De vez em quando, para clarificar, não vamos nós entusiasmar-nos e tomar-nos como uma democracia normal e darmo-nos às liberdades que vimos nos outros países democráticos, vem um grupo de pessoas lembrar o regime tutelado e cercado em que vivemos. Já tínhamos tribunais – constitucionais e por aí abaixo – impedindo o governo de aplicar políticas que haviam sido apresentadas ao eleitorado e por este acolhidas, desde logo no que toca à redução da despesa pública (promessa de campanha quer de PSD quer de CDS) impedida pelo conselho da revolução, perdão, tribunal constitucional, ou intrometendo-se nas decisões mais correntes, como é o encerramento de uma maternidade que, certamente para alegrar as mães mais recentes, tem como decoração a pintura a pelar das paredes.
Agora temos também polícias manifestando-se, alguns armados, e a invadirem as escadas exteriores da Assembleia da República, numa clara ameaça, avisando que, ao contrário do que sucede nas democracias normais, onde polícias e militares se subordinam ao poder político eleito, por cá as polícias apenas fingem subordinar-se se e só se os tratarem como entendem que merecem. Tenho, regra geral, boa impressão das polícias portuguesas e até aceito que tenham muitas razões de queixa quanto a ordenados e condições de trabalho. Por isso mesmo me parece que os polícias infratores deverão ser exemplarmente punidos.
Para potenciar o grau de surrealidade, temos, claro, Mário Soares & Cia apelando à volência contra quem foi democraticamente eleito. É certo que a generalidade da população olha para Soares & Cia como aquilo que são: representantes do passado que nos faliu, acostumados a viver à conta do dinheiro dos contribuintes, pretendendo manter a todo o custo o status quo e sem qualquer perspetiva de futuro para a gente nova (que querem explorar a todo o custo). Em suma, pessoas que já passaram há muito a sua finest hour intelectual e política (supondo que a tiveram) e que não envelheceram bem. Que, apesar de terem votações residuais, se não mesmo humilhantes, quando vão a votos, se põem em bicos dos pés para falar em nome ‘dos portugueses’, os mesmos portugueses que votaram noutros. E não é por acaso que uma das figuras emblemáticas do nascimento da alegada democracia portuguesa é uma criatura anti-democrática que clama por violência contra o poder político eleito e, evidentemente, não concebe a democracia com eleitores que não lhe fazem a vontade. Isto sucede porque, desde 1974, os donos do regime tudo fizeram para que a nossa fosse uma democracia parcial, com limites estreitos à escolhas dos eleitores, uma meia democracia.
O governo – tão liberal que até dói (basta lembrar que dele fazem parte Paula Teixeira da Cruz, Leal da Costa e Assunção Cristas) – no caso dos tribunais pouco pode fazer, no caso das polícias está tão cheio de medo que nem sabe para onde se virar, mas, quanto aos lunáticos Soares & Cia, pode dar-lhes uma valente lição e, de caminho, emancipar a nossa democracia. Felizmente, para isso o governo não precisa de políticas inteligentes ou, sequer, de cumprir as promessas eleitorais (não seria capaz de nenhuma). Sendo um governo socialista, por sorte nossa não faz parte do socialismo dos bons, pelo que para prestar um grande serviço ao país basta ao governo chegar ao fim da legislatura. Para, assim, mostrar aos que a todo o custo tentam manter o espartilho no e a propriedade do regime que quem atribui legitimidade aos políticos são os eleitores e que as birras das gentes de esquerda não contam mais do que os votos.
“Agora temos também polícias manifestando-se, alguns armados, e a invadirem as escadas exteriores da Assembleia da República”
Não foi por acaso.
Outra coisa que não há em democracias do 1º mundo: os “acordos ortográficos” e mudanças de grafia de milhares de palavras – um delírio totalitário e burlesco.
“Não foi por acaso”
Também acho que não, deve ter sido orquestrado juntamente com o congresso das esquerdas. É uma minoria de polícias facciosos, que deveriam receber castigos exemplares.
Só agora reparei no número de vezes que escrevi ‘a todo o custo’. Deve ser uma questão de vício.
E também acho que isto dos polícias não foi por acaso.
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«Outra coisa que não há em democracias do 1º mundo: os “acordos ortográficos” e mudanças de grafia de milhares de palavras – um delírio totalitário e burlesco.»
Disparate! Eu adopto a ortografia de 1990 da língua francesa e a nova escrita alemã, fruto de acordos ortográficos, mas cinjo-me à escrita tradicional chinesa, por ter aprendido em Taiwan. Admito que não conheço acordos nas línguas italiana, inglesa, e russa, muito embora todas estas línguas sejam línguas construídas. Fora o inglês e o espanhol, todas estas línguas têm um corpo geopolítico de falantes dominante.
O espanhol está a ser modificado por um acordo que, por acaso, mudará mais ortografia que o português alguma cez mudou. por exemplo «incepción» será grafado «incepcion», sim, sem acento agudo.
Quanto ao acordo ortográfico em Portugal, por vezes sigo-o, por vezes não. Nos manuais que escrevo e nos romances da minha autoria sigo-o, em escrita corrente (como aqui) não.
Lucklucky, Maria João Marques, Tina,
Nao é por acaso, mas as coisas transcendem Portugal. Pista: esta.
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