O Vítor Gorjão hoje à tarde, no facebook, deu umas lições para jornalistas e comentadores televisivos que andam por aí a falar de um enigmático Ruan Miró. De facto a pronúncia de Juan é tricky e, se não tivermos cuidado, lá parecemos josé sócrates, no comício do PSOE, falando algo que nem sequer vagamente semelhante era ao castelhano. Decidi, por isso, vir cá dar uma ajuda aos senhores jornalistas e comentadores televisivos.
Em primeiro lugar é necessário apaziguá-los e dar algum reforço à sua auto-estima. Não pensem, pessoas que têm falado de Ruan Miró, que estão sós nesta dificuldade. Não, o Lord Alconleigh, personagem dos livros de Nancy Mitford inspirada no (ou, melhor, decalcada do) seu pai também padecia da mesma tormenta pronunciativa, que ficou evidente quando a sua prima conhecida como ‘the Bolter’ (pelos sucessivos maridos que abandonou) lhe apareceu em casa, para uma estadia de vários meses, acompanhada do seu amante espanhol chamado Juan. (Esta personagem ‘the Bolter’, refira-se, é também um retrato ficcionado de uma prima afastada de Nancy Mitford, Idina Sackville, apelidada por todos de ‘the Bolter’ pelos mesmos motivos da ‘bolter’ da ficção. Tem a curiosidade de ser bisavó – ou trisavó? – de Frances Osborne, mulher de George Osborne do governo britânico. E andou pelos lados do Kenya no período entre as duas guerras mundiais do século passado, nos tempos do Happy Valley – assim chamado pela moral sexual descomprometida dos residentes brancos, que levou até ao assassinato irresolúvel de um dos ex-maridos da ‘bolter’ original à conta de um affair com uma loura deslumbrante, retratado no filme White Mischief que, não se preocupem, não tem o canibalismo do Black Mischief de Evelyn Waugh, grande amigo e correspondente da above mentioned Nancy. Idina cruzou-se pelo Kenya com a Karen Blixen, o Denys Finch-Hatton e o lord Delamere, o ‘D’ do Out of Africa. Este, por sua vez, é avô ou bisavô do herdeiro Delamere que deve estar ainda por agora nas prisões do Kenya pelo seu peculiar hábito de assassinar os nacionais de cor mais escura que encontrava nas vastas propriedades do seu pai e que os tais senhores de cor mais escura consideram terem sido roubadas aos seus antepassados. Enfim, as confusões normais do pós-colonialismo. E sim, os posts também são como as cerejas.)
Bom, regressando ao amante espanhol Juan e ao pintor espanhol Ruan, Lord Alconleigh resolveu o problema do nome esquisito do seu hóspede chamando-lhe ‘Gewan’. Não é a solução perfeita, mas ainda assim é mais suportável que Ruan. Além de ficar sempre bem aprender alguma coisa com a literatura.
Sendo que o Miró é catalão, o esforço dos jornalistas é desnecessário. Joan lê-se como se leria em português, com o J a ter o mesmo som que o J em João.
Isso não pode ser, Carlos, porque daria a ideia que os jornalistas e comentadores não sabem que ‘em estrangeiro’ as letras se pronunciam de forma diferente.
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Cara Maria João,
o que falou de josé socrates aplica-se a qualquer personalidade portuguesa que vá a Espanha, veja-se agora o paulo portas no congresso do PP, no seu requintado espanholês, contudo nunca vi o contrário qualquer politico espanhol a falar portunhol no nosso pais, à excepcão do rei e recentemente do seu filho (este recentemente em Espanha).
Quanto ao Ruan Miró, como diz, faz-me lembrar a minha professora de Português do 11º ano que dizai que em Espanha se referiam a Jean Jacques Rosseau como Rota Punto Rota Punto Ro-sse-à-o (tentei descrever a pronúncia).
Cumprimentos
P.S.: Os seus artigos são mais interessantes quanto não fala de politica
com um sendo que fica tudo mais claro. Y viva rotapuntorotapuntorusseau