Nem eu, nem ninguém hoje sabe muito bem como é que o país vai sair do seu labirinto, porque é num labirinto que se encontra. Um dos mantras dominantes é o do consenso. Das poucas coisas que sei é que, deixando de lado as abstracções, o único consenso concreto, efectivo, que se conhece é aquele em nome do qual todas as oposições (mais uma legião de figuras, figurinhas e figurões que a elas não pertence(ria)m) vociferam contra o que quer que seja que represente uma alteração do status quo. É o consenso que nos instalou no labirinto depois de nos conduzir à queda. É o consenso na vigência do qual se ergueu no país um Estado cronicamente deficitário, volto a publicar o quadro (e recomendo que se espreite o outro)
um Estado por natureza inviável, destinado a implodir e ser soterrado, como está a ser.
Qualquer governo, não este em particular, qualquer governo que neste momento governasse em Portugal teria de tomar medidas que, pela força das coisas, arranham o consenso, mas não o podem questionar. São justificadas pela excepção, pela necessidade. A excepção é o que autorizaria que se suspendesse por um tempo, limitado, o que o consenso ordena, para que as condições em que a ordem consensual pode ter vigência fossem repostas.
O nosso labirinto tem esta natureza paradoxal, porque sucede que o consenso em nome do qual se argumenta, para justificar, com a excepção e as suas virtudes terapêuticas, o que o contraria, ou para a isso resistir, é o problema. É o problema no princípio. E é, como temos visto, o problema no fim. Acresce que só alusivamente podemos falar de excepção, pois excepção e sobrano, se não forem meras analogias coxas, co-determinam-se, e soberano é o que não há, pelo que a excepção também não pode ser efectivamente estabelecida, nem aquilo que o seu estabelecimento obviaria. O estado de extrema fragilidade do governo procede daqui. Não tem autoridade para estabelecer a excepção e fazer-se obedecer. Não é o soberano, embora não lhe reste alternativa que não seja aludir à excepção, à necessidade. Pareceria que para sair deste círculo vicioso seria necessário quebrar o consenso, sair do consenso. Mrs Thatcher attacked all the Establishment assumptions of her time. There shouldn’t be consensus, she said, if it was consensus for decline, recorda o seu biógrafo.
Excelente análise.
Se continuarmos sem ruptura com o consenso, consensualmente cairemos.
Parece que é o que está a acontecer já. Obrigado, André.
Ou seja o problema não é o Euro.
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