Dar mérito a quem o merece

João Galamba, da direcção do PS, fala hoje no seu artigo no Expresso do recuo de Portugal nos últimos anos. Diz ele:

“Com as políticas da actual maioria, Portugal regrediu uma década nos níveis de pobreza, regrediu duas décadas no emprego, regrediu três décadas no investimento e voltou a ter níveis de emigração só comparáveis com a década de 60.”

João Galamba tem razão, mas é demasido humilde na atribuição do mérito por este recuo. Vamos por partes:

Pobreza
Em 2013, Portugal apresentava uma taxa de risco de pobreza semelhante à de 2004 (19,5 vs 19,4). Se em 2014 tiver mantido o mesmo valor, então João Galamba terá razão em relação ao recuo de uma década: Portugal terá em 2014 o mesmo valor que em 2004. No entanto, esquece-se João Galamba de referir o contributo do seu próprio governo para esse recuo. Em 2011, já o risco de pobreza tinha recuado para os níveis de 2006.

Emprego
Também em relação ao emprego, João Galamba tem razão. Em 2014, existiam tantos empregos como em 1997 (4,5 milhões) o que perfaz quase duas décadas. Mas mais uma vez, João Galamba esquece-se dos méritos do seu próprio governo neste recuo. Quando deixaram o poder 2011, o emprego já tinha recuado para os níveis de…1998 (de facto, um pouco abaixo, com 4,7 milhões em 2011 vs 4,8 em 1998).

Investimento
Com o investimento, acontece o mesmo. Em 2013 tivemos o mesmo nível de investimento que em 1989. São apenas 24 anos, mas, com alguma boa vontade, até dou de barato que isto é um recuo de 3 décadas. No entanto, mais uma vez João Galamba esquece-se de referir os méritos do seu próprio governo. Se em 2013, o investimento estava ao nível de 1989, em 2011 já tinha recuado para pouco mais que os níveis de 1992.

Emigração
No que toca à emigração, 2012 e 2013 foram anos record que levaram o número de emigrantes aos níveis de 1966, um recuo de 5 décadas. Mas para a maioria PSD/CDS deixar o país aos níveis de 1966 não teve muito caminho para percorrer porque o governo PS já tinha deixado a emigração aos níveis de… 1967.

Fica aqui então uma tabela resumo dos recuos temporais:

recuo

João Galamba podia até falar noutros recuos, por exemplo nos encargos com a dívida pública, onde o governo PS deixou o país a níveis só vistos no século XIX (sim, um recuo de mais de um século).

Tem razão João Galamba quando diz que a pobreza regrediu 1 década, o emprego 2 décadas, o investimento 3 décadas e a emigração mais de 50 anos. Esquece-se é de atribuir o mérito a quem mais o merece: o governo PS, que foi o responsável directo por quase todo esse recuo temporal.

Nota: face a alguns comentários em relação ao ano escolhido para comparar os resultados do PS (2011), esclareço que os valores não seriam substancialmente diferentes se o ano usado tivesse sido 2010. Nada mudaria no caso dos níveis de pobreza e emprego em relação a 2011. No caso do investimento, o recuo teria sido até 1998 em vez de 1992 e no caso da emigração teria recuado até 1969 em vez de 1967. Nada de substancialmente diferente, portanto.

22 pensamentos sobre “Dar mérito a quem o merece

  1. Vasco Jesus

    uma sugestão:
    acrescente o contributo do PS, caso contrário observando somente a sua tabela, a atribuição de responsabilidade pode ser enviesada.

  2. Miguel Alves

    O João Galamba é o típico politico, manda umas bocas e tal sobre o socialismo, diz umas bocas para parolo comer e está feito.. vai fazer disto a vida dele.
    Ainda por cima é um político socialista mas de extrema esquerda caviar.. imagino o João Galamba perfeitamente no Bloco de Esquerda e a almoçar por mais de 100 euros… sem nunca esquecer claro está os pobrezinhos.

  3. Só duas minúcias:

    primeiro provavelmente interessa também saber se as séries em questão são monótonas, pois não faz sentido denominar estes dados de “recuo” se houver oscilações na série (esta critica tanto assenta ao CGP como ao João Galamba)

    em segundo lugar, e mais importante, os dados de 2011 tanto podem ser atribuídos ao governo PS como ao governo PSD (a tomada de posse foi em Junho) pelo que é mais seguro comparar com dados de 2010 (2010 é sem duvida atribuível ao PS, assim como 2012 é sem dúvida ao PSD/CDS – embora saibamos que em qualquer caso efeitos externos afectam os resultados)

  4. Pingback: Obrigado, Zé! | O Insurgente

  5. Fernando S

    Podemos ainda atribuir o recuo adicional destes ultimos 3 anos aos governos PS e a todos aqueles que, em palavras e/ou em actos, apoiaram e contribuiram para as politicas estatalistas e despesistas das ultimas décadas (inclui sectores e personalidades do PSD e do CDS) .
    No fim de contas, a austeridade e o ajustamento dos ultimos anos não foram a causa mas sim a consequencia do recuo que estava em curso.
    Sem elas a situação do pais relativamente aos indicadores referidos seria hoje ainda pior do que em 2011.
    A responsabilidade dos ultimos governos do PS é ainda maior :
    (1) porque, quando o impasse em que se encontrava a economia portuguesa era cada vez mais evidente, e numa altura em que ainda existia algum tempo e alguma margem de manobra financeira, os governos do PS fizeram pouco ou nada para a reformar e ajustar ;
    (2) e porque, pior ainda, quando a crise internacional de 2008 rebentou, o governo socialista fez exactamente o contrario do que deveria ter feito : com um Estado ja excessivamente endividado e com uma economia ainda desajustada aumentou ainda mais o investimento e a despesa publica e, deste modo, levou rapidamente o pais para a quase bancarrota.

  6. Carlos Guimarães Pinto

    Nota: para que não haja dúvidas, os resultados deste exercício seriam semelhantes se o ano utilizado para calcular recuo do PS fosse 2010. Se tivesse utilizado 2010, os resultados seriam os seguintes:

    – Pobreza -> 2006 (mesmo que utilizando 2011)
    – Emprego -> 1998 (mesmo que utilizando 2011)
    – Investimento -> 1998 (menos 6 anos de recuo que utilizando 2011)
    – Emigração -> 1969 (menos 2 anos de recuo que utilizando 2011)

  7. lucklucky

    Este texto passa completemente ao lado da política. Só desmonta os factos.

    Não desmonta o argumento do João Galamba .: A Endividamento é Riqueza logo é perfeitamente natural duplicarmos a Dívida para termos boas estatísticas por momentos.

  8. Carlos Guimarães Pinto

    João Branco, de acordo com tudo o que diz. As séries não são monótonas (principalmente no caso do investimento). Eu limitei-me a aplicar a metodologia do PS a 2011 (incluindo as falhas). Também concordo que há muitos efeitos externos e que muita desta variação não dependeu da vontade política dos governos. Mais uma vez, estou a seguir os pressupostos (errados) do discurso do PS. Finalmente, embora ache que, do pouco que os governos puderam influenciar, 2011 cabe inteiramente na responsabilidade do PS. O governo PSD/CDS começou em julho e nem as políticas mais drásticas têm efeitos visíbeis ao fim de 5 meses. Mas os valores para 2010 tb estão no meu comentário anterior e não mudariam muito o raciocínio.

  9. Manolo Heredia

    O que ele disse foi que o país, em 3 anos de má governação, recuou 10 anos nesses indicadores. Se foi á custa de endividamento isso é outro assunto. Mas ninguém dos que agora clamam se queixou durante a governação socialista das políticas então seguidas. Podera! estavam entretidos a surfar o euro, nos BPNs, BPPs, BESs…

  10. Fernando S

    Manolo Heredia,
    Dizer que “ninguém se queixou” da governação socialista é distracção sua …
    Qual “má governação” nos ultimos 3 anos ??!…
    “Má governação” foi a dos governos anteriores, em particular a socialista, que apostou no endividamento e obrigou ao “aperto” dos ultimos anos.
    A governação dos ultimos anos tem sido para tentar parar e corrigir os desmandos anteriores.
    A correcção e o ajuste do que estava mal tinha que implicar necessáriamente “recuos” e desagradar muita gente.
    Mas é bom lembrar que muitos dos que mais criticam e resistem à mudança são precisamente muitos daqueles que mais beneficiaram com o modelo economico anterior.

  11. Fernando S

    A dimensão do “recuo” seria ainda maior se a comparação fosse com 2013/2013.
    Desde então, o “recuo” tem vindo a diminuir em quase todas as frentes.
    Esta campanha sobre os “recuos” destina-se precisamente a deviar a atenção da opinião sobre o facto do pais, apenas 3/4 anos de uma crise grave, estar actualmente a progredir.
    Com uma diferença importante relativamente ao passado : hoje o emprego, o investimento e o produto crescem de modo mais sustentado e equilibrado (sem serem artificialmente alimentados por mais endividamento).

  12. Fernando S

    “Ainda temos défice. E não é pequeno.”

    É verdade. Já foi maior. Tem vindo a descer. Deve continuar a descer.
    A austeridade deve continuar. Sobretudo no Estado. Menos Estado, mais mercado.
    Não é altura para “recuar” voltando às velhas receitas despesistas, que já mostraram os seus limites.

  13. david carmo

    Se as politicas de desenvolvimento, erradicacao da pobreza e do desemprego levadas a cabo pelos socialistas, que por acaso nos endividaram ate a raiz dos cabelos, tivessem sido minimamente estruturais e tivencem efetivamente contribuido para o crescimento da economia, talvez mandato e meio depois o psd e o cds n tivessem sido chamados para ir PAGAR a conta das “benfeitorias” do ps… Just saying….

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  16. A. R

    Ora são contas que não servem para nada! Se o crescimento fosse 0.01% ao ano e um novo governo chegasse e desse um abanão com uma recessão de 2% para criar condições de crescimento e realizando-as de facto de forma sustentada durante vários anos, o recuo teria sido de 200 anos.

  17. João

    Uma análise bem ao estilo português, para idiotas. Estes “recuos” não se medem em anos. 1966 por exemplo foi o ano pico da emigração portuguesa, bastante superior a 1967. Por isso o “singelo” recuo de 1 ano do PSD/CDS versus o “imenso” recuo de 44 anos do PS é no mínimo publicidade enganosa. Que se juntem os 3 partidos, já que em numerologia que venha o diabo e escolha.

  18. Toy

    O galambas é um artista, basta ver quem é e de onde vem, típica esquerda do caviar. Ora vejemos, com Sócrates o rigor e as comparações de galambas deixou-nos o pac 1 2 e 3 seguida de troika, julgo que é uma boa herança, não é joão. Mas isto é pouco, para avaliar uma pessoa como político ou bem feitor investigue-se a vida pessoal, negócios de família e as outras relações, veremos que são podres e de socialistas apenas têm o cartão.

  19. Rui Silva

    Acho que para avaliar as políticas do governo PS deveríamos analisar a sua performance até 2008. A razão? Simples: 2008 marcou a pior crise global desde 1929. E acho que isso deve ter tido alguma influência nestes resultados.

    Da mesma forma, o PSD poderia argumentar, com razão, que durante 3 dos 4 anos do seu mandato o governo foi governado para efeitos práticos pela troika.

    Poderia argumentar… mas infelizmente não pode porque o PSD aprovou incondicionalmente toda e qualquer medida da troika o que o transforma no partido da colaboração com a Troika.

  20. Este é mais de um dos garotos criados pelos partidos políticos, que nunca fizeram nada na vida e são postos a lançar umas bocas apenas por protagonismo. Não tem vergonha nem pudor, . Basta ver o novo patrão dele, “António Costa” ( o aprendiz de Sócrates, que , como todos os socialistas, sabem que o povo é estupido e tem memóra curta, senão nem por sonhos ele voltaria ao poder . Saliento que, Preferia ver os Comunistas no poder dos que estes ladrões, que vem desde, padrinho, Mário Soares, a Almeida Santos, que já em Moçambique açambarcou as poupanças de tantos portugueses que ali confiaram nele.
    Finalizo dizendo que sou liberal, e preferia que ninguém aparecesse nas urnas, mostrando o desprezo que o povo devia demonstrar por estas oligarquia como nome de partidos políticos, legalizados. O conselho de Estado teria então de tomar uma decisão. Não precisamos desta macacada todo no parlamento .

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