O Filipe Nunes Vicente compara aqui as justificações do ex-ministro Mário “jamé” Lino para justificar a construção do novo aeroporto (na altura ainda previsto para a Ota) com a realidade dos factos:
Reportava o CM a 25.07.2005:
A diferença agora é que, neste momento, a capacidade da Portela está esgotada e só mediante pesados investimento é que irá conseguir dar resposta por mais 10 anos. (…) As infra-estruturas do aeroporto da Portela, previstas para 10 milhões de passageiros, atingiram o seu limite o ano passado [2004]
Passados os tais 10 anos e sem vislumbre dos tais “pesados investimentos” a situação é a seguinte:
A ANA (Aeroportos Portugal) comunicou hoje que o aeroporto de Lisboa irá atingir na terça-feira os 18 milhões de passageiros processados, um novo máximo anual que supera em dois milhões o valor registado em 2013.(…) Recorde-se que o anterior recorde ocorreu em 2013, com um total de 16 milhões de passageiros.
Pelas minhas contas um acréscimo de 80% em 10 anos e ainda não temos novo aeroporto. A não ser que queiram considerar o “elefante branco” de Beja.
Investiram 350 milhões para alargar o aeroporto da portela em 2008/2009 para acomodar o excesso de passageiros.
A ANA vai investir mais uns milhões nos proximos tempos, estava no acordo de privatização.
Confesso que tenho alguma dificuldade em perceber bem o seu comentário.
Se ler a noticia (por vezes convém), Mário Lino fala em “investimento pesados” para acomodar o aumento de passageiros nos 10 anos seguintes (ie até 2014). Tendo em conta que essa opção foi abandonada em favor de um novo aeroporto cuja construções só foi descartada (ou pelo menos adiada) por este governo e que essas obras foram feitas pelo governo anterior que previa ainda assim construir o novo aeroporto. Pelos vistos aumentaram os passageiros em 80% e não ouço falar em “capacidade esgotada)
De recordar que existiam outras hipótese que foram descartadas e que permitiam manter a Portela. Nomeadamente o Portela+1 (nova pista) e mudar os low cost para o Montijo ou Alverca (onde já existiam algumas infraestruturas).
E foram feitos investimentos pesados para a Portela acomodar mais passageiros até 2015 – 350 milhões.
Relativamente a novos aeroportos, nenhuma dessas hipoteses foi descartada; Foram no máximo adiadas.
Aliás, a ANA já está a fazer “olhos” ao Montijo.
http://www.dinheirovivo.pt/Empresas/interior.aspx?content_id=3996312
Ora, se não for possivel utilizar o Montijo (não sei, já li que sim, já li que não), eventualmente ter-se-á de construir um novo Aeroporto de Lisboa – o que poderia ter sido feito antes, sem ter de se investir os 350 milhões para alargar a Portela.
Ou reprimir o número de passageiros.
Têm alguma outra ideia para gerir o crescente influxo de Passageiros para Lisboa?
Como dizia um director da Autoeuropa há uns anos, dá nas vistas a quantidade de carros de luxo que em Portugal andam de um lado para o outro nas auto-estradas.
Como diria um filósofo, “mamões de plus, jamé!”.
Miguel.
Claro e mais:o k. abre uma nova linha de passe : até agora a desculpa era a crise, a crise é que inutilizou o novo aeroporto. Agora, não sei por que raio, que estranho, já se fala outra vez na necessidade urgente .
” foram feitos investimentos pesados para a Portela acomodar mais passageiros até 2015 – 350 milhões”
Portanto, para si, 350 milhões é um investimento “pesado”. Ainda para mains tendo em conta o que se gastou em infraestruras inuteis na passada década. Como classificar então os recursos necessários para a construção do novo aeroporto?
“Têm alguma outra ideia para gerir o crescente influxo de Passageiros para Lisboa?”
Mais uma vez parece ter alguma preguiça em ler o que é escrito. Dou-lhe duas. Portela+1 e low cost.
“até agora a desculpa era a crise, a crise é que inutilizou o novo aeroporto. Agora, não sei por que raio, que estranho, já se fala outra vez na necessidade urgente ”
Antigamente a justificação para os “elefantes brancos” (OTA, TGV, SCUT) era o medo de ficarmos presos sem ligações ao exterior. Parece que mesmo assim lá nos temos safado. Mas sem construção não há futuro para este país. Pricipalmente para todos os “comissionistas” que lá vão buscar o seu quinhão.
Ena, considera 350 milhões de euros como pouco volumoso?
Quero ter o seu nivel de rendimento.
De qualquer forma, estamos a falar de investimentos
As suas “soluções” não são claras:
a) Portela + 1 Aeroporto, mais um “low cost” (portanto 3 aeroportos)
Ou
b) Portela + 1 Aeroporto para low cost?
Assumindo a opção b), Portela + Montijo, ou Portela + Alcochete?
Quanto custa cada opção?
Já agora, porque não Portela + Beja? Ou Sintra?
Andam entretidos a mandar postas de teor politico para o ar, e ninguem pensa no problema concreto: A Portela eventualmente irá esgotar a sua capacidade, e a solução mais eficiente tem de ser pensada AGORA para estar no lugar quando enventualmente a Portela rebentar pelas costuras.
Um ponto interessante é que a OTA estava planeada para 25 milhões. A Portela já vai em 18 milhões. A OTA via esgotar antes de a Portela ser substituída.
“Quero ter o seu nivel de rendimento.”
Um argumento arrebatador. Dei-lhe o grau de comparação mas se calhar teve preguiça em ler o comentário todo.
Mas até me dá uma ideia. A partir de agora sempre que vier aqui com as suas propostas para gastar o dinheiro dos contribuintes vou exigir que exiba o recibo de vencimento.
“As suas “soluções” não são claras”
Eu clarifico.
Portela+1: é o nome pelo qual ficou conhecida a proposta de construir mais uma pista na Portela. Antes que pergunte, sim é possível.
Low cost: Construção de um aeroporto para os vôos low cost. De preferência aproveitando infraestruras já existentes. Por exemplo, Alverca, Montijo, Figo Maduro, etc.
“Já agora, porque não Portela + Beja? Ou Sintra?”
Por mim tanto dá. Já vi que para si Sintra ou Beja vai dar ao mesmo.
“Andam entretidos a mandar postas de teor politico para o ar, e ninguem pensa no problema concreto””
Claro que não. Estivemos à sua espera. Já agora, por onde é que andou nos últimos anos?
Já agora. Um estudo estimava o custa da Ota em 9000 milhões de euros e Alcochete 6000 milhões. Provavelmente bagatelas, segundo um comentador.
Bem, ja’ nao se pode dizer que ninguem vai preso! Se precisam de mais capacidade, e agora que a ANA foi ( mal) privatizada, eu sugeria que os interessados e beneficiarios que paguem qualquer novo investimento (ie. ANA, cml e arredores).
Um bom princípio mas eu iria mais longe.
Eu diria que o investimento deve ser pago por privados.
Mas os que votaram no AC devem querer pagar tais investimentos!
Miguel, deixo algumas achegas mais técnicas à discussão que podem ajudar a pensar um pouco nessas opções alternativas à Portela que falas:
1 – A capacidade da Portela não está esgotada, mas a sua expansão vai gradualmente custar cada vez mais por passageiro transportado. Acho que esta é óbvia para um economista (que eu não sou): o retorno marginal sobre o investimento tende a ser cada vez menor e este caso não é diferente. Para aumentar a capacidade no próximo milhão de passageiros vai ser bastante mais caro do que até agora
2 – Em última análise há um tema que será impossível resolver na Portela: só pode existir uma pista. Uma vez que só pode existir uma pista então haverá um limite superior ao nível de movimentos (um movimento é uma aterragem ou descolagem) por hora. Isto significa que há de facto um limite superior à capacidade independentemente dos investimentos a não ser que resolvas expropriar a alta de lisboa toda.
3 – Apesar deste limite de movimentos isso não significa que o número de passageiros não continue a subir. Isso é conseguido pela reacção normal das companhias aéreas a operar num aeroporto congestionado: aviões maiores (logo mais passageiros por movimento) são uma solução. Outro efeito é que a congestão não é distribuida uniformemente ao longo do dia. Tem picos e na Portela estes ocorrem ao início do dia (08:00-09:00) e final (18:00-19:00). Gradualmente estes picos vão se espalhar a mais horas. No entanto isso vai também destruir a operação de Lisboa como hub já que essa operação requer que haja capacidade suficiente para cruzar ao mesmo tempo os voos de longo e médio curso que operam maioritariamente a essas horas porque afinal quantas pessoas querem mesmo apanhar um voo de São Paulo às 4 da manhã?
4 – A opção Portela+1 é impossível de realizar. Há duas razões fundamentais para esta impossibilidade. Por um lado há uma impossibilidade técnica da maioria das pistas aéreas em redor de Lisboa excepto Montijo. Mesmo o Montijo cria restrições significativas de tráfico aéreo que na prática impedem a maximização de capacidade da Portela ao mesmo nível. Por outro lado há uma impossibilidade económica. A única forma de aliciar uma companhia aérea a mudar-se para o Montijo é dar-lhe grandes incentivos seja sob forma de subsídios seja sob forma de taxas aeroportuárias reduzidas ou nulas. É esse o formato sob qual as Easyjets e mais ainda as Ryanairs deste mundo operam quando vão para os aeroportos secundários nalguns locais (P.ex. Luton em Londres). Ora se vamos dar subsídios ou ter taxas nulas, torna-se impossivel ter rentabilidade razoável para o investimento nesse aeroporto secundário que por muito low-cost que seja dificilmente será abaixo das várias centenas de milhões.
Em suma, a Portela ainda se conseguirá manter competitiva e com crescimento sem grandes restrições durante mais alguns anos. Não há qualquer dúvida que daqui a alguns anos a Portela começará a estar constrangida. A companhia que mais vai sofrer com esses constrangimentos será a TAP porque é quem depende mais da coordenação de voos simultâneos para a operação de hub. Os constrangimentos não implicam parar de crescer em passageiros mas sim uma gradual desaceleração desse crescimento, uma redução do conforto dos passageiros, da rentabilidade das companhias que operam os voos e das dificuldades em geral. Como um aeroporto, entre a decisão de construir e a entrada em operação, requer alguns anos então de facto num país das maravilhas deveríamos estar a lançar um novo aeroporto. Como não estamos num país das maravilhas teremos que conviver com não haver dinheiro para isso mas que não hajam dúvidas que isso traz problemas e limitações e que a solução Portela+1 não é economicamente eficiente para os resolver.
“o retorno marginal sobre o investimento tende a ser cada vez menor”
Como diz isso é uma regra genérica e não particular dos investimento na Portela. Mas o mais importante´, e penso que os números deixam isso claro, é que um investimento assim não tão pesado permitiu duplicar a capacidade. Como em tudo, algures a capacidade deste ir-se-à esgotar.
“A opção Portela+1 é impossível de realizar. Há duas razões fundamentais para esta impossibilidade. Por um lado há uma impossibilidade técnica da maioria das pistas aéreas em redor de Lisboa excepto Montijo”
Como refere mais em baixo, neste momento e num futuro próximo, impossível será conseguir reunir os meios necessários para construir um aeroporto de raiz. Será muito mais sensato pensar em desviar parte do tráfego para uma pista secundária aproveitando infraestrutura existente e não abdicando da Portela.