Quando existe pouca vontade de discutir um assunto com seriedade e abertura, é frequente arranjar rótulos rápidos que enterrem o adversário no lamaçal. Eu destaco dois que são muito populares em dois domínios diferentes: o de “fascista” e o de “fariseu”. O rótulo de “fascista” está tão sobrecarregado e esvaziado que nem precisa de mais ridicularizações e considerações. O rótulo de “fariseu” serve um propósito semelhante e revela a mesma falta de criatividade, neste caso, de quem tenta apropriar-se do lado benevolente da falsa dicotomia entre amor (caridade) e justiça. Transpondo isto para o domínio político, corresponderia à exploração da dicotomia entre liberdade e autoridade.
Dos muitos usos que o termo “fariseu” tem tido durante séculos, a mais recente aplicação tem sido explorada em consequência da vaga de entusiasmos que tem cercado o Papa Francisco, e nomeadamente, para irmos directos ao exemplo mais recente, em consequência do ímpeto com que muitos olham para o Sínodo dos Bispos dedicado à família, depositando esperanças numa deformação da doutrina à medida das exigências e impulsos de cada um. Num contexto de grande polvorosa mediática em que as vozes que mais sobressaem são, tantas vezes, as daqueles que estão fora da Igreja e nem sequer querem entrar, chama-se “fariseu” a todo aquele que diz o óbvio: que o amor (caridade) pode ser interpretado como a roda dentada de uma engrenagem que não funciona sem a presença de outra roda dentada, a justiça.
Por outras palavras, se o homem tem uma dignidade intrínseca e total liberdade para dizer “sim”, se quer dar prioridade à vivência espiritual em detrimento dos bens materiais temporários, ou seja, se escolhe a conversão, é porque crê que é ele que precisa de ajustar a sua conduta e as suas prioridades; se passa a confiar nos ensinamentos da Igreja é porque lhes reconhece superioridade, tanto pelo discernimento com que passa a interpretar a realidade, como na utilidade prática que encontra quando decide aplicá-la. Visto que cada pessoa é livre de decidir o seu destino, quer isto dizer que a porta da Igreja está incondicionalmente aberta para acolher todos aqueles que se dirigem a ela com arrependimento; não é a Igreja que deve especializar-se em segmentação de mercado com vista a atrair as pessoas através de pacotes diversificados, vergando a sua coerência doutrinal para servir as mudanças de humor e as fraquezas humanas que possam alastrar com aceitação na sociedade.
Não é curioso observar que, entre os mais intransigentes defensores do laicismo dos Estados – sempre horrorizados com a mais leve possibilidade de haver algum derrame de influência espiritual sobre as instituições públicas – podemos encontrar empenhados promotores da inclusão dos vícios políticos na esfera espiritual? Afinal, de que vale defenderem a separação entre Estado e Igreja, se aquilo que pretendem é secularizar os processos, democratizar as decisões, amolecer a doutrina e incutir na Igreja as inconstâncias tipicamente parlamentares e a confusão inerente à mutabilidade da legislação do dia-a-dia?
É fácil identificar uma certa sintonia entre desequilíbrios que caracterizam as democracias ocidentais (desequilíbrios que se geram, em parte, com a ajuda e por culpa do eleitorado) e aquilo que são as reivindicações e anseios da opinião pública ocidental face ao que se passa na Igreja Católica. Os desequilíbrios vão-se revelando das seguintes formas:
1 – Negação da culpa e desresponsabilização pessoal;
2 – Banalização da lei, associada aos amontoados legislativos, e consequente descredibilização da justiça;
3 – Indiferença, ou até aversão, à autoridade (seja ela qual for);
4 – Insaciável apelo a mudanças constantes, adaptadas às singularidades de cada momento e que sejam reflexo dos interesses dos grupos com maior influência. Multiplicação de solicitações igualitaristas;
5 – Volubilidade das leis servindo de incentivo à corrupção e dissolução moral.
Se as leis de uma Nação mudam com o vento, quem as levará a sério? Se perdem a sua razão de ser, deixando de demonstrar um padrão simples, fixo e imutável, o que é que as torna preferíveis e respeitáveis? Contudo, esta é precisamente uma das faces das democracias modernas e um dos factores a ter em conta quando observamos o aumento da criminalidade e do sentimento de impunidade. Quando à dissolução moral, podemos encontrá-la associada também à desresponsabilização pessoal e chegamos ao combustível das promessas eleitorais que exploram o atomismo social e a dependência dos cidadãos em situação de fragilidade.
Se isto faz sentido no domínio político, não será óbvio que a Igreja não tem nada a aprender com os métodos mundanos que estão na moda? Ou as “tiranias da maioria” deixam de ser aborrecidas e aturam-se bem desde que preconizem uma agenda que nos agrade? Na mesma linha de comparação, se percebemos as consequências resultantes das ideologias que levam a um esvaziamento das funções e das responsabilidades pessoais, se conseguimos ver a dependência em que se lançam todos aqueles que acreditam no nivelamento e na acção afirmativa do Estado, não conseguimos também estabelecer ligação entre, por um lado, a negação de culpa e, por outro, o desespero e a angústia de ficar aprisionado a ela por não ter existido um farol moral que encorajasse a remodelação pessoal? Por fim, é fácil prever que quanto mais a Igreja fosse beber aos apelos e métodos que a opinião pública encoraja, mais descredibilizada passaria a estar a sua própria autoridade, menos solidez teriam os seus ensinamentos e menos nítida seria a Verdade.
Neste texto da Maria João, no Observador, encontramos uma alusão à parábola do Filho Pródigo e isto leva-me ao ponto em que comecei: a dicotomia entre amor e justiça. Por sua vez, a parábola levou-me a pensar naquilo que os bons alunos costumam sentir quando o professor fica eufórico com uma boa nota de um aluno que costumava estar entalado nas negativas há imenso tempo, e que precisou de empreender um grande esforço para alcançar um aproveitamento escolar satisfatório. Obter um 4, numa escala de 1 a 5, é algo trivial para alunos sem dificuldades e que andam nos eixos em termos de concentração, presença e cumprimento de tarefas. Já para outros que, imaginemos, possam cair numa rebeldia passageira no decurso de uma fase familiar menos boa, recuperar de uma negativa é uma tarefa muito mais exigente que depende da vontade e do esforço pessoal que visa compensar o tempo perdido. Para dar outro exemplo, um professor também pode ficar mais orgulhoso por conseguir puxar um aluno que revela menos capacidades intelectuais mas que trabalha incansavelmente para as superar. Isto significa que o professor tem preferência por alunos rebeldes, desgarrados ou menos inteligentes, enquanto desvaloriza os alunos que mantêm um bom desempenho – mesmo sem grande esforço – e um comportamento exemplar? É lógico que não. Acontece que alguns professores fazem questão de gastar tempo e dedicação com aqueles alunos que demonstram ter vontade de mudar e de se superarem.
Se um professor chegar em frente à sua turma e disser que vai deixar de usar critérios de avaliação, permitindo que todos transitem de ano independentemente de qualquer avaliação; se disser que ter 5 é vaidade e que quem incentiva tal resultado está a oprimir a liberdade e a criatividade dos alunos, é fácil prever os efeitos disto. Felizmente, não é isto que acontece quando os professores se empenham tanto com os “filhos pródigos” da turma. Está ali sempre subjacente uma mudança de atitude do aluno.
Grande post… A Maria João continua a não querer interpretar as parábolas.
Hitler ou Estaline, que nunca mostraram qualquer arrependimento, parece que têm direito ao perdão gratuito que Deus lhes dá.
The banquet was given in Cesare’s apartments in the Palazzo Apostolico. Fifty prostitutes or courtesans were in attendance for the entertainment of the banquet guests. Burchard describes the scene in his Diary:[1]
On the evening of the last day of October, 1501, Cesare Borgia arranged a banquet in his chambers in the Vatican with “fifty honest prostitutes”,[2] called courtesans, who danced after dinner with the attendants and others who were present, at first in their garments, then naked.[3] After dinner the candelabra with the burning candles were taken from the tables and placed on the floor, and chestnuts were strewn around, which the naked courtesans picked up, creeping on hands and knees between the chandeliers, while the Pope, Cesare, and his sister Lucretia looked on. Finally, prizes were announced for those who could perform the act most often with the courtesans, such as tunics of silk, shoes, barrets, and other things.
Obrigada por reforçar a minha ideia, manuel branco. Todos os homens têm fraquezas e a mania da democratização em tudo, amplia e institucionaliza com orgulho os erros humanos.
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http://www.voceditalia.it/articolo.asp?id=…a%20un%20amante
La relazione, intrecciata quando Montini era arcivescovo di Milano, prosegui’ anche quando divenne Papa
Paolo VI aveva un amante
Era l’attore Paolo Carlini
Milano – Quando era arcivescovo di Milano, Giovanni Montini ebbe un’”affettuosa” relazione con un attore. E’ una delle storie “nascoste” di Peccati scarlatti (Edizioni libreria Croce, Roma), l’ultimo romanzo dello scrittore sardo Biagio Arixi. Il futuro Paolo VI (Montini salì al soglio di Pietro il 21 luglio 1963) ebbe un’appassionata e sincera relazione con Paolo Carlini, intrecciata a Milano a metà degli anni ’60, quando Pio XII nominò Montini arcivescovo di Milano al posto dello scomparso Alfredo Ildefonso Schuster. Il rapporto proseguì anche quando, alla morte di Pio XII, il conclave elesse papa, il 28 ottobre 1958, l’anziano patriarca di Venezia, Angelo Giuseppe Roncalli, il quale aveva grande stima di Montini (fra i due vi era una consolidata amicizia fin dal 1925), tanto da elevarlo alla porpora cardinalizia. L’attore romagnolo, secondo quanto ha ricordato alla Voce Arixi, gli avrebbe confessato di due tentativi di assassinarlo da parte dei servizi segreti italiani (il Presidente della Repubbica Giuseppe Saragat sarebbe stato a conoscenza della relazione clandestina).
Carlini cominciò la sua carriera d’attore nel cinema, a 18 anni, con una parte secondaria nel film Addio giovinezza! (1940) al quale seguirono una quarantina di pellicole, sempre in parti di non grande rilievo, tra le quali Vacanze romane (1953), La baia di Napoli (1960) e Don Camillo e i giovani d’oggi (1972). Quindi negli anni cinquanta passò al teatro, dove ottenne buone affermazioni. Ma la grande popolarità per Carlini arrivò nel 1957 con la televisione, grazie allo sceneggiato Il romanzo di un giovane povero, tratto dall’omonimo romanzo di Octave Feuillet e diretto da Silverio Blasi. Per quella sua interpretazione ottenne il “Microfono d’argento”. Da allora prese parte a numerosi sceneggiati televisivi di successo, anche se in parti non sempre di primo piano.
La relazione segreta tra Paolo VI (nella foto) e Carlini è stata narrata dallo stesso attore – deceduto per le conseguenze di una trombosi il 3 novembre 1979, poco dopo la morte di Paolo VI, avvenuta il 6 agosto dell’anno precedente – ad Arixi, che ha voluto così rendere omaggio all’amico scomparso nel suo ultimo libro, presentato sabato alla libreria milanese Pier Pour Hom di Milano. Il romanzo è la fortunata prosecuzione di Figlio di vescovo, il libro-scandalo, giunto alla sesta edizione, che ha portato l’autore di Villasor alla ribalta negli anni ’90, con 30 mila copie vendute sino ad oggi. Relazioni omosessuali tra alti prelati, sodomia, pedofilia, ma anche amore e passione sono alcune delle storie narrate nell’ultima opera dello scrittore sardo, che mimetizza la realtà tra le righe del romanzo. Ai lettori più accorti scorgervi i protagonisti degli scandali mai emersi della Curia romana.
Marco Marsili
Fiz um esforço enorme para conseguir ler o texto até ao fim.
A conclusão a que cheguei é que…. Já não me recordo sobre o que era o texto.
Devo ser um dos tais alunos “pródigos”, com maior necessidade de apoio.
O que é que isto interessa? Porque é que é tão importante “ter razão”, e querer que a Igreja esteja de acordo com as nossas convicções, e não com as suas próprias convicções?
É para isso que servem os Concílios. Para definir quais são as convicções da Igreja a cada momento. E mudam com o tempo, pelo que não existe uma doutrina fixa. O que hoje é, amanhã pode deixar de ser.
A terra era plana, e o sol girava à volta da terra, lembram-se? E quem dizia o contrário, era preso pela Inquisição. E havia bruxas e feiticeiros, e aí de quem negasse tais factos.
Assim como ainda existe gente que acredita que se é homossexual por “opção”, ou seja, por decisão malévola, esses “sodomitas”. Como se o episódio de Sodoma tivesse algo que ver com homossexualidade, quando na realidade o que retrata é o crime de violação (só quem não leu a Bíblia é que pode não compreender isto).
Enfim, há gente que ainda não saiu do século XX…
Eu devia chamar a Inquisição para queimar o comentário do Surprese na medida em que aquele é um atentado à inteligência de quem o vier ler. Na realidade, eu própria devia (e posso) fazê-lo mas sou muito benevolente e até considero ser mais eficaz deixá-lo exposto ao constrangimento público a servir de exemplo do que não se deve escrever.
Obrigado Daniela. Nem sempre estou de acordo consigo, mas desta vez foi, como poucas pessoas, ao cerne da questão: se o “filho pródigo” não quiser mudar de vida regressar à “casa do pai” (ou se só o quiser fazer se este impuser na sua casa os critérios do “filho pródigo”), deverá o “pai” deixar de ser quem e como é?
Muitos parabéns Daniela. Revejo-me totalmente neste texto. Felizmente ainda há católicos com juízo.
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Manuel Branco, apenas uma pergunta, um pouco lateral ao cerne da questão: Tem alguma dificuldade de escrita em português, ou pretende apenas passear a sua fabulosa erudição e multilinguismo? Imagino que deva ter sido aluno de 5. Os seus antigos professores estarão por certo maravilhados…