O ministro Álvaro Santos Pereira quer que as empresas tenham «spreads razoáveis». Ele lá deve saber o que isso significa. E anunciou mesmo que vai «celebrar um protocolo» com os bancos. E quer ter a CGD a «liderar o financiamento às PME». E linhas de crédito milionárias e mais não sei quê. O «protocolo» lá explicará o que fará o Governo para que a banca diminua os spreads. Não sabemos, embora seguindo o saudável princípio heurístico de que não há almoços à borla no universo, tenhamos razões para temer o pior. Quando se mete o governo a anunciar spreads «baixados» para as empresas apetece fechar as janelas e trancar as portas, não vá a coisa passar de propaganda. Uma coisa eu sei de ciência certa: um Estado com um défice de 6,4% do PIB, ou melhor pior: um Estado com necessidades brutas de financiamento de 40.000 milhões de euros, parte significativa dos quais a financiar no mercado, é natural que não deixe sobrar dinheiro para eventual crédito às empresas, especialmente a juros comportáveis. É o tal crowding-out que confundiu o licenciado João Galamba e levou o governador do Banco de Portugal uma vez a chamar-lhe ignorante (tem um lindo nome em português: efeito de evicção). E que tal pôr o Estado a poupar para que as empresas possam investir? Falando de coisas mais picuinhas: a liquidação dos milhares de milhões de dívidas em atraso do Estado às empresas está na agenda para o crescimento? Vai por aí uma ventania, com metas de crescimento de 3% para 2000 e não sei quantos (onde é que eu já ouvi isto?), que subitamente me senti um pouco enjoado e regressado ao tempo do inominável que agora assombra ao domingo. Esperemos que seja passageiro.
http://notaslivres.blogspot.pt/2012/09/medida-2-criacao-de-condicoes-para.html