Tirez sur le pianiste, François Truffaut (1960)
Segundo Mário Soares (MS), Maio é um mês decisivo. Posso até concordar (se tudo correr bem o PS leva uma coça) mas, o que não é nada decisivo, é o seu texto. É até bastante pueril, algo bíblico e será mesmo um dejá vu no que toca à imunidade da irresponsabilidade de um geração de políticos.
MS vai repescar um método arcaico usado pelos nossos antepassados (e, por isso, bem ao jeito da sua persona) para construir o sermão: a caça desesperada e desenfreada ao bode (expiatório) procurando com isso amnistiar os seus pecados. Encontra em Angela Dorothea Kasner Merkel o alvo ideal e caça-o. Mas temo que a visão de MS já não é o que era e o tiro saiu-lhe pela culatra. E, claro está, sobre o Homem que ia dar um sentido, salvar até, a Europa, Fançois Hollande, nem uma palavra. Mas, MS acusa a chanceler de acabar com a União Europeia e com a Zona Euro. Ora, nem tudo se passa como no admirável preto e branco da Rússia de Eisenstein, há muitos cinzentos, nesta altura, e outras cores, felizmente, numa Europa bem diferente daquela Rússia. Mas a miopia ou o daltonismo não são exclusivos de MS e não é preciso ser cinéfilo (nem oftalmologista) para o perceber. É uma doença comum a outros:
1. àqueles sonhadores, europeístas convictos, inicialmente actores no drama europeu e, agora, na hora da dificuldade, meros intérpretes, que falharam (e falham) no momento de provar que as divisões nacionais podem ser ultrapassadas, sem derrames de sangue (escrevo no sentido metafórico), depois de tanto sangue derramado por uma Europa (não no sentido metafórico) onde nasceram os conceitos de Estado, de soberania, por uma Europa martirizada por tantas lutas e guerras nacionalistas. Por isso, falharam no momento de desfazer os casamentos, conquistas, malabarismos e ballets diplomáticos que sucederam para fazer dos Estados da Europa aquilo que hoje são. Falharam, também, quando criaram uma moeda que, não só não está apoiada num Estado, num regime político europeu se quisermos, como sai de um projecto político a cujo conteúdo alguns membros se recusam a aderir. E falharam, sobretudo, na promoção de um debate rigoroso sobre as consequências económicas, sociais, políticas, da adesão a uma união monetária. Falharam, na sequência da crise financeira vinda dos EUA, em 2009, a prova de que o modelo europeu (um conceito bastante cómodo onde cabe quase tudo) resistia melhor à crise do que os outros. Falharam, os signatários do Tratado de Roma e seus sucessores na escolha de uma palavrinha a definir o objectivo essencial da União Europeia: «a melhoria constante das condições de vida e de emprego dos seus povos». Falharam, ainda, ao desprezarem os impulsos psicológicos que motivam os homens do poder, os políticos, e, inegavelmente, determinam o sucesso das instituições. Falham, ainda hoje, quando procuram expiar as falhas do passado (suas e dos seus), com as respectivas consequências no nosso presente. Admitamo-lo. Calmamente, mas honestamente, explicando aos portugueses (e europeus) qual a sua situação.
2. àqueles que culpam a chanceler pelos problemas do nosso desenvolvimento, que partem da nossa falta de qualificação, da nossa fala de produtividade, da nossa falta de sentido, da nossa falta de sustentação e da nossa falta de utilidade do trabalho, frequentemente trocado pelo conceito de emprego. Aqui a falha é nossa. Falhamos no momento de reconhecer as virtudes do rigor e da disciplina alemãs, que deviam ser consideradas exemplos, e não inimigos. Falhamos no momento de reconhecer que sem trabalho, esforço, qualidade, produção, contas certas e ponderação, não há sociedade que resista. E o mais grave é que continuaremos a falhar.
Eu, europeísta muito pouco convicta, sinto-me mais convicta quando vejo uma série como esta (que me desperta sentimentos de reverência à paz europeia dos últimos anos) do que quando leio as convicções destes europeístas.
* No dia 27 de Abril de 2013, o Le Monde publicou um editorial intitulado: “Ne tirez pas sur Angela Merkel”, alusão àquele filme de François Truffaut.
“E, claro está, sobre o Homem que ia dar um sentido, salvar até, a Europa, Fançois Hollande, nem uma palavra.”
French president insists he “avoided all vulgarity” in affair with Julie Gayet, despite being photographed arriving on a scooter for secret trysts with the actress.
http://www.telegraph.co.uk/news/worldnews/europe/france/10812012/Francois-Hollande-I-handled-Julie-Gayet-affair-with-dignity.html
Estes socialistas, além de não terem um pingo de vergonha na cara, não têm qualquer noção do ridículo. Seja em que país for.
já faz mais de 2 anos q MS foi apanhado a 200km/h, alguém consegue confirmar se sempre fomos nós todos a pagar a multa, conforme ele fez questão de afirmar arrogantemente ao policia?