A história é conhecida. Pedro Passos Coelho, mal chegou ao governo, vinha já com tudo planeado e dedicou-se ao problema da despesa pública, tal como prometera em campanha. O que não espantou, dado que tinha passado vários anos em oposição interna no PSD ‘construindo ideias’ diferentes daquelas que até aí o PS adotara e que Manuela Ferreira Leite propunha. O motivo, claro, era apenas o de trazer para o PSD uma verdadeira alternativa não-socializante para o país, nada com intenção de minar os resultados eleitorais de MFL e, de caminho, beneficiar o PS (não fosse PPC perder a oportunidade de chegar a pm), como algumas vozes mesquinhas aventaram. Assim, uma vez líder do PSD, sabia ao que vinha e o que era necessário implementar no país. E, chegado ao ponto de votar o PEC4, depois de falhados todos os anteriores e com o país em cacos graças à governação quase ininterrupta do PS desde 1995, PPC não hesitou: fez cair o governo. Não para evitar que, com mais uns meses na oposição, o partido se rendesse a Rui Rio (lá estão as vozes mesquinhas), mas porque se sabia capaz de, finalmente, consolidar as contas públicas, i.e., parar com os sucessivos aumentos de impostos socráticos e começar a tratar o nosso cancro: a despesa pública insustentável.
No governo, portanto, e como todos estão recordados, PPC logo nos primeiros meses implementou uma profunda reorganização do estado, aproveitando até a opinião pública, que percebera bem, ao contrário do PS, o que provocara a falência do país. Concentrou os recursos do estado nos serviços que, no tempo de ‘construir ideias’, havia decidido como fundamentais e começou a libertar do estado serviços de onde este deve estar arredado. Levou a cabo um extenso programa de privatizações, que incluiu a RTP e a CGD. As milhentas instituições de utilidade duvidosa (fundações, observatórios, institutos,…) que sugavam o dinheiro dos contribuintes levaram uma valente vassourada. Isto tudo ajudado pela escolha de ministros circunspetos no que toca a gastar os recursos dos contribuintes que haviam sido alocados aos seus ministérios e uma rigorosíssima prática de nomeações políticas de gente exclusivamente escolhida pelo mérito. E de, usando os preceitos liberais, uma profunda simplificação das legislações e regulamentações absurdas que pendiam sobre a atividade económica e que eram, por si só, causa de crescimento anémico. E por aí adiante. Portugal estava um país irreconhecível.
Os problemas começaram lá para o meio da legislatura. Apesar de haver então funcionários públicos excedentários, devido à reformulação do papel do estado na economia e na sociedade, o tribunal constitucional não permitiu o seu despedimento, impedindo, assim, que se diminuisse a dotação orçamental para os salários dos funcionários públicos. Como se não chegasse, o malvado líder do partido parceiro da coligação entendeu provocar uma crise política. Apesar das boas políticas anteriores, com excelentes resultados, o tribunal constitucional e Paulo Portas deitaram os esforços todos a perder.
Claro que Portugal tem aquele problema dos velhos do Restelo. E há quem diga que PPC nunca sonhou encolher o estado, afinal é uma criatura do estado, tanto quando tinha atividade política como quando tinha atividade empresarial na Tecnoforma e quejandas e fornecia o estado por decisão de políticos compreensivos. Que apenas seguiu as políticas financeiras de sócrates, tendo até o seu dileto ministro das finanças Gaspar chegado a ponderar premiar Teixeira dos Santos pela falência do país com uma nomeação. Que nem a redução da despesa pública acordada com a troika foi obtida. Que, perante o eminente chumbo na 5ª avaliação da troika, inventou uma coisa absurda para a TSU que teve o benefício de fazer perceber aos eleitores que PPC não hesitava em agir deliberada e conscientemente (ao contrário de apenas com a mera incompetência do costume) contra eles. Que o que tem para apresentar são o fim das golden shares, uma reforma fraquita da legislação laboral e o anúncio, como se de um grande feito se tratasse, de cortes de 150 milhões de euros em apoios a fundações – e muito pouco mais. Que a austeridade a que obrigou famílias e empresas nunca foi aplicada ao estado. E que, agora, tem a sorte – além da sorte ‘António José Seguro’, que é um presente divino para qualquer governante – de poder usar como desculpa da sua vontade em manter o estado mastodôntico como o encontrou, para continuar a ser usado por si e pelos seus amigos, e dos absurdos aumentos de impostos, as corporativistas decisões do tribunal constitucional e as irrevogabilidades de Portas. Umas víboras ingratas e alheadas da realidade, as pessoas que pensam assim.
Qualquer que seja o resultado deste resgaste acabará sempre com mais peso do estado na economia do que quando começou , em virtude da banca, e creio que se continua a condundir liberalização de sectores com privatização do estado via PPPS, outsourcings e afins, nada contra , não esperem por favor é que isso diminua dividas, défices ou baixe impostos. O Liberalismo no fundo é um Pai Natal, não existe
Eu só não entendo é por que 19 governos (constitucionais) após o 25 de abril, 14 primeiros ministros diferentes, oriundos de diversas áreas políticas e 3 intervenções do FMI, só ou acompanhado, continuamos a discutir os mesmos assuntos.
Pergunto: se por um acaso do destino, a Maria João Marques chegasse a primeiro-ministro acha ela que seria capaz de finalmente nos tirar deste atoleiro? É que se sente com mais capacidade que todos os que antes tivemos, deverá dar um passo em frente e apresentar-se como tal aos seus concidadãos.
Boa ironia.
M. Miranda é a cultura populista.
O Pai Salazar mas austero e com rédea curta foi substítuido por um Pai vaidoso que também quer os filhos com rédea curta mas os método é corrompendo-os com ofertas que terão de ser pagas no futuro.
Muito interessante a “fábula” dos primeiros parágrafos. Pena que o protagonista não tivesse estado à altura do papel que a si mesmo atribuiu… Agora, além de pagarmos a dívida do “cimento” comprado pelo Sócrates (que apesar de tudo cá fica), vamos também ter que pagar os prejuízos do terrorismo económico coelhista. E o Estado, essa coisa disforme, gelatinosa, tentacular, pegajosa, está exactamente na mesma.
Um desafio “engraçado” e ao mesmo tempo penoso, é lermos o “menu” do memorando de entendimento, as medidas propostas, a “reforma”, e comparar com o que vemos à volta… Um exemplo: era “preciso” mexer nas autarquias; os nossos governantes (com a inteira e discreta cumplicidade da oposição), fizeram cosmética de juntas de freguesia, para garantir que nas Câmaras não se mexia. Parece que deu resultado!
….MJM —–tem muita sorte em ter os eleitores que tem …
Não está na mesma , está em expansão brutal , como aconteceria sempre em neo tontismo