A esquerda baralha-se quando se trata de mulheres

O meu texto da semana passada no Observador.

‘Ficamos avisados, portanto, que só é admissível despirem-se as candidatas e deputadas do PS. Para as outras, roupa abundante, sff.

A mesma coerência se pode aplicar ao estrépito pelas declarações de Paulo Portas, afirmando que as mulheres têm de organizar a casa, pagar as contas a dias certos e prestar cuidados a pais e filhos. Bom, eu que pertenço à geração de partilha de tarefas domésticas achei esta visão do papel feminino um tanto anacrónica, mas sei bem que ainda é a que se aplica na maioria dos agregados familiares. Não é por acaso que tanto se discute o tema da sobrecarga que as mulheres têm por acumularem emprego com a quase totalidade do trabalho doméstico. Paulo Portas constatou um facto, não defendeu nenhuma suposta ordem natural da organização familiar.

Mas, claro, houve rasgar de vestes e epítetos múltiplos de salazarento para Portas. Ora deixem-me regressar à entrevista que Fernanda Tadeu, mulher de António Costa, deu ao jornal do PS. Nela, a senhora diz: ‘Ser-se mulher na minha geração é uma tarefa difícil […] Passar a ter uma profissão e uma carreira e juntarmos a ela as tarefas tradicionais da educação dos filhos, de organização da casa, foi difícil para mim e foi difícil para a maior parte das mulheres portuguesas.’ E descreve a sua vida depois da curta viagem a Veneza: ‘foi uma lua-de-mel em cheio! Sozinha e a lavar fardas cheias de lama.’ E ainda refere que Costa faz ótimos petiscos mas ‘a cozinha fica num estado lastimável’ se Fernanda não estiver lá – a limpar, presume-se.

Em resumo: a mulher de Costa lavava as fardas cheias de lama do marido, organizava a casa, tratava da educação dos filhos, acumulava profissão com tarefas domésticas e limpa a cozinha que o marido suja. Parece-me a mim uma divisão extremamente tradicional e pouco moderna das tarefas domésticas e familiares. Vou ficar a aguardar pelas manifestações estridentes das senhoras de esquerda chamando salazarento a António Costa.’

O texto todo está aqui.

3 pensamentos sobre “A esquerda baralha-se quando se trata de mulheres

  1. Joaquim Amado Lopes

    Maria João Marques,
    Registar a hipocrisia e incoerência “da esquerda” é trabalho a tempo inteiro para uma equipa numerosa, muito bem treinada e altamente motivada.

  2. EMS

    A mulher de António Costa lavou fardas cheias de lama em 1980.
    1980 foi há 35 (trinta e cinco) anos. 1980 foi noutro século.
    Não me parece possível que alguém tente comparar as recordações de há 35 (trinta e cinco) anos (noutro século) com as declarações de alguém que contemporaneamente (neste século) tem responsabilidades políticas e ainda assim pretenda fazer comparações honestas.

    PS: Surprendeu-me que António Costa tenha ido á tropa. Provavelmente será o único político de destaque nesta corrida eleitoral que fez serviço militar obrigatório.

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