Je suis Charlie

 

O Charlie Hebdo é (escrevo obrigatoriamente no presente) o oposto da minha orientação política: é de esquerda e tem jornalistas comunistas e anarquistas. Quer-se irresponsável. Ora, é essa irresponsabilidade que o torna valioso. Que nos faz rir, parar e ponderar. Além disso é ateu e eu creio que a religião é essencial para a liberdade.

E é a liberdade que está em causa. Matar quem desenha cartoons não só é criminoso, mas também porque demonstra o nível de intolerância. Se não podemos desenhar, se não podemos rir, o que é que nos resta fazer?

O Ocidente precisa de mostrar os seus valores: a liberdade, a honestidade, a aceitação da diferença (que não é o mesmo que tolerância) e a ausência de medo. O que sucedeu ontem em Paris é inaceitável, passa todas as marcas e é isso que deve ser mostrado aos terroristas.

O testemunho da mulher de Georges Wolinski é claro: «Ce qui s’est passé hier, c’est une guerre contre la liberté. Et cette guerre, nous devons la gagner.»

21 pensamentos sobre “Je suis Charlie

  1. Luís Lavoura

    a religião é essencial para a liberdade

    Wow! Toda e qualquer religião? Ou apenas algumas religiões? O islamismo também conta?

    E os ateus? Não são livres? Ou basta o facto de algumas (quantas?) pessoas à sua volta serem religiosas para eles também se tornarem livres?

  2. Nuno Cardoso da Silva

    «Ce qui s’est passé hier, c’est une guerre contre la liberté. Et cette guerre, nous devons la gagner.»

    Pois! Mas não é com auto-colantes nem com manifestações patéticas que essa guerra se pode ganhar…

  3. PG

    @Luis Lavoura

    O Ateísmo é em si uma religião. A maneira como muitos ateus insistem em ridicularizar/criticar as outras religiões é quase evangelização.

  4. lucklucky

    “O Ateísmo é em si uma religião. A maneira como muitos ateus insistem em ridicularizar/criticar as outras religiões é quase evangelização.”

    Precisamente, nunca compreendi muito bem essa necessidade.

  5. Marquês Barão

    Nicolau Maquiavel
    “Lembre-se que Deus é terminantemente contra a guerra, mas protege quem atira bem”
    “Quero ir para o inferno, não para o céu. No inferno, gozarei da companhia de papas, reis e príncipes. No céu, só terei por companhia mendigos, monges, eremitas e apóstolos.”
    “Aos amigos os favores, aos inimigos a lei.”
    “Os preconceitos têm mais raízes do que os princípios.”
    “Creio que seriam desejáveis ambas as coisas, mas, como é difícil reuni-las, é mais seguro ser temido do que amado.”
    “Quem num mundo cheio de perversos pretende seguir em tudo os ditames da bondade, caminha inevitavelmente para a própria perdição.”
    “Os fantasmas causam maior medo de longe do que de perto.”

  6. Vasco Silveira

    Caro André Abrantes Amaral

    Partilho a sua opinião quanto ao jornal em questão – as primeiras duas linhas sobretudo, mas para além dos seus comentários e do comentário transcrito, com que também concordo, julgo que há um aspecto que não tem sido referido e se sobrpôe a todos os outros:
    _ O crime ocorrido é um crime contra a vida de seres humanos baseado no ódio e na vingança, contrariando qualquer religião, que pressupôe uma justificação e uma finalidade dessa mesma vida. Mais importante que a democracia e a liberdade de expressão, que poderão e deverão ser encaradas como parte da dignidade humana, está a essência da mesma – a própria Vida Humana.

    Cumprimentos

    Vasco Silveira

  7. Sugerir que o ateísmo é uma religião, “imho”, é rídiculo. A necessicade de criticar (e até ridicularizar) religiões, idependentemente de se ter fé em algo ou não, ficou bem patente ontem, como tem sido feito constantemente neste blog!

  8. JPT

    Não aceito que não se possa simultaneamente entender que (i) o assassinato a sangue-frio de doze seres humanos é um acto repugante, selvagem e cobarde – em especial porque motivado pelas suas ideias e (ii) que o exercício da liberdade de expressão não pode ser dissociada da responsabilidade social, e que a ofensa, apenas “porque sim”, às convicções religiosas alheias (em especial dos que, numa sociedade multicultural, não integraram ainda o laicismo da nossa sociedade, uma conquista bem mais recente do que alguns se querem lembrar, e para quem a experiência religiosa é muito mais potente do que a nossa compreensão alcança), é também ela um mal, e uma forma de violência – que, obviamente, não tem paralelo com a violência física. Não é “cobardia” optarmos por não ofender as mais profundas convicções de alguém, apenas para manifestar as nossas mais profundas convicções: é respeito, coisa que, a meu ver, é essencial para uma sociedade funcionar, em especial, as sociedades que a globalização nos legou.

  9. mggomes

    Eu também sou “Charlie”, mas apenas quando essa afirmação assume o sentido de se ser inequívoca e incondicionalmente a favor da total Liberdade de expressão. Sempre. Sem quaisquer condições.

    Mal consegui conter a fúria quando soube da notícia: não é tolerável que se possa ser barbaramente morto por delito de opinião.
    Agradou-me ver o repúdio geral e praticamente incondicional, mesmo de sectores onde costuma imperar um abjecto relativismo moral (nem vou mencionar a excepção Ana Gomes; muito por culpa dessa indigente intelectual sempre vetei a escolha do nome Ana para as minhas filhas…)

    Dir-me-ão alguns não ser o momento apropriado, mas convirá ainda assim perguntar é se o Charlie Hebdo é mesmo “Charlie” nas condições que acima descrevi.

    E a resposta é um claro e rotundo não.

    Em 1996, o Charlie Hebdo orquestrou uma campanha nojenta pedindo a extinção da FN.
    (link: http://ecrans.liberation.fr/ecrans/1996/09/12/les-173-704-signatures-de-charlie-hebdo_183854)
    Cavet emptor: sou insuspeito de qualquer simpatia pela FN, quer na versão filha quer na versão pai (ainda menos). Mas também sou completamente insuspeito de simpatizar com quem quer silenciar os que estão do outro lado da barricada,

    Os jornalistas do Charlie Hebdo foram cobardemente executados por exercerem, na prática e na primeira pessoa, uma das mais fundamentais Liberdades, a de expressão.
    Mas convém guardar para referência futura o facto de nem sempre a terem defendido da mesma forma para terceiros.

  10. Só para esclarecimento geral, uma religião não tem de ser teísta. Aliás, a definição de religião commumente aceite nem incorpora a questão de Deus na sua ontologia:

    “A religion is an organized collection of beliefs, cultural systems, and world views that relate humanity to an order of existence.”

    Portanto, caros ateus, lamento, são religiosos como quaisquer outros.

  11. EMS

    “A religion is an organized , cultural systems, and world views that relate humanity to an order of existence.”

    Assim não faz muito sentido chamar religião ao ateismo.
    Um ateu Italiano tem tem uma cultura diferente de um ateu Japones. “World Views” comuns entre um ateu comunista e um liberal tambem não estou a ver.

    A unica coisa que poderá unir os ateus entre eles será a crença de que não existem entidades subrenaturais IE deuses. O que é muito modesto para lhe chamarem “collection of beliefs”.

    Mas mantendo a sua proposição como correta. Poderemos chamar religião a um conjunto de pessoas que não acreditam que a lua seja feita de queijo?

  12. EMS, a religião teísta crê que foi um Deus a conceber o Universo. A religião ateísta crê que não foi um Deus a conceber o Universo. Penso que a única distinção válida seria com os agnósticos, que simplesmente não têm posição sobre o assunto, nem num sentido nem no outro.

  13. k.

    Outra derrota para os terroristas;
    A revista satirica estava com problemas financeiros. Sem este atentado, provavelmente fecharia.

    Agora, tem uma segunda vida.

  14. Mário, creio que seria mais correcto dizer: uma “religião ateísta crê que não foi um Deus a conceber o Universo.”, pois existem várias. Obviamente, o facto de existirem religiõe ateístas não faz do ateísmo uma religião. O ateísmo não está associado a nenhuma visão da humanidade em particular, é simplesmente não acreditar no divino.

  15. lucklucky

    “….é também ela um mal, e uma forma de violência …”

    É preciso ser completamente xenófobo para nem sequer perceber como o poder existe no Islão para escrever a sua palhaçada de texto politicamente correcto.

  16. Pedro

    Partilho da nota geral do post!

    Mas eu diria que a ausência de religião é que é essencial para a liberdade… não fosse a tradição judaico-cristã (que também é a base islâmica) baseada em 10 mandamentos, os 4 primeiros que obrigam a uma submissão a Deus ou aos pais, os seguintes, exceptuando o 9º, a proibir actos e o 9º a condenar pensamento.

    É de notar, já agora, que ser ateu não é parte de nenhum sistema de crença porque crença não está envolvida na decisão. Um ateu é simplesmente uma pessoa que analisou os dados e não encontrou nenhuma prova convincente da existência de Zeus, Baal ou o espírito da árvore lá da aldeia… da mesma forma que uma pessoa que não acredita em bruxas não faz parte de uma religião de abruxistas!

  17. Gostaria muito que o A.A. Amaral , se pudesse e estivesse a isso inclinado , elaborasse mais ou me indicasse onde posso ver explicado de que modo é que a religião é essencial à liberdade.

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