Segurança Social Vs Esquemas Ponzi

Nos últimos dias tenho ouvido diversas pessoas a chamar a Segurança Social de Esquema Ponzi. Pessoalmente, acho isso ofensivo. Por isso escrevo aqui este artigo a defender os esquemas ponzi!

Definição de Ponzi. Afinal, o que é um esquema ponzi? De acordo com a Wikipedia: “envolve o pagamento de rendimentos anormalmente altos aos investidores, à custa do dinheiro pago pelos investidores que chegarem posteriormente, em vez da receita gerada por qualquer negócio real”. Assim, contra a Segurança Social temos:

1. A entrada é forçada. Num esquema ponzi, eu posso ser seduzido por rentabilidades fantásticas a ser ganancioso e colocar as minhas poupanças nas mãos do sedutor. Eu tenho a hipótese de dizer não. No caso da Seg. Social, eu sou obrigado a contribuir.

2. Não tem activos. Fernando Teixeira dos Santos subiu a dívida estatal detida pelo fundo da Seg. Social de 10 para 50%. Vitor Gaspar de 50% para 90%. Para exemplificar as implicações vou dar um exemplo simples. Imagine que todos os dias 1, coloca 100€ num mealheiro. E todos os dias 20 tira os 100€ e coloca um papel em que garante pagar esse dinheiro a si próprio. Todos os dias 1 coloca, todos os dias 20 tira. Ao fim de 2 anos quanto dinheiro lá tem? Zero, claro. Eu posso dever a mim próprio 1 milhão e ser milionário, se assim pudesse ser. Mas um passivo e activo da mesma entidade não vale nada. Pois bem, a Segurança Social é isso que tem: dívidas do Estado a si próprios. Um esquema ponzi tem activos de outras entidades, a Seg. Social já deixou de ter.

3. Quem financia? Num esquema ponzi, os seduzidos contribuem com as suas poupanças e, se não saírem a tempo, perdem o que investiram. Na Seg. Social, os seduzidos colocam as gerações seguintes a pagar, essencialmente condenando as gerações seguintes a uma servidão que não tiveram hipótese de recusar.

4. Duração. Num esquema ponzi usam-se poupanças. Na Seg. Social criam-se dívidas. No esquema ponzi prometem-se grandes rentabilidades (como é opcional, tem que se prometer algo…). Na Seg. Social tem-se por certo que se vai receber menos do que lá se colocou, mas aceita-se esse facto. Junte-se a obrigatoriedade estatal e o instinto de sobrevivência dos políticos, e será fácil compreender a durabilidade da Seg. Social.

Comparação. O que eu queria era que alguém elevasse a Seg. Social a um esquema ponzi. O que seria necessário para essa elevação? Bem, na minha óptica dividir em 3: Pensões Sociais (poupança – reforma), Proteções Sociais (risco – invalidez, sobrevivência, viuvez) e Coesão Social (proteção dos de menos posses). Depois tornar as 2 primeiras pagas pelo indivíduo e a última paga pela taxa sobre as empresas. Depois tornas as 2 primeiras voluntárias: só paga mais um mês quem quiser. E por fim permitir a quem quisesse levantar o dinheiro que tivesse na componente poupança – faseadamente, para não rebentar. Nessa altura, quando fosse voluntária, a Seg. Social seria um esquema ponzi. Até lá, não se pode arrogar a esse título.

Adendas: Stefan Molineux (6min)Napolitano (5min), Stossel (7min), Friedman (3min).

25 pensamentos sobre “Segurança Social Vs Esquemas Ponzi

  1. João Silva

    uau, fosse possível deixar o som de aplausos nos comentários, assim faria. Simples e eficaz a explicação e mais um exemplo insurgente de que é enfrentando os temas ditos tabu que se descobrem soluções. Concordando ou não, esta é merecedora de um like pela coragem.

  2. Miguel Cabrita

    Tudo baralhado, conceitos misturados, enfim. Parte logo do príncipio que o único retorno e serviço que é devolvido das contribuições para a SS são meramente as pensões de reforma, quando recebe um pouco mais que isso e não necessáriamente directamente.

    Não meu caro a segurança social não é um esquema piramidal, o que funciona em piramide são os sitemas de pensões de reforma, que é um subsector da Segurança social, apesar de ser o mais relevante em termos de gastos. Se se dignasse a discutir se é legítima ou necessário um esquema assim é outra coisa era uma coisa, assim o que escreveu não é nada.

    Se quer ser consequente com as suas posições, tem que tomar a defesa da abolição total de qualquer forma de apoio no alívio à pobreza ou de situações de carência, desde o súbsídio de desemprego, a acção social escolar, a acção social de todo, aliás, e verá um dia se tal se concretizar a insegurança social que viverá quando passear nas ruas.

  3. LV

    Miguel Cabrita,
    Considerando o último parágrafo do seu comentário:
    – Subsídio de desemprego: então não pode haver seguro (contratado livremente por cada indivíduo num mercado de seguros igualmente livre) para fazer face a uma situação de desemprego?
    – acção social escolar: tem de reconhecer que os actuais apoios não chegam sem a iniciativa de indivíduos ou empresas para, por exemplo, aproveitamento de manuais; não poderia ser maior a acção destes indivíduos no apoio a famílias e jovens das suas comunidades, caso não tivessem, contra a sua vontade, sido aliviados dos seus recursos? porquê?
    – imaginemos a situação em que a insegurança se instala nas ruas, o que acontece? Será que teremos “guerra total” ou a procura de soluções pelas pessoas envolvidas? é que guerra e insegurança tem custos, muitos custos.

    Só mais uma nota (arriscando fugir um pouco ao tema abordado pelo Ricardo): desconto impostos, mas não tenho médico de família… o que dizem os funcionários dos Centros de Saúde a quem se desloca lá nessa circunstância? “Sabe como é muito saudável e não vem cá fica sem médico. Procure no privado, pois aqui terá muito que esperar.” Pronto, é assim. Maior Insegurança?

  4. k.

    “Sobre Ricardo Campelo de Magalhães
    Economista Austríaco. Consultor de Previdência Privada. ”

    Denoto um certo conflito de interessses por aqui.

  5. Miguel Cabrita,
    Dizer que eu baralho é uma crítica muito curiosa.
    Eu estava a criticar que 1) acha que o dinheiro todo que contribuiu está lá à sua espera e 2) acha a Seg. Social um esquema ponzi. Assim, foquei o artigo claro nessa componente.
    Agora, como pode ver na minha divisão em 3 no parágrafo final, eu não ignoro que a Seg. Social tem outras componentes.

    Sobre as minhas posições, que aborda no seu último parágrafo, nem respondo. Releia o meu artigo de novo na parte final e creio que fui suficientemente explícito.

  6. k.

    “Ricardo Campelo de Magalhães em Julho 31, 2014 às 15:52 disse: ”

    Claro que pode – não afirmei o contrário.
    Simplesmente, é do seu interesse a falha do sistema público de previdência – portanto, temos de descontar este interesse na sua análise.

  7. Comunista

    Esquema Ponzi é a banca. Se os depositantes quiserem o seu dinheiro de volta todos ao mesmo tempo, não há lá dinheiro. Aguardo um post a criticar o capitalismo por assentar o seu financiamento no esquema ponzi que é todo sector financeiro.

  8. LV

    Comunista,
    “Esquema ponzi é a banca.” – de acordo. Mas não confunda o modelo de banca fraccionada (com defeitos e, se as houver, virtudes) com o Capitalismo.
    Isso é estratégia que políticos colectivistas usam para conduzir as pessoas – quem sabe pelo medo – a aceitar as aparelhagens regulatórias estatais que, julgo, defenderá. Ou seja, o estado (através dessas aparelhagens) cria o problema. E depois aparecem aqueles que clamam uma solução. E identificam-na com mais regulação.
    E, já agora, não pode o Ricardo, o k., o Comunista ou eu criticar o sistema de (in)Segurança social? Mesmo que possamos representar uma seguradora, somos, antes de mais, contribuintes forçados para esse sistema. Por que não pode alguém criticar ou propor alternativas? Ou convidar outros a pensar sistemas diferentes?
    Ao menos sejamos justos em sublinhar (até enaltecer) a clareza e a frontalidade com que o Ricardo identifica o que faz e de onde vem. Mas isso não é louvável?
    É tempo de deixar de lado a argumentação de ataque à pessoa para discutirmos matérias e perspectivas alternativas.

    LV

  9. Rafael Ortega

    Depois de ler este post gostava de saber como posso apresentar as minhas desculpas ao senhor Ponzi.

  10. Comunista

    LV,

    Se não houvesse regulação o mercado não funcionaria. É o Estado que garante o funcionamento do mercado. Você só assina um contracto no pressuposto de que o Estado o vai reconhecer com o uso do aparelho repressor se assim for necessário. Acredito no entanto que isto não entre na sua cabeça de mentalidade reacionária. E atenção que não o apelido de reacionário gratuitamente mas no sentido bem preciso com que o define Barthes e que aliás é o sentido do próprio pensamento dos insurgentistas em que a mentalidade reacionária é aquela que consiste em dispersar a coletividade em indivíduos e o indivíduo em essências.

  11. K,
    Para mim, tanto pessoal como profissionalmente convinha-me a solução proposta a discussão.
    O colapso teria inúmeras desvantagens para as 2 esferas.
    Um dia o K vai acertar num desejo meu, mas ainda não foi desta.

  12. Miguel Cabrita

    Caro Ricardo Campelo Magalhães. Você começa muito bem a dizer que há quem diga que a SS é um esquema piramidal, depois diz que não é, para depois dizer que deveria ser, não vejo em como é que o seu texto possa ser esclarecedor se centra práticamente na relação entre as contribuições feitas e aquilo que é recebido, significando que julga a SS, como aliás a generalidade das pessoas também a julga, meramente como a sua componente de sistema de pensões, esses sim que funcionam em piramide. A desmistificação dessa confusão não foi feita, antes pelo contrário.

    Depois em relação á sua proposta, bom, suponho que tenha em conta que a mediana dos salários em Portugal anda pelos 700 e poucos euros, com um salário mínimo inferior a 500, que nem sequer permite que se poupe. É que nestas circunstancias não vejo como é que um sistema de contribuições das empresas pode ser um esquema de piramide em vez de uma forma de responsabilização social das empresas, o que aliás é o que em certa medida acontece hoje em dia. Simultaneamente propõe uma desresponsabilização dos trabalhadores para com os seus concidadãos menos afortunados, o que do ponto de vista ético é altamente discutivel.

    Depois o que propõe como sistema de pensões é básicamente um produto de poupança ou muito vagamente um seguro, um produto de poupança semelhante a um PPR, pelo que temos de admitir que os capitais neles investidos possam desvalorizar. Porque finalmente nem se refere a súbsídios de desemprego, ou a qualquer forma de protecção perante o desemprego, o que também não ajuda muito.

    Quanto ao meu último paragrafo, foco-me nas palavras de LV para dizer que existe uma probabilidade de organização dos indivíduos, comunitária mutualista, o que lhe quiser chamar, e existe também uma forte probabilidade de muitos indivíduos ficarem de fora ou não se conseguirem integrar numa dessas formas comunitaristas de auto-ajuda. Quanto á insegurança nas ruas, não me refiro somente a crime, que poderia sem dúvida aumentar, mas sobretudo á imagem da pobreza generalizada que poderá causar bastante deesconforto, sobretudo se ela estiver à nossa porta.

  13. LV

    Comunista,
    A bem de continuarmos a discutir e a discordar (sem problema), aconselho-o vivamente, e sem paternalismo nenhum, a considerar o último período do meu comentário: deixemos-nos de ataques à pessoa. É que se estou a interpretar mal, por favor, elucide-me em que é que rejeitar (criticar, propor alternativas) racionalmente alguma coisa é reaccionário? Pode responder? Pode evitar o ataque à pessoa?
    Se estou a entender bem o seu último comentário, então o reaccionário seria o Comunista. Que receia a mudança, que receia a discussão racional (ainda que intensa, respeitadora) de quaisquer alternativas para o estado de coisas. O estado não garante nada. Veja o que se está a passar no sector bancário: os reguladores estatais não garantem nada. Só que “está tudo bem” para quinze dias depois haver um buraco nunca visto. O problema não é haver bancos, empresas, seguradoras, mas um “aparelho repressor” (expressão sua) ao qual se vão ligando “amigos” que vão influenciando as políticas de regulação sectorial e, assim, vão defendendo o seu interesse. Mas isso não é capitalismo. É o resultado da existência de um aparelho que decide em nome de “todos”, mas defende só alguns.

    MCabrita,
    Mas não poderia haver uma associação voluntária daqueles que estão piores socialmente? Porquê? Se não formos paternalistas, qualquer pessoa se associa a outra para cooperar. Por que razão isso não pode acontecer?
    Tomemos, por hipótese, a situação extrema que indica: qual é o incentivo que se está a dar a todos os participantes (ricos ou pobres – digo assim por rapidez), sabendo que não há, nem uso abusivo dos frutos do seu trabalho, nem que esse trabalho está garantido seja por quem for?
    Não acha que, cada um à sua medida, estaria a procurar melhorar e defender a sua situação? E de um modo não predatório, já que necessita de cooperar para prosperar?
    É que no actual estado de coisas, se eu me der conta da desgraça à “minha porta” (expressão sua) tenho menos meios de poder ajudar. E, em muitos casos, as estruturas estatais existentes, há muito que já falharam.
    Por que havemos de ter medo de ver alternativas?

    LV

  14. Pingback: Se fosse esquema de Ponzi até que nem era tão mau assim | BLASFÉMIAS

  15. Slint

    LV, o problema não é recear a mudança, pois se dependesse de mim deixaria de haver estado. O problema, é que eu sei muitíssimo bem o que quer esta gentinha como alternativa à segurança social. É o que defende o Tea party né? E mais filosofia bacoca de Ayn Rand’s e coisas desse género. Tens? óptimo, não tens? temos pena.
    Se as coisas não funcionam, deveriam funcionar. Se não funcionam é porque há demasiada gente incompetente, gananciosa, burra, corrupta e escolhidos a dedo pelos governos dos últimos 40 anos. Se as coisas não funcionam é porque não interessa que funcionem, porque depois ao serem descontinuadas, o povinho labrego que habita neste país diz: “Acho bem fodasse! Aquela merda só dava problemas”.
    Portanto não se trata de ser-se reaccionário ou de ter medo da mudança. Trata-se que com agremiações corruptas como são o PS e o PSD, já se sabe que as alternativas serão sempre para pior, nunca para melhor.

  16. Miguel Cabrita

    Caro LV,

    Porque é que aqueles com menores recursos têm menos probabilidade de se associarem voluntáriamente é explicado tão só pelo facto de que cada associação voluntária é feita em função dos benefícios que essa associação poderá distribuir aos seus membros, e esses benefícios são uma função dos recursos que essa associação consegue recolher junto dos seus membros. Quanto mais poderosos forem os seus membros individuais mais poderosa a associação, qunto menores forem os recursos menos poderosa a associação, logo desta forma caminhar-se-ia para a institucionalização do corporativismo (algo que poderá encontar num livro chamado A Lógica da Acção Colectiva de Mancur Olson, já recomendado neste Blog, mas suponho que sem ter sido lido).

    Isto explica o caso extremo dos sem-abrigo e a razão de não existirem associações de sem abrigos, onde os seus membros sejam apenas sem abrigos, e não existem porque habitualmente não são apenas os seus recursos materiais que excasseiam mas frequentemente os seus recursos intelectuais e culturais que são também poucos. As associações de apoio aos sem abrigo são notavelmente associações de pessoas em melhor condição social que se associam para os auxiliar, o caso do pobre que à porta da casa do rico dele recebe uma sopa e um casaco. Ora isto é caridade ou se preferir é assistencialismo, sendo muito raros os casos em que esse auxílio permite ao sem abrigo elevar-se desta condição.

    Um esquema destes funciona e é aceitavel se generalizado a todos os membros da comunidade, O que é defendido nest post é o direito de se eximir à parte de contribuir para o bem colectivo, mas nada diz sobre a vontade de não colher os frutos de um esquema de solidariedade colectivizado e centralizado, frutos que cabem dentro de um conceito de segurança mais vasto do que aquele que noramlemente atribuimos à noção de segurança social. A questão de o esquema ser gerido pelo estado ou privadamente é uma questão lateral, que frequentemente distorce o debate sobre estas questões, e aqui a questão é lançada apenas tendo o negócio em vista o interesse privado do autor do post e não o bem comum, logo está suficientemente enviesada para não poder receber crédito

    Básicamente o que você tem é um trade-off onde o que você perde na liberdade de dispor de uma parte dos seus recursos em troca de algo que deverá corresponder ao termo segurança social, que pode não ser adequadamente mensuravel segundo critérios puramente financeiros, como é feito no post.

  17. LV

    SLint,

    Começou por aceitar que a legitimidade do estado pode estar em causa, óptimo.
    O que diz a seguir acerca dos aparelhos partidários tentarem aproveitar-se das mudanças, é um risco perfeitamente possível. Mas não esqueça que, a haver mudanças de substância na natureza do exercício do poder (a caminho de respeitar a Liberdade), esses caciques não teriam o mesmo poder que hoje têm para parasitarem o esforço de terceiros. Considere o seguinte: há quinze anos os seguros de saúde eram muito mais caros do que são hoje. Mesmo sabendo que esse desenvolvimento se deu num ambiente e conjuntura não respeitadores da Liberdade, ainda assim aqueles que mais beneficiaram foram precisamente aqueles que não estavam no topo da pirâmide social, digamos.
    Quando diz: “Tens? óptimo, não tens? temos pena.” Repare, outro exemplo, vejo diariamente muitos jovens que, fazendo indiscutivelmente parte de famílias muito limitadas economicamente, possuem telefones móveis de última geração. Quanto custaria um gadget destes (se existisse!) há quinze anos? E hoje ele está acessível a um público mais vasto – dos que têm mais recursos até aos que têm menos. Isso é uma evidência, certo? Por que razão não haveria de ser assim noutras áreas (saúde, seguros e por aí fora). Diga-me por que razão?
    Por que razão desvaloriza o movimento Tea Party? E por que razão coloca Ayn Rand nesse cesto? Olhe que a autora, sendo defensora de um estado mínimo, estaria próxima de uma posição (que infiro do início do seu comentário e assumo a responsabilidade de estar enganado) próxima da que defende.

    Miguel Cabrita,

    Não me custa pensar que as associações teriam “forças” diferentes, consoante os elementos que nela participassem. Mas não julgo que isso seja, por si, um problema.
    A referência que faz (a autor e livro) são-me desconhecidas. Mas teria muito gosto que me pudesse dar a conhecer, na dimensão ou profundidade que considerar adequadas, às principais ideias desse autor acerca destes temas. Ou poderia indicar-me um artigo que faça uma sinopse dessas ideias?
    No entanto, estando garantido o respeito por direitos naturais básicos, digamos, não vejo por que isso seria um problema. Aliás, estariam presentes os incentivos para que cada um dos indivíduos, face às circunstâncias em que se encontra, busque melhorar a sua condição de forma cooperativa e não predatória. De resto, o exemplo que avança dos sem-abrigo, tendo a sua razão de ser, não pode ser avaliado como se estivesse já no plano em que as mudanças (a caminho da Liberdade) estão implementadas. Nas actuais circunstâncias, tem razão, é muito difícil fazer mais do que a caridade possível. E não estou (nem de perto nem de longe) a desvalorizar esses esforços. Mas os recursos de que dispomos são, inegavelmente, menores depois de impostos (cof, cof, roubo, cof, cof). E a economia não tem, precisamente por causa dessas distorções (sim impostos são tarifas, são limitações e favorecem certos agentes), o dinamismo que poderia ter. Até por aqui se vê quem são, de facto, os mais penalizados: i.e. todos os que estão longe da gamela do poder… todos nós.

    Quando diz: “A questão de o esquema ser gerido pelo estado ou privadamente é uma questão lateral, que frequentemente distorce o debate sobre estas questões, e aqui a questão é lançada apenas tendo o negócio em vista o interesse privado do autor do post e não o bem comum, logo está suficientemente enviesada para não poder receber crédito”.
    Não estou aqui senão como leitor e não tenho de defender ninguém, mas parece-me que a sua conclusão acerca da intenção do autor não está autorizada pelo artigo que lhe deu origem.
    Repare: a gestão pública vs privada pode ser de segunda ordem, o que interessa é a possibilidade de exercício voluntário de uma escolha (no caso – gestão privada), contra a sua impossibilidade (no caso – gestão pública). Veja, por favor, o que já escrevi noutro comentário acima acerca do SNSaúde e dos médicos de família. O que faria o Miguel se tivesse marcado e pagado a viagem e a estadia para um destino (que considere) de sonho e, chegado ao aeroporto, dava-se conta de que tinha sido enganado. Não havia nem viagem, nem estadia. O que fazia? Processava a empresa, certo? No caso que elenquei, a pessoa é aconselhada a procurar outro prestador de serviço, pagando de novo (note-se!) o serviço. Ora isto sim, é o que podemos associar ao Mal moral. É condenável e devemos dizê-lo sem receios.
    A concluir, quando o Miguel refere o trade-off… bem, nas actuais circunstâncias alguém escolhe por mim que trade-off tenho de aceitar. Logo, o jogo está viciado à partida. E essa limitação inicial (substancial, fundamental), julgo, é que é tomada no artigo que o RicardoCMagalhães escreveu como interessante de analisar.
    Até porque receio que, a manter-se o actual caminho, não tenha muito a usufruir quando chegar à reforma. Olhe que a história demonstra-o bem. Há diferenças importantes naquilo que as diferentes gerações usufruem de reforma, consoante as “loucuras” e experiências de estado social que se fizerem.

    Saudações,
    LV

  18. Miguel Cabrita

    Recensão aqui; http://economics.about.com/cs/macroeconomics/a/logic_of_action.htm
    pdf de edição em lingua inglesa do livro aqui; http://outsidethetext.com/archive/Olson.pdf

    Duas coisas a dizer; se não fossem coercivamente impostos não eram impostos, o mesmo vale para contribuições sociais.

    A questão é que um esquema de SS, com todos os riscos que lhe estão associados tem que ser obrigatória, ou seja tem que haver contribuições obrigatórias, sejam para financiar directamente as actividades ligadas a protecção social ou através de impostos, com uma fatia dedicada a essas actividades. Se este esquema é gerido privadamente ou pelo estado ou de forma mista é sem dúvida uma questão lateral que não se prende coma a eficiência do sistema, mas com uma questão de interesse privado vs interesse público (da comunidade não do estado).

    Pense no caso do seguro de saude. Você preferia uma coisa voluntária tipo um seguro comercial, que tem limites de cobertura e você tem uma doença grave cujo custo de tratamento supera o valor coberto, ou atinge os 65 anos e perde parte da cobertura, ou alternativa preferia uma coisa tipo ADSE sem limites de cobertura generalizada a toda a gente, com o remanescente de despesas coberto pelo OE para o qual você queira quer não queira sustenta?

    Em relação novamente aos impostos e contribuições, existe alguém que ganha mais do que outros, por isso se chamam a estas políticas de políticas redistributivas, mas não se pode dizer adequadamente dizer que o que uns ganham é o que os outros perdem, porque todos em ultíma análise ficam a ganhar com a melhoria generalizada das condições de vida. Ora aqui haverá um nivel optimo daquilo que pode ser redistribuido sem que ninguem fique pior, mas isso está muito longe das discussões sobre a segurança social, ou das reforma feitas tanto por PS e cortes feitos pelo PSD, sendo tão pouco o objectivo do Post. Quanto à crítica que faço ao seu autor ela é assumida num comentário feito pelo próprio. E aliás assumida por si quando fala que o problema é de liberdade de escolha, algo que como sabe pode ser bastante discutivel.

  19. LV

    Miguel Cabrita,

    Antes de mais, obrigado pelas ligações.
    Concluo esta nossa troca de argumentos apenas com citações suas e questões (poderá considerar retóricas), mas só para identificar (espero conseguir) as nossas diferenças.
    1 – “A questão é que um esquema de SS, com todos os riscos que lhe estão associados tem que ser obrigatória” – vê como é uma questão de escolha? da possibilidade de escolher?

    2 – “Pense no caso do seguro de saude. Você preferia uma coisa voluntária tipo um seguro comercial, que tem limites de cobertura e você tem uma doença grave cujo custo de tratamento supera o valor coberto, ou atinge os 65 anos e perde parte da cobertura” – acha que essa conclusão permaneceria correcta, num sistema totalmente livre, onde não há limitações à entrada de agentes para prestar os serviços que o mercado necessita, por exemplo, um público acima dos 65 anos? O mesmo sendo válido para a indústria farmacêutica e de prestação de cuidados de saúde. Não?

    3 – “…mas não se pode dizer adequadamente dizer que o que uns ganham é o que os outros perdem, porque todos em ultíma análise ficam a ganhar com a melhoria generalizada das condições de vida…” – se não há quem perca, então de onde vêm os recursos que, por assim dizer, equilibram as condições de vida? Está a assumir o “trade-off”, certo? Mas e a objecção que lhe apresentei anteriormente? Às custas de quem ele se estabelece? Esse “trade-off” é definido por quem? Em nome de quê?

    Por fim, podemos deixar de parte o que os partidos da alternância tentam fazer. É mau de mais. Não terá resultados bonitos. E, por mim, não defendo algum deles.

    Concordamos em discordar e esgrimimos argumentos e exemplos. Agradeço, sinceramente, o nível que foi possível manter nestas nossas discussões.

    Saudações,
    LV

  20. Comunista

    “1 – “A questão é que um esquema de SS, com todos os riscos que lhe estão associados tem que ser obrigatória” – vê como é uma questão de escolha? da possibilidade de escolher?”

    Nem tudo num país pode ou deve ser uma questão de escolha individual. Desperte para a vida. Aprenda alguma coisa com os gregos que chamavam idiotas aos que tinham como único interesse os seus negócios privados.

  21. LV

    Comunista,

    “Nem tudo num país pode ou deve ser uma questão de escolha individual. Desperte para a vida. Aprenda alguma coisa…” – esta sua passagem é todo um mapa intelectual (para lá de uma atitude face a uma discussão civilizada) que me dispenso de qualificar. Mas pergunto-me: quem definiria o que é “questão de escolha individual”? Um comité de sábios? O Comunista? E serão estes quem definirá o que devo aprender?
    Medo!
    Mas que lhe fazia bem estudar a História e a Filosofia, lá isso fazia. Mas quem sou eu para o obrigar.

    LV

  22. Comunista

    “Mas pergunto-me: quem definiria o que é “questão de escolha individual””

    À partida quem define é um povo na medida em que quer ser também um país e um Estado. Depois há os desafios que esta escolha impõe e que se vão resolvendo sempre criando outros novos ou regressando a dilemas antigos em novas circunstâncias mas sem nunca deixar de impor, de facto, que nem todas as escolhas podem ser individuais. Mesmo que você, individualmente escolha não pertencer a este povo que decidiu que nem todas as escolhas podem ser individuais você ainda assim, se não for um ermita numa caverna, não vai evitar ter de se expor às escolhas colectivas de outros.

    Enfim, meu caro, você coloca-se numa posição muito limitada e até, desculpe que lhe diga, infantil.

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