O acordo ortográfico e eu

O meu texto de hoje no Observador, sobre ortografia com deriva literária.

‘Aviso já: a ortografia não me desperta emoções fortes. Não entendo a forma como muitas pessoas reagem à nova grafia como se um larápio lhes tivesse invadido a casa, roubado as jóias herdadas da avó e grafitado os retratos dos solenes antepassados. Tanto mais que (provavelmente porque ainda não ocorreu aos responsáveis do ministério das finanças) é perfeitamente possível continuar a escrever com a grafia antiga sem que tal constitua infração punível com multa.

A minha adoção do acordo ortográfico foi inteiramente utilitária. Tinha um limite máximo de 2000 caracteres com espaços para textos que escrevia para um jornal, bem como uma dissertação de mestrado a meio (no início, para ser sincera, e também com limite de caracteres) e, como sou tendencialmente palavrosa e pouco sintética (repararam na redundância?) e sofro sempre a cortar textos, lembrei-me: por que não livrar-me das consoantes mudas para poupar caracteres? Desde então a reação dos leitores não se fez esperar. As idiossincrasias da minha escrita sempre foram aceites como, bem, idiossincrasias da minha escrita. Nunca ninguém resmungou do meu uso de uma ou outra expressão em inglês, da minha queda para os advérbios de modo, da mania de observações entre parêntesis. Mas com a nova grafia, oh, não houve alma das tais que sente apaixonadamente a ortografia que não se manifestasse: no facebook amigos lamentaram o meu parco discernimento; no blog questionaram as minhas capacidades cognitivas, sugeriram pertença ao BE e garantiram-me que não mais leriam qualquer coisa que escrevinhasse, nem sequer uma lista de supermercado.’

O resto está aqui.

3 pensamentos sobre “O acordo ortográfico e eu

  1. Cara Maria J M, hoje a ortografia não lhe desperta fortes emoções. Ora a mim nunca despertou. Desde o início achei o AO um disparate na senda de muitos outros a que os nossos prezados políticos nos habituaram, pelo que nunca gastei muitas energias a debater o assunto. É mais um episódio triste do nosso Portugal. Saudações, A.F.

  2. Alice Samora

    Trata-se de um artigo muito interessante. Para a autora, tanto faz escrever de uma maneira como doutra. Não há o certo nem o errado. Nem sequer tem opinião sobre a matéria.
    A lingua portuguesa não lhe interessa. A identidade nacional, nãso sabe o que é.

    Não me pergunto, portanto, sobre o como escreve. É lá com ela.
    Mas, tratando-se de uma artigo “de opinião”, qual o sentido de vir a lume dizer que não tem nemhuma, nem isso lhe interessa?

    Não é propriamente um bom princípio para este jornal.

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