É capitalismo e é um mercado livre quando apenas uma pessoa, o Sr. Mário Draghi, determina a taxa de juro de referência de toda a zona euro?
Hoje o Sr. Mario Draghi fixou a taxa de juro de referência do banco central europeu (BCE) para um mínimo histórico de 0,15% e também passou as taxas de juro sobre os depósitos no banco central europeu (BCE) para uma taxa negativa de 0,10% – o que significa que os bancos têm de pagar uma taxa de juro de 0,10% para manterem os seus depósitos no BCE. Tudo para “combater a ameaça da deflação”.
Depois quando surgir uma crise, a culpa, é claro, é do capitalismo, dos mercados e da falta de regulação.
Leitura complementar:
Capitalismo Selvagem por parte do BCE.
Era urgente fazê-lo, dizem, devido ao perigo desse grande papão: a deflação. Na deflação os preços baixam com o tempo e portanto a economia fica bloqueada. Ou melhor, o consumo! Dizem, que ninguém vai comprar algo se achar que o preço vai baixar no futuro. Tanga.
Toda a gente sabe que pode comprar daqui a um ano o mesmo telemóvel por metade do preço, e no entanto em 2013, os Portugueses compraram seis mil smartphones por dia.
A verdadeira razão tem a ver com os resultados das eleições europeias e a subidas dos partidos fora das oligarquias, também chamados de partidos do “arco da governação”. É que a única maneira de os manter no poder é perpetuar o mesmo modelo de sempre: atirar dinheiro para cima das pessoas em troca de votos, ao mesmo tempo que reduzem o rendimento disponível de maneira sub-reptícia, através da inflação.
Tantas vezes gritaram “nos EUA não têm austeridade e imprimem dinheiro”, que não resistimos. Temos portanto, mais alguns anos de empurranço com a barriga para a frente. Depois disso, vêm as taxas de juro a 0% e depois? Depois levamos com a realidade nas fuças e vai ser bonito de se ver, ai vai vai.
Portanto o meu conselho é: mesmo que não precisem, endividem-se, mas em grande! É que se se endividarem pouco e não conseguirem pagar, têm um problema, mas se for muito quem tem um problema é o banco. Para o estado passam a ser um coitadinho de um endividado, com as consequentes benesses no IRS e afins. Se não o fizerem e insistirem em ter poupanças, serão uns ricos e porcos capitalistas, penalizados de todos os modos e mais: na eventualidade de uma banca-rota, o estado ainda vos roubará o que pouparam. Se a única opção que nos dão é ir tudo ao fundo, então, como no Titanic, pelo menos que o façamos em grande e com orquestra de fundo. Toca a comprar a crédito, e tudo à grande!
Amigo João Cortez, nunca pensei ler tamanha ignorância neste blog…
«É capitalismo e é um mercado livre quando apenas uma pessoa, o Sr. Mário Draghi, determina a taxa de juro de referência de toda a zona euro?»
O Sr. Mário Draghi determinou a taxa de juro a que o BCE empresta dinheiro. O mercado (bancos) é livre de se financiar junto do BCE ou de outra instituição qualquer.
O Sr, Mário Draghi não impôs taxas de juro a nenhum banco
Quanto à taxa de depósitos ser negativa, é de facto o mercado a funcionar. O Banco do sr. Mário Draghi cobra 0.10% pela segurança de guardar o dinheiro de alguém. Quem não achar essa segurança importante, é livre de fazer os depósitos onde quiser, mas uma vez, é o mercado a funcionar.
@José Augusto,
Na mouche! A democracia e as suas tentações. Dilemas que ninguém quer articular.
@PG
Pouco sei de economia (e deste novelo em que vivemos muito menos), mas o BCE define, enquanto banco central, as regras do jogo europeu (e com consequências mundiais, não esqueçamos). Inclusive as taxas relativas à moeda que os bancos têm, no BCE, “estacionado”, logo, forçando uma acção aos agentes: forçar crédito e por aí chegar à desejada inflação controlada. Não concorda?
LV
Quando a coisa correr pior, culpa-se a “ganância dos banqueiros e do grande capital,” aumentam-se as burocracias e as regulações para “pôr os mercados ao serviço das pessoas “e fabrica-se dinheiro para salvar a oligarquia no poder.
Já vimos este filme das outras vezes.
Esta gente está alucinada: “Depois quando surgir uma crise”… Depois de quê?!!…Depois desta onde estamos? Uma crise de cada vez já não chega…
Os fantásticos programas de austeridade que afectam a maior parte da Europa já produzem os seus resultados:
Milhões agonizam enquanto assistem a uma enorme concentração de dinheiro num punhado de corporações e oligarcas que não têm onde investi-lo – As industrias não vendem porque não há consumo e as bolhas imobiliárias e tecnológicas já rebentaram.
Sendo assim, essa massa monetária parada chega em rios ao BCE o qual, já inundado de capital, cobra juros para receber dinheiro! Fantástico fenómeno – se vai resolver alguma coisa é que é duvidoso.
Contudo, a solução para isto está à vista e é a mais simples de todas: Aumentar os salários dos alemães 10% e repôr, no resto da Europa, os níveis salariais de 2010. E é o que vai acontecer, mais cedo ou mais tarde, a não ser que a Europa, a CE e o BCE se partam todos aos bocados, o que também já esteve mais longe de acontecer.
Dervich, tanta asneirada junta..
“É capitalismo e é um mercado livre quando apenas uma pessoa, o Sr. Mário Draghi, determina a taxa de juro de referência de toda a zona euro?”
Talvez não. Mas não é mais ou menos hoje do que ontem.
O João Cortez parece perfilhar da doutrina (um eufemismo caridoso para o que é uma crença infundada), muito comum em certa direita, que políticas monetárias mais acomodatícias produzem crises mas tight money evita-as. Isto não tem qualquer consistência teórica ou validação empírica. Os “Austríacos” (ou a parcela, que, num atentado aos optimismos antropológicos, prefere as inanidades do Rothbard ao Hayek) estão convencidos que as crises económicas são sempre um produto de booms monetários a priori que induzem a necessidade de uma purga aos malinvestments. E não estão completamente errados – isso pode acontecer. O que não exclui é o cenário inverso em que a causa da crise é uma oferta monetária insuficiente – aquele em que a Europa vive há anos.
Eu tenho toda a simpatia pela advocacia de sistemas monetários mais orientados para o mercado livre: um sistema de free-banking, mais ou menos regulado, por exemplo. O erro é, num quadro em que a política monetária é definida por um banco central, rotular uma tendência de “easing” como anti-mercado e uma tendência de “tightening” como pró-mercado. Num universo em que uma autoridade central controla o mercado monetário -aquele em que o mundo capitalista, grosso modo, existe há décadas- esta é uma decisão amiga do capitalismo e do mercado livre. Talvez a decisão não o seja por insuficiente, mas, pelo menos, é bem intencionada – o que não é coisa pouca tendo em conta a irracionalidade que tem imperado no passado recente. Se, por absurdo, o BCE tivesse anunciado um aumento das taxas de juro, isso seria objectivamente mau para o capitalismo e para o mercado livre.
Também não percebo as scare quotes na frase sobre a deflação. A deflação monetária não é, nem nunca foi, amiga do capitalismo ou do mercado livre. Uma inflação estável e moderada, que permita ajustamentos nos salários e preços face às rigidez nominais, é essencial. O preço que se paga por não a ter chega, mais cedo ou mais tarde, na forma de políticas fiscais com um potencial destrutivo imenso – que, regra geral, cumprem afanosamente. Há que aprender com as lições da história.
Não é perfeita: too little, too late. O BCE deveria ter anunciado esta decisão há 3 anos. E hoje deveria ter anunciado um programa de QE. Ou, idealmente, que iria fazer o que fosse necessário -com injecções permanentes de moeda- para rapidamente atingir o target de 2% de inflação e mantê-lo. Isto é mais política creditícia que política monetária. Duvido muito que esta medida, isoladamente, permita ao BCE atingir o target ou que provoque uma explosão de crédito.
Um gráfico bem mais relevante para este assunto que o do post:
Se este gráfico não demonstra a necessidade de uma mudança de política, nada o fará.
” A deflação monetária não é, nem nunca foi, amiga do capitalismo ou do mercado livre. Uma inflação estável e moderada, que permita ajustamentos nos salários e preços face às rigidez nominais, é essencial”
Para clarificar este ponto e tentar evitar as inevitáveis referências ao século XIX ou à Suíça: o que é necessário, num mundo com rigidez nominal de salários e preços, é um crescimento estável e moderado do produto nominal, seja com inflação ou deflação – esta não é necessariamente má e inimiga do crescimento económico.
Ah, ganda Draghi. No entanto, estava a contar com “artilharia pesada”, um belo QE a ver se a porcaria do Euro cai de vez para o Portuga voltar ao Escudo, desvalorizar que nem um doido e as coisas em Portugal ficarem ao preco da uva mijona. Quando isso acontecer, compro uma villa no Algarve! 😉
José Augusto,
“Tantas vezes gritaram “nos EUA não têm austeridade e imprimem dinheiro”, que não resistimos. Temos portanto, mais alguns anos de empurranço com a barriga para a frente. ”
Nos EUA tiveram mais austeridade do que na Europa. Significativamente mais. Não parece precisamente porque “imprimem dinheiro”.
“Depois disso, vêm as taxas de juro a 0% e depois? Depois levamos com a realidade nas fuças e vai ser bonito de se ver, ai vai vai.
Portanto o meu conselho é: mesmo que não precisem, endividem-se, mas em grande!”
Mau conselho. Eu sei que isto é contra-intuitivo (como a economia frequentemente o é) mas o caminho para taxas de juro mais altas passa por baixá-las. Verá que daqui por duas semanas. o banco central americano vai anunciar mais tapering. Provavelmente daqui a uns meses irá começar a subir as taxas de juro.
Sr. João Cortez, antes de mais, informar que as decisões do BCE não são tomadas pelo sr. Draghi mas sim pelo Governing Council do BCE. Caso não saiba, são 6+18 membros, em que os 18 membros são os Presidentes dos Bancos Centrais dos respectivos países que integram a EZ.
Acaba por soar algo inusitado ao tecer uma opinião sobre a decisão, baseado, logo à partida, num pressuposto incorrecto e que torna a sua questão inicial (point), ainda mais incorrecta.
Das duas, uma: ou ignora, por completo, o que é o ECB e como funciona, ou então…
Tendo em conta as responsabilidades que cada um dos elementos do GC têm, torna-se, ainda mais, incompreensível a sua crítica.
Quanto à questão da deflação e ao artigo para qual remete leitura complementar, a “deflação benigna” suscitada no mesmo, não só não se aplicam ao tempo presente, como advém de uma interpretação algo descontextualizada das teorias de Mises. Mas não só. O próprio artigo salienta um facto associado ao fenómeno da deflação: o aumento de liquidez. Neste caso, seria um aumento não controlado, fruto de um processo com uma margem de controle mais reduzida.
Não sei se está a par do conceito de liquidity trap. Ou se está a par dos (reais) indicadores económicos e subtis contornos das políticas monetárias conduzidas deste e do outro lado do Atlântico. Defender um cenário de “permissão de deflação”, no actual contexto, só pode ser piada de maú gosto.
Também não concordo com a idéia de que o BCE deveria ter adoptado esta política há 3 anos atrás. Teria sido um erro ou, pelo menos, uma precipitação, face ao contexto interno e externo. E felizmente não houve anuncio de um QE para a EZ. Os riscos, perante o contexto, são demasiado elevados para políticas de fuga para a frente. Para já, o GC está a conduzir, e muito bem, a política monetária.
Compreendo e simpatizo com a visão anti-bancos centrais, de inspiração Hayekiana.
Mas Hayek escreveu numa época em que os Bancos Centrais não eram independentes, e não havia livre circulação de capitais.
Hoje só vai ao BCE quem quer (é mais um actor no mercado), e se isto fosse assim tão simples, ou seja, se o BCE tivesse efectivamente um monopólio no preço e concessão de crédito, não haveria falta de crédito em Portugal.
A realidade é que os estatistas querem alterar o mandato do BCE dando-lhe mais poder, porque de facto tem pouco, e ainda bem.
Poupar já era. Já é política oficial das instituições: o que está na moda agora é endividar-se ao máximo e ir “consumir”, é o dever de cada um de nós. Já não há cidadãos, já só há “unidades consumistas”. Portanto toca a acabar com o saudável ‘deleveraging’ das famílias na Europa – o real e normal motivo da baixa inflação – que o BCE, juntamente com a Fed, o BoE e o BoJ, chutam as taxas ao máximo para baixo para a bola de neve crescer até resultar numa enorme avalanche “inesperada”, culpa dos mercados “desregulados”.
E se der para imitar os “States” e usar o máximo de liquidez gratuita para comprar acções e gerar um “wealth effect” para os mega-bancos e os oligarcas enquanto se desincentiva o capex e o planeamento privado do futuro e a economia real e o emprego definham, tanto melhor!