40 anos depois

Faz hoje 40 anos que em Portugal tiveram lugar as primeiras eleições livres. Foi mais um dos passos na consolidação do actual regime que, podemos arriscar dizê-lo, se esgotou em 1986. Meros doze anos depois. Esta conclusão começa com uma pergunta: para que serviu o 25 de Abril? A resposta cinge-se aos habituais ‘Descolonizar, Democratizar e Desenvolver’. Ora, a descolonização foi feita, a democracia implementada e as bases do desenvolvimento escolhido, estabelecidas na adesão de Portugal à CEE, em 1986.

A partir daqui o regime deixou de dar respostas. Estagnado, foi como que vivendo com os créditos inicialmente conseguidos e que não foram sendo actualizados. Daí que, do auge no final dos anos 80 até à decadência, de início lenta, depois cada vez mais acelerada, a que agora assistimos, foi um passo. Uma vida para muitos. Como é que foi possível? Vamos por partes.

Descolonizou-se. Mas fez-se algo para que o país se aproximasse das suas ex-colónias? Existe alguma relação especial com os denominados PALOP? Pouca, muito pouca. E a que subsiste, baseada na iniciativa de mais de cem mil portugueses que encontraram trabalho em Angola, é contrariada pela incapacidade do Estado, deste regime, feita a descolonização, ter um relacionamento equilibrado com esses países.

Democratizou-se. Sucede que apenas no sentido em que votamos em listas de deputados feitas por partidos políticos. Acaso se aperfeiçoou a democracia, com uma ligação directa entre os eleitores e os seus deputados através dos círculos uninominais? Procedeu-se à descentralização democrática das autarquias. Mas nunca se ponderou a descentralização fiscal de modo a que as receitas dos municípios decorressem dos impostos cobrados localmente e não vindos de Lisboa. Quarenta anos depois, a democracia deste regime já não responde às necessidades das pessoas em nome de quem foi implantada.

Desenvolveu-se. Mas à custa de uma dívida que pôs em causa esse mesmo desenvolvimento. Foi algo que, contrariamente ao que se disse, era tudo menos sustentável. Porque não se manteve, caiu como um baralho de cartas. Também aqui, o modelo seguido está desadaptado da realidade e, este é o ponto essencial, o regime não dá respostas e as poucas que ainda vão sendo apresentadas são liminarmente recusadas.

Não há debate político. Presos ao politicamente correcto da esquerda que se arroga senhora do país há 40 anos, e de uma direita político-partidária que a ela intelectualmente se vergou, o regime estagnou porque não há debate. Não há troca de ideias; não há discussão pura e dura; franca, sincera. Na defesa cega da sua posição, a esquerda prefere baralhar para dar de novo, esquivando-se ao debate. O preço está na democracia parca que temos e no desenvolvimento sem bases que hipotecou o futuro de todos. De quase todos: muitos foram embora, respirar melhores ares.

7 pensamentos sobre “40 anos depois

  1. jc

    bom, discussão pura e dura parece-me que até há em demasia. O problema é que a discussão pura e dura, cada um a berrar mais alto que o outro, não serve de nada.

  2. Jose Domingos

    Não existe direita em Portugal, porque a esquerda, não deixa. O cds, é um partido do sistema e situacionista, mais á direita, a esquerda enche a boca com a conversa do fascista e do nazi. É a suposta superioridade moral deles, o que quer que isso seja.

  3. Francisco

    Com aquela abrilada (1974, porque há mais na historia de Portugal) ficámos mais pobres, dependentes da UE. Podia e devia ter sido de outro modo. Os abrilistas continuam a dominar na sua caraterística mediocridade…Eles continuam vivos…

  4. lucklucky

    Quanto mais Democracia menos Liberdade.

    – Se votarmos sobre tudo, não temos Liberdade

    Quanto menos Democracia mais Liberdade.

    – Se não votarmos, não temos Liberdade.

  5. Pingback: Baralhar e dar de novo | O Insurgente

  6. O 25 de Abril não tem culpa(senão fosse o 25 era outro dia qualquer)mas sim os personagens e partidos que “tomaram conta” do regime saído do imbróglio pós abrilesco(começando logo a 25 de Abril até ao 25 de Novembro)tendo nós como consequência um Estado semi-falhado(para ser simpático)que nem é Socialista nem é liberal-capitalista,(talvez falte um verdadeiro partido social-democrata)e onde se criou as condições para a instalação da corrupção,da mentira e da mediocridade.—(postei este mesmo texto no post do Delito de Opinião)

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