Ontem, no Prós e Contras, argumentei que a escolha política que se colocava aos países em bancarrota era entre austeridade extrema imediata com défice zero ou pedido de ajuda e correspondente austeridade suavizada mas mais prolongada no tempo. Pedro Lains afirmou que ainda assim se deveria ter optado por uma dose menor de austeridade, para minimizar o impacto negativo. Eu retorqui que o contexto de elevado stock de dívida e défices enormes (mais de 10% em Portugal e na Grécia, como ponto de partida) impossibilitavam esse cenário. Em resposta, Francisco Louçã disse que não era assim: Portugal tinha tido défices de 9% na altura de Cavaco Silva, estando portanto as minhas “contas” erradas.
Na verdade eu não apresentei contas algumas. Mas deixando esse detalhe de lado, é possível realmente apresentar uma conta simples que ilustra o meu raciocínio: Com um stock de dívida tão elevado, superior a 100% do PIB, só os juros a pagar são suficientes para não cumprir o acordado no Tratado de Maastricht (3%). Assim sendo, a espiral de crescimento da dívida torna-se um problema de emergência e é inevitável ou a bancarrota ou doses intensas de austeridade (o meu ponto inicial).
Mas o erro na argumentação de Louçã é ainda mais grave que esta simples aritmética. Vejo-me novamente na posição ingrata de defender Cavaco Silva, depois do episódio Clara Ferreira Alves na semana passada. Efectivamente, houve um ano da governação de Cavaco em que o défice público foi de 9%. Foi em 1985. Nesse ano, Cavaco ganhou as eleições a 6 de Outubro, tendo tomado posse um mês depois, a 6 de Novembro. Por mais má vontade que se tenha contra ele, parece-me de díficil justificação atribuir-lhe responsabilidade pelo défice nesse ano. Além disso, logo no ano seguinte o défice baixou para 6% e iniciou uma rápida recuperação que culminou em cerca de 2% em 1989, antes de piorar novamente, sem nunca exceder cerca de 6%. Cavaco Silva nunca escondeu ser Keynesiano.
Ainda importante de salientar é que os défices de Cavaco existiram num contexto de inflação elevada (20% em 1985, baixando depois, mas sempre por volta do dois dígitos até 1992) e de stock de dívida pública incomparavelmente mais baixo do que na presente crise (mais uma vez reforçando o meu ponto inicial).
Miguel
Quero-lhe dar os parabens pela sua intervenção de ontem no programa. Conseguiu deixar os outros sem argumentos…..ou seja, com os argumentos que o louçã ja nos habituou. Tambem achei engraçado quando o louçã disse que houve um ano de Cavaco em que o deficit chegou aos 9%, mas apenas engana os “arquitetos” que estao la, nada mais que isso.
E falam de austeridade como se fosse uma coisa que o governo se lembrou de fazer. Alias, dao sempre a entender que foi a troika que veio bater à nossa porta e nao o contrario. Normalmente nesses debates nunca falam de numeros…..nunca referem que o deficit ja ia nos 10% (mesmo com os passivos escondidos), que os juros chegaram a ultrapassar os 7%…..parece que Portugal ia no bom caminho e alem se lembrou de chamar a troika para nos lixar!
Logo na altura lembrei-me da questão da inflação (incomensuravelmente superior à actual) e que como podemos ver, anulava esse défice de 9%. Além do stock de dívida ser bastante mais baixo.
Ou seja, são contextos económicos completamente diferentes e incomparáveis sem ajustes.
O Japão têm uma dívida brutal, défices gigantes e baixa inflação.
Ninguém ainda morreu com isso…
Em grande medida, não interessaria o défice Português para a Zona Euro, se existisse um framework institucional que o sustentasse. Afinal não é o fim do mundo que um qualquer municipio do pais tenha um défice de 10% das suas contas, e um défice da sua balança comercial gigantesco e persistente, desde que o pais tenha contas saudáveis.
Era o que se pensava até 2008. Depois não foi bem assim… (podemos discutir se foi ingenuidade, traição, estupidez ou qualquer outro adjectivo, é claro)
O que escreve é mentira k.
Sabe muito bem os tratados assinados não diziam nada disso por isso não tente mentir mais.
Bela intervenção, os meus parabéns. O nível de discussão está mesmo ao nível do conto de crianças, afinal não é só o programa do Syriza. Segundo a esquerdalha, de um lado os muito maus que defendem a austeridade ( que como se sabe dá imensos votos, Mario Soares que o diga em 85), do outro, os muito bons, que resolvem problemas com aumento de salários, pensões, descidas de impostos e quejandos. A minha singela pergunta: quem não quereria uma boa crise com esta receita?
Não vi o programa todo, mas tive a sorte de ver a sua intervenção. Quando o Lains lhe deu toda a razão, mas… eu mudei de canal, pelo que não ouvi nem o que ele disse, nem essa perola do Louçã.
Gostei da sua intervenção, que em palavras que toda a gente entende explicou como e porquê chegámos a 2011. Gostei também da cara que a apresentadora fez durante a sua intervenção, o que me leva a crer que não vamos mais ter o prazer de o ver e ouvir no prós e contras da RTP.
k,
«Afinal não é o fim do mundo que um qualquer municipio do pais tenha um défice de 10% das suas contas, e um défice da sua balança comercial gigantesco e persistente, desde que o pais tenha contas saudáveis.»
É o fim de Portugal quando os outros 307 municípios também querem ter défices de 10% e um défice na sua balança comercial gigantesco e permanente, vindo-lhes o exemplo do governo central.
Eu o Louçã ainda aturo pela imaginação com que polvilha os seus argumentos, mas o Pedro Lains é de uma mediocridade confrangedora: quantas vezes ele repetiu que “a austeridade não funciona” com o argumento irrefutável que “toda a gente já o sabia”???
«O Japão têm uma dívida brutal, défices gigantes e baixa inflação.
Ninguém ainda morreu com isso…»
Vive em que mundo?
O Japão tem poupanças internas para financiar-se. Nós não. E teve Revolução Industrial. Ah, e tem nuclear.
Esta esquerdalhada é mesmo ridícula.
“lucklucky em Fevereiro 24, 2015 às 17:00 disse: ”
Você tem de aprender a ler. Aqui tem algo que o poderá elucidar.
http://www.infopedia.pt/$condicional
“Luís em Fevereiro 25, 2015 às 00:52 disse: ”
O que interessa se a poupança é interna? Se os investidores internos não tiverem confiança no estado Japonês, também não lhe vão emprestar dinheiro.
O Japão tem 24% do PIB gerado pela industria, um valor semelhante ao Portugues.
E caso não tenha reparado, desde Fukushima que desligaram os reatores que tinham. Não foram à falência por causa disso.
Gentalha.
Parabéns pelas excelentes intervenções. Vi ontem na internet para estar à vontade para fazer fast foward, mas ainda apanhei o “Não consigo, tenho pena mas não consigo” (leia-se sois todos ignorantes os que não pensam como eu e os meus amigos) para explicar o erro na austeridade… e a solução passa por uma “melhor” (leia-se a interpretação dele) distribuição fiscal… Como eu gostava de os ver no stossel ou no hannity 🙂 exemplo: https://www.youtube.com/watch?v=MnPGuD_5fTg
Claro que o Cavaco teve acesso a fundo estruturais da UE.. Mas vamos ignorar isso porque não importa…
Em 1985 Portugal ainda não era membro da CEE…
Pela sua linha de raciocínio, nada do que se passou em 1985 pode ser imputado a Cavaco Silva. Por isso Portugal aderiu à CEE dia 1 de Janeiro de 1986, exactamente na altura em que Cavaco Silva começou a governar.
De acordo. Ou seja, o défice de 9% do PIB registado em 1985 nada teve a ver com Cavaco (nem com fundos recebidos da CEE). Era esse o meu ponto em resposta ao Francisco Louçã.