Centenomics

É me impossível conseguir ler sem deixar de rir as propostas do programa de frente de esquerda e a correspondente a actualização do plano macro-económico. Eu já antes achava que os números do Centeno não passavam de números inventados numa folha Excel (nunca disponibilizada). Agora, tenho a certeza. Como é que é possível que depois de acomodadas as medidas do BE e do PCP – que essencialmente aumentam a despesa e reduzem a receita – no cenário macro-económico ajustado o défice orçamental melhore todos os anos (excepto por 0,1% em 2019) e que a dívida pública passe de 117,9% do PIB em 2019 no cenário inicial para 112% do PIB no cenário ajustado – uma diferença de menos 5%!

A ser verdade que as medidas têm um impacto positivo e porque as medidas são muito mais eleitoralistas e populistas, porque é que o próprio PS não as propôs como parte do seu programa para comprar ganhar mais alguns votos?

Ao mesmo tempo, a frente de esquerda destroi um capital de credibilidade e de confiança no investimento que foram conquistados arduamente ao longo de quatro anos. Exemplos como a reversão da concessão ou privatização dos transportes, suspensão da descida da taxa de IRC (ou até reversão para empresas com mais “rotatividade”), redução do número de anos para abatimentos dos lucros, tributação dos lucros das grandes empresas para financiar a Segurança Social em nada irão contribuir para investimento tão necessário para a criação de emprego. Num mundo cada vez mais global, um país que não seja amigo do capital e do investimento perde-o num instante para outros países.

Tanto quanto me apercebo, a esperança do Centeno e do PS é que o consumo interno juntamente com uns multiplicadores mágicos Keynesianos milagrosamente faça os números baterem certo. Fica também demonstrado que o PS nada aprendeu com a crise de 2010/2011 em que apesar de um aumento brutal da despesa (e da dívida), o país foi deixado na iminiência da bancarrota. Já dizia Einstein: a definição de insanidade é fazer a mesma coisa várias vezes e esperar resultados diferentes.

Caso um governo do PS venha a tomar posse, o primeiro teste quer a este cenário macro-económico quer à própria frente de esquerda, parece-me ser o chumbo em Bruxelas deste orçamento.

Enfim… parece que vamos ter um “grupo de sábios a quem eu não confiava a gestão do meu condomínio a gerir os destinos do país. Boa sorte lá com isso!

Costa_Centeno_Troika

27 pensamentos sobre “Centenomics

  1. Se no novo cenário o défice melhora todos os anos (em relação ao cenário anterior), obviamente a dívida também fará o mesmo. O que é estranho é que perante medidas de aumento de despesa e redução de receitas o défice diminua (a menos que haja medidas de aumento de receitas ou redução de despesas”escondidas”). Portanto, ou as contas de défice estão erradas, ou as anteriores estavam erradas, ou estão dependentes de algo diferente do indicado anteriormente.

  2. Revoltado

    Aquilo não são contas: são apenas números inventados. Não passam dum conto de fadas para enganar quem quiser ser enganado. Este orçamento faz-nos pensar que vivemos num país com uma economia de topo e que, por esse mundo fora, não se está a instalar um cenário de crescimento 0. Se, regra geral, apenas economias emergentes conseguem taxas de crescimento constantes acima dos 2%; como é que estes génios se propoêm financiar os défices que aí vêm (4% no mínimo, diria eu) ? Como é que nenhum jornalista ainda colocou esta questão ao Costa ou Centeno? Portugal não vai conseguir, nem mesmo na melhor das hipóteses, crescer acima de 2% (e com estas medidas do PS mais longe disso ficamos). Vamos ter défices crónicos sempre acima dos 4%. A inflação está estagnada, logo não vai “comer” a dívida…nem eu, que sou burro, preciso dum excel para ver que o que aí vem é mais uma bancarota!

  3. Rogerio Alves

    O Costa deve estar à espera de vender o NB (nem que seja por tuta e meia) para poder encaixar o valor da venda nas contas do défice (se aumentaram uns 4% ao défice de 2014 também, caso venda, diminui os mesmos 4% em 2016). Doutra forma, o défice vai para os 6 ou 7, independentemente do que diga o excel do Centeno!

  4. Gil

    Eu aconselharia alguma cautela, porque também me fartei de rir quando ouvi a famosa pretensão do “ir para além da Troika” e depois vi que estavam a falar a sério e só havia motivos para chorar.

    Portugal tem desde há muito o drama do desequilíbrio da balança comercial. Mas os que apontam o dedo aos que defendem que a dinamização da economia tem que ser feita por um maior consumo (arriscando um aumento de importações, logo, um maior desequilíbrio), esquecem que resolver a situação pela redução forçada do consumo, não anda muito longe das ilusões de monsieur Colbert e, levada ao extremo, significaria a estagnação do comércio à escala mundial. Na verdade, ambos estão errados e talvez o discurso mude mais rapidamente do que se pensa, quando se sentirem os reais efeitos da trapalhada da Volkswagen e de TODAS as empresas que estão envolvidas. Dramático? Nem por isso. Apenas a prova de que as sociedades continuam em movimento e de que não chegamos ao fim da História.

  5. Lebowski

    A extrema esquerda em menos de 1 mês conseguiu agradar a mais “clientes” e melhorar o cenário inicial, o que confirma que o cenário com que o PS se apresentou a eleições foi feito em cima do joelho! Provavelmente estariamos na presença do 1o superávit da democracia se não tivessem que incorporar as “omissões gravíssimas” da coligação…

  6. André Miguel

    Qualquer dia anunciam que as obras em Portugal vão passar a ser feitas com pá e picareta em vez de máquinas.

  7. JP-A

    Bem ou mal, faço parte dos que têm que ver para crer que o PR dá posse a um tipo que se propõe reverter um núcleo de medidas que não só o PS tinha aceitado no acordo do pedido de ajuda internacional, como ainda por cima serviram de porta de acesso aos fundos que nos permitiram criar a tal almofada que ele pretende estourar antes de se pisgar. Quero ver o PR a permitir-lhe fazer o que fez ao PS, ao José Seguro e que se prepara para fazer a Portugal.

    Este doutor Costa deve julgar que Portugal é o Benfica.

  8. JS

    “… , parece-me ser o chumbo em Bruxelas deste orçamento….”.
    A alteração constitucional que ligou o orçamento português aos condicionamentos de Bruxelas -mesmo sem falar na dependência via divida soberana- seria suficiente para levar o PR a enviar, previamente, semelhante programa de desepesas estatais para uma pré-análise.
    Há uma batata muito quentinha nas mãos do actual PR.

    Entretanto os candidatos a PR devem claramente (sem os esperados eufemismos de MRdS) pronunciar-se sobre como se comportarão nestas mesmas circunstâncias.
    Uma excelente pedra-de-toque para definir candidatos demagogos.

  9. Nuno

    Se Bruxelas chumbar o orçamento acontece alguma coisa? O orçamento pode ser aprovado só no parlamento de cá e entrar mesmo assim em vigor.

  10. lucklucky

    “João Branco em Novembro 8, 2015 às 10:04 disse:
    Se no novo cenário o défice melhora todos os anos (em relação ao cenário anterior), obviamente a dívida também fará o mesmo.”

    Como !? se existir défice está a pedir emprestado para pagar o défice , logo está a aumentar a dívida.
    Logo como é que a dívida melhora?

  11. hustler

    Centeno e o seu multiplicador Keynesiano! Este tótó projectou estes cenários no pressuposto que a economia global cresceria 4% e que os juros da dívida se manteriam inalterados. O mais grave é que tratou as variáveis económicas de forma independente sem qualquer causalidade.
    Quando a aventura de esquerda acabar, a sua reputação ficará no lodo!
    Harvard deveria fazer testes psicométricos na admissão dos alunos para acautelar que o prestígio da instituição não fique em cheque. Um tipo que marra a matéria em vez de a entender nunca será um bom profissional.

    “A second criticism of the Keynesian multiplier stems from Austrian criticisms of empirical studies in general.
    Econometric methodology presents certain variables as parameters—variables that do not change. In reality, of course they change. So the best that can be said of such analyses is that they are a study of a particular history. According to Mises,

    Statistics is a method for the presentation of historical facts concerning prices and other relevant data of human action. It is not economics and cannot produce economic theorems and theories. The statistics of prices is economic history. The insight that, ceteris paribus, an increase in demand must result in an increase in prices is not derived from experience. Nobody was or ever will be in a position to observe a change in one of the market data, ceteris paribus. There is no such thing as quantitative economics. All economic quantities we know about are data of economic history. (Mises, 1998, pp. 247–248)
    The empirical studies are based on economic history, where no ceteris paribus exists.”

    https://mises.org/library/keynesian-multiplier-concept-ignores-crucial-opportunity-costs

  12. Uma espécie de regresso ao futuro. Já vi uma imagem semelhante, com protagonistas diferentes. No lugar do Costa(energúmeno nº 2) estava o energúmeno nº1. No lugar do Centeno estava o Teixeira dos Santos. Uma previsão gentilmente fornecida pelos partido bancarroteiro.

  13. tina

    A esquerda está agora a ser avisada, um dia mais tarde vão apresentar todo o tipo de desculpas. A História repete-se, podíamos pensar que por serem socialistas e burros aprendem mais devagar, mas na verdade o que se passa é que são pessoas que não querem saber de nada a não ser chular o Estado.

  14. tina

    De toda a maneira, isto é ainda mais uma razão para Cavaco apresentar um problema de consciência, sendo esta a eminente segunda bancarrota do país.

  15. chipamanine

    alguém me pode elucidar como é que estes arautos e paladinos saem todos dos quadros do BP? Depois do senhor defice 6,83% este senhor vem sublinhar que devemos continuar vigilantes e muito atentos a estes espinhas de silicone que graçam na instituição, não lhe dando tréguas … só se interessaram em salvaguardar que estão isentos dos cortes dos vencimentos aplicados aos servidores do Estado …não há pachorra …

  16. Pingback: Os mercados e os especuladores | O Insurgente

  17. Dário

    Mais um “economista de créditos firmados”. Mário Soares lançou esta balela a propósito de Vítor Constâncio e a coisa pegou. Desde então, Portugal é país dos “economistas de créditos firmados”. O último da espécie que o PS tirou da cartola foi o Teixeira dos Santos. Lembram-se? O triste desta história é ver o lamentável espectáculo dado por um académico inegavelmente inteligente, mas sem princípios. Por um homem disposto a sacrificar a o conhecimento e a verdade pelo poder e, após essa fase, por um lugar na gestão de topo de um grande grupo económico ou por um cargo institucional, apagado mas lucrativo. Sem dúvida mais bem pago que um lugar de professor universitário. Mas a universidade portuguesa é isto: uma cambada de toleirões ambiciosos com o rei na barriga. Não se espere que dela saia gente que não seja assim.

  18. ” Eu já antes achava que os números do Centeno não passavam de números inventados numa folha Excel (nunca disponibilizada). ”

    Eu posso falar.. porque foi meu professor e isso basta-me.
    É que as aulas dele eram exactamente assim… más explicações, numeros errados e muitas incertezas.
    Assusta-me bastante vê-lo em posição de assumir qualquer coisa que implique directamente/indirectamente com os destinos do país e dos portugueses….

  19. Georgina Santos Monteiro

    A tal famigerada esperança do Centeno e do PS NÃO EXISTE. Keynes era um PERVERSO aberto.

    E o fascismo da esquerda é o que é: VIOLÊNCIA!!

    Porque é que eles não sabem e (!) não querem escutar os outros?

    Eles fazem as contas, que nós aturamos tudo isto. Com inteligência nada, NADINHA, tem de haver. Nada.

    Nós temos que aprender a lutar com inteligência e mandar essas bestas e esses trafulhas com um pontapé na parte traseira para a Venezuela. Ponto final. Discutir com burros? Em vão. (Prova: Prós & Contras de ontem, com uma Fática Campos da mais corrupta que existe!!)

    O melhor é que todo o dinheiro fuja, para o mais longe possível.

    Mais medo tenho só, que deixam para cá entrar o fascismo muçulmano. Isso nunca perdoaria a essa desgraçada da Catarina, uma autêntica perversa e estúpida.

    Amadores são assim. Saem muito caro a qualquer país.

  20. Pingback: Uma Frase Para Mais Tarde Recordar | O Insurgente

  21. Dário

    @ Gonçalo Fernandes,

    Obrigado pelo seu depoimento. Quem teve aulas com estes cromos “de créditos firmados” – como você com o Centeno e eu na FEP com o Teixeira dos Santos e outros – é que os conhece bem. O resto é conversa fiada para endrominar papalvos.

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