade e transparência. Do que conheço quase tudo, excepto habitação, é mais barato em Espanha. Alimentação nos super, gasolina, carros, roupa, telecomunicações, turismo, saúde etc.
A vida na Suíça é mais cara? É, mas o ordenado médio é 4000,00€ e os serviços públicos funcionam.
Portugal é um país muito bonito, de belas paisagens e boa comida mas onde se vive mal e onde os ordenados estão nivelados por baixo. Metade das empresas que pagam ordenados de miséria não deviam existir, porque ao mesmo tempo que o fazem, os gerentes andam montados em BMWs topos de gama e descapitalizam a empresa a título pessoal, esses sim a ganharem irrealisticamente, em função das responsabilidades sociais da empresa.
É miserável trabalhar e ganhar 485,00€ por mês. Não existe outra palavra. É miserável. Mesmo que aumentem para 600,00€ continua a ser miserável. Este tipo de economia, acente em baixos ordenados, é uma fuga para a frente. O futuro não passa por aí. Quem quer mão de obra barata que vá para as Chinas deste mundo. Portugal tem que ter uma economia diferente e tem que apostar em produtos e serviços de excelência. Para isso tem que ter funcionários competentes, motivados, dinâmicos e BEM PAGOS.
Há dúvidas?
Pois Rodolfo, as pessoas que estão desempregadas não pensam como você.
cumps
Rui SIlva
Rodolfo,
“As empresas que não conseguem pagar 600€ por mês, também não deviam de existir, porque não fazem falta nenhuma.”
Porquê? Por acaso a função das empresas é garantir um determinado nível de vida a um determinado número de “trabalhadores”?
Será que as escolas existem para dar trabalho aos professores e os hospitais para darem emprego aos médicos e enfermeiros?
No “seu” mundo, os trabalhos de baixo valor acrescentado não devem existir e os trabalhadores pouco produtivos não devem trabalhar (mesmo que queiram) e vivem à custa dos mais produtivos?
Já agora, de onde vem o valor de “600€ por mês”? É global (aplicável a todos os países do mundo), ocidental (Europa e América do Norte), europeu, para a União Europeia, para a Península Ibérica, para a cidade onde o Rodolfo mora ou para a empresa em que o Rodolfo?
“600€ por mês” inclui subsídio de refeição? Subsídio de transporte? Seguro de saúde? Creche na empresa?
É um valor fixo ou varia todos os anos? Se varia todos os anos, é na proporção na inflação, acima ou abaixo? São “600€ por mês” vezes 14, vezes 12 ou vezes 11? Antes ou depois de impostos?
Se “600€ por mês” é o valor limite para 2016 e deve variar todos os anos, qual era o valor para 2015?
E as empresas que paguem os “600€ por mês” e deixem de o poder fazer por a economia estar em regressão devem fechar, mandando todos os seus trabalhadores para o desemprego?
Luís Mateus, ao fazer a seguinte pergunta «Então o aumento do SMN em dezenas de euro vai logo justificar despedimento de trabalhadores?» demonstra que não leu o artigo.
Caro João Santos, mesmo que os 20€ pertencessem a um rico capitalista, essas poupanças são fundamentais para o funcionamento da economia, em particular o investimento. O que se ganha em consumo perde-se em investimento.
Caro Mário,
Obrigado por um post interessante.
Uma pergunta honesta:
Geralmente, os critérios de pobreza são em função do rendimento médio (eg, 60% do rendimento médio), não do mediano.
Desse ponto de vista parece-me interessante comparar o SMN com o salário médio na UE.
Ricardo, o índice de Kaitz é em função do salário mediano por um motivo. Para sabermos se o salário mínimo tem maior ou menor efeito precisamos de o comparar com o «salário de equilíbrio», que resulta do encontro entre a quantidade procurada de trabalho e a quantidade oferecida de trabalho. Não é possível determinar este valor, pelo que tem de ser usado um proxy. Dado que a distribuição salarial é enviesada à esquerda, pois há mais gente a ganhar mais do que altos salários, ao usarmos a média estamos a reflectir este enviesamento. Por esse motivo é usada a mediana.
João Santos,
“Relativamente à SMN, o gráfico apresentando (SM em % do SMediano), não prova que o SMN português é elevado. Apenas prova que grande parte dos trabalhadores portugueses auferem ordenados baixos, próximos do SMN, e a grande desigualdade salarial, onde Portugal, infelizmente, apresenta uma péssima prestação.”, primeiro que tudo, pergunte a si mesmo o porquê deste padrão?
1) Não leu o que o MAL escreveu, mas no post vem lá ” 99% das empresas em Portugal são PME´s”. Esta tipologia de empresa não consegue lucros astronómicos de forma a premiar a toda a sua estrutura, desde a base até ao topo. Uma outra particularidade, as PME´s não têm acesso aos mercados de capitais como têm as grandes multinacionais, pelo que é muito mais difícil investir, e sem investimento não há retorno.
““Most SMEs, particularly the smaller ones, lack the necessary resources to commit to long-term strategies and investments, which are only paying back in the future. Their management is largely involved in daily operational practice, and there is no time or money available for activities not directly related to the daily business. They are forced, therefore, to have a short-term view of their business and are limited in reacting to anticipated changes such as future regulations or the development of new standards.”
2) Muitas das PME´s, para além de serem pequenas, caracterizam-se por estarem no “ramo” da mão de obra intensiva, consequentemente não precisam de tantos quadros qualificados como as grandes empresas. Uma estrutura grande, com vários departamentos, elevado grau de sofisticação, produtos de valor acrescentado, necessita de muita gente qualificada para implementar a estratégia da empresa.
3) Os empresários pagam o dito salário de equilíbrio, e essa quantificação salarial é ditada pelas forças de mercado ( a mão invisível). Não há uma conspiração patronal para pagar “baixo”.
Por ex., se uma empresa paga “apenas” 1000 euros brutos/mês a um engenheiro é porque a concorrência não paga mais que esse valor. E o que faz então aumentar o valor do salário oferecido? A lei da procura e da oferta. Por exemplo, se duas empresas disputarem as qualificações de um único candidato, o candidato pode escolher a melhor proposta salarial, isto faz com que os salários subam.
4) Na altura de contratar, os empresários também pensam na altura de despedir, e Portugal não é os EUA. Aqui, quando se contrata alguém, há que pensar que é um contrato para todo o sempre, é difícil despedir quando a empresa está em dificuldades, e há sempre direito por parte do trabalhador a uma elevada indemnização.
5) Com base no ponto 1), 2), 3), e 4) , é fácil perceber porque é que o salário mediano é baixo.
6) Se o salário mediano é, naturalmente baixo, então o salário mínimo nacional acaba por se aproximar do salário mediano.
7) e ainda acrescento, como o salário médio da F.P. é relativamente alto comparativamente ao salário privado para as mesmas funções, então este salário mediano até acaba por estar inflacionado. Descontando os salários da função pública, a mediana salarial seria ainda mais baixa.
“Os 20€ que um individuo encontra na rua, e que gasta posteriormente no café, poderá terem sido “perdidos” por outro individuo que na suas diversas contas bancárias possui grandes quantidades de capital que não são utilizadas, ou não utilizadas produtivamente, e por isso, tal círculo vicioso pode muito bem acontecer.”, o meu caro desconhece o conceito de poupança. A poupança é absolutamente indispensável para haver um mercado de capitais e baixar o custo desse mesmo capital. As empresas podem assim pedir emprestado a um baixo custo para fazerem investimentos. O mesmo se passa com os privados, o baixo custo do capital permite-lhes fazer investimentos em habitação própria.
“A produtividade têm aumentado exponencialmente, enquanto os salários reais quase estagnaram. É histórico. “, não é verdade. Existe um equívoco comum sobre o impacto das melhorias tecnológicas ou aumentos do stock de capital sobre o emprego. Muitas pessoas acreditam que os ganhos tecnológicos ou aumentos no stock do capital reduzem a procura de trabalho, reduzem o emprego, e reduzem os salários reais. A experiência dos Estados Unidos e muitos outros países desmente essa noção. Entre 1990 e 2007, por exemplo, o stock de capital dos EUA e o nível de tecnologia aumentou dramaticamente. Durante o mesmo período, o emprego e os salários reais aumentaram, sugerindo que a procura de trabalho aumentou mais do que a oferta de trabalho. À medida que algumas empresas adicionam capital ou incorporam novas tecnologias, alguns trabalhadores nessas empresas podem perder os seus empregos. Mas para a economia como um todo, novos postos de trabalho são criados e geralmente oferecem salários mais altos. A procura de trabalho aumenta.
“Accurate and careful comparisons show that over the past 40 years measured productivity has increased 100 percent and average compensation has risen 77 percent. Inflated productivity measurements account for most of the remaining 23 percentage point difference. ”
http://www.heritage.org/research/reports/2013/07/productivity-and-compensation-growing-together
É uma falácia comparar o salário mínimo actual com o que foi fixado, administrativamente, em 1974. Só quem passou por elas é que se não lembra das taxas de inflação que se verificaram nos anos a seguir (que quase chegaram aos 30%), em grande parte devido a medidas dessa natureza.
Os comunistas de Coimbra, com o Boaventura à cabeça e o Manuel Carvalho a acolitá-lo, devem ser desmascarados.
Ricardo,
veja assim, 9 salários distintos
13+14+18+20+24+25+28+32+41 = 215
média salarial= 215 / 9 = 23,9 euros
mediana = 24 euros
Agora coloque aí o salário do Ronaldo (100000)
média = 100021,5 euros
mediana = 24,5 euros
A mediana é o valor do meio (entre 24 e 25), 13+14+18+20+24 estão de um lado, 25+28+32+41+100000 estão do outro
Se fizer a média, somar tudo e dividir pelo número de observações dá um valor no extremo da distribuição. Iria parecer que os portugueses ganhavam todos como o Ronaldo, o que não é verdade.
A mediana surge para eliminar outliers, os ditos valores extremos. Ao calcular a mediana estamos a excluir uma “minoria” que ganha muito acima do português comum.
Antes de mais muito bom post. Queria apenas deixar aqui um exemplo que poderá ajudar as pessoas a perceber porque é que não existindo salário mínimo na Alemanha os salários dos alemães são dos mais elevados.
Existe um documentário da BBC chamado “Make Me a German” em que um casal britânico tenta comportar-se como um tipico casal alemão. O homem vai trabalhar para uma fábrica de lápis da Faber Castel e antes dos 15 minutos do documentário vemos que uma das funções dele é verificar o bom funcionamento de uma máquina que produz 330 lápis por minuto. Se a Faber Castel vender um lápis por 0,01 €, em um minuto o empregado está a criar em vendas 3,3 € . Numa hora isto são 198 euros o que a oito horas de trabalho por dia e assumindo 20 dias de trabalho por mês são 31680 euros por mês.
Obviamente o trabalhador alemão tem um poder negocial muito maior do que o português e dai os salários serem muito maiores. O empregador alemão não paga salários portugueses porque não vai ter ninguém disposto a trabalhar por 600 euros por mês quando há outras industrias a pagar mais. Isto depois também se reflete no sector público : este terá de pagar salários competitivos com o privado para atrair pessoas para a função pública.
Acho uma piada à esquerda portuguesa. Fazem de tudo para tornar a produção cara em Portugal e ainda por cima delapidam capital para satisfazer o seu populismo e ainda por cima endividam o país o que equivale a menos recursos futuros para aumentar a produtividade e os salários. Depois passam a vida a reclamar que os salários são baixos e que não são “dignos” e “morais”.
Estive em Espanha este fim-de-semana.
Tomei nota de algumas diferenças de preços.
Frasco veterinário Itrafungol 50 ml(Pt): 45.90 euros (Farmácia de VRSA)
Frasco veterinário Itrafungol 150 ml (Es): 13.90 euros (Farmácia Ayamonte)
Champô H&S frasco grande (Ecomarché Altura): 7.99 euros
Champô H&S frasco grande (Mercadona Ayamonte): 4 euros
Champô Nizoral (Pt): 14 euros (Farmácia Porto)
Champô de Cetoconazol equivalente ao Nizoral, mesma quantidade: 2.90 euros (Farmácia Ayamonte)
Gel de banho Palmolive (Pt): 5.99 euros (Ecomarché Altura)
Gel de banho Palmolive (Es): 1.80 euros, o mesmo frasco com a mesma quantidade (Mercadona, Ayamonte)
Gel de banho Lactacyd Derma (Pt): 16 euros (Farmácia Porto)
Gel de banho Lactacyd Derma (Es): o mesmo frasco, a mesma quantidade, 6.90 euros (Farmácia Ayamonte)
Há diferenças ENORMES em vários produtos alimentares, destaco os chocolates!
A que se devem estas diferenças entre Portugal e Espanha em cosméticos, medicamentos, combustíveis e produtos alimentares? Alguém está a ganhar dinheiro a mais em Portugal e os impostos não justificam tudo! Alguém tem falta de CONCORRÊNCIA.
O problema não é o ordenado ser alto ou baixo…o GRANDE problema é que a maioria dos desempregados não quer simplesmente trabalhar…ou porque o estado dá subsídio de desemprego que “não compensa perder” ou porque não há ordenado base, privilégios ou subsídios…a maioria dos emails com CV´s enviados são para comprovativo de “procura de trabalho” para entregar a seg. social…
Não falo por falar, mas por experiência…marco dezenas de entrevistas em que as pessoas simplesmente NÃO APRECEM (de todas as idades, raças e sexos) ou a preocupação principal é “quanto ganho” mesmo antes de uma entrevista!!!
Para mim o sistema seria simples. Quem trabalha ganha, quem não trabalha não ganha (comissionamento). Maior justiça social do que esta não existe!!!JM
Um dos maiores problemas nacionais está sim não nos salários mas sim nos elevados preços de bens e serviços derivados da falta de concorrência e de regulamentações e leis. Culpa portanto do Estado. Já no século XIX era assim e nesta cultura de preços elevados o Estado Novo foi uma ligeira excepção, em parte fruto de um menor esforço fiscal relativo. Mas mesmo no Estado Novo, descontando os impostos, muitos produtos tinham menores relações qualidade/preço que os seus concorrentes europeus.
É um exemplo interessante:
“Se a Faber Castel vender um lápis por 0,01 €, em um minuto o empregado está a criar em vendas 3,3 € . Numa hora isto são 198 euros o que a oito horas de trabalho por dia e assumindo 20 dias de trabalho por mês são 31680 euros por mês.”, imaginemos que há uma fábrica em Portugal que produz lápis, no entanto só consegue produzir 165 lápis/minuto.
A produtividade é metade da fábrica alemã. Supondo que o empresário português também tem um produto de qualidade, mas que compete num mercado aberto e perfeitamente competitivo, o preço do lápis é 4 euros e é o preço de equilíbrio no mercado das lapiseiras. Como o mercado está pulverizado não é possível aumentar significativamente o volume de vendas.
Para concorrer com a empresa alemã, pode recorrer de várias estratégias:
1) Investir em maquinaria que duplique a produção, isto se o preço do capital (supondo que há um empréstimo) for acessível e se a empresa não estiver muito endividada.
2) Pede ao funcionário para trabalhar mais depressa, ou trabalhar mais horas
3) Reduz o salário do funcionário na proporção do défice de produtividade
4) Contrata dois funcionários por metade do preço de um funcionário alemão, para o mesmo nível de produtividade, 330 lápis/min.
Supondo que a empresa está completamente endividada e as portas das instituições financeiras estão vedadas, só pode optar pela estratégia 2),3), ou 4)
Mas assumindo que o empresário tem acesso ao capital barato e investe na máquina, o trabalhador que a opera passa a ter o mesmo nível de produtividade alemã, no entanto não irá ter o mesmo salário do operário alemão.
Porquê? Porque o salário irá depender da produtividade agregada, e isto ajuda a perceber porque é que há muitos empresários com Ferraris com funcionários a ganhar o mínimo.
A explicação é a seguinte, imaginemos que a fábrica de lápis era extremamente produtiva e lucrativa, mas que no concelho e no distrito as outras fábricas eram pouco produtivas. As fábricas pouco produtivas são obrigadas a pagar baixos salários, e isto faz com que a oferta e a procura ajustem os valores por “baixo”. A empresa que fez o investimento em capital e tecnologia é altamente produtiva mas não irá pagar acima do salário de eficiência da região, pois a oferta de trabalhadores é muito maior que a procura por parte da fábrica de lápis. Este empresário passa a ter os mesmos lucros da empresa alemã com custos de pessoal menores. Assim, como as empresas são racionais e não estão viradas para a filantropia, os casos de sucesso têm donos com Ferraris e empregados a ganhar o mínimo.
O segredo para o aumento dos salários é a produtividade agregada, e isto ocorre quando toda a região é extremamente produtiva, equilibrando novamente as forças da oferta e da procura, e empurrando os salários para cima.
E se aumentássemos o SMN? Para a fábrica que está bem instalada não haveria problema, para os outros sim. É por isso é que cada vez mais se torna importante discutir o SMN a nível sectorial e a nível regional.
Não está a ter um factor em conta muito importante: A taxa de solteiros jovens. Se cruzar a % de jovens solteiros que tem vindo a aumentar e a % de desemprego jovem ainda mais elevada, então é melhor pegar no exemplo de T2 e alterar por T1 e utilizar o salário mínimo (actual) então pode responder facilmente à pergunta “Não. 500€ não permitem uma vida digna!”.
Esquece-se ainda de mencionar que o salário médio nacional não significa que 50% da população (empregue) ganhe esse valor. Pode significar 40, 30, 20, 10…%. E infelizmente é essa a realidade.
Caros Mário, hustler,
eu compreendo a diferença matemática entre média e mediana. (Já agora o salário mediano são ~750€ brutos e o médio ~900€ brutos, não há assim tantos Ronaldos).
Não sei é qual a melhor métrica neste caso.
Contudo, faço notar que todas as referências que encontro relativamente ao cálculo do indíce de Kaitz usam o salário médio (“mean”, lato “average”), não o mediano (“median”).
«The Kaitz index is the ratio of the minimum wage to the average adult wage
multiplied by the percent of persons covered by the minimum wage.»
Ironicamente, faço também notar que, ao contrário do que escrevi ali atrás, 60% do rendimento mediano é um critério comum de pobreza.
«The common indicator of in-work poverty to be used in the context of the OMC on Social Inclusion and the EES defines the in-work poor as those individuals who are employed and whose household equivalised disposable income is below 60% of national median equivalised
income.»
Ricardo,
o exemplo do Ronaldo era para demonstrar a necessidade do uso de uma medida central mais “forte” para trabalhar os dados. Se a distribuição dos rendimentos fosse homogénea em todos os percentis, a média seria igual à mediana, e isto seria uma curva de Gauss perfeita. A razão para a diferença é que a distribuição dos trabalhadores por nível salarial é altamente enviesada, daí a mediana ser 750 euros e a média 900, pelo que o desvio padrão em relação à média é considerável. Considera-se a mediana uma medida mais robusta no tratamento deste tipo de dados.
No entanto, também estão disponíveis os dados que comparam o salário mínimo em relação à média. Se verificar, no link Portugal surge como um dos países europeus onde o salário mínimo mais se aproxima da média de salários, sugerindo a mesma conclusão da comparação do salário mínimo com a mediana. 40% relativamente à media e 57% relativamente à mediana (dados OCDE 2014)
http://www.movehub.com/blog/minimum-vs-average-wage
https://stats.oecd.org/Index.aspx?DataSetCode=MIN2AVE
hustler,
Obrigado por completar o meu comentário. Inteiramente de acordo. Penso que uma das discussões que se devia ter em Portugal é precisamente essa: como aumentar a produtividade agregada ?
Às taxas de crescimento actuais parece-me que os aumentos de SMN vão apenas aumentar a percentagem de trabalhadores a receber SMN.
Caro Artur, só há uma forma de aumentar a produtividade da economia — com reformas estruturais. E deixar as pessoas acumularem capital para poderem investir.
Pingback: Quem ganha e quem perde com o aumento do SMN? | O Insurgente
Porque razão se vão as empresas restruturar se puderem ter eternamente salários baixos?
Ao garantir que se podem manter os salários baixos, está-se a possibilitar às empresas não se reformularem estruturalmente. O ciclo em Portugal, com poucas exceções é este:
1 – Diz-se que os salários têm de ser baixos porque a produtividade é fraca
2 – Para ganhar a competitividade que se vai perdendo com o exterior baixa-se salários.
3 – Não se restrutura porque, como se pode ganhar produtividade baixando os salários reais, não vale a pena.
4 – O passo seguinte é dizer que não se pode aumentar salários sem restruturar.
5 – Volta-se ao ponto 1
O círculo continua até ser impossível baixar mais salários, ou devido a pressões sociais, ou porque a renovação das empresas estrangeiras torna impossível ser rentável mesmo com salários baixos. Nessa altura as empresas já esticaram tanto a corda que não é possível restruturar. Fica provado que neste país o pessoal não é competente o suficiente para ter bons salários.
A grande preocupação dos nossos liberais é que subindo o salário mínimo este circulo seja quebrado e as empresas tenham mesmo que investir. Claro que parte delas já passaram para lá do ponto de não retorno e podem ter de fechar.
jo,
“Porque razão se vão as empresas restruturar se puderem ter eternamente salários baixos?”
Por causa da concorrência.
Quanto mais baixos forem os salários, mais baixos serão os custos. Quanto menores forem os custos, maior será a margem de lucro potencial. Quanto maior fôr a margem de lucro potencial, mais investidores estarão interessados em criar empresas.
E quanto mais baixos forem os salários, mais trabalhadores se sentirão motivados a começar os seus próprios negócios.
“1 – Diz-se que os salários têm de ser baixos porque a produtividade é fraca”
Se a produtividade é baixa, como é que os salários podem ser altos?
“2 – Para ganhar a competitividade que se vai perdendo com o exterior baixa-se salários.”
Ou reestrutura-se as empresas para aumentar a produtividade e/ou a qualidade. Assim, ter-se-á mais para vender e/ou para vender mais caro. Por vezes (não havendo acesso a capital para investir), para reestruturar é mesmo necessário baixar os salários.
“3 – Não se restrutura porque, como se pode ganhar produtividade baixando os salários reais, não vale a pena.
4 – O passo seguinte é dizer que não se pode aumentar salários sem restruturar.
5 – Volta-se ao ponto 1”
Palavras de quem nunca criou uma empresa ou teve que pagar salários.
Os salários só podem baixar até ao valor pelo qual existam pessoas disponíveis para trabalhar. Muitos empregadores até gostariam de não pagar nada mas não encontrarão quem queira trabalhar para eles. Assim, terão que subir do 0 (zero) até um valor aceitável para alguns trabalhadores com as competências necessárias.
“Fica provado que neste país o pessoal não é competente o suficiente para ter bons salários.”
O que fica provado é que o jo não faz a mínima ideia de como se pagam salários. Deve julgar que o dinheiro aparece nas contas bancárias das empresas por artes mágicas.
jo,
“Porque razão se vão as empresas restruturar se puderem ter eternamente salários baixos?”, a resposta a essa pergunta é a chamada Mudança do Paradigma Produtivo. A mudança de um tipo de industria de baixo valor acrescentado (mão de obra intensiva) para outro tipo de industria não ocorre de um dia para o outro.
Se as PME´s de ( a maior parte de Baixo Valor Acrescentado) valem 99% do nosso tecido industrial, não conte nunca com salários idênticos aos das grandes empresas ou multinacionais.
Novamente, se a tipologia do nosso tecido industrial é caracterizado pela manufactura de produtos com baixo valor acrescentado, mesmo que a maior parte destas empresas se reestruture com a substituição de trabalho por capital, a verdade é que continuarão a ser industrias de baixo valor acrescentado por muitos ganhos de eficiência que ocorram.
Uma industria de calçado será sempre uma industria de calçado, não precisa de um Ph.D. para operar a máquina, e se o trabalho é indiferenciado o empregador só pagará o salário de eficiência para essa função. Acresce ainda, que a fábrica de calçado está a competir com a fábrica de calçado chinesa e com a fábrica do Bangladesh.
O caso torna-se ainda mais complicado quando falamos de uma empresa de serviços, ao invés de uma industria transformadora. Por ex., na hotelaria, mesmo havendo investimento em capital e em tecnologia, haverá limites para os ganhos de eficiência uma vez que a grande parte do trabalho é feita manualmente e por vezes com recurso ao outsourcing. Aumentos salariais significativos na hotelaria traduzem-se numa diminuição da produtividade em alguns segmentos hoteleiros, pois, ou os hoteis sobem os preços da estadia e repassam o custo para o cliente ou absorvem o aumento do custo na margem operacional. É preciso salientar que o segmento baixo da hotelaria vive de lucros marginais, qualquer variação nas vendas ou na margem operacional pode levar ao prejuízo.
Toda a gente diz que é preciso mudar o paradigma produtivo. Mas a única coisa que se vê os nosso empresários fazer é lutar por salários menores. Justifica-se que não se muda o tipo de produção porque os salários são baixos e que os salários são baixos porque não se muda o tipo de produção.
Talvez seja o nosso tecido empresarial que é burro. Mas penso que é só preguiçoso. Porque é que se há-se inovar quando se pode esbulhar?
Joaquim Amado
“Os salários só podem baixar até ao valor pelo qual existam pessoas disponíveis para trabalhar. Muitos empregadores até gostariam de não pagar nada mas não encontrarão quem queira trabalhar para eles. Assim, terão que subir do 0 (zero) até um valor aceitável para alguns trabalhadores com as competências necessárias.”
Um clarão ofuscante do óbvio. O que a nossa direita anda a tentar fazer é fazer descer esse limite até ao trabalho escavo, ou perto disso. Depois vai dizer que uma sociedade esclavagista é horrível, mas é a única possível.
Repare que parte das justificações que estão a utilizar contra o salário mínimo já foram usados contra a abolição da escravatura:
As fazendas vão falir, e depois quem alimentará os escravos, agora libertos.
O nosso tecido económico tem de se reestruturar primeiro antes de podermos libertar os escravos, senão é a ruína de senhores e escravos.
Não há meios de restruturar no século XIX mas talvez para o século XXI as fazendas sustentadas por escravatura possam acabar.
Há escravos que fogem, mas a maioria até aceita a escravidão, é um processo de mútuo consentimento.
jo,
Parece que só lê aquilo que lhe dá mais jeito.
Um empresário da industria do calçado por mais que inove, o produto final continua a ser um sapato ( a inovação-se fica pelo design e pouco mais). Este mesmo empresário não vai fechar a sua fábrica hoje, para amanhã, por. ex., criar uma empresa no ramo dos nanoprocessadores de máquinas utilizadas em neurocirurgia. O aumento do SMN não é o incentivo para que isto ocorra.
Quem irá operar a mudança de paradigma é a start up de jovens engenheiros recém-formados com valências na área. E esta mudança de paradigma demora décadas.
O que o estado tem de fazer é nutrir as empresas que já existem e que dão emprego à maior parte da população. Por outro lado, deve preocupar-se em que os recursos escassos sejam realocados de forma eficiente por forma a que cada vez mais empreendedores operem a mudança de paradigma.
jo,
Se “O que a nossa direita anda a tentar fazer é fazer descer esse limite até ao trabalho escavo, ou perto disso” então “o que a nossa esquerda anda a tentar fazer é fazer descer o emprego até ao pleno desemprego, ou perto disso”.
jo,
“O que a nossa direita anda a tentar fazer é fazer descer esse limite até ao trabalho escavo, ou perto disso. Depois vai dizer que uma sociedade esclavagista é horrível, mas é a única possível.”,
é uma falácia querer abolir o SMN (existem vários motivos para que isso não aconteça: a existência de um mercado monopsonista, a propensão marginal de consumo, a receita colectável), mas de igual forma, é uma falácia querer aumentar o SMN acima do nível de produtividade.
A discussão deve centrar-se no aumento do SMN com base na produtividade do sector e da região.
jo,
“Toda a gente diz que é preciso mudar o paradigma produtivo.”,
mais lhe digo – a mudança de paradigma ocorre (quando há acesso ao capital e existe capital humano qualificado) numa situação de pleno emprego, ou melhor, quando se aproxima da taxa natural de desemprego, situação esta que torna o trabalho mais caro que o capital. Quando isto se verifica, as empresas são “forçadas” a investir em capital e tecnologia, aumentando assim a produtividade.
Olá, já muito foi dito depois do meu post, mas ele talvez tenha passado despercebido à maioria, dado do que o tempo de moderação foi maior do que o de outros posts que apareceram a seguir. Gostava de saber o que pensam sobre estas 2 questões que coloquei. Obrigado.
Boa noite, acho que é uma abordagem interessante para se debater. Surgem-me, no entanto, algumas interrogações. Qual seria o resultado da comparação entre salários mínimos na Europa se em vez do rácio com o salário mediano, se utilizasse diretamente a paridade do poder de compra como fator de ajustamento?
Adicionalmente gostava de saber como comenta estes excertos de declarações do professor Carlos Paz ao EconómicoTV sobre a definição e o significado do SMN que introduzem também a dimensão social do mesmo: “O salário mínimo não existe para recompensar a produtividade. (…) O salário mínimo é o salário que um trabalhador tem que ter para sobreviver condignamente tendo um trabalho a tempo inteiro. (…) Com o salário mínimo de hoje não se consegue sobreviver.”
É ainda interessante que, apesar de o custo salarial nas empresas ser à volta de 20%, apresentando valores superiores os custos da energia ou transporte de mercadorias, não ouvi esta mesma lógica de argumento aquando as constantes subidas de energia há uns anos ou quando se começou o processo de colocar portagens em tudo o que era estrada….
E não esquecer que, a solução para um qualquer país pobre não poderia ser o aumento dos salários, como na ironia insinua o post dado a lógica argumentativa do aumento do SMN, pois tais economias não o suportariam. Coisa que não acontece em Portugal. O capital existe, encontra-se sim mal distribuído, ou investido num género qualquer de especulação financeira.
E partimos sim de pressupostos totalmente diferentes: o mercado não funciona, de todo, eficazmente. Poderá funcionar, mas não é deixando-o à sua sorte.
David,
escrevi um apontamento comndados relativos à comparação do salário mínimo em PPP´s no post: https://oinsurgente.org/2015/12/08/o-salario-minimo-na-uniao-europeia-em-2015/#comments
Relativamente ao Prof. Carlos Paz, só posso dizer que é um maluquinho e um tipo demasiado emocional para este tipo de conversas. As pessoas emocionais devem-se abster de falar de economia, de religião, de futebol, de psicologia, e de tudo que lhes faça ferver o sangue.
Nas análises económicas há pouco espaço para argumentos emocionais, tudo se resume a trade-offs, e estes devem ser analisados de forma racional.
Se o Prof. Carlos Paz acha que o salário mínimo actual é obsceno e se achar que o SMN condigno não deve ser inferior a 700 euros, então é o mesmo que dizer que é preferível ter um terço da população (activa) a ganhar 0 euros para os outros dois terços terem o tal salário condigno. A economia não é isto. A economia é alcançar o melhor trade-off. Se um economista desenhar uma política onde 51% da população fique a ganhar e os outros 49% fiquem a perder, então está a escolher uma política racional, contanto que não haja outra opção melhor. Se o economista, de forma emocional, fizer escolhas que beneficiem os 49% em detrimento dos 51%, então não está a fazer a seleccionar a melhor opção. A arte da economia é escolher o mal menor, ou menos mau.
João Santos,
“É ainda interessante que, apesar de o custo salarial nas empresas ser à volta de 20%”, a questão não é tanto a percentagem dos custos do trabalho nos custos totais, nem sequer a análise financeira das empresas, é mesmo um problema de macroeconomia.
Os custos unitários do trabalho são basicamente os salários divididos pela produtividade. Não é o preço do trabalho, ou por outra, é o preço do output trabalho. Se a produtividade cresce mais rápido do que os salários, então, mesmo se os salários estão a crescer, os custos unitários do trabalho estão a diminuir. Por outro lado, se os salários sobem mais rápido que a produtividade, então os custos unitários do trabalho estão a subir. Não há nada de errado com um pouco de aumento dos custos unitários do trabalho aqui ou ali. Mas no longo prazo, o crescimento dos custos unitários do trabalho precisa ser constrangido ou então torna-se impossível empregar ninguém. Um aumento dos custos unitários do trabalho significa um aumento no nível de preços, a Inflação.
“As long as nominal wages are growing at or beneath the rate of productivity growth, then labor costs are putting no upward pressure on prices at all. This concept is embodied in unit labor costs, i.e., the unit of compensation per unit of productivity. If real wages and productivity accelerate by equal amounts (in percentage terms), there is no increase in unit labor costs and no pressure on prices from wage growth, as more efficient production (faster productivity growth) has “absorbed” the wage increase such that it does not need to be passed through to prices.”
http://www.cbpp.org/research/full-employment/a-vital-dashboard-indicator-for-monetary-policy-nominal-wage-targets
http://www.voxeu.org/article/wages-and-productivity-eurozone
João Santos,
“O capital existe, encontra-se sim mal distribuído, ou investido num género qualquer de especulação financeira.”
O que é que quer dizer com “mal distribuído”? Gostaria que fossem outros a detê-lo?
Porquê? Por que razão o capital não deve estar nas mãos de quem o ganhou (através de trabalho, talento, herança, sorte, bons investimentos, …)?
E por que razão o dinheiro não pode estar “investido num género qualquer de especulação financeira”? Todos os investimentos são especulativos (vá ver o significado do termo) e o João Santos pode querer ter uma palavra a dizer sobre a forma como os outros investem o dinheiro deles mas, se é assim, eu quero ter uma palavra a dizer sobre o que o João Santos escreve nas caixas de comentários de blogs.
João Santos,
uma boa forma de ver que isto se trata de um problema macro e não uma demonstração de resultados das empresas, é tratar os salários e a produtividade como um choque de oferta.
O aumento dos salários, acima do nível de produtividade, faz aumentar os custos do negócio e isto reflecte-se num aumento do nível de preços; Inflação e desemprego.
http://www.economicsonline.co.uk/Managing_the_economy/Supply_side_shocks.html
http://www.voxeu.org/article/how-restore-competitiveness-eu
Qual o efeito da “seta” que acho que falta no diagrama: do grupo dos desempregados para o grupo dos produtores de capital: http://postimg.org/image/8xypuscy7/
Ou seja, que tipo de capital seria procurado, no caso concreto da nossa economia?
E será que um choque que leva à procura desse capital não irá provocar ao aumento da competitividade que precisamos? Será que podemos tornar-nos bons nisso e exportar?
Paul Krugman, um tipo insuspeito para a esquerda, vem hoje dizer para ter muita cautela com o aumento salário mínimo em Portugal
http://observador.pt/2015/12/14/aumento-do-salario-minimo-preciso-cuidado-diz-nobel-da-economia/
O artigo começa por defender que o Salário Mínimo deve ser comparado com o índice de preços (PPP). O que não percebo é porque então de repente muda o termo de comparação, substitui o PPP pela mediana? Ao dividir o mínimo pela mediana, fica com uma medida da distorção da distribuição dos salários. Por isso fui verificar se seria fácil encontrar dados em que mostrassem SM/”um indice de preços qualquer”. Basicamente o gráfico em que o autor do artigo se baseia para dizer que o SM português é alto, é invertido pelo uso da mediana em vez do PPP. Ou seja, o SMN é baixo… Não sei se valerá a pena ler o resto do artigo! O amigo Google deu-me duas respostas rápidas:
http://www.cityam.com/1411324881/ed-miliband-labour-party-conference-how-long-would-it-take-europes-minimum-wage-employees-buy-big-mac
http://www.theguardian.com/news/datablog/2014/sep/25/comparing-the-minimum-wage-across-europe-using-the-price-of-a-big-mac
Ricardo,
no post anterior eu tive o cuidado de ir ao site da OCDE para comparar salários mínimos em PPP, produtividade e PIB em PPP (dados 2014)
https://oinsurgente.org/2015/12/08/o-salario-minimo-na-uniao-europeia-em-2015/#comments
Verificará, após consultar a coluna, que o salário mínimo, tal como estava em 2014 (485 euros), era proporcional ao que o país produzia. Os 505 euros actuais têm que estar alinhados com a produtividade, caso o SMN comece a subir o desemprego também subirá.
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No exemplo:
“Porque é que isto acontece? Imagine que tem uma empresa que produz atum em conserva. Um trabalhador pouco qualificado consegue produzir aproximadamente 550 latas por mês, que no final serão vendidas a 1€ cada. Se o SMN estiver fixado em 500€, então ainda lhe compensa contratar este trabalhador, pois o benefício (o que produz) é maior do que o seu custo (o salário). De forma simples, 550€-500€ > 0. Imagine agora que o SMN aumenta para 550€. Continua a compensar contratá-lo? Para esta empresa não.”
Quanto do valor do produto (1€) corresponde ao trabalho de quem o produz? Se estou a fazer bem as contas, se o trabalhador auferir 500€, cerca de 90% do valor do produto é trabalho, se o trabalhador auferir 550€, 100% do valor do produto é trabalho. Portanto, a única variável é o valor do trabalho, pois a produção e o valor do produto são constantes. Interessante. Embora o trabalho produzido tenha impacto no valor do produto, estas percentagens parecem-me demasiado elevadas. Por outro lado, na mesma empresa, um trabalhador que não produza latas de atum, um administrativo ou o gerente, recebem o quê? Como será pago o seu trabalho?
Cumprimentos.