Um liberal a favor de uma greve

Para que fique bem claro, eu acho que todos deveríamos estar a fazer greve, mas por outros motivos. Por uma escola descentralizada, experimentalista e autónoma, com livre escolha dos pais e concorrência livre do privado, com independência pedagógica e com financiamento discricionário ao aluno e não à escola. Com liberdade para contratar e despedir. Isso sim, merecia uma greve. Isto não serve a ninguém. Palacetes e piscinas olímpicas que albergam a mediocridade que os parasita.

27 pensamentos sobre “Um liberal a favor de uma greve

  1. Carlos Duarte

    Se calhar a intenção é boa, mas o que propõe tem mais disparates que acertos:

    “Descentralizada”? De acordo, mas quem gere?

    “Experimentalista”? Já não chegou de experiências?

    “Autónoma”? No seguimento do “Descentralizada”, autónoma em relação a quem?

    “Livre escolha dos pais”? Certo, e se para uma escola com 100 vagas concorrerem 200 alunos, quais são os critérios? Altos, loiros e de olhos azuis?

    “Concorrência livre do privado”? Já existe, não vejo restrições ao ensino privado.

    “Independência pedagógica”? Livres para ensinar que o mundo se criou em 7 dias, que na Turquia nunca se fez nada aos Arménios, que a URSS era o paraíso do proletariado e que a Homeopatia é que faz bem…

    “Financiamente discricionário (…)” Com que discrição? Estilo Euromilhões?

    “Com liberdade para contratar e despedir” Vá lá… menos mal… mas quem contratava e quem despedia (Ver o “Descentralizada” e o “Autónoma”)

    Enfim…

  2. Carlos Duarte

    Antes de mais, queria pedir desculpa pelo uso do termo “disparates” no post anterior… estou um bocado enervado com o aproveitamento da greve hoje pelo Sr. do Bigode (o da FENPROF). O resto do post (com excepção do “enfim” no final) mantenho.

  3. lucklucky

    “Já existe, não vejo restrições ao ensino privado.”
    Acabou de demonstrar uma data delas…

    ““Descentralizada”? De acordo, mas quem gere?”

    O proprietário.

    “Livre escolha dos pais”? Certo, e se para uma escola com 100 vagas concorrerem 200 alunos, quais são os critérios? Altos, loiros e de olhos azuis?

    Como quiserem.

    “Livres para ensinar que o mundo se criou em 7 dias, que na Turquia nunca se fez nada aos Arménios, que a URSS era o paraíso do proletariado e que a Homeopatia é que faz bem…”

    Obviamente que Sim.

  4. Carlos Duarte

    Caro lucklucky,

    Como a discordância com o seu comentário é absolutamente ideológica (Vc. não considera que o Estado deva ter nada a ver com a educação dos seus cidadãos, eu considero que sim e que deve-se pautar por uma educação adequada e não-ideológica), vou-me abster de comentar.

  5. Francisco Colaço

    Carlos Duarte,

    Não há razão pela qual as escolas não devam ser entidades com fins lucrativos (mesmo se cooperativas com fins lucrativos, por que não?) As escolas devem definir o seu programa e os seus currículos, adaptados a exames nacionais uniformes. Prepararão os alunos para esses exames, os quais avaliarão os alunos e as escolas. A informação da classificação das escolas, dada aos pais, será por estes ponderada.

    Uma turma anda por volta dos EUR 75,000/ano (c. 20 alunos), dados do próprio Mentistério da Indulcação. Ora, o custo por aluno anda por isso por pert dos EUR 3500,00 – 4000,00, dependendo do grau de ensino.

    Há quatro jogadores fundamentais no campo educativo, que têm interesses firmados nesse campo (stakeholders, assim se chamam na língua de Milton, o dos poemas, não o pindérico):

    1) O aluno (por vezes não parece que ele anda por lá, pelo que passam os sindicatos, porém anda);
    2) A empresa / futuro empregador ou cliente;
    3) A família do aluno;
    4) O professor e o administrador escolar.

    Na minha vista de porco capitalista, habituado a organizar o caos empresarial, estas são, na essência, e por ordem de importância, os jogadores. O professor está em último, não por ser menos importante, mas por ser ele que se tem de adaptar as exigências do aluno, do empregador e da família do aluno, e por esta ordem.

    O Estado não é um jogador natural no campo educativo. Forçou-se a entrada, meteu o pé na porta e não há quem o tire dali. Na minha opinião, o Estado foi útil no início da escola universal. Mas agora, que a roda está em movimento, o Estado deve saber quando se está a mais e sair pelo seu próprio pé.

    É claro que ninguém advoga que os pais paguem inteiramente a educação. Mais, eu advogo que os pais paguem nada. O cheque ensino serve para isso mesmo: para que os pais tenham sempre assegurada a educação obrigatória e em bonora imposta aos seus rebentos. E isso não acontece hoje, nem na escola pública. Na verdade, pagamos, para a pandilha dos livros escolares, um tributo leonino, obrigatório, extorsionário e mafioso.

    As escolas devem poder escolher os seus alunos. Uma escola que apenas aceite alunas loiras e de olhos azuis não terá muita hipótese, e ainda terá de lidar com os milhentos moços namoradeiros que, qual lobos, guardarão as portas desta. As escolas escolherão os alunos mais promissores porque desejam, imagine-se porquê!, singrar nos exames. Irão haver escolas que oferecerão atividades extra-curriculares a troco de dinheiro (aulas de dança, golfe, andar de cavalo, xadrez, pintura, karaté, clubes de robótica, clubes de fotografia, aulas de programação de computadores, tutoria personalizada, por exemplo). A maior parte do alunos irá simplesmente fazer tábua rasa disso e cingir-se às atividades curriculares obrigatórias. E fará muito bem!

    Na óptica presente o Estado, o omnipresente Estado, o imprescindível Estado, é o centro do sistema educativo. Não o aluno. Depois vêm os professores (não O PROFESSOR! no singular majestático, mas os professores como classe etérea). Finalmente vem o Pr-s-dente da Câ-m-ra. O aluno e a família do aluno, esse até poderia estar fora da escola, que elas funcionavam melhop! E é assim pensando que vários professores se assolapam aos horários zero — pertencer ao Clube do Dia 22 sem vergar a mola é um privilégio exclusivo da escola pública, e mesmo assim não é para todos.

  6. Francisco Colaço

    Carlos Duarte,

    “Livres para ensinar que o mundo se criou em 7 dias, que na Turquia nunca se fez nada aos Arménios, que a URSS era o paraíso do proletariado e que a Homeopatia é que faz bem…”

    As escolas privadas são livres para ensinar isso. As famílias são livres de matricular ou não alunos. Uma escola que ensine isso não terá muitos alunos. O problema resolve-se: a escola muda de linha educativa ou acaba.

    As escolas públicas são obrigadas a demonizar o capitalismo, a ensinar que o 25 de Abril foi uma revolução do povo (e não de quem foi), que os valores que as famílias ensinam às crianças são todos errados e retrógrados. Um professor pode aparecer etilizado meses sem fio nas aulas (caso real!). As famílias não têm liberdade de mandar o professor às malvas ou de matricular os seus filhos noutra escola. O problema arca-se: a escola não tem incentivos para mudar e perpetua a sua iniquidade.

  7. Carlos Duarte

    Caro Francisco (se me permite),

    Não tenho nada contra os fins lucrativos das Escolas privadas e acho um disparate a exigência que as mesmas sejam sem fim lucrativos. Por mim podem ser sociedades por quotas ou anónimas.

    Mais, estamos em pleno acordo que os programas devem ser livres MAS ajustados a um currículo nacional (o post original do Mário apontava a uma liberdade total, que me oponho). Por currículo entenda-se uma definição de matérias que irão ser avaliadas por exame, NÃO a definição estrita de livros. No entanto, acho que da mesma forma que o Estado define matérias a avaliar em exame deve restringir o ensino de falsidades (manifestamente provadas) se estas existirem.

    Quanto ao cheque-ensino, tenho dúvidas exactamente por causa dos critérios de selecção. É óbvio que o exemplo dos altos e louros é figurativo, mas uma “guetização” legal das escolas parece-me pernicioso. Note que não tenho nada contra a selecção com base em critérios de mérito – aliás, sou muito a favor – ou critérios de racionalidade geográfica (prioridade a residentes no concelho e/ou num raio de x km) ou familiar (existência de irmãos na escola ou mesmo alumni), mas sim a critérios puramente discricionários (como condição social ou aparência física). Critérios religiosos (pertencer à religião ou religiões próximas) ou associativas (membros de associações) não me choca também, desde que o acesso a esses critérios seja livre (i.e. Vc. é livre de pertencer a qualquer religião ou o acesso a uma determinada associação é livre).

    Mais ainda, não tenho nenhum problema (e acho positivo) que o Estado mantenha Escolas públicas, nas seguintes condições:

    – Inexistência de privados
    – Existência de privados, mas de qualidade inferior ao exigível (sendo definido um benchmark mínimo a nível nacional)
    – Pré-existência de escola (i.e. sendo implementado um sistema novo, as escolas públicas existentes manter-se-iam enquanto existissem alunos)

    No pontos 1 e 2. referido acima, as novas escolas públicas seriam criadas com a condição do seu concessão a partir do momento em que o sistema se auto-equilibrasse, podendo a concessão reverter ao Estado em caso de degradação.

  8. Carlos Duarte

    Caro Francisco,

    Em relação ao seu 2.º comentário, discordo. Existem parâmetros mínimos (mesmo em ciências sociais) de ensino. Esse ensino deve é ser imparcial ou, na impossibilidade da imparcialidade, serem ensinados pontos de vista contraditórios.

    No caso do 25-A (o seu exemplo) ensinar que foi uma revolução é errado, que foi um golpe de estado correcto. Não me lembro de me ter sido “demonizado o capitalismo” (e eu sou capitalista – dentro de limites) e não acho que seja função das escolas educar as crianças (ensinar sim, educar não), mas infelizmente é isso que se passa, até por demissão dos pais. E concordo em pleno que deveria existir um controlo mais apertado dos professores e algum poder para corrigir irregularidades. Mas esse poder deve existir igualmente dos professores para os alunos (e não existe).

  9. Francisco Colaço

    Carlos Duarte,

    Exames nacionais uniformes implicam um curriculum nacional, pelo menos como base mínima do currículo escolar. Problema resolvido. 😀

    Quanto à guetização (ah, os bairros da Veneza medieval!), ou no caso nacional Chelização ou Reboleirização: um aluno que se esforce poderá sempre entrar numa escola melhor. A melhor escola serve os interesses dos alunos mais interessados e proficientes. Outra escola servirá o ensino para alunos que necessitam de mais estímulos e de progressão especial. Neste momento tem um baixíssimo máximo divisor comum, segundo a teoria do Lean Manufacturing (o processo é tão rápido quanto o mais lento dos seus componentes). Se vir bem, a segregação já existe inter-escola: normalmente juntam-se numa qualquer turma de repetentes os calaceiros, os ignaros e os amoratos.

  10. Carlos Duarte

    Caro Francisco,

    Não me venha com o Lean Manufacturing que eu só vi o mesmo a dar asneiras sob stress. 😉

    Mas concordo no geral com o seu comentário, no entanto deve existir protecção à guetização. Se o referido aluno for limitado por vir do tal bairro, isso não deve ser permitido.

  11. Manuel Oliveira

    Convém deixar claro que têm que haver um programa nacional que tem que ser cumprido.

    E depois convém também lembrar que há determinados valores (constitucionais até) como secularismo, protecção de minorias, anti-racismo, anti-sexismo, liberdade de expressão, e tolerância que a escola deveria promover, e por isso não é aceitável que se dê um cheque-ensino a uma instituição que vai contra esses valores, e se calhar deveria ser condenável que houvessem instituições a ensinar esse conteúdos mesmo que financiadas totalmente por privados, mas este caso já faz parte do debate público, e não de decisões políticas.

    A ideia que os pais escolhem a educação a dar aos seus filhos é muito nobre, mas há que ter muito cuidado quando o juízo dos país está afectado por ignorância, ideologia ou religião, acabando por não dar aos miúdos a melhor educação que poderia ter porque estes acabam por ser “guetizados”/isolados, ou quando eles não estão muito conscientes de como opera a escola que os seus filhos frequentam ( http://www.snopes.com/photos/signs/sciencetest.asp ), e é por causa disso que o estado tem preferencialmente intervido na educação. Porque, segundo as palavras do Lawrence Krauss, o objectivo da educação é acabar com a ignorância, não valida-la. Caso de estudo: http://www.youtube.com/watch?v=LbQv-YSA_rI

  12. Maria

    Também concordo com a livre escolha, mas a 100%. Será que, com o cheque ensino, o Colégio Moderno e outros, afins, aceitarão a livre escolha dos pais? Os pais que têm os filhos nesses colégios aceitarão que os seus rebentos, tratados por você, partilhem as salas com os filhos dos pais incapazes de garantir a própria subsistência, quanto mais a educação dos filhos? Ou estes ficarão condenados à escola pública, reduzida ao mínimo dos mínimos?
    Acredito que seja preciso reformar a educação e até despedir pessoas mas, mais uma vez por exemplo e coerência comecem por cima, pelas escolas sem qualidade e sem regra que formam candidatos a professores.
    Não conhecêssemos nós o portugalex e acreditaríamos no milagre da inocência dos defensores da livre escolha!

  13. Francisco Colaço

    Carlos Duarte,

    Não me venha com o Lean Manufacturing que eu só vi o mesmo a dar asneiras sob stress. 😉

    Si non è vero, è ben trovato. E creio que é bem verdade isso. Quem tenta implantar lean sem o verdadeiro bom senso faz asneira da grossa.

  14. Francisco Colaço

    Carlos Duarte,

    Uma escola A não irá distinguir um aluno por ser do bairro B. Os Montéquios contra Capuletos dá uma boa história de amor e uma magistral obra sinfónica, mas é raro acontecer no mundo dos negócios. Neste momento, o aluno do bairro B não pode escolher a escola A, a menos que cumpra condições em lei (estupidez que a lei verse sobre coisas que nunca deveria versar).

    Um aluno do bairro B deveria poder escolher a escola A. Se for um bom aluno, pode crer que a escola A vai fazer tudo o que puder para o ter lá. Um bom aluno é prenunciante de um bom resultado da própria escola nos exames escolares, condição primeva para a preferência das famílias dos alunos. Uma escola que rejeite um excelente aluno meramente por ser negro ou por ser de pais pobres é uma escola que à partida não merecerá a minha anuência. Perde as minhas três crianças e outras tantas. Porque valores desses não são transmitidos por mim aos meus filhos e rejeito liminarmente quem os tente transmitir. Essas escolas acabam por cometer suicídio por asinice.

  15. José Maia

    “Quanto à guetização (ah, os bairros da Veneza medieval!), ou no caso nacional Chelização ou Reboleirização: um aluno que se esforce poderá sempre entrar numa escola melhor.”

    O esforço é abstracção não facilmente mensurável e nem sempre corresponde a bons resultados. Há quem pela metade do esforço seja mais bem sucedido que o que se esforçou o dobro. É daquelas coisas em que quem tem berço não tem tudo mas quase.

    Só de pensar na rivalidade inter-capelinhas que se seguiria com a privatização e liberalização total do ensino recordo-me que, de facto, os medievais estavam certos quando afirmavam que a Liberdade é uma ilusão.

  16. Revoltado

    Quando leio alguns destes comentários fico com a sensação que estas pessoas vivem num país diferente do meu. Mas acham mesmo que uma escola privada “de bem” alguma vez aceitará alunos de zonas excluídas, por melhores alunos que estes sejam? Confiam na isenção dos directores de escola para que estes façam as melhores escolhas para os quadros profissionais? Acham que alguma vez algum director vai preterir um familiar a outro profissional, por melhores que sejam as competências desse profissional? No caso do ensino a intervenção do estado é o único garante de isenção e de que, melhor ou pior, todos os alunos têm acesso a uma educação do mesmo nível. Nem todos os sectores devem ser liberalizados, a meu ver o ensino é um deles.

  17. Carlos Duarte

    Caro Francisco,

    Eu quando estava em Inglaterra vi a Honda a passar as passas do Algarve por causa da sua implementação do Lean… falhou um fornecedor na cadeia (JIT) por causa dos nevões e aquilo bloqueou. Depois acho que ganharam juízo…

    Em relação à educação, eu não me preocupava se Vc. fosse o dono da escola ou outras pessoas de bom senso (que, apesar das minhas críticas neste blog, habitam por estas bandas), mas sim as de “mau senso.” O problema não é Vc. ou eu, são os alunos eventualmente rejeitados não porque são menos capazes (isso é uma razão válida) mas porque têm a cor errada ou o papá não anda de BMW ou Porsche. Actualmente isso – por estranho que pareça – é mitigado por propinas altas, mas igualizando o acesso (via cheque ensino universal) ia trazer problemas.

  18. Francisco Colaço

    A liberdade, José Maia, não é, na minha opinião, uma ilusão. É um convénio entre homens que se respeitam.

    Quanto aos resultados, esses são mensuráveis, e por isso chama-se resultados. O esforço não é, e nisso dou bem de barato que o Maia tem razão plena. Não o desminto. No entanto, a vida é mesmo assim. Há pessoas que parecem ser boas em tudo e nem desalinham o cabelo num esforço que mete outra no banco de urgência do Santa Maria. A vida é extremamente injusta. Há no entanto um consolo: todos nós, quase sem excepção, parecemos ser extremamente bons pelo menos numa coisa. Aqueles que encontram essa coisa, desde que se encontre também quem esteja disposto a pagar por esse desempenho, têm a vida assegurada.

    Por vezes não é a escola, ou o desempenho intelectual. Posso dar-lhe exemplo de várias pessoas de minhas relações que em absoluto não conseguem ter pensamento abstrato. Mas conseguem tê-lo concreto, no contexto certo. Por exemplo, uma dessas pessoas não consegue fazer a conta 64+36 por mais que queira dele obter isso. Porém, se lhe disser que tem de pagar 64 euros com uma nota de 100, de imediato lhe dirão que o troco é 36 euros. Go figure! Há muito que os consideram brutos. Eu considero-os extremamente inteligentes, mas simplesmente incapazes de pensamento abstrato. Este mesmo homem é capaz de lhe manobrar uma qualquer máquina de construção (empilhador, giratória, niveladora, retroescavadora, grua) com precisão milimétrica e planear com antecedência impressionante os movimentos a fazer.

  19. Francisco Colaço

    Carlos Duarte,

    Escolas de propinas altas e de filhos de papá já as tem hoje. São normalmente prefixadas “Colégio”. Nelas, o professor de história fala de civilizações antigas e os alunos dizem de imediato: «já lá estive no ano passado». Agora, veja onde estas escolas estão nas séries de resultados das escolas.

    No fundo, as elites tendem a perpetuar-se, e trabalham muito para o fazer. Os manigantes que andam com o ensino público na boca e têm os filhos no privado (Soares, Sócrates, por exemplo) não querem o cheque ensino. Assim, asseguram aos SEUS próprios filhos um ensino de qualidade (e aumentam as suas hipóteses de sucesso) enquanto mantêm os nossos no pântano (na mediocridade).

    Quer conhecer um hipocrita? Olhe para quem defende o Esse-ene-esse com unhas e dentes, mas vai pela ADSE ao privado. Quem defende a escola pública e coloca os seus próprios filhos no colégio de Nossa Senhora da Pinderice. Quem defende pela boca os tr-b-lh-dores c-m-radas, mas não trabalha ao seu lado, e aproveita o tempo do sindicato para tirar dótóramentos em inutilidades diversas. Esses são hipo-ó-critas (ressalvo o prefixo cavalar).

    E fazem-nos a todos de burro.

  20. Comunista

    As elites trabalham muito, ao contrário dos trabalhadores que trabalham para as elites replicarem o seu estilo de vida, que são todos mamões de regalias e direitos… Só numa sociedade doente é que as elites são todas definidas por riqueza material como é o nosso caso. As nossas elites são brutas, são herdeiras dos fidalgos que se passeavam de rendas e brocados enquanto o povo passava fome e tinha que bazar para as selvas brasileiras.
    Toda a gente fala da falta de produtividade de Portugal e muitos falam dos sindicatos – poucos falam das elites, dos detentores do capital e da sua incapacidade de gerar riqueza. Os filhos das elites dividem-se entre os que estão a solicitar aos governos e os que estão no governo a providenciar as solicitações – é assim que se fazem BPNs, PPPs e Swaps…

  21. Francisco Colaço

    Muito bem, Comunista. A prevalência e a imutabilidade das elites é uma característica inata aos estados socialistas. Olhe por exemplo Cuba: um barbudo usa Nike e tem 900 milhões de euros no banco no exterior (números de 2009, porventura já ultrapassados). Um tipo do povo precisa de trabalhar um ano inteiro para comprar o par de sapatilhas que o barbudo usa.

    Na União Soviética produziam-se as ZIL, provavelmente as melhores limusinas que o mundo já produziu (pelo menos para a época). Apesar disso a Praça Vermelha estava cheia de Mercedes para a elite e os seus filhos. Um russo médio tinha de pagar um Lada a dinheiro, adiantado, e recebê-lo-ia anos depois.

    Nos anos 60, o diferencial entre os ordenados do empregado e do director da empresa era em média de 4/1. Na URSS era de 10/1 (fixo).

    Na Coreia do Norte existe um restaurante italiano para os filhos da elite. Ninguém pode lá entrar senão por convite. Existe um Chef italiano pago a peso de ouro pelo Jon’un. O Jon’un é um ávido utilizador da Internet (e se quiser posso-lhe dar o nick dele; garanto-lhe pessoalmente que ele é uma simpatia). Ele e uma elite usam a Internet. O resto do povo não tem acesso à Internet. Quando muito haverá uma espécie de intranet nacional privada. Claro que o Jon’un anda gordo como um cerdo, enquanto o povo não sabe o que é comer bem.

    Por estes exemplos vem a lei: a distância entre o povo e as elites é directamente proporcional ao quadrado dos aleivos socialistas na economia nacional.

  22. O meu artigo não pretendia demonstrar o mérito da minha proposta, mas tão simplesmente que é possível um liberal ser a favor de uma greve. No entanto, dado que surgiram algumas ambiguidades (em nenhum momento sugeri liberdade pedagógica total ou inconstitucional que promova o neonazismo), penso que tal exige um esclarecimento extra.

    De resto, agradeço aos comentadores, que introduziram importantes pontos de vista na questão. Deixo para reflexão que a prioridade não é tanto a privatização, mas a criação de um sistema de livre competição e inovador, que permita seguir o exemplo dos melhores e reformar os piores, coisa que hoje em dia não acontece. A privatização seria uma consequência lógica disto.

  23. Carlos Duarte

    Caro Francisco,

    Mas a mim não me choca que quem tem meios possa aceder a colégio privado e essa não deve ser a preocupação do Estado. A preocupação do Estado deve ser de garantir padrões mínimos (e por mínimos, não se entenda minimalistas) de ensino, sendo o método a discutir (que é o que fazemos aqui).

    Como tal, não acho hipócrita que o Sócrates ou o Soares tenham os filhos nas privadas (têm meios para isso). Já quanto aos sindicatos, de acordo!

  24. Francisco Colaço

    Carlos Duarte,

    No tocante aos Sócrates e Soares, quando os primeiros falam da xe-lên-cia e da equidade (a capacidade de nos transformar em equídeos) do SNS, mas usam a concorrência quando a escolha lhes é posta em mãos, há que desconfiar qu’anda cabrito na horta.

  25. Francisco Colaço

    Se eu fosse o Ministro da educação, criaria três prémios, reavaliados ano a ano lectivo:

    25% do salário para os 200 docentes que apresentem notas mais altas nos exames nacionais.

    10% do salário para todos os funcionários (professores, funcionários administrativos e auxiliares, e até para o guarda da portaria) sobre o salário das 100 escolas que mais se evidenciassem nas provas nacionais dos diversos graus de ensino.

    10% do salário para as 100 escolas que mais subissem na classificação de um ano para o outro (no diferencial das notas de um ano para o outro).

    Quer ver que, se isso não resolve o problema, ajuda muito?

    Em contas grossas, tomando como referencial o salário médio de um professor, iria gastar 1.700.000 por ano no primeiro prémio (3000*14*0.2*200), nos outros prémios cerca de 50 milhões de euros em cada (assumo salário médio + TSU de EUR 2500, 14 meses, 100 funcionários por escola — há escolas básicas com uma dezena de funcionários). O conjunto dos prémios amonta a c. 0,2% do orçamento do Ministério da Educação.

    Alguém aqui poderia divisar outros prémios que premiassem os gestores das escolas (a la Seymour Skinner) que se evidenciassem na eficiência de custos para atingir bons resultados. Por exemplo, se numa escola determinada a nota dos exames subisse substancialmente sem haver alteração da estrutura de custos por aluno e dos seus valores, o gestor ou a equipa de gestão deveriam ser premiados. Sem conhecer em pormenor os meandros da administração escolar (e já estando horrorizado com o pouco &nsbp; muito &nsbp; que vou conhecendo), defiro a outros a oportunidade de sugerir um tipo de distinção para esta classe de profissionais.

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