Numa entrevista publicada no dia 11 de Julho de 1974 na revista italiana Il Mondo, o escritor, cineasta e comunista heterodoxo Pier Paolo Pasolini fez uma crítica do consumismo e debateu a tese de um novo fascismo, imposto subliminarmente pelo poder, suportado pela pequena burguesia e preservado com a ajuda da uniformização cultural e hedonismo ditados pela televisão. Nessa linha de pensamento, falou de Portugal, que à data vivia o fervor revolucionário e as incertezas da constituição de um novo regime. E, céptico, arriscou: «[É] de prever que cinco anos de “fascismo consumístico” mudarão radicalmente as coisas: começará o emburguesamento sistemático do povo português e não haverá mais espaço nem vontade para as ingénuas esperanças revolucionárias.» Como acontece frequentemente com os marxistas, Pasolini enganou-se. Passaram quarenta anos, e, a julgar pelas notícias dos últimos dias, ainda há espaço e vontade para as «ingénuas esperanças revolucionárias» (em grande parte alimentadas pelo consumismo de uma súcia privilegiada que se passeia entre o Chiado e a Bica). Dinheiro para a festa é que provavelmente já não há.
Esse era comunista mas tinha uma bagagem cultural que ninguém tem no PCP nem no PS. Talvez fosse comuna por ser homo, revolta e tal, pois alguém como ele que leu os clássicos e dissecou Dante jamais deveria ser comuna. Talvez se tivesse vivido mais uns anos teria mudado de posição política quando visse a URSS a cair.