Votos para 2014, a crónica de Alberto Gonçalves no DN.
Segundo o Público, o director de um Laboratório de Expressão Facial da Emoção da Universidade Fernando Pessoa analisou 400 mil fotografias publicadas na imprensa ao longo dos últimos dez anos e concluiu que os portugueses sorriem cada vez menos. Consequências? O autor do estudo, Freitas Magalhães, acha que a tendência “é muitíssimo preocupante em termos de saúde”. Causas da tendência? Nem valia a pena perguntar: a crise, ora essa. Ou, nas palavras do Dr. Magalhães, a “situação económico-social” que “potenciou a inibição da expressão”.
É curioso como, desde a criminalidade violenta ao rosto de poucos amigos, a crise está na origem de tudo. Em contrapartida, aparentemente nada está na origem da crise. Ou seja, faz-se questão de apontar, com solenidade e preocupação, dezenas ou centenas de fenómenos provocados pela nossa penúria, mas ninguém se preocupa demasiado com os fenómenos que provocaram essa penúria.
Quantos noticiários abrem com a notícia de que os sucessivos governos caseiros desconhecem o conceito de recursos finitos? Quantas manchetes alertam para o perigo de um sistema laboral esclerosado e sindicalista? Quantos comentadores desmontam o mito de que o “estrangeiro” nos deve “solidariedade” em numerário? Quantos empresários protestam a interferência do Estado nas suas vidas? Quantos jornalistas lembram que o drama se prende com as condições que impuseram a intervenção da troika e não com a troika? Quantos alfabetizados explicam que o liberalismo é, salvo pormenores, exactamente o oposto do que define as medidas políticas hoje em curso?
E, por fim e por exemplo, quantos portugueses se riem de um país cujos académicos passam anos a contemplar retratos, dirigem “laboratórios” de “expressão facial” e acabam patrocinados por estabelecimentos de ensino superior? Pelos vistos, muito poucos. E não, não é porque a anedota seja má: nós é que não a percebemos.
Meu caro senhor : os seus textos constituem verdadeiro serviço público.
Cpmts-
Concordo com o comentador anterior. O artigo consegue, na sua pouca extensão, apontar e resumir uma boa parte das incoerências e incongruências que, na minha opinião obviamente, condicionam o nosso país e os seus media. Resta dizer que o estudo da expressão facial pode ser (mas provavelmente não é!!!) uma disciplina muito bem fundamentada e útil mas não parece, porque só aparece a concluir parvoíces: agora foi esta e antes tinha sido a presumível culpa da mãe da Maddie porque não sorria…
Já alguém se interrogou sobre o valor de um estudo que afirma que os portugueses sorriem cada vez menos baseando-se apenas em fotografias publicadas na imprensa? A conclusão do estudo não deveria ser simplesmente que a imprensa publica menos fotografias de gente a sorrir?! Ou será que achamos que a imprensa é imparcial? Claramente gasta-se dinheiro a mais (mal gasto) em educação universitária para haver imbecis a tirar este tipo de conclusões…
Como todos sabemos antes da crise os portugueses eram um povo sempre divertido , bem disposto e folgazão !
O país chegou a um ponto em que o líder da oposição fala repetidamente em “são apenas 0,2%” sem que ninguém o questinone com uma pergunta em tom de dirigida a atrasados mentais sobre quanto dá a multiplicação desses “só 0,2%” pelo valor do PIB, ou sobre quantos zeros tem esse número, e se esse valor vai para a dívida dos portugueses ou para a dívida do PS e do “dinheiro do PS”, como dizia a senhora Ferreira.
Qualquer pessoa com dois dedos de testa sabe que a foto de reportagem não é representativa para o efeito. Senão vejamos, no universo noticioso, quantas vezes são notícia os estados de alma representados pelos ou associados aos sorrisos das pessoas? E o seu contrário? Isto é também um bom indicador da qualidade da nossa investigação na área das ciências humanas.
«Isto é também um bom indicador da qualidade da nossa investigação na área das ciências humanas.»
De ciência pouco tem e aguardo mais provas de que estas conclusões foram realmente tiradas por humanos. 😀
Qualquer pessoa sorri quando vai pedir o empréstimo. A cara muda é quando a conta chega..
O Freitas Magalhães e o seu laboratório são uma anedota. Basta ver o output cientifico produzido e onde este esta publicado (normalmente publicações da própria universidade Fernando Pessoa ou em actas de conferencias sem revisão por pares). Felizmente este caso não é de todo representativo da investigação psicológica feita em Portugal (esta sofre de outros problemas). O pior aqui e a exposição mediática que os jornalistas em geral proporcionam a certas personagens sem qualquer sentido crítico.
«Felizmente este caso não é de todo representativo da investigação psicológica feita em Portugal (esta sofre de outros problemas).»
Se o problema maior é falta de sujeitos com patologias, pode erguer uma cerca à volta de Lisboa, que encurrala 90% dos sujeitos potenciais do país.
Sugiro que comecem a escolhê-los pelos lados da Rua Braamcamp, próximo do Marquês de Pombal.
Caro Francisco Miguel Colaço,
Concordo plenamente! Acho que até poderíamos dar um nome como “O Curral da Mouraria”! 🙂