Questionado acerca da possibilidade do Orçamento do Estado para 2015 apresentar cortes de impostos, o Primeiro-Ministro Passos Coelho afirmou que tem “dúvidas” de que o Governo tenha “espaço para fazer coisas dessas”. Sendo o jornalismo português o que é, logo toda a comunicação social pegou nestas declarações para falar do latente conflito entre o PSD “austeritário” e o CDS da “moderação fiscal” (mas que faz parte do mesmo governo). Ignorou assim o que de mais significativo teve o desabafo de Passos Coelho: foi uma admissão do fracasso da governação dos últimos três anos.
Não há ninguém com juízo em Portugal que deixe de reconhecer que a carga fiscal em vigor no país é excessiva e prejudicial para a saúde da economia e da sociedade. O Primeiro-Ministro certamente se conta entre os muitos que entendem a necessidade de baixar impostos e assim sobrecarregar menos os portugueses menos do que até aqui. Se não o fizer não será certamente por razões eleitoralistas, mas por ter consciência que uma descida de impostos minimamente significativa implicaria uma imediata subida do défice orçamental português, algo que poderia pôr em risco a credibilidade do país junto dos seus parceiros europeus e dos mercados internacionais de títulos de dívida pública. Ora, uma descida de impostos na medida em que seria útil adoptar só causaria um brutal aumento do nível do nosso défice porque a despesa pública continua a ser excessivamente elevada. E se assim é, é por o Governo ter sido incapaz (ou não ter tido vontade) de a cortar na medida necessária. Se as “dúvidas” de Passos Coelho se confirmarem, e não houver “espaço” para “fazer coisas dessas”, é porque o Governo não fez as outras “coisas” que era preciso “fazer” para que “coisas dessas” fossem possíveis.
O dr. Portas, esse, não confessa fracassos nem exibe “dúvidas”, apenas a hipocrisia que o caracteriza: correu para os telejornais para afirmar o compromisso do CDS com a tal “moderação fiscal”. Pensa talvez que se Passos vier a admitir descidas de impostos, o CDS receberá o crédito, e se o contrário se verificar, se poderá apresentar junto do eleitorado como alguém que se opôs a essa opção. Mas depois da saga da demissão “irrevogável”, os únicos que se deixam convencer por estas acrobacias são os que à partida já estão convencidos dos méritos do homem, tão excelsos aos seus olhos como invisíveis aos dos restantes.
Se só o destino de Portas estivesse em jogo, não haveria grandes motivos para preocupação. Infelizmente, a pouco invejável posição em que o Governo se colocou garante apenas que entregará o poder de bandeja ao PS, que, igualmente desprovido de uma política que implique uma descida da despesa pública que permita a muito necessária descida de impostos, alegremente pastoreará o país sem o desviar do rumo de apodrecimento que em tempos nos lançou. É por isso que este fracasso do Governo é tão grave: significa não só que, nestes últimos anos, se mantiveram os problemas do país, como também que se diminuíram drasticamente as condições de os resolver por muitos dos anos que hão-de vir.
Bom. Mas:
“O Primeiro-Ministro certamente se conta entre os muitos que entendem a necessidade de baixar impostos e assim sobrecarregar menos os portugueses menos do que até aqui.”
Não sei como chega a esta conclusão. O Primeiro Ministro e sr. Vice Primeiro Ministro – que a cada 3 meses fala contra os impostos votando sempre favorável a novos – acabaram de impor mais um imposto sobre os portugueses para pagar a corporação dos artistas.
“Não há ninguém com juízo em Portugal que deixe de reconhecer que a carga fiscal em vigor no país é excessiva e prejudicial…” Já não posso referir a esquerda!
Não só a carga fiscal é excessiva como já ninguém consegue perceber o que há a pagar…Taxa , sobretaxa contribuições diversas , de solidariedade etc.. Não era bom que se deixassem de tretas e tornassem as coisas claras? Já agora quer o que Passos quer o que Portas dizem não têm qualquer aderência à realidade pelo que são totalmente irrelevantes!
Ter cortado mais na despesa publica ?…
E o Tribunal Constitucional ?
E o sentimento dos portugueses ?
Dizer é facil …
Em democracia governa-se o pais que se tem e não um mundo imaginario ideal.
Com o pais que temos até podia ter sido bem pior, dificilmente poderia ter sido melhor.
No fim de contas, 3 anos depois do pais ter estado às portas da bancarrota, a situação financeira esta hoje controlada e a economia esta mais competitiva e recomeça a crescer.
Como reconhece o post, sejam quais forem as razões, nesta altura não ha condições para baixar impostos.
Obviamente que a probabilidade de que no futuro se possam vir a baixar impostos é muito maior com Passos Coelho à frente do governo do que com Antonio Costa.
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