Bradley Manning’s Post-Sentencing Statement

Depois de ser sentenciado a 35 anos de prisão pelas fugas de informação no caso Wikileaks, Bradley Manning produziu a seguinte declaração que irá ser enviada ao presidente Obama como pedido de perdão:

“The decisions that I made in 2010 were made out of a concern for my country and the world that we live in. Since the tragic events of 9/11, our country has been at war. We’ve been at war with an enemy that chooses not to meet us on any traditional battlefield, and due to this fact we’ve had to alter our methods of combating the risks posed to us and our way of life.

I initially agreed with these methods and chose to volunteer to help defend my country. It was not until I was in Iraq and reading secret military reports on a daily basis that I started to question the morality of what we were doing. It was at this time I realized that (in) our efforts to meet the risk posed to us by the enemy, we have forgotten our humanity. We consciously elected to devalue human life both in Iraq and Afghanistan. When we engaged those that we perceived were the enemy, we sometimes killed innocent civilians. Whenever we killed innocent civilians, instead of accepting responsibility for our conduct, we elected to hide behind the veil of national security and classified information in order to avoid any public accountability.

In our zeal to kill the enemy, we internally debated the definition of torture. We held individuals at Guantanamo for years without due process. We inexplicably turned a blind eye to torture and executions by the Iraqi government. And we stomached countless other acts in the name of our war on terror.

Patriotism is often the cry extolled when morally questionable acts are advocated by those in power. When these cries of patriotism drown out any logically based dissension, it is usually the American soldier that is given the order to carry out some ill-conceived mission.

Our nation has had similar dark moments for the virtues of democracy — the Trail of Tears, the Dred Scott decision, McCarthyism, and the Japanese-American internment camps — to mention a few. I am confident that many of the actions since 9/11 will one day be viewed in a similar light.

As the late Howard Zinn once said, “There is not a flag large enough to cover the shame of killing innocent people.”

I understand that my actions violated the law; I regret if my actions hurt anyone or harmed the United States. It was never my intent to hurt anyone. I only wanted to help people. When I chose to disclose classified information, I did so out of a love for my country and a sense of duty to others.

If you deny my request for a pardon, I will serve my time knowing that sometimes you have to pay a heavy price to live in a free society. I will gladly pay that price if it means we could have a country that is truly conceived in liberty and dedicated to the proposition that all women and men are created equal.”

25 pensamentos sobre “Bradley Manning’s Post-Sentencing Statement

  1. Carlos Duarte

    Tretas!

    Como tem sido escrito em muitos outros sítios, o Sr. Manning não se limitou a divulgar informações indicativas de eventuais crimes ou conduta imprópria (o que caíria dentro da definição de whistleblowing), antes pegou numa quantidade enorme de informação confidencial e tornou-a pública (via Wikileaks) em bloco.

  2. Valores e princípios fundamentais não podem ser violados numa lógica utilitarista, de puro consequencialismo, em que as ações se vão auto-justificando. Este é precisamente o caso. O combate ao terrorismo não pode ser efetuado violando as liberdades individuais e fundamentais dos cidadãos.

  3. FilipeBS

    Se esta carta revela as verdadeiras e originais intenções de Manning ao revelar informação confidencial, então isto é revelador de uma elevação rara nos dias de hoje. Manning merece o máximo respeito de todos aqueles que prezam a democracia, a liberdade e o estado de direito.

  4. Carlos Duarte

    O que a carta “revela” é, em bom português, o tentar fugir com o rabo à seringa. O que o Sr. Manning fez era e é ilegal e, mais do que isso, ilegítimo e eventualmente imoral. A maioria das pessoas acha que ele apenas “divulgou” uns vídeos com ataques de helicópteros a “alvos civis” (daqueles com metralhadoras e lança-rockets, mas prontos, “civis”). Não, o que ele fez foi pegar de forma indiscriminada em informação confidencial e torna-la pública, com prejuízos evidentes para terceiros (basta ver o que aconteceu com informadores no Iraque e no Afeganistão), O que o Sr. Manning fez é análogo aos do Robert Hanssen ou do Aldrich Ames, com a diferença (fundamental) da informação ter sido tornada pública em vez de ser passada ao inimigo.

    Para os Sr.s mais Liberais desta casa, uma situação análoga seria um empregado da Coca-Cola, irritado com os procedimentos éticos da empresa, tornar pública informação que incluísse não só detalhes dessas supostas ilegalidades mas também a fórmula da bebida ou outros segredos comerciais. Veriam se ia longe…

  5. FilipeBS

    Caro Carlos Duarte,
    Na Coreia do Norte é considerado ilegal divulgar informação sobre o que se passa nos campos de trabalho forçado. Aliás, qualquer norte-coreano que trabalhe num desses campos, se passar informação ao inimigo, ou simplesmente tornar a informação pública sem o consentimento das autoridades, é considerado um traidor, pondo em risco a segurança nacional do país e dos seu ex-colegas.

  6. FilipeBS

    Mas claro, como se trata dos EUA, esse farol da liberdade e da democracia, qualquer atrocidade é justificável, e a revelação das barbaridades cometidas é uma traição imperdoável. Aliás, barbaridades? Em nome da liberdade e da democracia, uma barbaridade ou atrocidade passam a ser bem-feitorias. É um bocado como a tortura. O conceito de tortura é muito volátil. Depende da perspectiva. Não da perspectiva de quem é vitima de tortura, claro está, mas da perspectiva de quem a pratica.
    Se os EUA dizem lutar em nome de uma moral superior, têm que observar mais respeito por essa moral em todos os palcos. Um crime é um crime, seja ele practicado por um cadastrado recorrente ou pelo santo padre.

  7. Carlos Duarte

    Caro FilipeBS,

    Não percebi de onde veio a Coreia do Norte, mas “mordo”. E depois? Se a Coreia do Norte classifica essa informação como confidencial, tem todo o direito de classificar como traição a sua divulgação. O que se PODE discutir é se isso deveria ou não ser traição e se a pena é excessiva (e sendo que, na realidade, a família do traidor é igualmente punida, esse aspecto é absolutamente ilegal e ilegítimo). ESSA lei em si não é nenhum atentado a garantias ou liberdades, ao contrário de muitas outras.

  8. Carlos Duarte

    (Submeti cedo demais por engano… continuando)

    Voltando ao caso da Coreia, a questão é se o que se passa nos referidos campos é ilegal ou não. Se for, APESAR do acto de divulgação ser traição – é uma questão puramente legal – o acto moral de divulgar poderá ser valoroso.

    No caso do Manning, alguma da informação seria, de facto, de divulgar numa base moral mas uma grande maioria NÃO. Tratavam-se de segredos de estado cuja divulgação prejudicam, de facto, tanto o próprio Estado como pessoas individuais (como colaboradores dos EUA em países hostis que acabam mortos). Mais, ao contrário da Coreia do Norte, existem canais tanto oficiais (via JAG) como oficiosos (imprensa), devidamente regulados, para fazer as denúncias. O que ele fez foi entregar a uma organização privada que, ainda por cima, usou a informação para benefício próprio.

  9. Rodrigo

    Para o Sr Carlos Duarte

    A sua fronteira da liberdade desvaneceu-se. Você limita-se a defender um Governo de um Estado independentemente dos valores que o alicerçam. 35 anos é uma pena superior ao que assassinos militares de inocentes iraquianos levaram. Não é de admirar quando o chefe desse governo autoriza drones para atacar inocentes em nome da “liberdade e da justiça e da auto-defesa preventiva”. “Chefe” esse que foi premiado com um Nobel da Paz. Shame in you Sr Carlos, repense os seus valores. Aproveite e leia ou releia grande literatura como “Crime e Castigo” do Dostoiévski, vai ajudá-lo a repensar os efectivos valores ocidentais.

    “There is not a flag large enough to cover the shame of killing innocent people.”

  10. jsp

    O sexo dos anjos continua a ser um dos temas recorrentes do que é designado por “Ocidente”.
    Nao nos admiremos, pois, que as mesmas causas tenham exactamente os mesmos efeitos, independentemente do momento histórico.
    Ah ! E seria conveniente não esquecer que um tipo destes é, pura e simplesmente, um traidor – e não há contorcionismo verbal, por mais sofisticado, que iluda a chata da realidade.

  11. FilipeBS

    A legalidade formal é pouco relevante em casos destes, em que estão em causa crimes de guerra e violações básicas dos direitos humanos. E para demonstrar isso mesmo é que trouxe o example norte-coreano. Torturar pode ser legal no país ‘Y’. E denunciar casos de tortura pode ser ilegal e traição nesse mesmo país. Isto faz de um denunciante de tortura um traidor à luz da lei local, e logo merecedor da correspondente pena. Mas isto tem efectivamente pouco a ver com a moralidade de se denunciar uma situação em que se violam sistematicamente direitos humanos básicos.

    Agora, não me vou pronunciar sobre um eventual excesso de informação confidencial passada a terceiros — informação eventualmente não relacionada com os casos de crimes de guerra e violação de direitos humanos básicos que alegadamente se quis denunciar. Não falo sobre isso porque desconheço detalhes. Mas mesmo admitindo que tal tenha sucedido, há que reconhecer que o caso se reveste de uma grande complexidade legal e moral e que, no final, adviu um bem superir em consequência da ilegalidade cometida por Manning. Num país que se afirma e age como o defensor da liberdade e democracia, isto devia ter sido pelo menos ponderado de algum modo.

    Mas claro, só um ingénuo pensaria que a revelação de segredos militares pode ser tolerada. Em país nenhum do mundo isso pode acontecer, sob pena de desintegração das respectivas forças armadas por via de subsequentes actos de traição.

    A lição, a meu ver, a retirar disto tudo, é que não há bons nem maus. Há pessoas e países a lutar por poder e hegemonia, todos cometendo os necessários actos hediondos para alcançar os seus propósitos. Mas há alguns países que são particularmente hipócritas.

  12. FilipeBS

    Caro jsp,

    Discordo completamente que isto seja discutir o sexo dos anjos. Com vista à sua defesa, o “Ocidente” faria bem melhor em evitar a imigração ilegal e em massa do que em envolver-se em conflitos por esse mundo. Faria melhor em ter uma politica de defesa, mais do que de ataque. Faria melhor em não imiscuir-se em assuntos de outros países, do que meter o bedelho em toda a parte.
    O que se passa é que o “Ocidente” aceita ser minado internamente, através de políticas abertas à imigração massiva, cultivando um suicidário relativismo moral e cultural, exportando a sua capacidade produtiva para o terceiro mundo, etc… E depois vem você sugerir que é ao envolver-se em conflitos que o “Ocidente” se defende dos perigos externos?
    O “Ocidente” está a cair aos pedaços, mas garanto-lhe que não é por falta de poderio militar, ou falta de intervencionismo. Está a cair aos pedaços porque está canceroso por dentro e, tal como um sidoso, falta-lhe um sistema imunitário capaz.

  13. jsp

    Caro FilipeBs,
    Confesso não vislumbrar em que parte do meu “arrazoado” eu “sugiro ” envolvimentos em conflitos por parte do “ocidente”.
    Mais : subscrevo inteiramente todo o resto do seu “post” .

    Concordo em absoluto com o que escreve face à imigração ilegal ( Schengen devia ser abolido, pura e simplesmente) e ao relativismo cultural.
    Quem diria que um

  14. jsp

    Deu-se aqui um “cidente de percurso” que me escapa e que fez com que a frase final se “eclipsasse”.
    Era assim : ” Quem diria que um fóssil como eu viesse a estar totalmente de acordo com a legislação Russa face aos temas da imigração, segurança interna e política externa.”.
    E pronto, não o maço mais.
    Cpmts.

  15. FilipeBS

    jsp, estamos de acordo então. Terei feito uma extrapolação abusiva das suas palavras. Ao condenar esta discussão a sexo dos anjos, e a fazer o paralelo com o respectivo episódio histórico, pareceu-me ver nisso uma defesa do actual envolvimento militar do “ocidente”.
    P.S. Não me “maça” minimamente 😉

  16. Carlos Duarte

    Caro Rodrigo,

    Não vou entrar em detalhes, mas pela sua linha de raciocínio quase todas as acções militares são ilegítimas. Caso extremo: como na 2ª Guerra Mundial morreram civis na Alemanha resultado de ataques aliados (e nem vou para Dresden – morreram em operações normais), pela sua lógica a mesma era ilegítima pelo que deviam os Aliados (se quiser facilitar a vida, retire a URSS da equação) deviam ter ficado quietas.

  17. Carlos Duarte

    Caro FilipeBS,

    Existem duas questões: uma legal e outra moral (e não têm de ser coincidentes). No caso que trouxe da Coreia do Norte o que se opõe é uma questão legal a uma moral, sendo que defende – e eu concordo – que em casos mais graves a Moral se sobrepõe à Lei.

    No caso do Manning o problema é que a Moral foi janela fora quando ele, com as sua acções, pôs em risco terceiros para um benefício dúbio (o tal ataque de helicóptero já tinha sido divulgado antes pela imprensa e, se vir o vídeo TODO – não a versão editada do Sr. Assange – existe uma dúvida legítima sobre se eram civis ou não). Mais, vivendo o referido Sr. Manning num Estado de Direito (com todas as limitações conhecidas, isso não está em discussão) preferiu seguir canais heterodoxos para apresentar as suas denúncias, sem qualquer preocupação pelas consequências das mesmas, em vez de actuar via canais legais ou legítimos. O vigilantismo – que é o que se trata – não é por norma admitido pelos Estados, que reservam para si a prerrogativa da aplicação da Justiça.

  18. jsp

    Como complemento informativo , e alargamento de perspectivas sobre o assunto : tanto o “ABC” como “El Mundo” trazem artigos ,com chamada de primeira página ,sobre “Chelsea Manning”.

  19. FilipeBS

    Caro Carlos,

    A entrada em cena por parte dos EUA na II Guerra é compreensível. A Alemanha estava a conquistar tudo à sua volta, e os poderes na Europa estavam a ficar desiquilibrados em favor do Eixo, em particular daquela. Além do mais a Alemanha conquistou territórios antes soberanos, pela força, e sem casus belli aceite internacionalmente. Já no caso da 2a guerra do Iraque, e do Afeganistão, pode-me recordar, que estou meio esquecido, quais os motivos do ataque por parte dos EUA? Ah, espere que me recordei. O Iraque comprovadamente possuia terríveis armas químicas, e o Afeganistão dava guarida a terroristas de caverna, sendo que alguns foram para os EUA, tornaram-se pilotos altamente experientes, capazes de conduzir mega aviões comerciais (tendo obtido experiência numa escola de avionetas e jogando ao Flight Simulator), depois sequestraram uns aviões e embateram contra as torres gémeas – uma façanha que outros profissionais da aviação dizem ser extramente difícil de fazer.

    Quanto ao caso Bradley Manning (parece que agora é Chelsea Manning, lol), volto a dizer que admito que tal abuso possa ter acontecido, e admito que os canais de whistlebloing foram pouco-ortodoxos (mas eficazes). Como também já tinha dito atrás, compreendo perfeitamente que nenhumas forças armadas do mundo tolerem tais actos e os considerem traição. No entanto, a questão fundamental para mim tem mesmo a ver com a hipocrisia dos EUA, que foi um pouco melhor conhecida pela revelação de certos documentos.

  20. Carlos Duarte

    Caro FilipeBS,

    Mas eu não estou a discutir a moralidade da entrada dos EUA na II GM. Acho-a obviamente legítima. Estava apenas a responder ao Rodrigo no ponto em que ele afirma que QUALQUER morte de um inocente torna a acção que levou a essa morte imoral. As coisas não são preto no branco. Igualmente não vai achar aqui nenhum apoio ao ataque ao Iraque (já ao Afeganistão acho justificado e se quiser explico-lhe porquê). A doutrina da guerra justa – na sua concepção Augustiniana -, tendo por base a questão do mal menor, deve ser a base para a persecução.

    Voltado ao Manning, a eficácia é irrelevante para a análise legal (nem que fosse a uma pessoa) excepto no ponto a QUEM foi feita (se fosse a um agente inimigo era traição, assim não é). O modo como foi feita (indiscriminadamente), para quem foi feito (para o residente da Embaixada do Equador no Reino Unido), bem como os danos daí resultante, retiraram ao Manning a superioridade moral, independentemente das intenções (e de boas intenções está o Inferno cheio).

  21. FilipeBS

    Conclui-se então que o Manning foi um voluntarista inconsequente (o que não seria de estranhar se atendermos à sua juventude), e não um consequence herói da liberdade, como inicialmente eu quis acreditar?
    Bom, seja como for, esta nossa análise é sempre demasiado superficial. Seria necessário ponderar imensas variáveis e dados para determinar a imputabilidade do Manning e a sua superioridade ou inferioridade moral – dados esses que obviamente não dispomos por completo.
    Neste tipo de casos, podemos apenas formar percepções muito enviesadas pela nossa subjectividade e inexacta pois desconhecemos sempre a maior parte dos factos.

  22. Carlos Duarte

    Caro FilipeBS,

    O Manning é uma pessoa com problemas psiquiátricos sérios (sendo a disfunção de género a mais evidente), que trabalhava num ambiente que lhe exacerbava o stress e com acesso a informação confidencial. E NISSO o Exército Americano tem muita da culpa.

    Por outro lado, foi aproveitado pela Wikileaks, que – bem vistas as coisas – não passa de uma organização de fachada para uma pessoa completamente egocêntrica e narcisista e que aproveitou-se das “boas intenções” (ou, se calhar, misguided intentions) do Manning para benefício próprio.

    No entanto, os actos cometidos foram cometidos racionalmente e continuam tanto ilegais como – pela análise da totalidade da informação disponibilizada – não-morais. A condenação parece-me justa, a sentença eventualmente longa (mas o código penal americano é, de facto, pesado), mas tão e somente isso.

  23. JS

    Se realmente a intenção de Manning, Snowden ou Assange era um “j’accuse”, acusar os erros da administração EUA -mesmo anteriores a Bush II- bem que podiam ter seguido o eficiente exemplo de “deepthoat” Vs. Nixon, e terem perservado, a todo custo, o anonimato.
    Terão sido traídos pelos seus irracionais egos?.
    Apenas conseguiram focar a atenção, de uma volúvel opinião pública, na sua própria figura e não erros da administação nacional que “quereriam” denunciar.

  24. jorge

    o que a malta quer saber é se é sr ou sra maning e quem vai pagar a operação de sexo ? o obamacare ? ou o seguro privado ?

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