Mesmo não partilhando a visão de Vital Moreira quanto aos objectivos do estado (particularmente quanto ao chamado “estado social”) é bom saber que à esquerda há quem não tenha perdido o contacto com a realidade económica e financeira e tenha uma noção realista dos meios e possibilidades do estado. Sublinho que, no geral, a visão Vital Moreira estará bem mais próxima do actual governo que da minha.
Três “minas” alimentaram durante décadas o excesso de despesa pública em relação às receitas ordinárias do Estado, a saber: os fundos europeus, a receita das privatizações e o endividamento público.(…) Doravante, porém, só a primeira permanecerá, mesmo assim com tendência par a redução, dada a diminuição das receitas da União e o alargamento a novos país. (…)
A partir de agora, o Estado vai portanto ter de viver essencialmente com os seus próprios recursos (ou seja, impostos, contribuições e taxas). Mas o próprio crescimento destes está limitado pelo débil crescimento económico. O principal desafio político para a esquerda vai ser a sustentabilidade financeira do Estado social, incluindo o sistema de pensões.
Quem julga que, passada a crise, tudo vai ser como antes dela quanto ao financiamento do Estado e da despesa pública — engana-se e engana os outros. Nada voltará a ser como antes; o eldorado orçamental de antes da crise acabou, definitivamente. A austeridade — no sentido de gestão austera das finanças públicas — veio para ficar.
e eu que pensava que “austeridade” era a matança indiscriminada de criancinhas no altar do “neoliberalismo” sem coração nem sensibilidade social 🙂
Já Vitor Constâncio mudou o seu discurso quando foi para a UE. Ele e o Noreira passaram de uma posição “venha a nós os vossos fundos” para a posição “que chatice, lá vêm estes pedir mais dinheiro”. Nada como um posição de chefia para tornar as pessoas realistas. Passaram de filhos irresponsáveis a pais responsáveis.
Claramente, basta mudar as pessoas e não tocar no sistema, para o sistema começar a ser virtuoso >)
“os fundos europeus, a receita das privatizações e o endividamento público.(…) ”
Isto aconteceu, acontece, e acontecerá no futuro desde que haja quem beneficie com esta estratégia. Os principais beneficiários são os “investidores”, que assim compram ao desbarato empresas rentáveis e assim ganham juros chorudos emprestando dinheiro a países em dificuldades.
Os fundos europeus são o isco. Em países democráticos ocidentais este isco é o que mais eficiência evidencia, uma vez que as promessas eleitorais são o mote essencial para ganhar eleições. Nenhum partido político ganha eleições recomendando prudência na utilização de fundos “oferecidos”…
“… A austeridade — no sentido de gestão austera das finanças públicas — veio para ficar….”
Tem-se visto muita “austeridade” ali prós lados aonde vive e transita o Sr. Vital ?.
Albert Einstein: “A Foolish Faith In Authority Is The Worst Enemy Of The Truth”
http://www.zerohedge.com/contributed/2013-12-26/albert-einstein-%E2%80%9C-foolish-faith-authority-worst-enemy-truth%E2%80%9D
Mais:
Prime Minister: “A Lack Of Courage To Take On Vested Interests Are Pushing Us Inexorably Toward The Next Crash”
No caso português não é só falta de coragem. É também, pura e simplesmente, falta de poder político. Apenas uns “paus mandados” ou uns “testa de ferro” da finança …
Finalmente alguém minimamente inteligente na esquerda percebeu o que foram estes 40 anos de Regime.
Só faltou o Vital Moreira falar da demografia e esperança média de vida.
Pena que o jornalismo, o comentário e a universidade esta pejada de ignorantes e ignorantes que querem continuar ignorantes porque assim têm mais recompensas sociais da cultura tuga populista.
Já agora sobre as receitas das privatizações é bom lembrar que o Estado Português foi um dos que mais receitas recebeu em percentagem do PIB das privatizações na OECD entre 1990 e 2000.
Click to access 2050913.pdf
Há ainda outro ponto que o Vital Moreira se esqueceu da época dourada do Regime:
Os aumentos de impostos sucessivos nestes 40 anos.
Também chegaram ao fim , pelo menos no seu grau habitual.
Pingback: Choque e espanto | O Insurgente