Uma excelente estreia do Luís Aguiar-Conraria no Observador
Mário Centeno, de quem se fala como futuro ministro das Finanças, é especialista em mercado de trabalho. Mas, ao contrário de Varoufakis, que era ‘especialista’ em teoria dos jogos, Centeno é mesmo especialista em mercado de trabalho.(…)
Muita gente argumentará que o salário mínimo em Portugal é tão baixo que o perigo de provocar desemprego não existe. Infelizmente, não têm razão. Para se aferir se o salário mínimo provoca efeitos nefastos, é necessário analisar em que condições está o mercado de trabalho. Sobre este assunto, a literatura económica identificou três condições necessárias: o Índice de Kaitz (que é, simplesmente, o rácio do salário mínimo com o salário mediano) não deve ser muito elevado; não deve haver desemprego excessivo e os aumentos do salário mínimo devem ser moderados. Se estas condições não forem verificadas, com toda a certeza, subidas de salário mínimo serão contraproducentes, levando a aumentos importantes do desemprego.
Como se pode ver no gráfico que apresento, o Índice de Kaitz em Portugal tem o valor de 58%, sendo o terceiro mais alto da União Europeia. O desemprego em Portugal é dos mais altos da Europa e se, como defende Catarina Martins, nos próximos anos o salário mínimo subir para 600€, Índice de Kaitz português subirá para valores seguramente acima de 65%, tornando-se o valor mais elevado da União Europeia. Uma variação que pode ser qualificada de diversas maneiras, mas nunca como moderada. Enfim, adivinham-se consequências desastrosas no desemprego.
E Mário Centeno sabe disto muito bem. Afinal foi ele que tirou esta conclusão num estudo publicado no Boletim do Banco de Portugal, que passo a citar: “Globalmente os resultados apontam para um efeito negativo de aumentos do salário mínimo do emprego de trabalhadores com baixos salários, que tem como contrapartida pequenos ganhos salariais.”
LEITURAS COMPLEMENTARES: O sectarismo entre socialistas democráticos e social-democratas; A sensatez fica para um destes dias (2)
Completamente de acordo, só foi pena não opinar sobre a compatibilidade entre as opiniões de Centeno e a CGTP 😀
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