Graças aos tags dos comentários que o António Parente me fez num post da Ana Cristina Leonardo no fb dei com esta maravilhosa caixa de comentários sobre o meu texto de hoje no Observador, cheia de gente encantadora que, apesar de não saber ler, mais que compensa a falha em tonitruantes manifestações de superioridade esquerdista e pacifista e insultos.
Ora bem, no meu texto, eu refiro ‘A Segunda Guerra Mundial tem alguns paralelos curiosos com o presente e os perigos do extremismo islâmico (e não apenas do terrorismo). Os nazis eram um grupo de loucos dispostos a tudo, com um tipo particular de fé ateia que não está muito longe da intransigência fundamentalista islâmica‘. Comparo, portanto, o nazismo com o extremismo islâmico. Ora a boa gente do parágrafo acima fez equivaler ‘extremismo islâmico’ ao ISIS (sabe-se lá por que devaneios) e dedicam-se com fúria a demonstrar como a situação do ISIS é diferente da da Alemanha da década de 30. E eu, claro, sou uma ignorante por não saber que o ISIS e a Alemanha de 1939 são coisas diferentes. Isto, claro, apesar de eu ter referido extremismo islâmico – presente (e quanto) no Irão, na Arábia Saudita, na Síria e em sei lá quantos mais lugares – e nunca ter feito qualquer equiparação entre ISIS e Alemanha. Gente maravilhosamente perspicaz, portanto.
No meu texto avanço depois para comparar 3 (três) pontos específicos dos ‘alguns’ paralelismos que tinha apontado – que, como toda a gente percebe, é equivalente a escrever ‘a situação do ISIS é igual, sem tirar nem por, ponto por ponto, à da Europa em 1939’ -: drones, moderados e apaziguamento de Obama. A conclusão do texto é:
‘Não que eu recuse de todo o apaziguamento. Por razões diferentes dos seus autores, com a sua incapacidade de perceber que do lado oposto estão loucos que não medem sucesso e falhanço pelo número de pessoas vivas e pela qualidade de vida das populações, como nós costumamos. Mas porque cada vez mais me convenço que uma guerra é tão maléfica como uma paz podre. A decisão por uma ou por outra não obedece a leis gerais mas a circunstâncias concretas.
Pelo menos aprenda-se com a Segunda Guerra Mundial que o apaziguamento é uma opção pela paz podre e não pela paz.’
Pessoas pensantes poderiam chegar à conclusão que a paz podre foi o que trouxe a primavera árabe e os resultantes governos islâmicos, foi o que fez nascer a al qaeda, foi o que fez florescer as ditaduras laicas mas sangrentas e apoiantes do terrorismo destronadas com a primavera árabe, e foi e é o que mantém situações dramáticas de supressão de direitos humanos de metade da população da zona – as mulheres – e de violência sobre elas. Uma paz podre não é inócua; é perigosa e mortífera. Mas, mesmo assim, eu digo claramente que não prefiro a guerra a isso.
O que, perante isto, entende esta gente iletrada – perdão, esclarecida – que eu defendo? O evidente. Nas palavras de Ana Cristina Leonardo: ‘que o melhor era ir lá com uns tanques e depois fazer uma conferência em Potsdam para dividir o petróleo.’ Cinco minutos de palmas, sff.
Estas maravilhosas interpretações das minhas palavras – ou, na verdade, o que os macaquinhos na cabeça e os preconceitos da Ana Cristina Leonardo & friends os levam a interpretar das minhas palavras, e nem faz mal se for o contrário do que eu escrevo – estão no meio de outras considerações deliciosas. Uma senhora que não vislumbro quem seja diz que tem uma questão pessoalíssima comigo. Um tal de João José Cardoso diz que eu, por só ter referido livros britânicos, acho que a Segunda Guerra Mundial foi apenas britânica e que tudo revolveu à volta do Canal da Mancha. Ora bem, pessoas do mundo, ficam a saber, da parte do tal João José Cardoso: perante assuntos complexos que envolvam muitos países, línguas, culturas, datas, whatever, ai de quem se interessar mais por um ponto específico desse assunto. Ou leem sobre a totalidade ou NADA. Eu, presentemente, também tenho a casa a abarrotar de livros e papers sobre maoísmo. Ficam a saber – porque são obedientes e usam o fantástico método João José Cardoso -, assim, que para mim TODO o comunismo em qualquer país se resume ao maoísmo e que TODA a história da China, tanto quanto eu sei, existe apenas entre 1949 e 1976. Bravo pela estratosfericamente inteligente conclusão.
Este João José, que é uma pessoa certamente desempoeirada das ideias, também me chama ‘beata’. Ficam também a saber que qualquer pessoa que num estado laico tenha a falta de vergonha de se afirmar como católica é uma ‘beata’. Está ao lado dos imbecis passistas que usaram o mesmo argumento comigo, e dos invertebrados que dantes me associavam à Opus Dei e ao uso de cilícios. Não se preocupem, não vou cair no preconceito oposto e aconselhá-lo a tomar banho, pentear o cabelo, por um perfume, deixar de lado a t-shirt com o Che Guevarra e, enfim, abandonar o ar de rato de biblioteca que tanto esquerdista tem.
E ao estonteante senhor que afirma ‘esta Sarah Palin ilustra bem a diferença entre ser culta e debitar cultura a metro para o parecer…’, queria descansá-lo. Nunca na vida pretendi ser culta, era o que faltava. Até porque se sabe bem que as pessoas de direita nunca são cultas. Por muito conhecimento que adquiram, são sempre assim uns patos-bravos da cultura, de cada vez que se lhe referem é só exibicionismo e ostentação, aquilo não nos sai naturalmente como à boa gente de esquerda que se vê que bebeu cultura desde pequeninos. E na verdade nem sabemos bem, tal como o novo-rico desadaptado, o que é Cultura com C grande. Em vez de citar Chomsky, Zizek e outros autores que as pessoas cultas referem, falo em Churchill e Martin Gilbert. Vê-se à légua que o meu verniz cultural é muito fininho. Mas, lá está, como sou mansa e humilde de coração, queria aqui garantir que não pretendo dar-me ares de pessoa culta, nem pensar, e que olho com ar enlevado para a posição cultural muito mais elevada de Ana Cristina Leonardo e de este Humberto Baião.
Termino dizendo-me muito feliz com as gargalhadas que provoquei. Podia aqui agora citar o pai da Lizzie Bennet no Pride and Prejudice sobre rirmo-nos dos outros e os outros rirem-se de nós, que tem piada e era bastante apropriado, mas já me dei ares suficientes por hoje e é altura de não roubar protagonismo à gente verdadeiramente culta do país. E tempo de agradecer a experiência sociológica que o António Parente me ofereceu, que ver estas pessoas – que se calhar até votam – ajuda a explicar o estado do país. O problema nem é que sejam de esquerda ou profundamente preconceituosas. O problema, repetindo-me, é que não sabem ler.
Não vale a pena ligar aos “circlejerks”. Não vale mesmo.
Maria João, você escreve demais e explica-se demais. Não há necessidade…
Maria João Marques,
Gostei bastante do seu artigo. Qualquer pessoa que o leia até o fim percebe facilmente o sentido do que escreveu, concordando ou não.
Infelizmente, populam na Internet muitas criaturas que não entendem ou não querem entender o que quer que seja que lhes pareça destoar dos seus dogmas. Não lhes ligue que não valem o tempo que leva pronunciar os seus nomes.
Concordaria com o texto se não o utilizasse para expiar o seu ressabiamento por Obama ter recuperado a América de uma crise profunda e deixar o seu país com todos os indicadores económicos e sociais em máximos que humilham a Europa e retirasse a conclusão mais óbvia: se há alguma comparação a fazer com o pré ll Guerra Mundial, o fundamentalismo islâmico progride porque falta à Europa o seu Churchill. A América demonstra estar pronta a cumprir o seu papel. Pergunte aos heróis de Kobane.
“Obama ter recuperado a América de uma crise profunda e deixar o seu país com todos os indicadores económicos e sociais em máximos que humilham a Europa”
Mentira.
“A América demonstra estar pronta a cumprir o seu papel. Pergunte aos heróis de Kobane.”
Esta quase parece o Mussolini a clamar vitória por nem sequer uma batalha.
Maria João, não se preocupe. O que se passou tem uma explicação lógica.
A Internet permitiu que as pessoas que vêem a Casa dos Segredos e o Trio de Ataque também comentem temas políticos.
É o século XXI…
Fraquinha… como sempre!
Pipo: já o seu comentário é fortinho… como sempre!
Minha senhora:Não perca tempo com essa gente!
E vá lá que só lhe chamaram “beato”. É que essa canalha esquerdista costumam cuspir para cima das pessoas que delas discordam o insulto “padreco”. Teve sorte!
Lucklucky,
Em vez da palavra “mentira” escreva lado a lado os valores actuais, por exemplo, de crescimento do PIB, de taxa de desemprego ou da variação dos índices bolsistas dos EUA e da UE.
Se Kobane se transformar, como parece, no lugar onde a invencibilidade militar do EI foi quebrada, na expansão do seu território, além dos mártires curdos que lhe fizeram frente, isso dever-se-à a quem? Aos ministros portugueses que vão negociar a concessão de portos nacionais a entidades turcas enquanto as bombas caiem?
A Sarah Palin pelo menos tem o bom senso de não se enredar em polémicas que só disparam pela culatra…
gostei do seu artigo, já deixei um comentário no jornal e aqui é só para agradecer a sua frontalidade e esqueça os “ataques” pessoais de que foi alvo pois são pessoas ressabiadas,dogmáticas e ortodoxas que não sabem discutir com um mínimo
de educação