Recomendo a leitura do editorial de José António Saraiva no Sol. É bom recordar como a extensão do polvo socrático na sociedade portuguesa.
Governo, Parlamento, Justiça, comunicação social, banca: Sócrates controlava os três poderes do Estado – executivo, legislativo e judicial – e estendia os seus tentáculos ao quarto poder (os media) e ao poder financeiro (os bancos).
Talvez muita gente não se tenha apercebido na época deste cenário aterrador.
Mas olhando para trás – e sabendo-se o que hoje se sabe – temos noção do perigo que o país correu: um homem sobre o qual pesam suspeitas tão graves chegou a deter um poder imenso, que se alargava a todas as áreas de influência.
Só de pensar nisto ficamos assustados – e é muito estranho que alguns dos que privavam com ele não se tenham apercebido de nada.
(via Ablogando)
As teorias da conspiração são para tudo e tem o mérito de proporcionar bons momentos de entretenimento. No “caso Sócrates” tanto é válida a conspiração tentacular do “engenheiro” arrebatador, como a dos que no breu tenebroso de reuniões conspirativas se movimentam de forma coordenada, mexendo os cordéis e opiniões, para o abater… Adoro John le Carré.
A perigosidade do sujeito e a trapaça estrutural e manhosa está aqui bem retratada, falando com a primeira das duas caras: “Peço-lhe senhor PM. Resista à tentação do controlo da comunicação social. Nós cá estaremos para evitar essas tentações”:
Isto veio a propósito de um telefonema de um membro do governo a um comentador domingueiro (do mesmo partido) que a seguir, não aguentando com a gravíssima carga, foi a correr a Belém para ter uma reunião de emergência e queixinhas com o presidente da república do PS, que traria o actor 44 para os comandos do país.
Por que será que o caso de Aveiro nunca chegou a ser inquérito?!
“… Governo, Parlamento, Justiça, comunicação social, banca: Sócrates controlava os três poderes do Estado – executivo, legislativo e judicial – e …”
Há mais de 3 décadas, quando se começou a perceber este erro crasso do sistema “democrático” em Portugal -a acumulação dos 3 poderes do Estado num só indivíduo, repito, num só indivíduo- notei que observações elementarmente críticas em relção a semelhantes sistema político caíam em saco roto. (Sócrates é, foi, só uma gritante caricatura).
Três bancas rotas, défices permanentes nas contas públicas.
Fraqueza do Poder Executivo dependente de uma parte (colaborante) do eleitorado.
Força de Poder Executivo para equacionar à sua vontade um salve-se quem poder.
Daí a elementar necessidade, em política, de distribuir os poderes do Estado por diferentes agentes, com legitimidade própria, atribuída (e sancionável) uninominalmente, pelo eleitorado.
Sem desprezar contra-poderes estatais. Que não usem e abusem -mesmo em relação aos próprios deputados(!)- de “segredos de Estado” ou “segredos de Justiça”, como Banco Central e alguns Tribunais. Isto tudo, claro, com deputados genuínos.
O presente sistema político em Portugal -dito democrático, inventado e impingido pelos “país” desta “democracia”- passado os interesses de momento que o defendem, usam e abusam, será apenas (mais) um triste exemplo de perfídia em política, e das resultantes graves consequências para um povo.
Ao fim de 40 anos, bem medidos, não é de duvidar, no entanto, que os Srs. “deputados dos partidos”, os que o foram no passado e os que o são no presente, estejam felizes com esta democracia.
“Mas olhando para trás – e sabendo-se o que hoje se sabe – temos noção do perigo que o país correu: um homem sobre o qual pesam suspeitas tão graves chegou a deter um poder imenso, que se alargava a todas as áreas de influência.”
“…Só de pensar nisto ficamos assustados – e é muito estranho que alguns dos que privavam com ele não se tenham apercebido de nada.”
A mim assusta-me pensar em qualquer gajo que tenha qualquer poder sobre a minha vida, seja esse poder imenso ou pequenino. E e’ muito estranho que a maioria continue a advocar por um lider, um governo, seja ele minarquista ou maiorquista…
“Daí a elementar necessidade, em política, de distribuir os poderes do Estado por diferentes agentes, com legitimidade própria, atribuída (e sancionável) uninominalmente, pelo eleitorado.”
De onde vem os “poderes do estado”?
“Isso mostra a vulnerabilidade do sistema democrático.”
Especialmente num sistema democrático como o nosso, com tantos serviços dependentes do estado, incluindo os meios de comunicação. Assim, é fácil os chefes de governo controlarem tudo. Quanto mais liberal um sistema, mais livre e menos suscetível de ser controlado por ditadorzecos como Sócrates.
“Daí a elementar necessidade, em política, de distribuir os poderes do Estado por diferentes agentes, com legitimidade própria, atribuída (e sancionável) uninominalmente, pelo eleitorado.”
Acho que a única maneira de não haver corrupção é haver muito mais controlo de procedimentos e dos funcionários públicos. Controla-se muito o cidadão privado, mas os funcionários públicos podem fazer tudo o que querem. Ainda agora trabalhadores das finanças acederam ilegalmente aos dados pessoais de PPC. Se fazem isso a PPC, devem fazer a muito mais pessoas.
Patético. Só passo a dar crédito a José António Saraiva quando tiver atrás dele uma bateria de jornais e televisões igual à que persegue José Sócrates. JAS tornou-se um dos maiores manipuladores profissionais da política portuguesa. Tão eficaz que nem precisa sujeitar-se a votos.