Os socialistas não acreditam que o mercado, isto é, as pessoas em processo directo de cooperação sem intermediários, consigam compor os seus interesses e promover o desenvolvimento e bem-estar social. O socialismo vê a sociedade como um drama, onde as pessoas se digladiam em vez de cooperarem. Acreditam, também, que o egoísmo humano leva, em processo de mercado, à concentração da riqueza numa minoria privilegiada e ao agravamento das desigualdades sociais. Ora, como o fim do socialismo é a igualdade material dos homens, os socialistas defendem a criação de autoridades de intermediação das acções humanas, a fim de torná-las socialmente úteis. Para cumprirem os seus objectivos, os socialistas promovem, a partir de uma autoridade central, uma distribuição de rendimentos supostamente mais eficaz do que aquela que o mercado consegue, fazendo-o por via de processos de redistribuição (tirar alguma coisa a todos em proporção crescente consoante os seus rendimentos, para atribuir aos que menos têm e mais precisam). Com essas políticas de redistribuição ficariam sanadas as supostas ineficiências do mercado e alcançar-se-ia a igualdade material entre os indivíduos. Vamos ver como é que isto funciona, esclarecendo, desde, já, que isto não funciona.
A ideia da redistribuição pressupõe, como é óbvio, a existência de algo que possa ser distribuído. Falando em bens e recursos materiais fungíveis, a redistribuição só poderá ocorrer onde exista a produção e/ou transformação desses mesmos bens, de forma a que eles criem riqueza suficiente para, por um lado, sustentar os seus produtores e o aumento da escala produtiva, bem como possam gerar, por outro lado, a margem necessária à captação de recursos pelo estado para a redistribuição. Existem óbvias falhas neste raciocínio, que, aliás, o caso português evidencia exaustivamente.
A primeira dessas falhas é que a redistribuição não incentiva, e mesmo até reduz, a produção da riqueza necessária ao bem-estar social. Retirando, por via tributária ou outra, os recursos de quem os produziu, o intermediário estado está a reduzir o capital financeiro disponível do produtor e, consequentemente, a enfraquecer a sua capacidade de investimento e crescimento. Acima de um determinado limite de taxação, pode mesmo ocorrer a necessidade de diminuir o capital investido na produção para suportar os custos sociais da redistribuição. Ou seja, os produtores deixam de produzir para pagar impostos ao estado.
Outra falha evidente destes postulados reside no facto de muito do dinheiro captado coercivamente aos contribuintes acabar por não ser verdadeiramente redistribuído a ninguém, nem aplicado em bens e equipamentos ditos sociais, ficando para custear os custos progressivamente elevados da burocracia. Como esta se gere a si mesma e não tem qualquer racionalidade empresarial, isto é, não carece de desempenhar uma actividade lucrativa para se sustentar, porque que o faz com o dinheiro dos contribuintes, acaba por andar em rédea solta e por consumir cada vez mais dinheiro na sua própria actividade. Esta, por sua vez, não produz coisa nenhuma, mas apenas serviços de utilidade mais do que duvidosa, ou seja, não gera qualquer riqueza que possa contribuir para o produto nacional. Pelo contrário, diminui a riqueza do país, porque consome recursos, e enfraquece o tecido produtivo, porque nada produz.
A questão essencial é, por isso, a seguinte: ao captar recursos da produção para destinar à redistribuição, o intermediário estado desvia esses recursos para os chamados bens sociais, que são, no essencial, serviços em si mesmos não produtivos: saúde, educação, ambiente, prestações sociais mais prolongadas no tempo, subsídios variados, etc. Não discutiremos agora a eficácia empresarial de todos estes serviços prestados pelo intermediário estado, embora se saiba que eles têm invariavelmente custos superiores a unidades homólogas oferecidas por empresas privadas. O que interessa aqui reter é a ideia de que, mais uma vez, os recursos produtivos foram desviados para serviços não produtivos. Os socialistas justificam isto dizendo que, por exemplo, a educação é um bem social que produzirá, a prazo, riqueza, visto melhorar e qualificar o capital humano necessário à produção. É uma ideia muito velha, retirada dos velhos canhenhos dos Enciclopedistas das Luzes. Mas a ideia de que a educação melhora o capital humano e este o tecido produtivo, não deixa de ser verdadeira. Só que nada justifica que não sejam os próprios produtores a gerarem os meios necessários, a custos convenientes, para a formação do capital humano de que eles necessitam. Pelo contrário, os socialistas fazem-no por via de uma burocracia que desconhece as necessidades do mercado e da produção, sem informação fidedigna da utilidade das suas decisões (quantos cursos sem alunos e cheios de professores existem nas Universidades e Politécnicos portugueses?), e que, por sua vez, consome consigo mesma parte substancial desses recursos. A redistribuição socialista cria, assim, falsa riqueza com recursos compulsoriamente retirados a quem gera riqueza verdadeira, que fica progressivamente diminuída e enfraquecida.
Para compensarem a ausência de riqueza criada por uma produção cada vez mais escassa, o passo seguinte dos socialistas é manipular o crédito, gerando uma riqueza artificial que eles crêem ser suficiente para gerar riqueza autêntica. Eles baixam artificialmente as taxas de juros, isto é, o preço do dinheiro, e quase o oferecem às pessoas para que elas possam consumir bens e serviços. Com isto, acreditam os socialistas, aumentará a procura e esse aumento gerará automaticamente a criação de riqueza produtiva. Existem óbvias falhas lógicas neste raciocino.
A mais evidente é a de que os consumidores podem, com esse crédito, comprar bens e serviços de empresas estrangeiras e, assim, não apenas não contribuírem para qualquer incentivo à produção nacional, como até agravarem a situação da balança comercial do país, colocando-o – colocando os seus contribuintes, claro – como devedores compulsivos de quem vende esses produtos ou faculta o dinheiro necessário a essas compras. Depois, porque o dinheiro é ele também um bem de mercado, que deve ter o preço que o mercado determinar, em função da sua escassez, utilidade e necessidade. Ao instrumentalizar a taxa de juro, obrigando os bancos a venderem dinheiro a um preço inferior ao real, o intermediário estado acabará por esgotar o crédito natural e deixará os bancos sem capacidade para emprestar a quem eventualmente aplicaria bem esse dinheiro. Se fizermos uma análise do crédito bancário português dos últimos anos, ficaremos certamente estupefactos com o seu destino… Por último, porque o dinheiro barato será sempre um incentivo ao desperdício e um desincentivo ao aforro, como o foi em Portugal nos últimos vinte anos. Se o dinheiro for um bem barato e acessível, porque o haveremos de poupar?
Todavia, sem poupança não haverá nunca investimento, nem produção. O paradigma da sociedade capitalista baseia-se no ciclo trabalho-poupança-investimento. Ou seja, numa sociedade de mercado, um homem médio que queira melhorar as suas condições de vida e da vida dos seus, trabalha para aforrar durante um período razoável da sua vida – de dez a vinte anos, em média – e, com o produto da poupança resultante do seu trabalho, ainda numa boa idade para correr riscos, concebe um negócio, cria postos de trabalho efectivamente necessários à produção e ao mercado, ou seja, gera verdadeira riqueza. Para alavancar a criação do seu negócio, poderá ter de recorrer, em parte, ao crédito, que lhe será ou não concedido se for capaz de convencer o banco de que os frutos do seu negócio restituirão o capital emprestado, mais o custo contratualmente estabelecido dessa operação de crédito. Numa sociedade que não obedeça aos princípios do mercado livre, isto é, numa sociedade socialista, este ciclo é impossível de ser cumprido, por várias razões: porque o intermediário estado reduz a produção e a poupança; porque o estado destrói o crédito natural; porque o estado incentiva a criação de serviços e de burocracia inúteis ao mercado, isto é, repita-se, às pessoas; porque a gratuitidade da maior parte desses serviços incentiva à sua desvalorização e à desnecessidade de esforço e empenho pessoal para os conseguir.
A este propósito, Portugal é um caso exemplar de falência das ideias socialistas, com as quais vivemos há décadas. As “ineficiências” do mercado foram sempre colmatadas por um estado interventor, que durante décadas ofereceu a todos os portugueses, sem excepção e a título “gratuito”, saúde, educação, serviços públicos variados e crédito abundante para quem o quisesse utilizar. O resultado disso foi que hoje somos um país sem produção, dependente do estrangeiro para conseguirmos os bens essenciais à nossa existência. Sem produção e sem riqueza, deixamos mesmo de ser capazes de manter os serviços que o estado prestava, ainda que deficientemente, porque estes, por sua vez, têm também de ser pagos, seja nos recursos humanos utilizados, ou nos recursos materiais consumidos. O socialismo, e não o mercado, levou Portugal à falência, e parece querer perpetuar essa infeliz situação.
O mais incrível é como existe pessoas que não compreendem isto.
Ou então não compreendem, porque andam a mamar na tetinha do estado. Ainda hoje uma professora de história falou comigo indignada pelos cheques educação que segundo ela “vai permitir que as pessoas escolham escolas privadas”. Ora bolas.. que chatice.
O Socialismo faliu na década de 70 do séc.xx.
Nasceu do êxito económico do liberalismo e vem morrendo pela sua própria inconsistência.
Para além das suas contradições ,lapidarmente apontadas pelo autor do artigo, seria necessário que os homens que corporizam o Estado fossem impolutos,coisa que na sua generalidade não acontece.
Quem parte e reparte e não fica com a melhor parte ou é burro ou não tem arte!
O Povo é sábio…..ás vezes!
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“Os socialistas não acreditam que o mercado, isto é, as pessoas em processo directo de cooperação sem intermediários, consigam compor os seus interesses e promover o desenvolvimento e bem-estar social.”
(…)
“O socialismo, e não o mercado, levou Portugal à falência, e parece querer perpetuar essa infeliz situação.”
ahahahahaahahahahahahaahahahahahahahahaahahahahahahahahaha ….ridículo!
Falta concluir que só existe socialismo de 3a via se houver um mercado capitalista, externo, para o financiar.
O grande problema do liberalismo é que é tudo dedução. Deduz-se que se o Estado desaparecer, é o El Dorado. Nunca vi um liberal parar para pensar onde estão os erros da sua política. Porque, acreditem, eles existem. Vocês implementam este plano num país e podem ter a certeza que a vossa engenharia social vai correr mal em muitos sítios.
Como por exemplo, o que fazer caso alguém não possa trabalhar os tais 10 ou 20 anos? Deixamo-los morrer ou, sei lá, fazemos aquilo que os humanos fazem bem que é ajudar? E que fazer àqueles que querem mas não conseguem o tal emprego das 9 às 5?
E o que fazemos em relação à propriedade da água? Damos a uma empresa privada para gerir, sabendo da importância que tem para a vida? E se a empresa for mal gerida ou acontecer um cataclismo e o custo da água subir tanto que não conseguimos pagá-la, o que é que se faz?
E se, entregando a educação aos privados, houver muita gente que não consegue pagar os estudos dos seus filhos e tira-os da escola? Deixamos aumentar a taxa de analfabetismo? E que consequências tem isso na capacidade que as empresas têm de empregar?
A resposta para todas estas perguntas para a maioria das pessoas é óbvia. Mas vocês têm outras respostas e aceito isso. Mas também é por aqui que se percebe porque é que o liberalismo tem tão poucos seguidores.
Jónatas, vc. parte de um pressuposto errado: eu não acredito que o estado vá desaparecer. Mais: considero-o próprio da natureza humana, como fenómeno de poder, entre outras coisas. É por isso mesmo que o liberalismo é necessário: para nos explicar os malefícios do estado e ensinar a defendermo-nos dele. Se o estado não existisse, o liberalismo não teria qualquer razão de ser.
“O grande problema do liberalismo é que é tudo dedução. Deduz-se que se o Estado desaparecer, é o El Dorado.”
Ainda não chegou à conclusão que essas tacticas não funcionam?
Soci@lismo a controlar da vida dos outros:
http://notrickszone.com/2013/08/08/german-politicians-moving-to-ban-meat-consumptions-request-the-enactment-of-a-weekly-veggie-day/
ainda estou para ver onde anda esse tal de liberalismo , estes tipos é a mesma panca comuna , na Somália? de resto só se tem visto é mesmo alpha= beta leveraged e all debt is public debt desde a senhora baronesa e da segunda vaga neo con , nunca cresceu tanta divida , mas isso quem a tem lá saberá porque que raio é que quer pagar impostos e adicionalmente pagar em fees o que supostamente já pagou nos impostos. Mas enfim, o respirador-pagador não se inventou hoje , lá isso é verdade
O Jónatas há-de dizer-nos em que planeta vive. É que, na Terra, o socialismo tem sido implementado em muitos países e os resultados desse “sistema ideal” são tudo menos deduções, são uma catástrofe bem real para muitos milhões de pessoas.
Os países que mais riqueza criaram foram precisamente aqueles que mais facilitaram o empreendedorismo. Mesmo naqueles aos quais saiu a taluda dos recursos minerais, todo o poder centralizado no Estado resultou em corrupção e desigualdade da distribuição da riqueza absolutamente obscenas, com as elites a ostentarem a riqueza (que não produziram) sem um pingo de vergonha ou sequer moderação.
É irónico que dirija a expressão “engenharia social” aos liberais, quando são estes quem a recusa e os socialistas quem a defende.
Quanto a “o Estado desaparecer”, o Jónatas não leu nenhum dos muitos artigos sobre o liberalismo publicados neste blog, pois não?
Jónatas,
“Deduz-se que se o Estado desaparecer, é o El Dorado.”
Você nunca leu algum dos autores liberais, pois não?
Socialismo » Feudalismo » Capitalismo
O fenómeno registrado no forte aumento da criação de emprego se deveu à agricultura e aos salários abaixo do salário mínimo.
Os portugueses fizeram um regresso às origens. Os portugueses que ficaram sem oportunidade de trabalho na cidade e que optaram por não emigrar voltaram a uma economia de subsistência.
Depois de anos e anos de mau socialismo onde se destruíram milhares de empregos industriais e onde apenas eram criados como alternativa empregos encostados a uma série de atividades económicas artificiais que acabaram também elas por desaparecer com o confronto da realidade (o endividamento excessivo e o corte do crédito) nada mais restava que uma mudança estrutural no conceito de mercado a Portugal.
Logicamente que este período de economia feudal (provocado pela falência do intervencionismo estatal) será temporário, pois a capacidade empreendedora, a produção, a poupança e o investimento levará ao surgimento num futuro não distante (caso se extinga a pressão estatal socializante) ao aparecimento de artesãos (domínio de alguma habilidade profissional), de indústrias agro-industriais, indústria tradicional (retorno aos empregos industriais) e também a uma série de projetos onde os empreendedores detetaram alguma lacuna ou oportunidade de mercado.
Não podemos esquecer a parte da economia empresarial que já existe hoje sem qualquer dependência do estado, que aposta na inovação e na tecnologia, que prosperam nos mercados onde atuam (muitas delas orientadas para a exportação) e que também criam emprego conforme as suas necessidade de crescimento.
A economia portuguesa ao contrário do que muitos pensam é uma economia dinâmica, multi-facetada, versátil e tem tudo para poder funcionar desde que seja enquadrada numa verdadeira lógica de mercado, de uma forma realista e longe da burocracia estatal.
A economia portuguesa deverá tentar ser tão livre quanto possível que só aumentá a apetência pelo investimento e onde até os estrangeiros se sentirão com vontade em cá investir.
Apenas precisamos de devolver a economia portuguesa ao capitalismo… tal como ele existia antes do 25 de Abril e onde Portugal foi naquele tempo uma das economias mais prósperas do mundo.
Concordo com cada palavra do artigo….se o unico interesse desta sociedade for a produção de bens e serviços. Será único o critério da obtenção de um lugar no mercado produtivo na escolha do curso universitário? Porquê ainda há alunos em cursos que nao tem procura pelo mercado produtivo?
“Outra falha evidente destes postulados reside no facto de muito do dinheiro captado coercivamente aos contribuintes acabar por não ser verdadeiramente redistribuído a ninguém, nem aplicado em bens e equipamentos ditos sociais, ficando para custear os custos progressivamente elevados da burocracia. Como esta se gere a si mesma e não tem qualquer racionalidade empresarial, isto é, não carece de desempenhar uma actividade lucrativa para se sustentar, porque que o faz com o dinheiro dos contribuintes, acaba por andar em rédea solta e por consumir cada vez mais dinheiro na sua própria actividade. Esta, por sua vez, não produz coisa nenhuma, mas apenas serviços de utilidade mais do que duvidosa, ou seja, não gera qualquer riqueza que possa contribuir para o produto nacional.”
Esta será uma preocupação legítima… as outras sofrem da mesma cegueira fanática dos extremistas de outras cores…
Rui A. : eu também quero que me defendam dos malefícios do mercado. Que também os tem. E você sabe que o mercado não é essa coisa pura que você escreve no artigo. A McDonald’s teve lucros de 5 mil e 500 milhões de dólares o ano passado e, mesmo assim, está a sofrer uma greve dos seus trabalhadores nos Estados Unidos, que exigem mais. Você sabe que se uma empresa tiver lucros desmedidos são para ser distribuídos por poucos em vez de muitos. E também sabe que a trickle-down theory é uma farsa.
Como também sabe que o Fed está a discutir actualmente se os bancos de investimento, por exemplo, podem ser donos de commodities. É que se sabe que os bancos andavam a transferir o alumínio de armazém para armazém para artificialmente subirem o seu preço. E ganharem milhões, no caminho, sem criarem absolutamente nada mais a não ser tempo entre a venda e a entrega. No mundo real, isto é uma fraude. No mundo capitalista sem escrúpulos, isto é “criar valor”.
Não me revejo nesta maneira egoísta e gananciosa de ver o mundo. Prefiro que taxem aquilo que faço para que todos possamos ter uma vida descansada quer na saúde, quer na água, quer na educação dos meus filhos e netos. É um descanso saber que, aconteça o que acontecer, tenho um hospital e não tenho de me preocupar com a conta. É um descanso saber que os meus filhos e netos vão ter uma educação de qualidade e quase gratuita. É um descanso saber que a água continua a ser um bem público e a preços razoáveis.
Portugal tem muitos defeitos, temos um deficit estúpido e ligamos demasiado a futebol. Mas vá aos Estados Unidos e fale com as pessoas da classe média e pergunte-lhes “E se alguma coisa correr mal?” e saberá que é um pânico incrível. O liberal acha que se alguma coisa correr mal, paciência, é a vida, não se importando que fique uma família a pagar uma factura louca de saúde o resto da vida. Não é esse o País que quero para Portugal. Também não é este. Mas o que vocês propõem é muito pior.
Quanto ao resto, já disse aqui mais do que uma vez, não posso ser a favor de um Estado tão grande que limpa todos os recursos de um País. Mas também não posso ser a favor de um sistema que só trata bem aqueles que fazem parte do sistema. E que não tem resposta para todos os outros que saem fora do sistema, como disse no texto que escrevi. Uma sociedade não é só feita das coisas que você refere. É por isso que tenho tendência a achar o liberalismo uma teoria incompleta. E que quando se completa com as soluções básicas e óbvias que qualquer sociedade exige, torna-se mais próxima do socialismo do que vocês querem admitir.
Joaquim Amado Lopes, tem você de me dizer também em que planeta vive. É que neste onde vivo, o país que produz mais riqueza, os EUA, é também um dos países com maiores desigualdades na distribuição dessa riqueza. 1 por cento da população é detentora de 34,6% da riqueza. Os 19% por cento seguintes da população é detentora de 50,5% da riqueza do País. O que quer dizer que os restantes 253 milhões são donos de apenas 15 por cento. E desses 253 milhões, 63 milhões são considerados pobres. Se isto é o poster child do capitalismo, da criação de riqueza e do empreendedorismo, não sei que lhe diga.
O Jónatas é um ditador em potência, já que quer que façam apenas o que acha ser o correcto, o que os outros pensam é irrelevante.
Os USA há muito que deixaram de ser o país capitalista que as pessoas advogam, o peso do Estado americano no PIB, segundo Sowell já passa os 45% isso é um país capitalista.
OS americanos mesmo sendo um país cada vez mais socialista, tem um rendimento disponível médio o dobro do rendimento disponível médio europeu.
Mas que se há de fazer, as pessoas como o jónatas continuam a achar que o Estado dá almoços grátis, quando o Estado lhe dá alguma coisa, tem de retirar a alguém, e por vezes da lhe algo que primeiro lhe retirou.
“Para compensarem a ausência de riqueza criada por uma produção cada vez mais escassa, o passo seguinte dos socialistas é manipular o crédito, gerando uma riqueza artificial que eles crêem ser suficiente para gerar riqueza autêntica. ”
A parte do post até aqui (exclusive) faz sentido – poderá se discutir a magnitude dessas ineficiências causadas pela redistribuição estatal (se é um fardo que arrasta a economia para o fundo ou se é apenas um erro de arredondamento no PIB), mas parece-me indiscutivel que o fenómeno tende a ocorrer tal como o Rui o apresenta.
Dessa parte para baixo (inclusive) não me parece fazer grande sentido (e nalgumas passagens, nenhum).
Primeiro, a ideia que o dinheiro está artificialmente barato – se os juros fossem mais baixos do que deveriam ser, isso implicaria que a procura de investimento fosse maior que a oferta de poupanças. Mas, como (a nivel global) o rendimento é igual à produção, e o consumo é igual ao rendimento menos a poupança, isso implica matematicamente que, se as intenções de investir forem maiores que as intenções de poupar, então a soma das intenções de consumo e investimento serão maiores que a produção total (é só fazer as contas, como diria o outro). Mas, assim, se a procura total for maior que a produção, isso levaria a uma inflação generalizada, que até agora (apesar de avisos repetidos) não tem dado sinais de vida (acho que até o ouro já tem descido).
Mas mais importante é esta parte:
“Ao instrumentalizar a taxa de juro, obrigando os bancos a venderem dinheiro a um preço inferior ao real, o intermediário estado acabará por esgotar o crédito natural”
Se se está a refeirir aos modernos paises ocidentais, ninguém obriga os bancos a venderem o dinheiro a um preço inferior ao real (sim, há as leis “anti-agiotagem”, mas acho que tal tem pouca influência na economia) – há realmente um banco central que “fixa” uma taxa de juro, mas essa taxa é simplesmente a taxa a que o banco central empresta aos bancos. Os bancos são livres de emprestarem dinheiro aos seus clientes à taxa a que bem entenderem. Onde é que eu quero chegar com isto – é que mesmo que o banco central empreste dinheiro aos bancos a uma baixa taxa de juro, tal nunca fará com que haja escassez de crédito: afinal, se houver muita gente a pedir dinheiro emprestado e pouca gente a depositar dinheiro nos bancos comerciais, esses podem sempre subir a taxa de juro que cobram aos seus “emprestantes” / pagam aos seus depositantes.
Imaginemos uma analogia – há uma plantação estatal de batatas (o banco central); há produtores privados de batatas (os depositantes privados); e há vendedores de batatas (os bancos), que se podem abastecer tanto na plantação estatal como nos produtores privados. Vamos pensar um bocadinho – mesmo que a plantação estatal venda as suas batatas a um preço artificialmente baixo, isso alguma vez irá causar escassez de batata? Parece-me evidente que não: se houver escassez de batatas, os vendedores de batatas irão subir os preços que cobram aos clientes, e, se a plantação estatal não produzir batata suficiente para as encomendas, irão também subir o preço que estão dispostos a pagar aos produtores privados (mesmo que este seja mais alto que o preço a que a plantação estatal vende as batatas). Ou seja, num mercado assim (seja qual for o preço a que a plantação estatal vende as batatas) o preço final que se vai estabelecer no mercado será sempre o preço que equilibra a oferta e a procura (e um preço artificialmente baixo praticado pela plantação estatal mais não é que um subsidio oculto aos vendedores de batatas, que compram barato na plantação estatal para depois irem vender a preços de mercado).
Dizer que taxas de juro muito baixas criam escassez de capital só faria sentido se estivessemos a falar de uma fixação de preços estilo “economia dirigida” em que há um preço fixado oficialmente e todos os vendedores são obrigados a respeitar esse preço (ai sim, um preço abaixo do preço real gera escassez e pessoas indecisas entre ir para a fila onde não há pão ou para a fila onde não há carne), mas as taxas de juro dos bancos centrais não são nada disso (os bancos privados são livres de praticar o juro que bem entenderem)
Filipe Silva, um ataque ad hominem desses, escrito para ser lido por gente inteligente como esta que está aqui sempre presente, só faz com que entendam uma e uma coisa: você não sabe contra-argumentar contra o que disse.
Os Estados Unidos estão a tornar-se socialistas exactamente pelas razões que refiro: a desigualdade gigantesca na distribuição da riqueza produzida. Depois do que eu disse, que 20 por cento detém metade do que é produzido nos Estados Unidos, você responder-me que o rendimento nos Estados Unidos é o dobro do que temos na Europa, é não saber ler estatísticas. É que se um tipo tem um pão e outro não tem, não quer dizer que ambos têm meio pão, percebe?
Mas não é só aqui que discordo do que você disse. Isto tem também a ver com o facto de ser caríssimo ter uma educação superior nos Estados Unidos, o que faz com que sensivelmente 80 por cento dos norte-americanos apenas tenha o liceu feito e nada mais. E sabe quanto é que ganha nos Estados Unidos quem tem apenas o liceu? 20 mil dólares anuais. E sabe quanto é que ganha quem tem uma licenciatura? Começa no dobro e vai por aí em diante. Com 80 por cento da população a ganhar até 20 mil dólares anuais, acha mesmo que o rendimento nos Estados Unidos é tão bom como diz para o cidadão comum?
Correcção: 20 por cento da população nos Estados Unidos é detentora de cerca de 80 por cento do que é produzido. E não metade, como está no texto.
Não é por falha do Socialismo como sistema económico, que o liberalismo passa a ser bom.
Nas décadas de 80, vários programas impostos em Africa e América Latina sob a bauta económica da escola de Chicago, privatizações, cambio flexivel, etc… falharam por completo.
É bonito ver no excell (liberalismo) e nos romances (socialismo) tudo a funcionar, mas sem ter em conta no que o cidadão quer, como se comporta em sociedade e como a sociedade se comporta, nenhum resulta.
Como se pretendem ter um sistema económico liberal em portugal, quando uma elite não eleita comanda o poder e as negociatas? enquanto muita gente não for presa isto não vai para a frente. Pela justiça é que nos devíamos bater, e em conjunto!
“tal como ele existia antes do 25 de Abril e onde Portugal foi naquele tempo uma das economias mais prósperas do mundo”
Vivendi, você ou é ignorante ou é aldrabão. Se for a primeira, vá ler livros de história e economia. Se for a segunda, é por causa de pessoas como você que foi feito o 25 de Abril.
O Jónatas não compreende o que fez a América crescer como cresceu, e o porquê do seu declinio.
A excepcionalidade americana (termo cunhado por um comunista americano que não me recordo do nome) baseou-se na capacidade de indivíduos livres se associarem entre eles por livre vontade, perceberam que unidos conseguiriam chegar mais longe do que isoladamente.
A ideia chave aqui é associação livre, não associação coerciva como o Jónatas defende.
Se se acreditar na liberdade, não se pode defender o que o Jónatas defende, dado que defende que uns burocratas decidam o que Eu devo fazer com o meu dinheiro, qual a percentagem do meu rendimento Eu posso ficar, quem é que é beneficiado e quem é prejudicado, etc….
O que você defende rapidamente degenera para o que hoje temos, o Estado controlar tudo o que os seus cidadãos fazem, tudo é regulado.
A desigualdade é geralmente promovida pelos Estado, quando a dimensão do Estado assume tal dimensão, os grupos de pressão que conseguem capturar a maquina estatal vão beneficiar os seus membros em detrimento de todos os outros.
Para se perceber como é que a sociedade é tão desigual é fácil. A reserva fraccionada com a existencia de bancos centrais explica esta desigualdade.
Marvin King disse que os QE foi o maior roubo realizado dos que menos tem para os que mais tem.
O que hoje existem em todo o mundo ocidental é socialismo puro e duro, o Estadismo é forte, as economias ocidentais, tem o Peso do Estado superior a 45%.
A boca da estatística ahahaha, esta dá para justificar tudo e mais alguma coisa, ou não seja a arte de enganar com números pois claro.
O que escrevi assenta que nem uma luva.
Discordo das suas razões para a desigualdade. A razão principal escapou-lhe e é tão simples como humana: ganância. Tudo o que você disse apenas ajudou a potenciar essa desigualdade. Mas não são as razões principais. Não é por encontrar uma casa com a porta aberta que a vou assaltar.
Se a associação entre indivíduos é livre, porque é que só alguns é que recebem os lucros dessa associação? Se é assim tão livre, não deveria também ser mais igualitária? É que não é.
E menos o percebo quando diz que a desigualdade é criada pelo Estado. Pelo Estado? Se há 20 por cento de pessoas que controlam 80 por cento da riqueza, a culpa disso é do Estado? Não sei que dizer em relação a isso. Qualquer pessoa percebe que isto acontece porque quem produz a riqueza não a quer distribuir por aqueles que o ajudaram a obter essa riqueza, nomeadamente os seus trabalhadores.
Quanto a achar que a minha associação é coerciva, claro que é. Você acha que daria de livre vontade algo do que recebe para sustentar as estradas que usa, os polícias que o protegem ou os bombeiros que apagam os fogos da sua cidade? Claro que não. Não percebo porque é que isso é problema.
Jónatas,
Na sua resposta ao Rui A. fala da McDonald’s e dos seus “lucros desmedidos” de 5,5 mil milhões de dólares em 2012.
Caso não saiba, o valor de mercado da Mcdonald’s é de cerca de 100 mil milhões de USD, o que faz com que os lucros sejam de 5,5%. Um lucro de 5,5% ao ano talvez seja “desmedido” no planeta em que vive, neste de certeza não é.
E os “poucos” por quem são distribuídos esses “lucros desmedidos” são os “poucos” que meteram dinheiro na empresa. Se quiserem, os 440.000 trabalhadores da McDonald’s também podem receber parte desses lucros, basta comprarem acções da empresa.
Isso significa que terão que avançar com o seu dinheiro e assumirão a sua quota-parte dos 13,6 mil milhões de dívida da empresa e o risco da flutuação do valor das acções mas isso não entra nas contas dos socialistas, para quem os empresários estão obrigados a arriscar o seu dinheiro na criação de empresas e os trabalhadores têm direito aos ordenados e aos lucros mas não têm nada a ver com os prejuízos.
No segundo parágrafo dessa resposta confunde “ganhar dinheiro” com “criar valor”, só para ter mais uma oportunidade de falar mal do “mundo capitalista sem escrúpulos”. Nem me vou dar ao trabalho de lhe explicar a diferença.
Na resposta que me dirige, mais uma confusão (esta recorrente), quando insiste em que desigualdade é sinónimo de injustiça.
Vou escrever em maiúsculas para ver se entra nessa cabeça dura: AS PESSOAS NÃO SÃO TODAS IGUAIS!
Pessoas diferentes têm competências, inteligência, capacidade de trabalho, ambição, motivação e sorte diferentes e isso leva inevitavelmente a resultados diferentes. E é justo que assim seja.
Por acaso o Jónatas está disposto a pagar o mesmo por um determinado produto independentemente da marca? Ou por um serviço independentemente de quem o presta? Ou por um bilhete de cinema independentemente do realizador ou dos actores?
A criação de riqueza cria desigualdade porque as pessoas não produzem todas a mesma riqueza. E como não produzem todas a mesma riqueza seria injusto que recebessem todas o mesmo em troca do que produzem.
O que um produto/serviço vale é determinado por quem o produz/presta e por quem dele usufrui. Que justiça há em o Governo decidir unilateralmente o máximo que alguém pode ganhar pelo resultado do seu trabalho, independentemente de quanto quem dele beneficia esteja disposto a pagar?
Os EUA (não sei se ainda) são o país que produz mais riqueza precisamente porque quem tem capacidade para produzir mais riqueza (ainda) beneficia do que produz. O que o Jónatas defende é que o incentivo para produzir mais desapareça por imposição estatal de forma a que sejamos todos mais “iguais” na miséria.
Quando diz que não se quer preocupar com as contas do hospital nem com o preço da “educação de qualidade” demonstra não ter a mínima noção do que é a vida nem aprendeu nada com a situação de catástrofe a que o disparate dos “direitos adquiridos” conduziu Portugal.
Na vida não há garantias e aquelas contas com que o Jónatas não se quer preocupar têm que ser pagas. Naturalmente, dá-lhe jeito que sejam os outros a pagar as suas contas mas isso só é possível se os outros tiverem capacidade para as pagar e estiverem dispostos a isso (ou a tal possam ser obrigados).
Quanto aos números relativos que apresenta, fazia-lhe bem pensar um bocadinho no seu significado antes de os repetir.
Fique bem.
Podemos chamar-lhe o que acharmos mais adequado mas na verdade o que arruinou o nosso país foi a Brigada das Colheres a volta do tacho público! e como são tantos já nem as eleições perdem! isto chama-se disfuncionalidade democratica insolúvel. Gente séria está farta de clamar,mas só os peixes ouvem:
Havia um tempo em que a direita falava dos direitos adquiridos como substância da liberdade e da superioridade do capitalismo em relação a outros sistemas – hoje fala com desprezo dos direitos adquiridos. É por isso que nunca se deve acreditar no que diz o discurso capitalista, inclusive, remetendo para outro post, quando vem falar de liberdade de escolha na educação – é uma treta das grandes.
Lá está o Joaquim a ler atravessado sem apreender nada. Se você lesse como deve ser, entenderia que não me importo de pagar impostos. Se calhar, você já foi a uma Urgência e quem lhe pagou a conta fui eu, que graças a Deus, nunca precisei de ir a uma. E não me importo com isso.
É uma questão de atitude perante a vida e perante o sucesso: não me importo de partilhar a minha boa fortuna com aqueles que não a tiveram. Conceito que, estou em crer, lhe é incompreensível. Mas também é por isso que você responde à crítica com esse palavreado carregado de desprezo e eu lhe respondo com a descontracção de quem sabe que hoje é sexta-feira.
O liberalismo apenas funciona bem quando o interesse pessoal de cada indivíduo contempla igualmente o bem-estar e felicidade do próximo.
O socialismo apenas funciona bem quando o o bem-estar e a felicidade do próximo está contemplado no interesse pessoal de cada indivíduo.
O socialismo falha por os seus seguidores frequentemente pensarem, erroneamente, que os outros são obrigados a interessar-se pela felicidade e bem-estar dos outros, quando na verdade, tal predisposição na verdade só pode ser voluntária. Não existem direitos gratuitos adquiridos. Grande ilusão essa…
O liberalismo falha por os seus seguidores frequentemente pensarem que o homem, em pleno exercício da sua liberdade, procederá sempre de modo benéfico para a sociedade. Acontece que o conflito de interesses existe, e que tal implica que uns queiram prejudicar outros e que tão pouco se importem com o seu bem-estar e felicidade, o que leva inevitavelmente ao tumulto social.
Assim, o liberalismo funciona quando os indivíduos desenvolvem uma forte predisposição social, e o socialismo funciona quando os indivíduos têm a noção que o altruísmo deve ser voluntário e não coercivo. É inevitável o choque de contradições entre ambas as posturas, e a sua resolução certamente ocupará as mentes economistas mais brilhantes nos muitos anos que se seguem.
Justino Rodrigues,
“O liberalismo falha por os seus seguidores frequentemente pensarem que o homem, em pleno exercício da sua liberdade, procederá sempre de modo benéfico para a sociedade.”
Não é verdade. Os “seguidores do liberalismo” acreditam que:
1. Cada indivíduo decidirá melhor sobre o que é benéfico para ele próprio do que um qualquer burocrata que não conhece nem nunca poderá conhecer a situação particular de cada indivíduo;
2. Que esses burocratas, regra geral, tomarão as decisões que afectam a vida dos outros de acordo com o que é melhor para eles próprios (os burocratas);
3. A sociedade não é homogénea e, portanto, não é possível identificar o que é melhor para a sociedade como um todo mas apenas o que em cada momento particular é melhor para um determinado sector da sociedade, normalmente à custa de outro;
4. A soma do que é melhor para cada indivíduo (decidido pelo próprio) produz um resultado mais positivo e justo (mais “benéfico para a sociedade”) do que a imposição do que um pequeno grupo decida que é melhor para todos.
Só por curiosidade, os “thumbs down” ao meu comentário anterior são de liberais que não se revêem no que escrevi ou de quem se opõe ao liberalismo?
Um alerta a todos. Este comentário visa esclarecer uma série de questões levantadas por várias pessoas.
O artigo deixou de tocar num ponto absolutamente essencial, o que levou a muitas incompreensões por parte dos comentaristas. Esse ponto é o SISTEMA DE RESERVAS FRACIONÁRIAS e outras formas de criação de dinheiro, defendido pelos socialistas revolucionários, socialistas fabianos e pelos keynesianos.
Existe um conceito que muitos não conhecem: Inflação monetária, que é o conceito original de inflação. É saudável para a economia a criação descontrolada de dinheiro? O governo pode achar útil criar grandes quantidades de dinheiro, para custear seus gastos. Criação de dinheiro do nada (seja como cédulas, seja como dígitos) chama-se inflação monetária. Dinheiro é uma mercadoria, no sentido de que é algo que se troca por outros bens. A inflação monetária faz com que, por causa da lei da oferta e da demanda, o “preço” do dinheiro em relação a outros bens diminua, o que na prática é o aumento dos preços dos outros bens em relação ao dinheiro. A isso se chama inflação de preços. Alternativamente, o governo em conluio com o sistema financeiro pode criar “bolhas” que absorvem grande parte desse dinheiro extra, provocando um aumento injustificado de certos ativos (ações de certas empresas ou casas ou certos tipos de títulos). Por injustificado entenda-se que a renda prevista desses ativos não justifica o seu preço (exuberância irracional), que é justificado apenas pelo fato de que os agentes econômicos preveem um aumento futuro dos seus preços de vendo como extrapolação de aumentos passados. Essas bolhas, num mercado REALMENTE livre, seriam incomuns, ou pelo menos bem limitadas no tempo (e portanto, na intensidade). Mas o governo manipula dados, agentes, preços, juros, para produzir e manter essas bolhas, numa intensidade e duração enormes. Assim, os governos desviam grande parte dos efeitos inflacionários dos preços do varejo para os preços de alguns poucos ativos. Um governo em particular, os EUA, dada a aceitação de sua moeda no comércio internacional, distribui os efeitos negativos de suas inflações monetárias pelo mundo todo, aliviando assim os efeitos sobre eles mesmos.
Outra forma de criação de dinheiro é o já citado sistema de reservas fracionárias, que consiste no empréstimo, pelos bancos de parte do dinheiro que está em depósitos a vista (ou exigíveis a vista ou a curto prazo). Evidentemente que isso faz com que haja o mesmo dinheiro ao mesmo tempo para dois clientes (o depositante e o mutuário), e durante o prazo de vigência do contrato, haverá um aumento da quantidade de dinheiro na economia (inflação monetária). Não é de hoje que os bancos fazem isso, mas no passado isso era uma manobra arriscada (põe em risco a solidez do banco) e ilegal, o que fazia com que os bancos fossem muito mais moderados nesse tipo de tramóia. Do meio do século XIX para as primeiras décadas do século XX, a manobra não só deixou de ser considerada ilegal, mas passou a ser cada vez mais incentivada e protegida por todos os governos. Para isso mesmo foram criados os bancos centrais, para organizar esse tipo de manobra de forma controlada (evitar desacerto entre os bancos e evitar a hiperinflação), e proteger os bancos, sendo em emprestador de última instância.
Continua….
A primeira incompreensão por parte dos comentaristas é sobre a restrição do autor aos juros baixos. Juros baixos são uma maravilha, todo mundo quer, e não há nada de mal em querê-los. Num mercado livre e sem fraudes, juros é principalmente uma arbitragem entre o desejo das pessoas de obterem valores antecipadamente (seja para um consumo, para a compra de um bem caro e importante – como uma casa – para investimentos, para cobrir gastos inesperados – como uma doença) e a disponibilidade de outras pessoas de abrirem mão de suas riquezas, por um tempo. Num mercado livre, juros não são “altos demais” nem “baixos de mais”, são o que são. Se o governo tentar interferir, baixando os juros, menos pessoas se disporão a emprestar, e haverá falta de dinheiro para empréstimos. Se o governo tentar interferir aumentando os juros, menos pessoas tomarão emprestado, e sobrará dinheiro sem ter quem o empreste. Então os governos não fazem isso.
Mas é ai que entra o atual sistema de reservas fracionarias. Os governos “abaixam” os juros incentivando os bancos a aumentarem seus empréstimos em relação aos depósitos (criando portanto, dinheiro) ou próprio governo criando também dinheiro, ou fazendo as duas coisas.
É CONTRA ESSA DIMINUIÇÃO DOS JUROS VIA INFLAÇÃO QUE OS LIBERTÁRIOS (sejam miniarquistas, sejam anarquistas) PROTESTAM.
Continua…
Outra incompreensão dos comentaristas é sobre muitas supostas “falhas dos mercados”. O que se chama de mercado, hoje em dia, não é de maneira alguma um mercado livre, mas sim altamente distorcido por intervenções profundas. O sistema financeiro coordenado pelos bancos centrais é uma das mais profundas dessas intervenções. Ao criar dinheiro do nada em larga escala (e incitar os bancos a fazerem o mesmo) o governo não está praticando uma medida neutra. Os efeitos nos preços ao consumidor podem ser mascarados por mecanismos diversos, e inclusive pelo aumento natural da produtividade (há mais e melhores meios de produção, com o desenvolvimento tecnológico e investimentos), mas isso não quer dizer que a inflação monetária seja inócua.
Num sistema em que o dinheiro novo entra, em grande parte, via empréstimos, o governo, os bancos, os tomadores de empréstimos e os agentes financeiros diversos aumentam sua riqueza em relação ao restante da sociedade. Mas a inflação monetária não é um mecanismo de criação REAL de riquezas. Inflação monetária em si, não muda a relação consumo/investimento, e portanto não faz com que haja mais investimento do que haveria de outra forma, embora mude os tipos de investimentos. Se ela não aumenta a riqueza total, mas aumenta a riqueza de alguns, então tira do restante da sociedade, é um mecanismo de transferência de riquezas, e pior ainda, transfere riquezas principalmente para os mais ricos. Sendo em princípio um jogo de soma zero, que favorece os de ganho acima da média, logo tira dos pobres para dar aos ricos. A maioria dos que ganham com a inflação monetária tem mais riqueza e/ou renda que a media, o que prova o que estou dizendo. E, num estágio mais a frente, a inflação se revelará não só um sistema de soma zero, mas um sistema de soma negativa, diminuindo o aumento de riqueza, ou mesmo diminuindo a riqueza.
Num mercado livre, nada obrigaria a que todos tivessem exatamente a mesma renda, mas a diferença de renda seria bem menor do que sistema inflacionário. Isso explica em parte o fato do excesso de riqueza de alguns ser tão imenso (há diversos outros mecanismos de intervenção que também vão no mesmo sentido, de tirar dos pobres e dar aos ricos).
Se é tão ruim, porque os governos fazem? O governo tira riquezas da sociedade através do “imposto inflacionário”! (afinal, o governo pertence ao grupo dos que ganham) que é bastante imperceptível. Ao ver os preços aumentando, o povo culpa os comerciantes, e não o governo. E quando a realidade bate à porta e a crise causada pela inflação vem, já se passaram vários anos, o governante provavelmente nem está mais lá, e se estiver, atribuirá a crise a outras causas, no que será apoiado por jornalistas desonestos e/ou ignorantes.
Continua…