Outra nota à análise de ontem de Miguel Sousa Tavares (MST) na SIC, desta vez sobre as eleições gregas, a austeridade e a Alemanha. MST comparou, não foi o primeiro a fazê-lo, a dívida da Grécia à da Alemanha no final da segunda guerra mundial, como pretexto para a necessidade de a Europa ser mais complacente com os gregos.
Dito assim parece lógico. Mas não é. Entre os dois casos há uma diferença abissal. A dívida alemã foi fruto das guerras que marcaram a primeira metade do século XX. Já a dívida grega é fruto do modelo de desenvolvimento da Grécia. A dívida alemã foi paga porque a Alemanha se desenvolveu. A dívida na Grécia foi contraída porque a Grécia se desenvolveu.
Ou seja, há algo de errado no modelo de desenvolvimento grego que não havia no alemão. É isto que tem de ser analisado e corrigido. É isto que deve ser exigido aos gregos e não aos alemães.
A guerra também foi “fruto do modelo de desenvolvimento” alemão (aliás, duas).
Alem do mais a ajuda foi generalizada à Europa para prevenção ao comunismo. Obviamente que a Alemanha foi mais beneficiada. Logicamente.
Os gregos mentiram nas estatisticas (com a conivencia de muito boa, e séria gente…) convem lembrar essa…
“A guerra também foi “fruto do modelo de desenvolvimento” alemão (aliás, duas)”
Uma simplificação grosseira, mas como há certa verdade nisso, não discutirei. Mas note-se que o modelo de desenvolvimento alemão anterior foi um fracasso, e contribuiu para a guerra justamente por ser um fracasso. O modelo econômico alemão algum tempo após a final da guerra, mudou radicalmente. O que era um modelo de planejamento central, foi alterado repentinamente para uma sociedade de mercado.
Mas os keynesianos e marxistas não veem absolutamente nenhuma relação entre isso e o crescimento posterior da Alemanha….
Quanto à ajuda econômica, (que os alemães receberam num momento determinado da história), outros países receberam tanto ou mais, tanto em termos absolutos como em termos relativos. E continuaram pobres, ou pelo menos não ficaram tão ricos quanto a Alemanha. E muitos países saíram da miséria para a riqueza sem receber ajuda nenhuma.
Sobre ajudas econômicas, diria o seguinte: imagine que um motorista está tentando fazer seu carro pegar, e não consegue. Chama algumas pessoas que vão passando, e pede sua ajuda. Se ele disser:
“podem, por favor, empurrar um pouco o meu carro, para o motor pegar?” várias pessoas se disporão a ajudar.
Se ele disser:
“podem, por favor, empurrar meu carro até o meu local de destino, a uns 15 km de distância?” ninguém o ajudará.