Dois apontamentos rápidos sobre a discussão do salário mínimo:
1. Argumento de que o salário mínimo deve servir para proporcionar uma vida minimamente condigna a.k.a. “to each according to his need“. As palavras podem ser muito bonitas, mas não pagam salários. Os empregos não existem para proporcionar vidas condignas, mas sim para criarem valor. Se o valor do trabalho produzido for inferior ao valor do salário, esse emprego deixará de existir (ou então nunca chegará a ser criado sequer). A ser consequente com este argumento, quem o defende, deverá exigir uma fórmula para o salário mínimo para cada trabalhador que entre em conta com o rendimento e dimensão do agregado familiar (trabalhadores com maior número de filhos devem ter um salário mínimo superior) e com o custo de vida associado à sua localização (trabalhadores da Grande Lisboa e do Grande Porto deverão ter um salário mínimo superior a trabalhadores da Guarda, Portalegre ou Bragança).
2. Talk is cheap. A grande maioria dos políticos e comentadores [profissionais] que defende o aumento do salário mínimo não se tem de preocupar em pagar salários no final do mês – a grande maioria nunca criou sequer um emprego que seja. Quem defende o aumento do salário mínimo não se propõe contribuir voluntariamente com o seu próprio dinheiro para um fundo nacional para distribuir pelos trabalhadores com salários mais baixos, num verdadeiro espírito de solidariedade. Antes, estes políticos e comentadores [profissionais] não assumem risco e custo nenhum para eles próprios, e querem vincular coercivamente e unilateralmente todos os empregadores a um aumento dos custos do trabalho. Em relação aos casos dos empresários que defendem um aumento do salário mínimo (geralmente de grandes empresas ou de rent-seekers): o que os impede de aumentar os salários nas suas próprias empresas?