42 pensamentos sobre “Duas faces da mesma moeda

  1. PiErre

    Sempre foi assim com os diversos socialismos e com os bandos mafiosos: são da mesma natureza mas não toleram rivais e de vez em quando massacram-se entre si. Vejam-se os factos históricos ocorridos na Europa do séc. XX entre comunistas e nazistas. Veja-se analogamente o que ocorreu em Nova York e Chicago, também no sé. XX entre bandos da Máfia (massacre de S. Valentim, etc.).
    E por aí fora, no tempo e no espaço. Os exemplos são infinitos…

  2. jsp

    “Far” aplicado a Marine le Pen…soa um tanto ou quanto a terrorismo verbal.
    Bem sei que está na moda do “pulìticamente” correcto, mas conviria dar uma vista de
    olhos pela “realidade objectiva” como diziam os outros…
    A “douce France” de Trenet está nos antípodas da França dos nossos dias .

  3. PBeirao

    Boa maneira de insultar quem vota nestes partidos. É assim que vão convencer as pessoas? Isto não é nenhum debate académico, são eleições.

  4. O problema é simples de perceber. A União Europeia envenenou totalmente o debate político na Europa. Eu, como muitos outros estou-me nas tintas se voto à esquerda ou à direita. O meu voto irá sempre para o partido com mais hipóteses de abater o inimigo principal, isto é, a União Europeia.
    Em Portugal vejo-me obrigado a votar PC, não tenho alternativa. Mas, em França, com um Partido Comunista eurocomunista e enfraquecido, votaria provavelmente FN.

  5. Jónatas

    A França não é o único País com medo de ficar refém desta particular forma de Direita. Os EUA, por exemplo, estão a aprender a lidar com o sequestro ao Governo por parte da ala mais radical do Partido Republicano. Para lá de dois pequenos posts (em 120 posts, desde 1 de Outubro… sim, contei), o silêncio ensurdecedor que por aqui se sente relativamente ao shutdown é revelador relativamente à vossa posição neste assunto.

    Isto apesar de Obama ser, com Obamacare incluído, o Presidente mais liberal desde Eisenhower. Pois, um Presidente que é só a sua raça…

    http://www.forbes.com/sites/rickungar/2012/05/24/who-is-the-smallest-government-spender-since-eisenhower-would-you-believe-its-barack-obama/

  6. ruicarmo

    É quase genial a forma como o Jónatas liga dois assuntos que nada têm a ver. Mas já que fala sobre os EUA. parece-me que a questão de fundo não é a crise orçamental mas a inesgotável veia gastadora, Obamacare incluído.

  7. Jónatas

    A mim (e a muitos outros) parece que a questão é o Partido Republicano só aumentar o limite do défice se uma lei já aprovada, em vigor e confirmadamente constitucional for revogada. Se concordamos com aquilo que diz – inesgotável veia gastadora – não é esta a maneira de o conseguir.

    Mais ainda quando o Partido Republicano recente tem muitas culpas no cartório na maneira como pactuou com os gastos da Adminstração G. W. Bush.

  8. ruicarmo

    Creio que falta acrescentar aí à “narrativa “a culpa de Merkel e daí lançar mais uma ligação ao tema do post.

  9. Francisco Colaço

    Jónatas,

    O Ungar é um mentiroso compulsivo. Mente com quantos dentes tem. O maior gastador entre todos os presidiários presidentes americanos é Barach H. Obama, o Rei da Raça.

  10. HO

    O Ungar limitou-se a papaguear as estimativas do Rex Nutting do MarketWatch.

    Eu aconselho a visualização deste (soberbo) infográfico:

    E todos os progressos que se fizeram desde aí em termos de despesa federal só aconteceram graças ao sequestro – e apesar da amarga oposição da administração e dos democratas. Atribuir à administração os méritos de um acordo fiscal que esta apenas aceitou sob a ameaça de um shutdown é bizarro.

    “A mim (e a muitos outros) parece que a questão é o Partido Republicano só aumentar o limite do défice se uma lei já aprovada, em vigor e confirmadamente constitucional for revogada.”

    Não há qualquer limite ao défice. É um limite à dívida. E o GOP não exige a revogação da lei, apenas o deferimento da entrada em vigor de uma componente da lei – o mandato individual. Ou seja, que os cidadãos individuais tenham direito ao mesmo que, por iniciativa da administração, as empresas tiveram: o adiamento por um ano do mandato. E isto é um ponto de partida, certamente que acabarão por chegar a acordo por menos: possivelmente por concessões na política fiscal. Quanto isso se repercutir nos resultados orçamentais, os Ungars e os Nuttings desta vida dirão que o Obama até foi fiscalmente responsável.

    E comparar a ala conservadora do GOP com a FN é absurdo.

    Quanto ao tópico, a FN já tinha vencido as cantonais em Brignoles há 2 anos. É território de “ninistes”. Mas não há uma transferência de voto da esquerda ou da direita para a FN. A percentagem de voto relativamente aos inscritos da FN em Brignoles é exactamente igual à de 2004, há quase uma década: 16%. A diferença é que, ao contrário dos outros partidos, a FN reteve os votantes. Um corolário é que a perspectiva de uma vitória da FN já não é suficiente para assustar o eleitorado. Vai ser interessante analisar as transferências de voto amanhã.

  11. Jónatas

    O Bush também anda lá perto, Francisco.

    Tem razão, é obviamente à dívida e não ao défice. Quanto ao que diz e independentemente de considerarmos ter ou não razão, o GOP pode exigir o que quiser, não o pode fazer como o está a fazer. Como muito menos sentido faz fazerem chantagem e ainda culparem os Democratas por não se quererem sentar à mesa para discutir novamente uma Lei que já foi aprovada e que já está em vigor. Quanto à comparação, se reparar não a fiz da forma que refere, aludi apenas a serem ambas alas radicais de Direita, o que é factualmente correcto.

  12. HO

    “. Quanto ao que diz e independentemente de considerarmos ter ou não razão, o GOP pode exigir o que quiser, não o pode fazer como o está a fazer”

    Porquê?

    “Como muito menos sentido faz fazerem chantagem e ainda culparem os Democratas por não se quererem sentar à mesa para discutir novamente uma Lei que já foi aprovada e que já está em vigor”

    Porque não? Chantagem? Porque é o GOP a fazer chantagem e não os Democratas? Quem é que lhe ensinou isso?

  13. Jónatas

    Se acha correcto que para se conseguir obter mudanças numa Lei, se chegue a este ponto em que o Estado pura e simplesmente feche para obras, não temos mesmo a mesma concepção do que é ou não válido em política.

    É líquido para todos que quem está a fazer a ligação entre as alterações à Obamacare e a alteração do limite da dívida são os Republicanos. E que se não se alterar a Obamacare, não se altera o limite da dívida. Como é que, num quadro destes, são os Democratas a fazer chantagem, explique-me lá.

  14. Miguel Noronha

    Os republicanos já ofereceram soluções para repor o funcionamento dos serviços federais. Os democratas é que estão numa lógica de “tudo ou nada”. Mas para certos iluminados isto não é chantagem.

  15. Jónatas

    O único iluminado aqui é você, está mais que visto, Miguel. É por causa de si e dos seus posts que cá venho. Não é por causa do André Azevedo Alves, do Ricardo Arroja, do João Cortez, do João Luís Pinto, do Rodrigo Adão da Fonseca ou do Rui Carmo. É por si e pelos seus one-liners e links que coloca, sempre tão cheios de sumo.

    E esta foi, mais uma vez, uma grande contribuição sua. Estamos todos esclarecidos. Avise o GOP dessa sua resposta que se funcionou comigo, vai de certeza funcionar para mudar a opinião da grande maioria de norte-americanos que culpam o GOP pela situação.

  16. Francisco Colaço

    Jónatas,

    «O Bush também anda lá perto, Francisco.»

    Completamente de acordo, Jónatas. O Bush foi um presidente que poderia ter sido bom, mas escolheu ser mau. E foi mau. O Barack Obama nunca soube como o mundo funciona (pelas palavras do insuspeito Clinton) e por isso nunca poderia ter sido bom. E é mau.

    Se fosse americano, não votaria nem democrata nem americano. Seria constitucionalista, não situacionista.

  17. Francisco Colaço

    «Mas para certos iluminados isto não é chantagem.»

    Sendo democrata, não se fala nem em chantagem nem em intransigência. Tem de usar a palavra princípios.

    Insultos são apenas para conservadores. Os pouco Democratas estão acima de qualquer insulto, escudados pela sua capa de vacuidade intelectual.

  18. Jónatas

    Francisco, concordamos que o Clinton é insuspeito. Por isso, não me leve a mal se citar Clinton para defender os Democratas. Nas contas de Clinton, desde 1961 (52 anos), os Democratas criaram 42 milhões de empregos em 24 desses anos e os Republicanos criaram 24 milhões de empregos em 28 desses anos. É uma diferença enorme. Apesar de os gastos estarem descontrolados de ambos os lados, é importante perceber que, ao menos, uns estão a fazê-lo em coisas que criam empregos.

    E para voltar ao assunto do shutdown, basta lembrar este mesmo discurso de Clinton e as palavras que disse em relação à maneira como esta facção histérica do Partido Republicano se comporta para perceber que as tácticas de terrorismo político que vemos agora em primeiro plano já são usadas há muito tempo. Do que o Tea Party e o GOP não estava à espera era que saísse o tiro pela culatra e que isto aumentasse o apoio à Obamacare e baixasse, em todo o espectro populacional, o apoio ao GOP. Não fosse isso e pode ter a certeza que vinha aí default e todo o chorrilho de culpas a Obama que vimos nos dias anteriores. Mas só acredita neles quem quer e, pelos vistos, muito pouca gente acredita.

  19. Miguel Noronha

    “O único iluminado aqui é você,…”
    Vá, não precisa ficar irritado. Se não lhe ocorre nada para contra-argumentar experimente estudar um pouco o tema.

  20. Jónatas

    Irritado? Miguel Noronha, tenho demasiados anos de Internet para não ficar irritado com trolls.

    Quanto ao resto, um contra-argumento implica um argumento anterior para ser comentado. Coisa que, como de costume em si, não aconteceu. Já em meias palavras, frases genéricas e insultozinhos pequenos, nisso, ninguém lhe ganha. Mas cada um escolhe naquilo em que quer ser bom.

    Mas mesmo assim, eu fiz a conversa avançar. A sua iluminação é que deve estar tão brilhante que não viu.

  21. ruicarmo

    “Irritado? Miguel Noronha, tenho demasiados anos de Internet para não ficar irritado com trolls.”
    Vou propor esta tirada para figurar no quadro de honra do Troll do mês.

  22. Miguel Noronha

    Podemos criar o prémio “O troll auto-irritado”
    Desde a Diana Mantra não tinhamos um especime tão fiel.

  23. Jónatas

    Eu bem tento mas não consigo. O Miguel Noronha é imbatível. Aqueles anos todos fechado em casa no mIRC estão a dar os seus frutos.

  24. HO

    “Como é que, num quadro destes, são os Democratas a fazer chantagem, explique-me lá.”

    Não saberia como. Explicarei porque essa arenga da chantagem – dos Republicanos ou dos Democratas- é um disparate.

    Ponto prévio: ao contrário do que julga, o shutdown do governo não se deve ao tecto da dívida. Nem o estado “pura e simplesmente fechou”, como afirma. Esqueça a questão do tecto da dívida por enquanto, é irrelevante para o shutdown; este deve-se exclusivamente à ausência de um orçamento ou de algo que o substitua – uma “continuing resolution”: de forma simplista, uma extensão provisória do último orçamento aprovado

    – Nos EUA, o poder de autorizar despesa reside na legislatura, é esta que detém o “power of the purse” Sem um orçamento ou uma CR, o governo “fecha” porque há componentes de despesa que não estão autorizadas O verbo exagera: a esmagadora maioria dos serviços e programas do governo federal continuam em funcionamento – a ausência de um orçamento não afecta os serviços essenciais (defesa, tribunais, correios, food stamps, embaixadas, etc) ou programas de gastos mandatários (medicare, segurança social, etc) Estes serviços continuam financiados na ausência de um orçamento ou CR – é necessário que o congresso aprove um orçamento ou CR que não os financie. Neste shutdown, o número de trabalhadores federais mandados para casa andará pelos 400 mil, para um total de cerca de 2 milhões de trabalhadores civis (ou seja, excluindo militares, correios, trabalhadores da legislatura e judiciais, FED, etc, que continuam todos a trabalhar). A parcela de serviços de estado encerrados é tão pequena que a esmagadora maioria dos Americanos poderia provavelmente viver anos a fio sem reparar no shutdown não fossem as notícias. Não é só na severidade do shutdown que a hipérbole e o sobre-dramatismo imperam: os shutdowns não são tão raros como isso. Houve 17 desde os anos 70 – 12 dos quais durante maiorias democratas no Congresso.

    – A ausência de um orçamento ou de uma CR não radica, ao contrário do que parece julgar, na recusa dos republicanos em passar um orçamento ou uma CR. O congresso tem aprovado um congresso em cada um dos anos fiscais e aprovou várias CRs que permitiriam manter o governo aberto. O caso não é de todo complexo: o Senado não gosta das CRs que o Congresso aprovou e vice-versa. Os republicanos aprovaram várias CRs, totais e parciais, algumas que cortam os fundos do Obamacare, outras que atrasavam a entrada em vigor do mandato individual e até introduziram uma no Senado, que foi derrotada pelos democratas, que deixava o Obamacare intacto – e todas elas tiveram o apoio de congressistas democratas. Para lá de várias CRs parciais que permitiram reabrir serviços do estado correntemente fechados. Os democratas no Senado aprovaram CRs que subiam os níveis de gastos em relação ao baseline definido no sequestro.

    – Não há aqui nada de extraordinário: é assim que é suposto o processo funcionar. Cada partido tem opções de política pública diferentes e defende-as. O único elemento relativamente menos usual – mas, como já vimos, longe de inédito – é não terem chegado a uma solução de consenso antes da CR expirar. Mas falar de uma chantagem dos Republicanos ou dos Democratas é spin vazio. Eu não percebo a sua ansiosa sanha e sublinhar a vigência do Obamacare: é precisamente por estar em vigor que os Republicanos o querem mudar. E estão mandatados, política e constitucionalmente, para o fazer. Os Europeus estão habituados a sistemas políticos em que a um executivo corresponde uma maioria legislativa da mesma cor. Quando isso não acontece, um deles, ou ambos, cai e, frequentemente, há eleições. A maquinaria política norte-americano funciona sob princípios diferentes. Na incapacidade de perceber isto assenta as raízes de muitas confusões.

    – Em suma, os republicanos têm toda a legitimidade para aprovar orçamentos/CRs que financie ou não financiem programas que eles considerem úteis ou nocivos e o mesmo é verdade para os democratas. Os congressistas republicanos não têm qualquer dever de passar o que o presidente quer. Têm a mesma legitimidade democrática, foram eleitos como ele e a responsabilidade política e moral é para com os eleitores que os mandaram para DC, não para o Presidente. E todos eles, sem excepção, foram eleitos prometendo que iriam agir no sentido de acabar com o Obamacare. Que pelo menos o tentem é o mínimo que devem aos votantes que os elegeram. Se não o conseguirem, têm pelo menos de tentar extrair outro tipo de concessões. O presidente americano não é um rei absoluto. Ao contrário do que acontece na Europa, a funcionalidade do governo não requer, implícita ou explicitamente, uma maioria legislativa de apoio ao governo.

    – O caso do aumento do tecto da dívida apenas aparece nesta história por mera coincidência cronológica: como o limite está prestes a ser atingido, negoceiam-se o aumento do tecto e uma nova CR em conjunto. Mas o limite do tecto da dívida poderia ser aumentado amanhã e o governo continuaria fechado. E vice-versa. Atingir o limite da dívida não provoca um fecho do governo de per se. Se o governo federal funcionasse com um orçamento equilibrado ou em superavit, não provocaria absolutamente nada. Não é o caso, logo o governo só poderá recorrer à receita de impostos e a roll-outs de dívida existente para recolher fundos. Como isso não chega para tudo o que o governo actualmente compra e paga, teria de deixar de comprar e pagar algumas coisas. Mas, uma vez mais, não há aqui nada de extraordinário: partidos com o controlo de uma câmara legislativa ou de ambas sempre tentaram extrair concessões da administração em troca do aumento do limite de dívida (até houve um senador do Illinois que em 2006 declarou que não autorizar o aumento do limite de dívida era um “dever patriótico” (aconselho-o a ler este interessante documento: http://www.theblaze.com/wp-content/uploads/2013/10/Obama-Debt-Ceiling1-348×620.jpg ). E as concessões procuradas e frequentemente conseguidas eram sobre leis em vigor e, frequentemente, com efeitos orçamentais limitados. Das 53 vezes que o limite de dívida foi aumentado desde 1978, em 27 o aumento só foi conseguido após a concessão de qualquer coisa a oposicionistas da subida beligerantes. Um dos casos mais famosos foi a da taxa às importações de petróleo – um subsídio aos produtores norte-americanos- do Jimmy Carter. Que estava em vigor. Ambos os partidos já tentaram revogar leis existentes e aprovar novas sobre tudo e mais alguma coisa à boleia de necessidade de aumentar o limite da dívida: leis sobre campanhas eleitorais, o bombardeamento do Cambodja, proliferação nuclear, transportes escolares, mudanças na segurança social. Eu sei que a administração diz o contrário, e que a comunicação social o papagueia, mas isso é ficção.

    – Poderá preferir as posições dos democratas às dos republicanos. Sendo esse o caso, explique esse mesmo. Ataques ao processo e às tácticas são patetas porque não há aí nada de inovador ou ilegítimo. Os republicanos fecharam tanto o governo como os democratas. Uns querem isto, outros aquilo. Que sejam alterações a uma lei em vigor é tão normal como como ser uma nova lei. Os republicanos ganharam as eleições para o congresso: não são um partido de oposição como, por exemplo, é o PS em Portugal. Têm o dever moral e político de tentar implementar as políticas públicas que eles e os eleitores deles consideram melhores para o país. E o mesmo é verdade para os democratas no Senador e para o presidente. Que V. ou alguém entenda que um dos lados deva simplesmente dar ao outro tudo aquilo que eles querem é uma manifestação de ignorância ou fanatismo cego. Provavelmente ambas, comme d’habitude. Terão de negociar e chegar a um entendimento. E, desta vez, há claramente um lado que tem sido mais reticente em negociar.

  25. Pingback: O “shutdown” explicado e desmistificado | O Insurgente

  26. Jónatas

    HO, desde já, o meu obrigado pela extensa e muito completa resposta. Entendo a sua argumentação face ao shutdown, e posso adiantar-lhe que estou ciente que o jogo político norte-americano é muito diferente do que é praticado por cá. Como também espero saber ler alguma coisa para lá de todo o spin que está a ser feito.

    Dito isto, não estou tão certo como você de vários pontos que abordou. O primeiro, que este shutdown é business as usual. Não sei se é. Para já, a duração do shutdown é absurdamente longa comparada com a grande maioria dos que refere e que, esses sim, eram feitos de forma a afectar minimamente o Governo. Este não, está feito mesmo para fazer o máximo de danos. E foi causado não pelo Partido Republicano no seu conjunto mas apenas por uma facção do Partido. O que difere, em grande medida, da grande maioria dos shutdowns, pensados como arma política de todo um Partido e não de uma minoria, por mais expressão que possa ter. Não vejo só a Administração Obama como sendo vítima de chantagem por parte dessa minoria mas também o próprio Partido Republicano.

    E julgo que é esta a grande questão deste shutdown e a razão pela qual me bato tanto pela vigência da Lei. Exactamente pelo facto de essa minoria de votantes norte-americanos representados por Congressistas querer ter capacidade para se sobrepor à decisão de um País, plasmada em eleições, em fazer avançar a Obamacare. Não sei se há negociação perante isto, sabe? Que o jogo sempre tenha sido jogado assim, sei disso. Que há ajustes à Lei a serem feitos, que o sejam. Mas há limites em Democracia e um deles é que o voto da maioria decide mais do que o voto da minoria. Limite que, francamente, não está minimamente a ser respeitado aqui.

  27. HO

    “. O primeiro, que este shutdown é business as usual. Não sei se é. Para já, a duração do shutdown é absurdamente longa comparada com a grande maioria dos que refere e que, esses sim, eram feitos de forma a afectar minimamente o Governo. Este não, está feito mesmo para fazer o máximo de danos”

    Só se é pela administração, com as decisões erráticas de colocar barricadas a cercar monumentos abertos – e nalguns casos até em propriedade privada como o Mount Vernon. A duração pode estar a ser longa, mas isso é responsabilidade dos dois lados – não há nenhum lado que tenha uma obrigação especial de passar o orçamento que o outro quer.

    ” E foi causado não pelo Partido Republicano no seu conjunto mas apenas por uma facção do Partido”

    Primeiro terá de explicar porque é o shutdown apenas responsabilidade de um dos lados e não de ambos. Não é. O que você defende faz tanto sentido como dizer que a maioria do GOP no congresso está a ser vítima de chantagem por parte da administração que quer alterar a lei, já aprovada, do sequestro orçamental.

    “O que difere, em grande medida, da grande maioria dos shutdowns, pensados como arma política de todo um Partido e não de uma minoria, por mais expressão que possa ter.”

    Eu aconselho-o a ser mais cuidadoso e separar spin da realidade. O caucus republicano no congresso – aliás, ao contrário do democrata – tem votado sempre unido. Essa tese do grupo minoritário não passa de spin cru e primitivo. Palha para fanáticos. Consulte os roll-calls dos votos nas CRs.

    ” Não sei se há negociação perante isto, sabe? Que o jogo sempre tenha sido jogado assim, sei disso. Que há ajustes à Lei a serem feitos, que o sejam. Mas há limites em Democracia e um deles é que o voto da maioria decide mais do que o voto da minoria. Limite que, francamente, não está minimamente a ser respeitado aqui.”

    A maioria do Congresso é republicana. Os Republicanos venceram as eleições para o congresso em 2012.

    O Obamacare passou quando havia uma maioria democrata. Agora, já não há – em grande parte devido ao Obamacare.

    A sua tese de que uma lei passada por uma maioria -são todas- não pode ser colocada em causa no futuro é verdadeiramente bizarra. Se o voto da maioria decide sempre mais do que o da minoria, a maioria do Congresso já votou para não financiar o Obamacare. Qual é o seu ponto, exactamente?

    Perceba de uma vez por todas: neste momento não há uma maioria e uma minoria no governo federal. Há uma dualidade de maiorias. Tem de mudar a sua grelha conceptual. Ou então explique porque algum dos lados (das maiorias) tem uma obrigação especial de passar o orçamento que o outro quer. Até o fazer, o seu argumento é inconsistente e francamente confuso.

  28. Jónatas

    “Primeiro terá de explicar porque é o shutdown apenas responsabilidade de um dos lados e não de ambos.”
    “Essa tese do grupo minoritário não passa de spin cru e primitivo.”

    Não sou só eu que acho isso. A grande maioria do povo norte-americano acha isso também, valendo o que vale. No entanto, considero importante o input de senadores republicanos, com John McCain à cabeça, a dizerem publicamente que é do GOP a culpa do shutdown. Foi McCain que disse “The whole premise of shutting down the government was the repeal of Obamacare.”. E foi também McCain que apontou o dedo à minoria de que falava quando diz ““[It was] the people that convinced so many millions of Americans, tea partiers specifically we’re talking about, that there was some way to defund Obamacare. We can’t.”. A Michelle Bachmann também disse “”We’re very excited. (The shutdown) is exactly what we wanted, and we got it.” E, em tom de brincadeira, estou sinceramente dividido por usar uma frase da Michelle Bachmann como argumento a meu favor, tal é o meu apreço pelas suas tiradas.

    Não é spin cru, como diz. É a posição inequívoca de Republicanos. E tem de ser entendida de forma abrangente para exemplificar que vários quadrantes dentro do Partido Republicano disseram que sim, a culpa é dos Republicanos. O tom é diferente, obviamente, mas a mensagem é a mesma: a culpa é do GOP.

    “O caucus republicano no congresso – aliás, ao contrário do democrata – tem votado sempre unido.”

    Ambos sabemos que, apesar da união de votos e até da união de ideias contra a ACA, há posições contrárias relativamente à maneira em como o GOP se está a comportar neste âmbito. E ambos sabemos que o Ted Cruz tem tido tudo menos vida fácil dentro do Partido. Sinceramente, tendo em conta tudo o que já foi dito, só você é que está a ver consenso aqui. E continuo a achar que está bastante errado, apesar de respeitar a análise que faz.

    “Ou então explique porque algum dos lados (das maiorias) tem uma obrigação especial de passar o orçamento que o outro quer.”

    É essa a million dollar question, no fundo. Se por um lado consigo ver as virtudes da posição democrata, por outro, há a crueza real daquilo que lembrou, e muito bem, que esbarra contra qualquer superioridade moral que possa reconhecer na posição democrata: a dualidade de maiorias.

    Mas também sei que os Republicanos não se esquecem do shutdown entre o Clinton e o Gingrich. E as consequências que teve na corrida presidencial seguinte. Com os números das sondagens a serem tudo menos favoráveis à posição do GOP, a motivação especial pode ser mesmo esta: a opinião pública.

  29. Francisco Colaço

    Segundo a sondagem da NBC de há quatro dias atrás, aqueles que acham que o Obamacare é uma boa ideia (strongly ou not so strongly) subiu num mês de 31% para 38%. O resto acha que é uma má ideia em vários graus de convicção.

    Hardly a majority, I should say.

  30. Francisco Colaço

    E se vir, o Obama bate recordes de impopularidade neste momento. As sondagens andam nos 40 baixos, mas há sondagens da Associated Press que lhe dão 37% de aprovação. Vai no mesmo caminho que o Bush, que acabou o mandato com uns irrelevantes 25%.

    O problema, Jónatas, é que o Obama está a fazer aos Estados Unidos o mesmo que Sócrates fez a Portugal: colocá-los sob a grilheta da dívida, duplicando-a em seis anos.

    Mas ao contrário de Portugal, não há FMI suficiente para resgatar os Estados Unidos. Eles não são demasiado grandes para falhar. Serão estrepitantes quando falharem. (O Peter Schiff acha que o resto do mundo receberá um «boom» quando os Estados Unidos deixarem de receber crédito depois do seu default. Eu acho que vai ser exactamente o contrário: vai ser um Kaboom!)

  31. Francisco Colaço

    Jónatas,

    Acha portanto que as PPP decididas por Sócrates, e que são tão ruinosas para o país, não podem nem devem ser combatidas ou renegociadas por uma outra maioria, «plasmada em eleições» ter entrado no poder.

Deixe uma Resposta

Preencha os seus detalhes abaixo ou clique num ícone para iniciar sessão:

Logótipo da WordPress.com

Está a comentar usando a sua conta WordPress.com Terminar Sessão /  Alterar )

Imagem do Twitter

Está a comentar usando a sua conta Twitter Terminar Sessão /  Alterar )

Facebook photo

Está a comentar usando a sua conta Facebook Terminar Sessão /  Alterar )

Connecting to %s

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.