Jorge Sampaio recebeu um doutoramento honoris causa na Universidade do Porto. Aproveitou a ocasião para demonstrar, mais uma vez, a sua invulgar capacidade para incompreender o mundo à sua volta. Disse Sampaio: «A questão está em saber como é que nós saímos deste colete-de-forças e como é que conseguimos crescer economicamente, socialmente mantermos a Europa com o sentido que ela sempre teve desde a sua fundação. (…) [A] União Europeia assiste hoje a inadmissíveis anátemas morais decretados por alguns Estados-membros e a uma triunfante cultura de ortodoxia financeira que tem conduzido a situações sociais insustentáveis, a uma preocupante deflação e à mácula desencorajadora projetada pelos seus milhões de desempregados. (…) [Estamos] longe do tempo em que se conciliava eficácia económica com coesão social e se declinava no plano das decisões, de vários modos, a palavra solidariedade. (…) [A Europa] precisa de encontrar uma linguagem que dê satisfação aos cidadãos em geral porque é disso que se trata.»
Fica sempre bem dizer estas coisas. Uma pessoa parece sempre mais séria e profunda quando apela à solidariedade. Mesmo quando o que diz está pejado de equívocos:
- Em primeiro lugar, as medidas com que a Europa se depara, particularmente países como Portugal, não são uma questão de “eficácia económica” mas antes de evitar o descalabro. Para alguém que usou a famosa expressão “há vida para além do défice” e precipitou a entrada em funções do coveiro do país, recomenda-se mais recato.
- Se estamos num “colete-de-forças”, não será por termos entrado nele desavisados. Dificilmente sairemos seguindo o caminho que nos levou a entrar nele, por mais apelos à solidariedade que se façam e mais boa vontade que demonstremos.
- Afirmar que estados soberanos defenderem os seus interesses é o decretar de “inadmissíveis anátemas morais” é, em si mesmo, um “inadmissível anátema moral”. Isto da moral dá para os dois lados.
- Não é encontrando “uma linguagem” que se resolvem os problemas. Quanto mais não seja por ser notório que o actual secretário-geral do PS usa várias, diferentes consoante a plateia.
Palavras leva-as o vento. Paleio patético, nisso não lhe batem o pé. De conversas está o mundo cheio. Espertalhão tb é. Basta andar a descontar para a caixa dos advogados sabendo que após 11 anos como presidente, não voltaria a exercer advogacia. Ok. assim, soma mais esta pensão de 2000€ com as outras.
Refere a sumidade honoris causa que “se declinava no plano das decisões, de vários modos, a palavra solidariedade”.
Artur Agostinho conheceu, quando mais precisava, a declinação deste Advogado em defender um cliente antigo – mas no PREC incómodo a quem se queria enfronhar no reviralhismo então muito recompensante…
E são estes que depois adoram falar de Solidariedade…
A gente ouve a simplicidade das palavras de uma funcionária de uma fábrica que ardeu, e como o fogo para ali entrou por uma ténue rede que a ligava aos vizinhos onde tudo começou, e como a Autoeuropa vai ser afetada, e pasma-se com o mundo paralelo e virtual em que algumas pessoas da política nacional vivem, a arrotar constantemente umas postas de pescada sobre as visões da ortodoxia industrial e financeira alemã, entre umas visitas a Leiria e cegueiras muito convenientes, bem regadas com silêncios estranhos de anos, que só por mero acaso coincidem com certos intervalos no calendário eleitoral.
Este já é o Jorge das medalhas!