Esta pequena decomposição temporal da dívida pública em função do PIB demonstra, de uma forma muito simples, a insustentabilidade da política do endividamento crónico. Para cada ano é desconstruído o diferencial absoluto do PIB e da dívida pública com o ano transacto (preços constantes, base 2011). O rácio dos dois deltas, que mais não é que a derivada em cada ponto, ou seja, o crescimento da dívida em função do PIB, permite perceber qual foi o endividamento gerado por cada 1 unidade de PIB criado (ou destruído), em cada ano:
Assim temos que, entre 2001 e 2002, foi gerado 1,03 de dívida por cada 1 Euro de PIB criado face ao ano anterior. Em 2005, esse valor foi de 1,75 de dívida por cada 1 Euro de PIB. Em 2009, por cada 4,17 Euros de dívida emitada foi destruído 1 Euro de PIB. Em 2011 foram emitidos 6,14 Euros por cada 1 de PIB destruído. Em 2013 e 2014, invertendo-se a tendência destrutiva, mantém-se ainda assim, fruto do contínuo aumento da dívida pública, um endividamento assinalável, tendo-se atingido o recorde de 6,31 Euros de dívida por cada 1 Euro de PIB criado em comparação com o período transacto.
Excluindo os anos de contracção do PIB, e em média, por cada 1 Euro de PIB que o país gerou a mais foram emitidos 2,27 Euros de dívida pública, fundamentalmente externa, que um dia terão de ser pagos e que terão um impacto negativo no crescimento económico. Esse dia chegou há quatros anos. Resta agora garantir que a doença crónica de que Portugal padece, os défices orçamentais, é sanada. Esse dia ainda está para chegar, e usando a conversa dos cofres cheios como indicador, só chegará com a próxima falência.
Porque é que a dívida conta como produto? (o valor do PIB considera endividamento como produção)
A dívida pública resulta dos défices orçamentais. Os défices orçamentais resultam de falta de receita fiscal para financiar, ou o consumo público, ou investimento público, ou as transferências sociais. Ora, qualquer uma destas rubricas é uma componente da despesa pública do PIB. Mas a dívida não conta como produto, são indicadores diferentes. O PIB aqui serve para normalizar o valor da dívida.
E o multiplicador, Mário?
Desapareceu?
Para os Galambas desta vida, devia ter feito a análise simétrica: por cada euro de endividamento adicional, criou-se… menos de um euro de PIB.
Olha o multiplicador ali no Trancão, lá vai ele.
Miguel, o multiplicador é como uma trufa preta. Delicioso quando se encontra, o problema é encontrá-la.
Cada despesa do Estado é um imposto e caso este não chegue gera um empréstimo , usado depois para pagar os ” direitos adquiridos ” e a constituição ” rumo ao socialismo ” . Os portugueses deram o consentimento para o crescimento da dívida externa, que lhes sustentava o estilo de vida , viveram acima das possibilidades alicerçando os ” direitos adquiridos ” nas reivindicações sindicalistas que só resultam se houver alguma coisa para distribuir.
Bem esgalhado.
Nunca percebi como é que o Governo, qualquer que seja, não informa os cidadãos do deve-haver das contas.
Até ensinaria os ignaros da Me(r)dia tuga.
Mas as pantalhas vivem de outros espantalhos. E gajas boas, alegadamente.
Sobram os capatazes de serviço que não deixam ver nada.
Percebo as contas que fez, mas esse método não esclarece à primeira vista o mau que foram 2009, 2011 e 2012 . Quase vale mais normalizar o crescimento a 1 e somar o valor negativo do crescimento ao endividamento. Assim termos um rácio de 17600’s no ano de 2009.
Por ex. o crescimento fosse zero como dividiria por zero?
Caro lucklucky, eu inicialmente normalizei a escala do PIB, mas seria 0 no ano pior, tornando o rácio uma divisão por zero, e invalidando a interpretação de derivada (i.e., quanto cresceu a dívida por cada 1 Euro de PIB). Para simplificar as derivadas negativas, calculo sem esses anos e refiro apenas que nos anos a vermelho houve destruição de PIB.
Ok. Obrigado pela explicação.
Mário Amorim Lopes,
Os aumentos da dívida pública que apresenta são os oficiais em cada ano ou tomam em consideração a dívida pública que só passou a ser contabilziada como tal a partir de 2011 (contabilizando-a também nos anos anteriores ou omitindo-a nos anos seguintes)?
São os dados da PORDATA, que já incluem as regras ESA2010, que incluem a inclusão de toda a dívida pública de todo o SEE, pelo menos aquela que está devidamente contabilizada.
Resultado lisongeiro para quem governou entre 2005 e a crise de 2008, não?
Lucas Galuxo, quer com isso dizer que nem tudo foi mau? É verdade, entre 2005-2007 fizeram-se coisas razoáveis. Houve uma consolidação fiscal e o Simplex foi um bom programa. Pena que logo a seguir tenham optado por atirar a camioneta pela ravina. Infelizmente um bem não apaga um grande mal. Antes apagasse.
Mário, quem atirou a camioneta pela ravina? Quem, na oposição, em Bruxelas ou em Frankfurt trabalhou e lutou para que tivesse sido feito diferente?
As sociedades do Sul não podem copiar modelos do Norte. Têm de ter um modelo adaptado à sua cultura. Cada povo tem de ter o seu modelo de governação, já dizia Maquiavel.
Estados grandes no Sul não funcionam. O melhor modelo é o Liberalismo Clássico. Sociedades conservadoras nos costumes e liberais no plano económico. Morte ao Estado Social, à burocracia, às regulamentações. Instituições fortes e independentes. Poucos com poder, poucos a decidir. Nada de partidos subversivos radicais.
Enquanto estas verdades não forem compreendidas, a pelintrice não terá fim.
Duzentos anos de experiências políticas e económicas em Portugal, Espanha, Argentina, Chile, Grécia, Itália, Brasil ou Cuba. Quais as conclusões?