Reproduzo aqui um comentário a este artigo da Raquel Varela que comenta a aparição de uma determinada esquerda e de uma esquerda ex-maoísta agora auto-proclamada liberal e simpatizante de Mário Soares mas que tem tanto de liberal quanto eu tenho de Professor de História, na Aula Magna.
É um comentário interessante e que, ouro sobre azul, a sua reprodução aqui permite enaltecer a profunda transigência e pluralismo d’O Insurgente em dar voz à esquerda. Se o Nuno Cardoso da Silva assim o desejar, por favor contacte-me para remover o artigo. Reproduzo-o porque o 5dias é um blogue público.
Raquel,
Não sei se estiveste ontem na Aula Magna. Eu estive. Não me apetecia ir mas fui, para ver como era. Duas mil pessoas na assistência – com o ar mais classe média com alguma educação, que se possa imaginar – e onze bonzos atrás de uma mesa no palco, dos quais só me merece consideração Alfredo Bruto da Costa.Dos discursos, nem vale a pena falar. Banalidades, lugares comuns, irrelevâncias, tudo com ar de quem estava a descobrir a pólvora. Era assim como um “compact” dos comentadores da SIC a dizer as mesmas coisas com o mesmo ar de quem julga que é inteligente. E a civilizada assistência aplaudia muito, por vezes com assobios à mistura, quando se falava do “Presidente” – o Cavaco, entenda-se.
Para quem tivesse ilusões, aquilo não era um encontro de potenciais revolucionários, era uma agremiação de burgueses chateados com a perda de algumas benesses. E quem esperasse que dali pudesse sair alguma coisa, rapidamente pode esquecer. Aquele era o eleitorado dos que, desde sempre, nos exploram e nos lixam a vida. São os que vão pôr o Seguro no lugar do Passos Coelho e depois, na próxima vez, vão pôr o (????????), do PSD, no lugar do Seguro.
Para terminar, e para mostrar que era tudo gente bem comportada e avessa a qualquer suspeita de violência, não cantaram a Grândola Vila Morena e optaram por cantar o Hino, com música enlatada, muito ao género encontro da selecção nacional. Faltaram os cachecois. Saiu afinadinho, prova de que muitos frequentaram escolas onde tinham aulas de música, a par das aulas de boas maneiras e de Organização Política e Administrativa da Nação.
Fui rapidamente para casa, mas quase com vontade de ir para a Nova Zelândia (que me dizem ser o país mais distante de Portugal…).
Ao que isto chegou, o Insurgente a reproduzir textos da Raquel Varela e seus amigos…
Fez-vos muita mossa, o Dr. Soares.
Recomendo, como em tempos fez o Dr. Cunhal, Alka Seltzer.
Ai Insurgente, insurgente, a vossa atracção pelo abismo começa a ser preocupante! Será o fado, o velho faduncho de quem sente que já pouco ou nada pode acrescentar de realmente novo?
Como dizia alguém: “O homem é dono do que cala e escravo do que fala.”
“Quando Pedro me fala sobre Paulo, sei mais de Pedro que de Paulo.”
O “Colectivo dos Insurgentes” já não terá mais nada que fazer – e dizer- do que referências, por muito aleivosas que sejam, a figuras de pacotilha tipo R. Varela?
Se é por uma questão de marcar território, ou diferença, mais vale que emigrem todos para o 5dias.
E sejam muito felizes!
Este episódio de apelo à violência por uma fação da esquerda mostra que perante a determinção do atual governo, tudo o que resta à oposição é fazer figura de urso. São licões de história a serem colhidas.
Maria Antónia Silva, o que só revela o quão pluralistas nós somos. Citarmos a extrema-esquerda.
Já estou como o amigo da Dótora. Não me apetecia ler mas li. Nós os “nonchalantes” somos assim. Depois do enriquecedor exercício, fiquei a saber que ter setenta ou mais anos, reflecte uma juventude ausente. Porém o mais interessante e até embaraçoso foi o ter surpreendido o curioso desabafo da ilustre Dótora, quando escreve que “continuamos a ter as mesmas velhas soluções para uma história que é totalmente nova”. E esta?
Ora, partindo eu do princípio que o conceito de história, sobre o que abarca e não sobre o respectivo conteúdo, (o meu muito menos criativo) será semelhante, achei-me perante um dilema. Vejamos: ou não há história do presente, ou a excelente expert na matéria tem dotes divinatórios insuspeitados. Optando pela solução mais terra a terra, constata-se um certo desencanto que conduzirá a tentar ultrapassar o presente novo e incerto.
Será que a brilhante antecipação do Natal na Bolivariana Venezuela terá influenciado a praxis dos hermanos Europeus? Não acredito.
A não ser que se trate pelo contrário de um sintoma de aggiornamento ideológico, o qual passa obrigatòriamente pelo reconhecimento e interiorização daquilo que é uma realidggde já muito vista, e que é tão só a constatação de que o comunismo está morto e enterrado. A não ser que a solução seja independente da causa a que responde.
Uma coisa me preocupa no meio de tudo isto, e que é a convicção expressa por um dos dois, já não me lembro quem, segundo a qual os trabalhadores não saberiam o que se discutia na Aula Magna. É que não se pode dizer uma coisa destas!. Por essas e por outras é que o povo desconfia dos intelectuais. Pois é!
Por último atrevo-me a deixar uma sugestão: não me parece que tenham melhor sorte na Nova Zelândia. Porque não experimentam Cuba que é bem mais perto, e mais barato, ou então algo mais excêntrico como a Coreia do Norte por exemplo… Pode ser que gostem.
Boa viagem e adeus.
> Fez-vos muita mossa, o Dr. Soares.
Por acaso. Pelo menos uns 100 mil euros por bico nos custou o palhaço (parece que se pode chamar palhaço a presidentes, ex-presidentes não deve ter espinhas).
Se calhar devia ter tento nas incitações à violência, porque também lhe pode sair na rifa – não merece menos do que os outros contra quem vocifera.
Basta observar o “brilhantismo” da resposta ao pedido de comentário sobre o sucedido, pelo Brilhante porta-voz do PS, hoje, em conferência de imprensa, para perceber que não é preciso ser brilhante para perceber que aquilo foi uma espectáculo para esquecer o mais rapidamente possível, porque o resultado foi o contrário do esperado, como de resto se pode constatar pelos sorrisos de plástico exibidos no local por certos membros do bloquito.
Por muitos sacrifícios que o povo esteja a passar, ainda sabe distinguir uma mama de um mamão.
Mais frequentadores de aulas de canto [lírico]:
“Reacção: PS diz não ver nas afirmações de Mário Soares apelo à violência”
É um exemplo psiquiátrico-grupal semelhante ao da negação da violência doméstica pela parte que leva porrada da forte, cujos resultados são explicados por fenómenos de movimentação sobrenatural de candeeiros voadores, quedas de cadeiras do tecto, ou outras explicações psicadélicas. Obviamente, um trauma explicado e anotado, semelhante àquele em que Valentim Loureiro demonstrou cientificamente, ainda no aeroporto, que o Abel Xavier nunca toucou na bola com a mão no jogo com a França, o que até hoje se comprova ser verdade, ainda que as imagens insistam em dizer o contrário da realidade.
O problema destes gajos é que eles já estão em fase de negação venezuelana.
E ainda não não sabem, que é o mais preocupante.
Nova Zelândia é de facto o país mais longe de Portugal.
Se ele quiser mesmo ir, eu participo na colectânea de fundos para ajudar…
Caro Mário,
Não me incomoda nada a transcrição. Que aliás aprecio como sinal de abertura de espírito. Aqui, como no 5dias, os comentários são assaz agressivos, o que é curioso dada a distância ideológica entre os leitores do Insurgente e os leitores do 5dias. Parece que nem uns nem outros gostaram da crítica que fiz ao circo do Mário Soares. No 5dias porque alguns embarcaram nesse circo e já devem estar arrependidos, aqui porque o meu comentário foi numa óptica de esquerda que, para alguns, tem de significar amor pela Coreia do Norte, por Cuba, ou nostalgia do estalinismo. É pena que uma certa direita em vez de discutir ideias tente minorizar quem seja de esquerda, como se fôssemos todos atrasados mentais. Se dessem um saltinho ao 5dias viam como eu falo com alguns dos “camaradas” que por lá aparecem, não por serem de esquerda mas porque a esquerda deles está tão longe da minha como Portugal está da Nova Zelândia. Mas fique descansado que eu, que tive uma formação católica (universal), estou bem em qualquer lado, desde que não me queiram vender como boas as respectivas banhas da cobra. Sempre que vir alguma coisa que eu escreva neste espaço imenso que é a net que lhe pareça merecer transcrição, crítica ou comentário, esteja à vontade.
Um abraço
Nuno Cardoso da Silva