Os porcos pretos espanhóis, que posteriormente serão usados para produzir o jámon ibérico, entram em Portugal pelas herdades do Alentejo, são pesados, são alimentados a bolotas, e saem passados alguns anos. Vêm para a engorda.
Espanha não faz nada na engorda do porco, mas ganha bem mais do que Portugal a vender os seus Joselitos. Malditos espanhóis, Francisco Louçã.
Os porcos espanhóis são engordados em Portugal? Verdade? Tenho as minhas dúvidas. A Espanha tem bastante mais montado do que Portugal.
Mas que grande novidade. Desenvolvem-se os países que conseguem colocar mais valor acrescentado nos seus produtos. Que o conforto e condições de vida do Norte só é possível à custa de muita miséria no Sul salta à vista. Que isso não vai durar para sempre também.
Tem toda a razão Lucas Galuxo. Acho que a Alemanha deveria começar a comprar o café ao Vietname e deixar o Brasil em paz. Certamente que o Brasil passará bem sem as aquisições da Alemanha.
Nao vai durar para sempre? Bom, ja dura desde o inicio da humanidade, pelo que assim de repente, nao estou a ver o catalizador que vai mudar o status quo.
Na vida, como na natureza, sobrevive e singra o mais forte. Se “os povos do sul” nao se conseguem organizar e criar, por exemplo, o conceito e o mercado das capsulas de cafe, nao podem propriamente culpar quem o cria. Se ficam incomodados com a esperteza dos “povos do norte” so tem que se abster de lhes comprar os produtos.
Todos sabem que, por exemplo, que em todos os regimes socialistas “dos povos do sul”, o pessoal dirigente tem grande predileccao de produtos de luxo “dos povos do norte”, e tende a investir e a transferir o seu dinheiro para os bancos “dos povos do norte”, va-se la saber porque.
Dizer :
“Desenvolvem-se os países que conseguem colocar mais valor acrescentado nos seus produtos.”
está em contradicção com dizer-se logo a seguir :
“Que o conforto e condições de vida do Norte só é possível à custa de muita miséria no Sul salta à vista.”
O valor acrescenta-se a produtos já existentes (matérias-primas, produtos intermédios, etc). Os paises do Norte teem, por razões diversas, capacidades de valorização que os do Sul não teem. Ao importar do Sul certos produtos ainda não completamente valorizados, os paises do Norte permitem assim que os paises do Sul tenham uma procura externa para podem também valorizar recursos proprios que, sem ela, ficariam por valorizar. Cria-se portanto emprego e riqueza também nos paises do Sul. Exactamente o que permite reduzir a miséria de partida das suas populações !
MAL dá a entender que os porcos espanhóis entram “pela porta do cavalo” o que não é correcto. Se entrarem cá porcos espanhóis para serem engordados entram pela estrada e devidamente documentados, porque não há necessidade de proceder de outro modo. Mas é verdade que os espanhóis compram a grande parte da produção de porcos alentejanos engordados a bolota, por duas razões: para fazerem presuntos grandes, precisam de porcos mais pesados do que o mercado português exige, e, principalmente, porque pagam muito melhor e às vezes por antecipação.
Esta mania, muito fruto da ignorância, de que os portugueses são “comidos” pelos estrangeiros,faz-me lembrar a lenda de que os italianos vêm cá comprar maŕmore de EStremoz-Borba-Vila Viçosa para depois o venderem como se fosse produzido em Carrara, só porque vêm nas estradas os blocos em cima dos camiões com os dizeres “MARINA DI CARRARA”. Só quem nunca viu mármore da Carrara é que pode dizer uma coisa dessas: o mármore de Carrara é de um branco amorfo, e não se compara com o nosso que além da grande diversidade de cores, tem cristais. Porque é que os italianos vêm cá comprar os nossos mármores, isso já é outra história.
Caro Alexandre, eu não sugiro nada, nem tenho nada contra a engorda do porco em Portugal, muito pelo contrário, ajuda os alentejanos e ajuda-me a mim, que muito aprecio presunto ibérico. Isto foi uma resposta irónica ao artigo do Francisco Louçã. Siga o link apontado no artigo.
Não, Mário Amorim Lopes,
Os países do Sul é que não estão condenados a entregar o sustento do Norte comoditizado por tuta e meia.
O café até é um bom exemplo
http://www.valor.com.br/empresas/3899562/capsula-de-cafe-atrai-empresas-de-menor-porte
Pronto, ficamos a aguardar pelas cápsulas Zuca. Entretanto, pelo sim, pelo não, vou tomando as Nespresso. Sirva-se.
Lucas Galuxo,
Existe uma maravilha na economia de mercado livre, que o Lucas Galuxo detesta: é a possibilidade de, se não gostar de um país, ou de uma empresa ou da cara de um CEO Bava, ir buscar à concorrência e não o enriquecer com o SEU dinheiro.
A liberdade individual é uma coisa muito boa, não é? Nos países socialistas não existe. Nos socialistas light (como o nosso) existem monopólios de regime em coutadas protegidas, com o dinheiro dos contribuintes. Felizmente para si a diversidade de marcas de café nos benditos hipermercados não o cinge a café bávaro-brasileiro.
Francisco,
O que é isso de economia de mercado livre? Descontando as contribuições de trouxas pretensamente liberais qual é o país desenvolvido em que o primeiro objectivo do seu governo não é proteger o seu próprio mercado?
Vou contar-vos uma história. Era uma vez um mundo perfeito em que o criador (ou Criador) chamou todos os habitantes e distribuiu igual quantidade de instrumentos e de dinheiro e disse: “Ide e multiplicai-o. Não é permitido roubar, nem enganar e muito menos matar o próximo”. E cada um foi à sua via e desenvolveu-se de acordo com as suas capacidades, respeitando a vontade do criador. Recordo que isto é uma história e este mundo não existe.
Lucas Galuxo : “qual é o país desenvolvido em que o primeiro objectivo do seu governo não é proteger o seu próprio mercado?”
O melhor modo do governo de um pais, ainda mais se pequeno e com uma economia aberta ao exterior, “proteger o seu proprio mercado” é … nada fazer para o “proteger” !!
As “protecções” apenas permitem vantagens sectoriais, pontuais e de prazo limitado.
No final, o pais, quer porque se sujeita a retaliações, quer porque a sua economia perde dinamismo e eficiencia, sai globalmente perdedor !
“As “protecções” apenas permitem vantagens sectoriais, pontuais e de prazo limitado.”
No entretanto enriquecem uns quantos, ganham-se votos e eleições e quando vem a conta culpa-se o capitalismo, a imoralidade dos mercados e os exploradores alemães.
Dá sempre certo e a multidão de tolos sente-se inteligente.
É demais! Se os espanhóis vêm engordar ao porcos no Alentejo (e é verdade porque vivo cá), é porque os portugueses gostam de estar sentados à sombra do sobreiro em vez de assumirem uma riqueza que não querem ter o trabalho de explorar. Dizem que “não dá lucro”….não sabem ganhar pouco…..pois….
Caro Mário Amorim Lopes
Gostaria de retificar algumas imprecisões que o seu texto enferma:
– Deu a entender que os espanhóis só engordam os seus porcos em Portugal, não é verdade, a maioria é engordado em Espanha, têm montado para isso. Basta ir à região de Jabugo e verifica isso facilmente.
– Os que vêm para cá não estão mais do que alguns meses, nunca anos como afirmou. Entram no montado com cerca de um ano em novembro, são pesados, e saem em fevereiro/ março ( época da bolota). São novamente pesados e pagos consoante os quilos ganhos, chama-se a este processo engorda à resposição. Claro, há outros métodos, como a compra do montado, mas este é o mais utilizado.
– Os criadores portugueses de porco ibérico ( não porco preto como vulgarmente se chama e que dá para enganar muito boa gente) vendem a sua produção maioritariamente para Espanha com preços excelentes dada a qualidade, também para o Joselito ( o melhor presunto espanhol), mas principalmente para a Sánchez Romero Carvajal que tem o famoso 5J.
* reposição
Nem a propósito, Francisco Colaço. Por falar em mercado livre e governos liberais
http://www.expansion.com/2015/03/04/empresas/distribucion/1425464335.html
Desconhecia esta prática.
Saibam também que se apropriam da marca «Algarve» e chamam «Algarve espanhol» ou «Algarve andaluz» à costa espanhola do Golfo de Cádis, onde construíram inúmeros empreendimentos nos últimos 20 anos (Isla Canela, Punta Umbria, Mazagón, Matalascañas).
Décadas atrás com o PREC o sector privado que existia, agrícola e industrial, morre. A Esquerda, o cancro que corrói a noção, o verme imundo que nos destrói, introduziu uma nova linguagem através da comunicação social, que vilipendiava a iniciativa individual, o lucro, o esforço, o trabalho. Diz a sabedoria oriental que os símbolos governam o mundo, e o povo português interiorizou a mensagem das novas elites de Lisboa. Foram abandonadas herdades, encerraram adegas cooperativas e aviários, moagens e lagares, desapareceram rebanhos. A frota pesqueira envelheceu e encerraram fábricas de diversos sectores. Os pequenos e médios empresários que permaneceram, em vez de enviarem os seus filhos para cursos técnicos e universidades, onde se formassem para modernizarem os negócios familiares, foram pressionados pela família e pela sociedade a estudarem para ingressarem na função pública ou numa grande empresa ligada ao Regime. Os espanhóis seguiram outro percurso, e mesmo assim ainda têm muitos problemas estruturais.
Conheço bem a serra de Aracena, onde se produz aquele que é considerado o melhor presunto do mundo.
A serra de Aracena, ao contrário das serras do Algarve e Baixo Alentejo, conservou a sua vegetação natural. Há florestas de sobreiro e azinheira, carvalho e castanheiro. Existem inúmeras empresas de produção de enchidos e presunto numa dimensão que não se encontra por cá. Há ainda pequenas indústrias locais que produzem, por exemplo, mobiliário. Outra actividade económica e outro ordenamento do território que não se encontra no Alentejo. O problema é cultural.
Por que motivo as pequenas vilas e cidades de Portugal, ao contrário do que sucede em Espanha e Itália, não têm uma cintura de pequenas empresas que sustentem o emprego local? Por que motivo o emprego está tão dependente de alguns serviços (banca, correios, seguros, cafés e restaurantes) e do funcionalismo (escolas, autarquia, junta, empresas municipais, centro de saúde)? Por que motivo não há uma exploração mais intensa e moderna da floresta, dos solos agrícolas e por que motivo não se resgatam indústrias tradicionais há décadas desaparecidas? Por que motivo o poder político não fala disto e traz na boca o tema Regionalização ou a «descentralização de poderes para as autarquias» (as mesmas que espatifaram dinheiro em pavilhões e rotundas)?
Luis : “Por que motivo o emprego está tão dependente de alguns serviços (banca, correios, seguros, cafés e restaurantes) e do funcionalismo (escolas, autarquia, junta, empresas municipais, centro de saúde)?”
É o resultado de politicas publicas que fizeram crescer excessivamente o Estado, os seus gastos, o seu intervencionismo. Este rumo, que nalguns aspectos relativos ao “Estado Social” e a algumas acções e serviços de interesse publico (cultura, patrimonio, infraestrs uturas, etc) até poderia ter alguma justificação e cabimento, desde que feito de modo a não prejudicar o conjunto da economia privada, até porque é precisamente o crescimento e desenvolvimento da economia privada que, em ultima instancia, permite custear aquelas melhorias. Mas não, o despesismo e o intervencionismo foram excessivos : em poucas décadas o peso do Estado na economia nacional mais do que duplicou. Este crescimento do Estado teve de ser financiado e, numa primeira fase, mesmo com receitas extraordinarias das privatizações e o aproveitamento de fundos vindos da Europa, foi inevitável aumentar proporcionalmente a carga fiscal. Este aumento da carga fiscal pesou naturalmente sobre a eficiencia geral da economia e, sobretudo, sobre a competitividade face ao exterior. E, para além do mais, tudo isto provocou diversos desequilibrios na economia. Um dos mais importantes em termos estruturais foi precisamente entre os principais sectores de actividade : por um lado, um crescimento e um peso maior dos sectores produtores de bens e serviços ditos não-transaccionáveis, isto é, virados exclusivamente para o mercado interno e que não estão em concorrencia directa com o exterior ; por outro lado, um atrofiamento relativo dos sectores ditos transaccionáveis, isto é, exportadores e/ou fornecedores do mercado interno mas em concorrencia directa com o exterior. O sector não transaccionável mais importante é o proprio Estado. O crescimento do Estado tende ainda a favorecer o dos não-transacionáveis privados na medida em que grande parte dos gastos do Estado representam, directa e indirectamente, uma maior procura para estes sectores. Grosso modo, os serviços e o funcionalismo que o Luis refere no seu comentario acima são não-transaccionáveis. Acontece que o crescimento destes sectores não tem à partida nada de mal, antes pelo contrario : gera emprego, distribui rendimentos, produz bens e serviços que melhoram o nivel de bem estar geral. Inclusivamente, correspondendo a uma maior terciarização da economia e criando infra-estruturas, pode até favorecer uma melhoria da produtividade em vários sectores produtivos. O problema aparece quando este crescimento dos não transacionáveis é acompanhado por efeitos de contexto que pesam sobretudo sobre os sectores transaccionáveis degradando a respectiva competitividade e contribuindo para o atrofiamento relativo que referi acima. Estes efeitos de contexto são diversos e nem sempre directos e fáceis de ver. Digamos que, tendo origem na concentração da maior procura global do Estado nos sectores não transaccionáveis, passam pela estrutura de preços relativos entre os dois grandes sectores : os preços dos não transaccionáveis são estimulados e tendem a ser elevados enquanto que os preços dos transacionáveis, sujeitos à concorrencia externa, tendem a ser contidos. Uma das consequencias mais sérias deste desequilibrio entre não transaccionáveis e transaccionáveis é o desequilibrio crescente das contas externas : as importações crescem mais depressa do que as exportações, o pais importa mais do que exporta. Este desequilibrio tem depois outras implicações, nomeadamente ao nivel da Balança de Pagamentos, fazendo com que o pais no seu conjunto tenha de se endividar no exterior. Um endividamento externo crescente e elevado é, como se imagina, insustentável e tem necessáriamente que acabar numa crise financeira e num ajustamento forçado da economia. Este é o problema de fundo mais sério do modelo économico que o pais segiu nas ultimas décadas. Este problema é ainda mais grave quando, para financiar o seu crescimento, e não podendo ou não querendo aumentar ainda mais a carga fiscal, aumenta o seu endividamento, tanto internamente como, e sobretudo, face ao exterior. Foi o que aconteceu sobretudo a partir dos finais dos anos 90. Todo este sobre endividamento, publico e privado, foi naturalmente facilitado e agravado pelo facto de Portugal fazer parte da Zona Euro e ter por isso acesso a créditos abundantes e baratos. Mas esta é uma condição e não uma causa. Se a economia do pais estivesse equilibrada estas facilidade de financiamento teriam sido utilizadas de modo mais criterioso e produtivo e terse-ia assim garantido a sustentabilidade do conjunto. A causa foi a politica economica despesista e intervencionista que foi seguida internamente.