Esta foi a minha introdução ao Animal Farm, a Orwell, aos totalitarismos, à corrupção do poder, à treta do igualitarismo (que acaba sempre no ‘todos os animais são iguais, mas uns são mais iguais que outros’). Vi o filme vezes sem conta em criança numa cassete de vídeo, sem perceber evidentemente todas as metáforas e analogias que continha.
(A minha segunda introdução a Orwell foi com o 1984, livro que o meu irmão mais velho leu em 1984 e que eu folheei e li páginas avulsas, entusiasmada por haver um livro com o título daquele ano. Percebendo ainda menos a mensagem de Orwell do que com o filme O Triunfo dos Porcos.)
Ainda há pouco tempo, em resposta às intermináveis perguntas das minhas crianças sobre os filmes, os brinquedos, as aulas e, enfim, TUDO da minha infância, lhes falei do filme (que é bom endoutrinar o anti-comunismo desde pequeninos) e lhes contei o que queria dizer. A criança mais nova claro que me ignorou e a mais velha fez-me saber, mais uma vez, que não gosta de conversas sobre política. Mas agora que foi relançado o filme, terão mais dificuldade em escapar ao dvd do que ao youtube.
(E eu, aparentemente, sou um bocadinho produto da CIA.)
Ler 1984 em 1984?eu so li ja no xxi
> E eu, aparentemente, sou um bocadinho produto da CIA.
Pois, por acaso é interessante como tão pouca gente questiona porque é que a liberdade precisa de ser tanta publicidade paga.
Quer dizer, normalmente os anunciantes recebem algum beneficio quando o público compra o produto.
Este deve ser diferente.
Talvez.
Peço desculpa, não reparei na autora do post. Faça o favor de apagar o comentário.
Euro2cent, esta casa sempre teve comentários moderados. De acordo com os nossos critérios, que somos nós que aqui mandamos. Se não gosta, não leia. Se não tem atividades interessantes para fazer na sua vida e se tem de dedicar a comentar as regras que os outros estabelecem para as suas casas, isso é problema seu. Nos meus textos comentam-se os textos. Não se comenta a autora – se quiser comentar-me, vá fazê-lo onde não me incomode. E também não se comentam as regras da casa; estas aceitam-se ou não. Parece-me simples, de elementar bom senso e bom gosto. Mas se, pobre coitado, fica feliz por vir aqui dar a ideia de que eu passo a vida a apagar-lhe comentários, ou de outros comentadores, bom, espero que tenha feito o seu fim de semana. E, quando conseguir, arranje uma vida.
A minha fase trotskista é capaz de ter sido também produto desse filme (contra as intenções dos produtores do filme, mas talvez mais de acordo com as intenções do autor do material original…).
O curioso é que o filme (subsidiado pela CIA) até me parece mais “esquerdista” que o livro (escrito por um radical de esquerda) – o filme acaba com uma segunda revolução, e embora não seja claro o que aconteceu depois (voltaram a chamar os humanos? os equidios passaram a dominar os outros animais? instalaram verdadeiramente uma igualdade animal?), deixa aberto a possibilidade de um “happy end”. Já o livro tem uma mensagem muito mais “será sempre a mesma coisa”.
É verdade, Miguel Madeira. para Orwell seria uma servidão sem fim, ao estilo Cuba ou Coreia do Norte. Mas tendo em conta a implosão da URSS depois de 1989, acho que tem piada que o filme tenha tido um fim de certa forma semelhante.
Bem, como acho que no final abandonam a bandeira e creio que também o nome da quinta (pelo que me lembro, no fim a quinta deixa de ser “Animal’s Farm” para voltar a ser “Jones Farm”), a melhor analogia seria mesmo algo Uzbekistão (ou Angola?), em que o Partido Comunista e a sua elite manteve o controlo mas acabou por abandonar os símbolos exteriores do comunismo (e, atendendo às intenções de Orwell ao escrever o livro – promover uma variante anti-URSS de esquerdismo -, talvez não seja indiferente que no final haja essa mudança de simbologia)
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