O Euro, a Grécia e a campanha eleitoral em Portugal

Cataventos

Ricardo_campelo_MagalhaesO meu artigo de ontem no Diário Económico:

“A democracia matou o padrão ouro”. Charles Rist referia-se ao aumento da pressão por programas de redistribuição que obrigam governos a obedecer ou a sair na próxima eleição. A situação do euro prova mais uma vez como esta frase foi profética.

O povo não compreende as vantagens de uma moeda forte,as elites políticas acreditam que compensa retirar um euro a dez milhões para dar um milhão a dez apoiantes, e quem devia explicar a falácia da composição prefere tentar beneficiar do sistema, empurrando o problema para a frente.

Assim, o sistema gera políticos como António Costa: no verbo, solidário com todos e disponível para todos os esquemas redistributivos; na ação, focado na sua sobrevivência a qualquer preço e nos que lha possam proporcionar. Logo, ora o Syriza é a esperança da Europa quando ele ganha, ora se distancia quando aquele leva a Grécia ao abismo; ora promete mais despesa do Estado, ora afirma a sua fé no euro para todos.

Nos próximos meses, o PSD será o oposto da Grécia, o PS será o seu reflexo: um partido que defende tudo e o seu contrário, cheio de conflitos e contradições, incapaz de tomar posições firmes, e em que a única certeza é que vai navegar para onde sopre o vento.

6 pensamentos sobre “O Euro, a Grécia e a campanha eleitoral em Portugal

  1. Não existe assim uma tão grande diferença entre PS e PSD. A frase “defende tudo e o seu contrário” é a chave perfeita para os dois, e muito particularmente para o primeiro ministro, cuja habilidade retórica choca a cada instante com a sustentação factual.
    Uns e outros tudo fazem e tudo farão para deter – à vez – a “alcatifa” do estado, as benesses do poder e “governar” com o “nosso dinheiro”. Quem acentua diferenças entre um e outro, entre PS e PSD, está a fazer parte do “jogo”. A jogar por uma das equipas…

  2. LV

    Parabéns Ricardo pelo artigo e pela referência a Charles Rist.

    A forma de enquadrar a frase seleccionada de Rist pode ser a seguinte: a relação entre moeda e dinheiro. Alguns dirão que esta é a perspectiva que melhor expressa o mal que subjaz ao modo de organização política e económica das sociedades actuais. Vejamos.
    As democracias manifestam uma tensão constitutiva que põe em causa a sua viabilidade como forma de governo. A democracia existirá enquanto os eleitores não compreendam que podem atribuir-se, pelo voto e acção de maiorias, benefícios de natureza monetária a partir do erário público. No momento em que o compreendam é fácil concluir o que acontece: a maioria vai eleger aqueles que garantam a atribuição de uma fatia maior desses benefícios. Colocando em contexto este raciocínio, o resultado desta estratégia resultará num desiquilíbrio importante. E a questão que emerge é então: onde ir buscar moeda para satisfazer estas necessidades?
    As as soluções são conhecidas de todos – aumento de impostos ou… impressão de papel-moeda (mesmo na sua vertente digital) -; tanto a primeira como a segunda nesta segunda têm contribuído para aprofundar o problema das sociedades actuais. Importa acrescentar que a impressão de papel-moeda e criação de dívida são uma e a mesma coisa.

    Recuperando as palavras de Philip Cortney na introdução à obra (que também traduziu) de Charles Rist, “The Triumph of Gold”, chamo a atenção para o último parágrafo, que é escrito em 1961:
    “Os dois principais obstáculos para o regresso a um padrão-ouro internacional são: (a) a oposição dos governos em colocarem um fim à inflação e a aceitação deste facto por parte dos cidadãos; e (b) a recusa dos EUA em considerar uma subida no preço do ouro em todas as moedas.
    Assim a alternativa ao regresso à sanidade monetária é mais inflação (…). Muitas pessoas acreditam que ainda temos escolha entre inflação e não-inflação. É minha convicção profunda de que a nossa escolha real é entre inflação ou liberdade.”

    Parabéns, Ricardo, mais uma vez.
    Saudações,
    LV

  3. Luís Lavoura

    O povo não compreende as vantagens de uma moeda forte

    O povo compreende que essas vantagens incidem essencialmente sobre a parte dele que tem fortes relações internacionais, por exemplo investimentos no estrangeiro. Para o povo na sua maioria uma moeda forte não tem grandes vantagens.

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