De camisola interior cabeada e bigode fino, pele ictérica em contraste com negro bigode e dentes desalinhados numa harmonia de quinta diminuta com a ondulação do oleoso cabelo, o perspirante ex-jardineiro na transversal de Westcliff Drive na afluente Summerlin, noroeste de Las Vegas, chega à extravagante mansão em forma de canoa do velho fadista português.
Gerardo Arturo Luna Ortiz, conhecido em Las Vegas como Grammy Latino, tem 32 anos e é oriundo de Malacatán, Guatemala. Aos 9 anos plantava sésamo na região de Chiapas e aos 12 vivia sozinho no norte, nos arredores de Matamoros, Tamaulipas, fornecendo serviços de jardinagem a texanos abastados e, sobretudo, às suas maçadas esposas.
Es con gran alegría y satisfacción que afirma o prazer que é trabalhar para o fadista português radicado na Glitter Gulch desde a morte do letrista José Carlos, o primeiro homossexual assumido a entrar numa sede do estalinista Partido Comunista Português. Me encanta la hierba, refere, ao iniciar o motor do aparador de relva Black & Decker LST136.
Parecen bandadas de gorriones sueltos, los putos, los putos, cantarola entre a dança dos pequenos glúteos que trabalham o aparato herbal, para gáudio do melancólico cantor de esgar perdido num horizonte que se estende por um deserto de emoções raiadas do canto da piscina.
Grammy Latino visitará Lisboa esta semana, apresentando-se nos Paços do Concelho perante uma audiência seleccionada de vultos e abutres da cultura em agradecimento e reconhecimento pelo trabalho prestado na manutenção da melancolia que compõe a agrura de uma vida dedicada ao colectivismo abastado da aristocracia lusitana falida.
Eis um texto muito literário.
A literatura é arte.
E a arte tem muito de subjetivo.
Ou seja, um produto artístico não é igual para duas pessoas.
Mas fico um pouco perplexo.
É que somos acusados de não valorizarmos o que é nosso.
E, entretanto, …
Parabéns pelo post. Adoro o seu sentido de humor.
Uns ganham prémios, a outros doem-lhe os cotovelos. É a vida.