O meu artigo de hoje no Diário Económico sobre o Orçamento de Estado para 2014. Apesar de commumente aceite que o défice tem de ser combatido, muito poucos são favoráveis à necessária reforma do Estado. Presenciamos hoje a uma autêntica ficção.
A ficção
Os portugueses precisam que o Estado equilibre as contas públicas. Enquanto tal não for conseguido, não nos espera grande futuro: ou saímos do euro, e será uma catástrofe que lamentaremos durante 100 anos, ou não saímos do programa de assistência financeira e a mediocridade prevalecerá. Assim, antes de pensarmos se o Orçamento do Estado para 2014 podia ser outro, convém esclarecer que, para bem de todos, devia ser diferente, ou seja, não devia ser deficitário como é há décadas.
Infelizmente não há vontade, nem da parte dos políticos, nem da parte da população, para isso. E é precisamente por essa razão que o OE/14 não poderia ser diferente do apresentado. A carga fiscal continua altíssima e a redução das despesas resume-se a cortes nos salários e nas pensões; não na estrutura do Estado; não na génese do problema que é um Estado ineficiente que consome os rendimentos das pessoas.
Na verdade, a esquerda que tanto critica as opções do Governo, devia estar satisfeita: este orçamento é o único que permitirá a não destruição do que resta do Estado social. Chegamos assim à grande ficção em que vivemos todos: o orçamento não vai mais longe na redução do défice porque as pessoas não querem, e, apesar de mesmo assim não agradar a ninguém, é preciso para mostrar à ‘troika’ que o défice, que ela paga, está a ser combatido. Num regime democrático, os governos governam para as pessoas.
Se estas não aprovam uma reestruturação do estado capaz de o tornar solvente e sustentável, o Governo far-lhes-à a vontade, procurando apenas uma forma de o financiar. Para tal é necessário que o país seja credível aos olhos de quem lhe empresta dinheiro. Sejam os mercados, seja a ‘troika’, quem paga tem de saber que fazemos os mínimos. É por isso que, não se reestruturando o Estado e não se podendo gastar como anteriormente, este orçamento é o único possível. Podíamos ser ambiciosos, mas o país prefere a mediocridade. Essa não é ficção, mas a marca que deixaremos para o futuro.
Excelente texto André.
Pelo contrário, o teu adversário de barricada de hoje dá seguimento àquilo que eu tenho apelidado de cultura do “mandem-nos mais dinheiro” (pregando à Europa o que a Europa tem de fazer por nós, sem adiantar o que nós podemos fazer por nós próprios…)
Mais uma tentativa de desculpabilizar a “direita”.
Se este orçamento fosse feito pela esquerda seria o pior dos mundos.
O orçamento é mau PONTO.
O orçamento é uma mentira PONTO.
O défice de 2013 será cima de 6% assim como o será o de 2014.
A “direita” não conseguiu/consegue/não a deixam por as contas em ordem, dizer apenas que se fosse a direita seria pior é apenas esconder a incapacidade de fazer aquilo que diziam ser fácil de fazer.
O orçamento podia/devia ser outro, mas a “direita” também não quer.
Onde estão dois dos pontos mais importantes do MOU? Onde está a reforma do estado? Onde está reforma autárquica?
Caro PeSilva,
Há direita em Portugal? Aonde? Agradecia que me dissesse para eu ir lá pôr o meu X nas próximas eleições. Desde que posso votar só conheço o partido socialista (CDS), o partido ainda mais socialista (PSD) e o mais socialista de todos (PS).
Este blog atrai a fina flor da “direita” Portuguesa, até o CDS já é “socialista”.
Mas falemos então de “ficção”
Vamos assumir por argumento, que este Orçamento passa, e é implementado com todo o rigor e mais além, de modo a que o défice fica em 3%
Crescimento economico, vamos assumir que é 1%. E que fica em 1% nos anos que se seguem.
Sabem o que acontece? Em 2020 teremos uma dívida de 150% do PIB.
Isso é impagável. A não ser que exista uma mutualização da dívida a nivel Europeu, ou um perdão da dívida a nivel Europeu, ou que o Euro seja desvalorizado a um nível que nos permita ser competitivos*.
Tudo a nível Europeu.
Pensar que saimos desta alhada sozinhos é que é ficção – por mais esforço ou boa vontade que façamos.
*Sim, porque eu estou farto de subsidiar esses preguiçosos Alemães com um Euro que para eles é demasiado baixo, e para nós demasiado alto
António Ferreira,
Se não reparou, coloquei sempre a direita entre aspas.
PeSilva,
Desculpe não reparei. 🙂 Sendo assim, concordo com tudo o que disse.
Mas pelos vistos contém um erro:
Onde se lê
“dizer apenas que se fosse a direita seria pior”
devia ler-se
“dizer apenas que se fosse a esquerda seria pior”
O OE 2014, é apenas mais um orçamento de um aristocrata falido que já vendeu os ouros e as pratas.
Aqueles que – em tempo útil – em vez de contribuírem para fazer o que se impunha, ou seja, ajudar a resolver o problema, andaram a proclamar “há mais vida para além do défice” e a cavar esta situação, é que deviam explicar / mostrar aos portugueses, qual é a solução…
PPC, pf, afaste-se e deixe o Dr. Seguro mostrar como se faz!
http://jornalismoassim.blogspot.pt/2013/10/portugal-precisa-de-politicos-assim.html
“Num regime democrático, os governos governam para as pessoas.” – Grande ilusao dos tempos modernos. Enquanto esta ilusao nao se desfazer, nada vai mudar!
“Este blog atrai a fina flor da “direita” Portuguesa, até o CDS já é “soci@lista”.”
Se aumenta impostos, aumenta o Estado é obviamente Soci@lista.
Quer o CDS quer o PSD sempre que estiveram no Governo o fizeram.
Por isso qual a dúvida?
A não ser que a sua definição de soci@lista seja baseada na cor da lapela, ou então pura desonestidade sua por algo que Orwell reconheceria: a necessidade de ter um boneco de palha onde bater.
“Se aumenta impostos, aumenta o Estado é obviamente Soci@lista.”
Socialismo (by google):
“a political and economic theory of social organization which advocates that the means of production, distribution, and exchange should be owned or regulated by the community as a whole.”
“means of production”
Nem o CDS, nem o PSD nem a larga maioria do PS defende o que está acima, logo não são Socialistas, na definição politica do termo.
Você utiliza o termo “socialista” como uma espécie de insulto redutor, contra aqueles que discordam de si, mesmo quando não é aplicável.
Com isso, não possibilita a discussão e a crítica de ideias.
Isso é objectivamente anti-democrático.
Mais uma vez, grandes “liberais” andam neste blogue…
PS: Orwell curiosamente, era Socialista
Os portugueses sao mediocres e sao ambiciosos, querem a reforma do estado e querem mais estado; querem menos impostos e mais serviços; querem reduzir despesa e funcionários e querem que o Estado absorva os postos de trabalho perdidos pelo privado. Querem mais festas populares e detestam o Tony Carreira, manifestam-se na Ponte e irritam-se com o comunismo da CGTP. Há 10 milhoes de portugueses em Portugal aos quais se juntam alguns milhoes mais pelo mundo. Cada um tem uma opiniao, que muitas vezes muda com a idade, experiencias, conhecimento. E destes portugueses há um grupo, escolhido democraticamente, a quem compete governar. E governar nao é mais do que tomar as decisoes dificeis que ninguem quer tomar mas que sao necesárias de forma conseguir atingir os objectivos. É sina dos mediocres ver na sua incapacidade o espelho da mediocridade dos otros. Se nao sao capazes de governar que se demitam e deixem lugar a outros.
Bem visto André. No entanto é mais grave ainda por duas razões: mais importante que o defice do Estado é o defice externo e na ausencia de reformas os defices voltarão… Por outro lado, na divida publica é preciso pensar em termos económicos. A real divida publica é a que conhecemos mais as responsabilidades potenciais: pensões não provisionadas, defices nas empresas publicas com preços administrados, etc.
É verdade que com o crescimento económico as coisas podem aliviar um bocadinho e até a imigração pode ajudar a compensar os desequilibrios demograficos.
Ainda assim é indispensável ter uma sucessão de anos com superavit no Orç de Estado, o que não se consegue sem reformas estruturais. Esses superavits são indispensáveis para o equilibrio da divida, para não agravar o defice externo (pela diminiução da procura interna) e sobretudo para criar um ambiente de confiança que permita recebermos transferencias unilaterais da UE, que nunca irão acontecer se continuar a situação de incontinencia financeira.
O problema é que na opinião publica ou publicada parece existir a ideia que superavits representam uma drenagem de recursos económicos por parte do estado e esse preconceito será dificil de desfazer…
O que me parece perigoso neste orçamento é o corte de pensões. As pensões são parte da divida publica. Isto vai abrir um precedente grave: deixa de ser necessário reformar o sistema porque se cortam as pensões quando não há dinheiro. Então aquilo que parece ser um acerto intergeracional (cortar nos velhos de hoje para haver para os velhos de amanhã), não é mais do que o estabelecimento dum novo principio: os velhos de amanhã ficam a saber que nessa altura haverá reformas ou não… E as declarações de Portas vangloriando-se de ter aumentado os regimes não contributivos pode ser caritativa mas apenas abre caminho para o agravamento da situação.
O corte dos salários na função publica é apresentado como medida temporária. Não me parece aceitável reduzir o salário de quem trabalha. Simultaneamente não ouvimos falar do encerramento de nenhum serviço publico, observatórios, escola, hospital / centro de saude, embaixada…
Não tivemos nem vamos ter reforma do Estado nem reformas estruturais… Por isso me parece que este orçamento é a versão moderna da prática medieval: sacar dinheiro privado para pagar os devaneios do estado…
Oh K. tenha paciência! Não há pachorra… Então se aumentam os impostos, a regulação e o poder do Estado é óbvio que controlam os meios de produção, e pior: o resultado da produção. Ou você é daqueles que acredita que tem mais liberdade económica com mais burocracia, taxas, taxinhas e impostos?! Se assim é tem tudo aquilo que merece, por isso não se queixe.
k.
Explique-me lá bem explicadinho o que é que ser socialista no tempo do Orwell “e lá onde ele vivia” tem a ver com ser socialista hoje e “cá onde nós vivemos ” ?
É que com anacronismos na conversa não conseguimos chegar a conclusões úteis .
Será que os militantes do CDS vão poder pôr Paulo Portas na rua?
Chega de tranbiqueirice, maquiavelismo parolo (isso era quando nos imaginavamos ricos…), ignorância a cada passo.
Cúpula varrida a pontapé, como manda a direita
Game over, Portas.