Passaram-se apenas 40 anos desde o 25 de Abril de 1974, o ponto que se determinou como sendo o fim do Estado Novo e o início da terceira república. A distância ainda é curta para se poder fazer uma análise desapaixonada desse dia e dos meses seguintes, mas vai sendo uma boa altura para se discutir certos pontos que sempre foram dados como certos.
Ninguém questiona a necessidade de acabar com aquele regime, nem mesmo muitos dos que à altura estavam no poder.O regime estava decadente, não respondia às aspirações de uma geração que tinha o modelo de democracia europeu como aspiração e que já não se revia no grande Portugal colonial, imagem de marca do regime. O regime acabaria de qualquer forma. Daí ser importante questionar se o 25 de Abril foi de facto o acontecimento que acabou com o regime ou apenas um entre muitos processos alternativos pelo qual o regime poderia ter acabado. E, aceitando ser a segunda hipótese, se o processo revolucionário foi, de facto, o melhor para o pais. Ninguém que não seja extremista acredita que se não fora o 25 de Abril ainda vivéssemos hoje numa ditadura semelhante à do Estado Novo. O regime acabaria por cair, por revolução ou evolução, sob o peso do tempo e das circunstâncias. A questão será sempre a de saber se o processo que ocorreu, uma revolução militar seguida de tomada de poder pela extrema esquerda, e que moldou o país político até aos dias de hoje, foi o melhor para o país. Saber se um outro processo teria evitado o fracasso económico do actual regime, sem comprometer o progresso político e social que, sem sombra de dúvidas, ocorreu. A questão será sempre a de saber se, com um processo diferente, poderíamos estar hoje mais próximos dos padrões de vida de outros países europeus (apesar dos ganhos em termos absolutos por força do passar do tempo, o padrão de vida em Portugal continua hoje tão distante do Europeu como estava em 1974).
Questionar a necessidade do processo revolucionário iniciado com o 25 de Abril, ou os seus reais benefícios face às alternativas é algo que ainda hoje, 40 anos depois, cai mal. Pouco mudou desde os meses quentes de 74 e 75: qualquer pessoa que questione a necessidade do 25 de Abril é imediatamente acusada de ser apoiante do fascismo, o que é em si uma atitude bastante fascista. Independentemente das opiniões sobre o assunto, é uma discussão que valerá a pena ter, mas provavelmente será apenas para aqueles que cá estiverem daqui a 40 anos.
Os números estão aí sobre a “necessidade” ou não do 25 de Abril.
É só consultá-los. Desde a educação, à saúde, habitação, alimentação e tantos outros indicadores. Não se conhece nenhum indicador que não tenha subido de forma tão gritantemente evidente.
Negar isto é distorcer factos e não ser honesto.
“Independentemente das opiniões sobre o assunto, é uma discussão que valerá a pena ter, mas provavelmente será apenas para aqueles que cá estiverem daqui a 40 anos.”
Exacto. E essa discussão só é possível porque, espera-se, ninguém será censurado, perseguido ou preso por a fazer e viver.
E este “pormenor” faz toda a diferença.
Fernanda,
“Os números estão aí sobre a “necessidade” ou não do 25 de Abril.
É só consultá-los. Desde a educação, à saúde, habitação, alimentação e tantos outros indicadores. Não se conhece nenhum indicador que não tenha subido de forma tão gritantemente evidente.
Negar isto é distorcer factos e não ser honesto.”
Aposto que nas comemorações dos 40 anos do 28 de Maio em 1966 os ‘fássistas’ diziam isso mesmo, ipsis verbis. Quatro décadas não tornaram o exercício menos falacioso.
Se os indicadores na educação, saúde, etc, não tivessem “subido de forma gritantemente evidente” nos últimos 40 anos, então sim, não faria sentido ter qualquer discussão sobre a necessidade do 25 de Abril. Seria uma auto-evidência.
Para analisar “os seus [do 25 de Abril] reais benefícios face às alternativas” é preciso um bocadinho mais de sofisticação intelectual – que não é possível sem o sossego emocional que, como afirma o post, provavelmente só outros 40 anos trarão.
“Qualquer pessoa que questione a necessidade do 25 de Abril é imediatamente acusada de ser apoiante do fascismo, o que é em si uma atitude bastante fascista” – bastante mesmo! As vacas sagradas do regime, tornadas gordas e luzidias ao longo destes 40 anos, bem escoicinham e urram, que não foi para “isto” que fizeram o 25/A… Continuam a ter almoços grátis, ninguém lhos consegue tirar, mas já não pode ser nos restaurantes com estrela Michelin, de que tanto gostam. E isso é chato – “não foi para isto… etc. etc.”
“Aposto que nas comemorações dos 40 anos do 28 de Maio em 1966 os ‘fássistas’ diziam isso mesmo, ipsis verbis.”
Talvez dissessem, mas não era a mesma coisa. E não era a mesma coisa porque, ponto um, não havia contraditório e só havia 1 estatística. A patrocinada, não por uma bebida qualquer, mas pelo regime. Isto é que é falaccioso.
A “sofisticação intelectual” é o quê, mesmo?
Fernanda,
“Talvez dissessem, mas não era a mesma coisa. E não era a mesma coisa porque, ponto um, não havia contraditório e só havia 1 estatística. A patrocinada, não por uma bebida qualquer, mas pelo regime. Isto é que é falaccioso”
O que é isso de uma estatística patrocinada? Pode utilizar os mesmos indicadores estatísticos, das mesmas fontes.
Os indicadores que citou melhoraram para os portugueses entre o 28 de Maio e o 25 de Abril, como melhoraram do 25 de Abril para cá, como melhoraram para praticamente todos em todo o mundo. Isto é pacífico, como o seria o corolário – seria, não o é, porque em Portugal se aceitam com bonomia as teses oligofrénicas de que tudo e mais alguma coisa, da massificação do transporte individual à descida da mortalidade infantil, passando pelos orgasmos das senhoras e pela cirurgia ambulatória, se devem ao 25 de Abril.
A sofisticação intelectual é somente a necessária para perceber que a melhoria dos indicadores é um não-argumento para aferir dos reais benefícios marginais do 25 de Abril face a alternativas num exercício contra-factual. Não é assim tanta; ser capaz de ler sem mexer os lábios deveria ser suficiente.
Que o desenvolvimento económico e a subida gradual do nível de vida não tenham entrado em colapso nos 40 anos após o 25 de Abril é apenas a condição necessária para fazer o debate, não para o resolver.
Quantos de Entre estes comentadores e autores do post eram adultos ou pelo menos adolescentes à data do 25 de Abril? Porque tantos falam sem saberem o que realmente se passava ( não me refiro aos números mas à vida das pessoas)? Os de esquerdas dizem que isto e mais aquilo , era horrível etc e os da direita falm pelo que ouviram de pais e avós que durante anos “viveram na clandestinidade” . Sim porque pouco depois do 25 quase toda a gente passou a ser do povo …de esquerda ..socialistas e até comunistas gente sem coragem nem verticalidade para assumir aà luz do dia as suas ideias…e cujos filhos e netos pretendem hoje vingar a enorme cobardia.
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HO,
O fim da censura, da PIDE, o facto de podermos estar aqui a debater são não-argumentos e menoridades intelectuais?
Isso foi há 40 anos , Fernanda , 40 anos é muito tempo como o confirma o facto de naquela altura eu ter filhos que ainda gatinhavam e agora ter netos que já namoram .
Portanto é bom pensarmos que muito coisa teria acontecido por força das mudanças que se deram em todo o mundo e estranho seria que este cantinho aqui na Europa evoluída ficasse parado no tempo quando nenhum outro cantinho mesmo na Ásia atrasada ficou (basta olhar para os últimos 40 anos da China) .
Portanto tudo o que indica foi bom que acontecesse naquela altura concreta mas não podemos passar o resto da vida a falar sempre nas mesmas coisas como se fossem factos que nunca teriam acontecido sem o 25 de Abril – é que falta prová-lo !
De resto está neste momento a fazer 40 anos que o oficial miliciano que eu era se metia “também ao barulho” sem saber como é que tudo aquilo ía acabar quando tanto revolucionário que por aí anda continuava borrado de medo em casa (os pouquíssimos que já eram nascidos e crescidos , entenda-se) , convencido que era o Kaulza a reincidir …
40 anos são um pouco tempo em História mas são muito tempo na estória de um indivíduo.