Escrevem assim os porta-vozes do socratismo momentaneamente convertidos ao costismo:
Mas, hoje, Passos Coelho veio gabar-se do défice que o Governo estima para 2015, afirmando que é a «primeira vez» que ficará abaixo dos 3%. Para além de pretender disfarçar que a previsão dos estarolas falha a meta negociada com Bruxelas, o que importa observar é que o alegado primeiro-ministro não hesita em mentir com quantos dentes tem.
Com efeito, convém avivar a memória de Passos Coelho. Em 2008, o défice foi de 2,6% — logo, inferior a 3%, quando o défice orçamental herdado pelo Governo do PS em 2005 havia sido de 6,83%. O défice atingido em 2008 foi, na realidade, o valor mais baixo conseguido desde Abril de 1974.
Mesmo tendo em conta que a meta de 2015 é meramente uma previsão (*), não só Passos Coelho não está a mentir como, os abrantes são aldrabões e ainda por cima preguiçosos mesmo quando se trata de elogiar o chefe.
Eu explico. É bem possível que o défice reportado no final de 2006 tenham sido os tais 2.6%. Porém, como aconteceu ao longo dos últimos 15 anos, estes números foram posteriomente corrigidos em alta. Não é só a Grécia que tem por hábito mascarar as contas. Como se pode comprovar no Eurostat, o défice orçamental em 2008 foi de 3.6%. Mais. O melhor ano da “era Sócrates” até foi 2007 com um défice de 3.1%. Convém também referir que esta performance é igualada em 1999 e existem pelos menos dois anos (em 1977 depois da primeira intervenção do FMI e em 1989) em que em défice foi igual ou menor terá ficado ligeiramente abaixo dos 3%.
Para comparar défices em anos diferentes convém ter em conta a composição do mesmo e saber o que se deve ao saldo primário (a diferença entre receitas e depesas do ano corrente) e entre as despesas e receitas de capitais (principalmente o serviço da dívida). Se compararmos a sua evolução ao longo dos últimos anos o caso ainda piora para os que defendem o legado de Sócrates.
Libertos das funções de assessoria seria expectável que os “abrantes” tivessem mais tempo para verificar os dados. Verdade seja dita que essa nunca foi a sua preocupação primordial.
(*) ADENDA: De notar que a verificar-se previsão para o défice de 2015, será a primeira vez que é cumprido o limite do Pacto de Estabilidade e Crescimento, desde que aderimos à moeda única.
Bom trabalho, Miguel, em desmascarar aqueles aldrabões. Nunca se pode baixar a guarda com a corja Abrantes & Sócrates Lda.
Vai ser extraordinário se conseguirmos mesmo ficar abaixo de 3%, ainda não acredito nisso.
E ainda falta referir o defice efectivo de 2011. E aquela malta ainda continua com o defice martelado de 2005 do Constâncio. Falta de vergonha na cara, mesmo.
Isto é no que dá os políticos enquanto tal serem tratados à margem da leis e da justiça que trata dos restantes criminosos em matérias fiscais e económicas. Ou seja, o desrespeito pela igualdade que está plasmada na CRP é gritante.
Registe-se, também, a forma como se transforma uma previsão, vergonhosa, do défice para 2005 (6,83%), numa realidade.
Escrevi vergonhosa porque foi calculada, a pedido do governo PS, pelo Victor Constâncio, então governador do BdP, que descobriu esse número em sonhos, com uma precisão às décimas. Ele podia ter sonhado com um défice entre 6,5% e 7%, o que pareceria razoável, mas não, ele sonhou com esse número mágico dos 6,83%, número que estes, agora e sem vergonha, transformam em realidade.
É o que se vê, e nunca se tinha visto: ciência exacta.
Caro Tiro ao Alvo: o tiro foi certeiro, mas convém ainda lembrar que o célebre défice de 6,83% foi calculado na hipótese de até ao fim do ano não serem tomadas quaisquer medidas de contenção.
Pois foi, caro Júlio, nada de medidas de contenção e o mais possível de medidas de descompressão. E foi por isso que no BdP conseguiram chegar àquele valor preciso, até às centésimas. Uma maravilha. Uma coisa nunca vista.
Quem sabe se não foi por este feito que o Constâncio alcançou o tacho que agora ocupa? Por ter descoberto o buraco do BPN é que não foi!