Como a ignorância se espalha

Simpson-DohOntem a Maria João Marques apontou a gritante iliteracia económica subjacente a um artigo do Diário de Notícias, bem como uma evidente agenda activista com o propósito de passar uma mensagem política para a opinião pública. Hoje mesmo, temos oportunidade de ver o mecanismo de propagação da ignorância, num artigo de opinião de Pedro Ivo Carvalho no Jornal de Notícias, em que usa o mesmo argumento e expressão da peça do DN.

Sendo um artigo de opinião, o texto é mais óbvio no seu enviesamento, o que é normal. A consequência é uma ainda mais gritante idiotice. É caso para dizer que a beterraba deu lugar ao quiabo. Se o DN dizia apenas que a Alemanha “desviava” o crescimento de Portugal, o JN vai mais longe e afirma que o superavit da Alemanha foi conseguido «(também) graças a Portugal». Notar a esperteza saloia de colocar o também entre parênteses, quando a ideia a passar é mesmo que a Alemanha anda a tirar dinheiro de Portugal. Ideia reforçada mais abaixo no artigo, quando afirma textualmente que é a «estratégia alemã que nos tira, literalmente, centenas de milhões de euros da boca.»

A realidade é que a Alemanha é o terceiro país no mundo que mais investe no estrangeiro (inevitável, face aos superavits crónicos). Se não investe mais em Portugal, preferindo múltiplos outros países europeus, no leste e não só, talvez seja pela mentalidade indígena tão bem espelhada nas inanidades expressas por Pedro Ivo Carvalho. E ainda assim, um dos maiores exportadores nacionais é uma empresa alemã, a Autoeuropa, actualmente 4% das exportações e 1% do PIB, sendo esperado que face aos investimentos anunciados aumente significativamente estes números nos próximos anos.

21 pensamentos sobre “Como a ignorância se espalha

  1. tina

    Que artigo tão idiota!… É a redução ao absurdo da atitude de deitar sempre a culpa para os outros. A esquerda é patética para além do que é possível imaginar.

  2. Gosto da Alemanha. Sempre gostei. Nalguns momentos foi complicado. Gostar da Alemanha requer esforço e aprendizagem… É por isso que noto com facilidade e estranheza o tom sempre acrítico, fácil e subserviente, com que este país é apresentado na “galáxia” Insurgente… Estes nossos colegas europeus, bárbaros quando nós já éramos romanos, aparecem sempre como reis da virtude, do trabalho, da eficácia, do mérito…
    Trimmm, trimmm, hora de acordar!! – Alguém por acaso já deu conta do caudal de benefícios imenso com que a crise dos outros tem beneficiado a Alemanha?… Não sejamos ingénuos, pelo amor de deus (seja ele qual for…).

  3. tina

    “Alguém por acaso já deu conta do caudal de benefícios imenso com que a crise dos outros tem beneficiado a Alemanha?… ”

    Mais outra cigarra com inveja da formiga. A inveja cega as pessoas ao ponto de não as deixar pensar bem.

  4. JP

    Um país que tem uma Autoeuropa podia pelo menos não tentar parecer idiota e imbecil, mas nós já sabemos como é o recrutamento e a formação na comunicação dita social.

  5. Simão

    Ainda tenho algumas notas de Escudos… estou a olhar para elas (cenário nostáligo e bucólico a remeter-nos para um Cesário Verde)….uma lágrima corre-me pela face.
    Que saudades do tempo do Escudo. Ainda não passou assim tanto tempo mas a memória parece ser curta.
    Se governados medianamente (bastaria) deveríamos ter feito a opção que o Reino Unido, a Suécia e a Dinamarca tomaram na altura perante uma União Monetária (que nunca passou de uma “shared currency” partilhada por economias perfeitamente díspares com um Banco Central que não tem os poderes de um Banco Central) que foi muito pobremente implementada. Apenas “wishfull thinking”.
    Lembro-me bem que, na altura, os do Norte que agora tanta lamúria emitem foram exactamente os mesmos que arrastaram a Europa do Sul (prosaicamente conhecida nos meios económicos como “Club Med” 🙂 ) pelos “colarinhos” (associada ao populismo e vaidade dos políticos do SUL) para dentro da Moeda Única.
    Toda a gente que havia “contas marteladas” por todo o Mediterrâneo mas valia tudo pelo “Projecto”. Agora….. é tarde de mais (pelo menos para os gregos).

    PS (vade retro) – convém lembrar aos mais ESQUECIDOS que, antes da entrada em circulação do Euro parece que uma instituição bancária que foi para ao galheiro em 2008 com estrondo mundial (e que na véspera tinha um triplo A de acordo com as sacrossantas e taõ incensadas agências de rating) andou em Atenas a ajudar e orientar os gregos a “martelar as contas” para cumprirem os critérios de entrada no Euro. Toda a gente fez um “blind eye”.
    Agora tomem e chupem e engulam.

  6. «Trimmm, trimmm, hora de acordar!! – Alguém por acaso já deu conta do caudal de benefícios imenso com que a crise dos outros tem beneficiado a Alemanha?…»

    Luís FA, a crise dos outros ou os frutos da preparação da Alemanha?

    É que por aqui fomos meso-keinesianos: esquecemo-nos da metade de poupar em tempos de afluência e fizemos três auto-estradas quase à vista uma da outra e um aeroporto onde se enterram mais orçamentos que aterram aviões.

  7. @ Francisco Miguel Colaço em Fevereiro 11, 2015 às 16:59
    Com certeza… O meu “ponto” não pretende retirar mérito à Alemanha. O que condeno é a facilidade com que se verga a espinha perante ela. O servilismo, a besuntosa ausência de espírito crítico, como se todo o mal, toda a culpa fosse nossa e todo o mérito estivesse do lado de lá… Não é assim, como sabe… Basta ver a hipocrisia com que a Sra. Merkel e o amigo Obama estão a criar problemas onde não fazem falta nenhuma! O meu ponto é afirmar que a Alemanha é um país como os outros… Tem a vantagem de ter dimensão, escala, disciplina, posição geográfica. Tira partido do que é, e de onde está… Mas não tem mais anjos nem santos do que qualquer outro país e no contexto recente da crise europeia nada mais tem feito do que o papel de mestre escola exigente e pouco criativo. Dizer isto não desculpabiliza o laxismo grego (ou português)…

  8. Já os nossos governos gostam tanto de regular/legislar/proibir quando é que proíbem que mentecaptos e ignorantes a economia debitem tamanhos disparates como a criatura que assina o artigo??? A intoxicação e massificação da ignorância da opinião pública via jornalismo de causas devia ser crime.
    Com que então o quiabo acredita que andam malvados alemães pelas ruas da tugalândia a obrigar os nativos a comprar os seus produtos. E nós a pensar que tínhamos pelo menos a liberdade de escolher a quem comprar o que nos dá na real gana! Ele há coisas fantásticas…

  9. Fernando Costa

    O nosso azar é não podermso exportar os Ivos deste país para a Alemanha. Ficaríamos rapidamente com a balança em nosso favor

  10. JPT

    Em bom português, digo ao Sr. Luís FA o seguinte: “vai trabalhar, malandro!” De onde vem esta raça que gasta a criatividade toda a arranjar desculpas para o que não faz, nunca fez, e não tenciona fazer, e a culpar os outros pelas suas asneiras? Quem pariu estes calaceiros à espera que o preto lhe vá buscar o coco, que o cidadão lhe traga a “lembrancinha” ou, na nova versão, que o alemão lhe pague a reforma, com os neurónios totalmente dedicados a racionalizar a chulice? A sério, tanto português a trabalhar até cair para o lado, aqui e por esse mundo fora, e tantos outros a terem o descaramento de dizer que não se ganha nada em trabalhar 40 horas por semana, em vez de 35; que não se ganha nada em trabalhar mais 4 ou menos 4 dias por ano; que não se ganha nada em reduzir um Estado que, esse sim, nos rouba (ou “desvia”) mais de metade do que produzimos; que não se ganha nada em investigar coisas que podemos exportar em vez de cagadas em paredes; que não se ganha nada em acabar com rendas, tachos e alcavalas, em vez de ir esmolar aos alemães para que as paguem?

  11. tina

    “com os neurónios totalmente dedicados a racionalizar a chulice? ”

    Exatamente, JPT. De que massa é feita esta gente, que não sabe tirar prazer na vida através do seu próprio trabalho e sucesso, e devota antes a sua energia toda a culpar os outros, ou a tentar viver à custa dos outros? Que miseráveis, que infelizes!…

  12. Luís FA,

    NÓS pedimos emprestado. NÓS aceitámos as condições do empréstimo, incluindo juros e prazos. NÓS gastámos o dinheiro como quisémos, e fizémo-lo em desinvestimentos muito desconstruídos, sem qualquer esperança de retorno para além dos estudos que NÓS promovémos, que NÓS executámos, mandados pelos políticos que NÓS quisemos que la estivessem, eleitos em plebiscitos que NÓS organizámos e que NÓS reconhecemos.

    Onde estava a Sr.ª Merkel para que tenha culpa? É uma de NÓS?

  13. «O nosso azar é não podermso exportar os Ivos deste país para a Alemanha. »

    Sucata daquele teor até há pouco levava uma capa de pintura e ala que ia para Angola. Mas até deixaram de aceitar desse tipo de sucatas.

  14. Fernando S

    Luis FA (Fevereiro 11, 2015 às 17:35):
    “O que condeno é a facilidade com que se verga a espinha perante ela [Alemanha]. O servilismo, a besuntosa ausência de espírito crítico, como se todo o mal, toda a culpa fosse nossa [Portugal]e todo o mérito estivesse do lado de lá [Alemanha]…”

    Qual “ausência de espírito crítico e servilismo” qual carapuça !!
    O que se trata é muito simplesmente não andarmos a arranjar desculpas para as nossas taras e os nossos erros apontando o dedo à Alemanha.
    O que se trata é muito simplesmente não estarmos a querer que a Alemanha pague as nossas dividas.
    Tenhamos a dignidade e a lucidez de fazermos o nosso trabalho de casa e deixemos os alemães tranquilos !

  15. Tenho a certeza que o jornalista se recusa a consumir fármacos da Bayer e que quando estiver hospitalizado vai recusar tratamentos de máquinas Siemens e afins. Também deve preferir andar a pé do que entrar num autocarro Mercedes-Benz. As máquinas que a industria do calçado usa para exportar vêm de onde ? Quantos quilos de cortiça tenho de vender para conseguir comprar um Audi ? Mais, o peso das exportações da Alemanha para Portugal é ridículo em % do total das exportações germânicas. Mas por outro lado, as exportações portuguesas para a Alemanha totalizam 11.6 % das exportações totais portuguesas. Afinal quem é que precisa mais de quem para crescer ?

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