Raquel Varela? Please…

Escrevi há 2 dias um artigo atacando auto-proclamados “professores” que na verdade pouco mais são que sindicalistas e que pensam mais na sua carteira que nos seus alunos – peço desde já desculpa aos que fazem a opção contrária e não mereciam a associação – e disse que é preciso ter coragem para exigir que o Estado resolva o seu défice com mais receita e não com menos despesa, ainda para mais quando os impostos são lançados sobre uma população que ganha – em média – 777 Euros e quando os professores são desde meados da década de 90 uma classe privilegiada.

Logo um tal João José Cardoso me chamou de ignorante porque… nem sei bem porquê, simplesmente chamou. Respondi com uma perguntaQue Impostos se deveriam aumentar para poder manter o nível actual de financiamento das escolas públicas em Portugal? Afinal, se não se corta na despesa, que aumento de receita propõe o meu oponente que seja fiscalmente neutra. Vamos lá a ver, eu por mim gostava que todos fossem milionários, mas não vivemos na Terra do Natal e desde crianças todos aprendemos a fazer escolhas: ou vejo televisão, ou brinco com os colegas – não é possível viver uma vida sem fazer escolhas.

Mas aparentemente há quem deseje que sim. O mesmo João José Cardoso responde-me dizendo que “O ensino público não precisa de mais impostos“. Curioso sobre se a solução é uma guerra com extra-terrestres como advogada por Paul Krugman, ou algo ainda mais criativo, segui o link e, qual não é a minha surpresa quando o meu adversário nesta contenda me brinda com uma brincadeira? Aponta para o livro “Quem Paga o Estado Social em Portugal?” da fundadora da Raquel Varela Business School.

A mesma especialista em dívida pública que diz que Portugal em 2012 financiou-se a 57%, que o pagamento da dívida devia ser suspenso (porque não repudiar a dívida de vez?) e que a dívida é uma renda privada de alta rentabilidade porque baseada na transferência de salários para a carteira dos investidores“. Vejam o link  da Raquel Varela Business School em que o Noronha explica isso. Eu não tenho pachorra. A minha avó, sem nunca ter ido à escola e tendo aprendido contas com os irmãos, sabe mais de Economia do que esta senhora. Evocá-la é desistir de argumentar. Esta discussão acaba aqui porque chegou-se ao nível do disparate. Um dia destes divirto-me com a Raquel Varela e com o que ela diz (ela tem afirmações do mesmo calibre numa entrevista à Económico TV que vou tentar recuperar). Esta discussão estava a correr bem e não havia necessidade.

PS: O tag com o meu nome no Aventar não funciona. Podiam ao menos corrigir isso.

22 pensamentos sobre “Raquel Varela? Please…

  1. asrl

    RCM
    Começa a fazer posts de qualidade que os pedidos de desculpa evitam-se. Se tivesse sido claro e e escrito com cabeça não teria necessidade de se retratar nem de de dizer, por exemplo, que o assunto termina aqui.. mas que vai tentar recuperar um vídeo qualquer!!!
    Se quiser continuar a ser um liberal utópico (isto é, Libertarian) use a cabeça, é que escrutinar utopias não é tão díficil como possa parecer.

  2. Pingback: A capacidade argumentativa da extrema-direita é fantástica – Aventar

  3. ASRL,
    Uma pessoa vê um parasita a ser tratado nas palminhas e entusiasma-se.
    Podia ter tido o cuidado de separar mais cuidadosamente os professores a sério dos professores que pensam com o bolso, mas não me vou retratar por isso – afinal, não vejo um movimento de professores a demarcarem-se das posições do sindicato – e no fundo é sempre engraçada esta troca de argumentos.
    É claro que o professor de história ir buscar a Raquel Varela não lembra a ninguém, e por isso este ping-pong tem que parar por aqui. E ele no Aventar acaba de aceitar isso no último comentário.

    Mas que o vídeo da Raquel Varela (http://www.youtube.com/watch?v=KmptLEaLmho) já há muito merece uma resposta corrosiva, merece. E esta é uma altura tão boa como qualquer outra.

  4. Joaquim Amado Lopes

    asrl (2),
    João José Cardoso é apenas mais um imbecil militante (e ignorante) completamente impermeável aos factos, ao senso comum e ao raciocínio mais elementar. Quanto mais razoável e factualmente correcto fôr o escrito mais dificuldade ele tem em o entender.

  5. Alexandre Carvalho da Silveira

    Os professores ganham pouco? é uma questão de ponto de vista: ontem encontrei um conhecido que era professor de educação fisica, trabalhava menos de 30 horas por semana, reformou-se com 58, e aufere uma reforma superior a três mil euros.
    Claro que estava muito queixoso com os cortes que lhe calham em sorte. Mas reformar profs de ginástica ou de outra disciplina qualquer, aos 58 anos, que trabalhavam 20 e tal horas por semana, com reformas deste valor, nem na Suécia!

  6. Carlos

    Alguns reparos: 1-uma discussão de ideias e perspectivas não se conjuga com o mero insulto. 2- se alguém não gosta do livro da Raquel, então leia o do Emanuel Santos “Sem crescimento…” e verificará que ele mostra resultados iguais. 3- poderá igualmente ler o excelente estudo da Iniciativa Auditoria Cidadã, são 122 páginas muito interessantes. 4- mais uma vez: qualquer discussão deverá basear-se em análises e estudos, e não na calúnia fácil.

  7. Carlos,
    Eu nem usei adjectivos pois achei mais prudente não ir por aí, mas aquele nome significa tudo menos rigor de análise económica. Não é uma questão de “gosto”, é uma questão de saber até que ponto aquela senhora desconhece o mercado e os processos da dívida (basta ouvi-la) e até que ponto ela vai para dobrar os números às suas conclusões, definidas à partida.
    Quanto aos outros livros que sugere, hei-de ver se dou uma vista de olhos, mas se a conclusão é a mesma – ou pior ainda, “mostra resultados iguais” – então já sei que são livros que prometem facilitismos quando a situação exige sabe o quê? Trabalho, persistência e suor. Com soluções fáceis não vamos lá. Por muitos estudos que o Carlos me apresente, creio que não me vai conseguir convencer que nós afinal estamos num período de super-abundância e que a única coisa que falta é mais uma intervenção estatal…
    Mas atenção, apenas duvido. Se me provar que afinal está tudo bem, por mim melhor…

  8. Fernando

    Onde está a invocação de contratos leoninos, a respeito das PPP, por parte do Estado? Onde está um verdadeiro combate às transferências para os offshores? Quanto tempo ainda vão durar os efeitos do BPN? Onde está a punição dos responsáveis pelo que se passou no BPN? Os professores, por exemplo, têm culpa disso?

  9. Carlos de Sá

    Aqui fala-se de trabalho como se todos soubessem do que se trata! E então de suor…
    Eu, para estes liberais, tenho uma ideia: dez anos a salário mínimo, numa indústria pesada e poluente, sem quaisquer ajudas. Só para ver se ao fim desse tempo mantêm o discurso – isto pressupondo que têm tomates para aguentar os dez anos, e não se suicidam logo no final da primeira semana…

  10. Carlos

    Esta Raquel Varela é uma tonta, e deve ser malformada. Digo isto por que ela disse, quando criticou o discurso da Isabel Jonet, do Banco Alimentar, o seguinte e cito: “por isso nunca dei um grão de arroz ao Banco Alimentar contra a Fome. A fome é um flagelo, não pode ser uma arma para promover o retrocesso social que significa passarmos da solidariedade à caridade(zinha)”.
    Quem assim escreve – “por isso nunca dei um grão de arroz” – criticando a posição então tomada pela Jonet, não pode ser pessoa de bem. Penso eu.

  11. Fernando,
    – Contratos leoninos, a respeito das PPP, por parte do Estado – sou contra. É difícil é arranjar um exemplar mas quem sabe um dia destes…
    – Combate às transferências para os offshores – sou a favor, ou seja, discordo de si. Isso é um ataque à liberdade de quem tem o dinheiro.
    – Efeitos do BPN – sou contra. Por mim toda e qualquer empresa não deve ser salva. Para sectores não competitivos já temos o Estado.
    – A punição dos responsáveis pelo que se passou no BPN – espero que seja exemplar, embora conhecendo como funciona o Estado…
    – Os professores, por exemplo, têm culpa disso? – disso não. E?

  12. Guillaume Tell

    Se é a entrevista que Raquel Varela deu à Mafalda de Avelar no Ideias em Estante que estás à procura eu já me dei ao trabalho de a comentar:

    http://livrosemanias.economico.sapo.pt/42453.html

    Quanto a estas tretas do genro que “a dívida pública é uma renda privada”, é preciso lhes explicar que se não pagamos os juros os bancos não poderão remunerar a poupança visto que parte do dinheiro lá depositado é investido na dívida pública, e o próprio FEFSS, o Fundo de Estabilização Financeiro da Segurança Social, teria ainda mais dificuldade para pagar as pensões.

  13. PT

    Vamos a ver se entendi bem: após o advento da famosíssima Alfama School of Economics que tanto furor fez no consulado do estudante de filosofia, estamos agora na presença de um spin-off refinado da mesma, ou seja a Porcalhota Business School?

  14. Caro Ricardo,

    A Raquel Varela pode não ser especialista… Mas quanto aos especialistas, Álvaro de Campos disse tudo o que havia a dizer 😉

    “Um especialista é um homem que sabe qualquer coisa…

    Um especialista é um homem que sabe qualquer coisa de uma coisa e nada de todas as coisas. De uma coisa não se pode saber senão qualquer coisa, porque o conhecimento humano é limitado. E, para perceber qualquer coisa seria preciso perceber todas as coisas, pois uma coisa é parte de todas as coisas. O especialista, pois, é um homem que não sabe nada e vive dessa ciência.

    O especialista é util apenas quando a sua especialidade é tão restrita que não tem importância. Pode haver bons especialistas de pregar pregos; não pode haver bons especialistas de construção de civilizações. Há muito bons cavadores e nenhum bom psiquiatra.

    O especialista é um homem que tem a opinião dos outros, embora sobre um só assunto. O especialista é incapaz de iniciativa. Por isso os especialistas são muitos e felizes.”

  15. lucklucky

    Onde está a invocação de contratos leoninos, a respeito das PPP, por parte do Estado? Onde está um verdadeiro combate às transferências para os offshores? Quanto tempo ainda vão durar os efeitos do BPN? Onde está a punição dos responsáveis pelo que se passou no BPN? Os professores, por exemplo, têm culpa disso?

    Sim, têm.. Pelos vistos são tão ignorantes que se admiram por terem como resultado soci@lismo depois de concordarem em fazer parte do poder do estado para transformarem as crianças em soci@listas…

  16. Joaquim Amado Lopes

    miguelmadeira (19),
    Por vezes, aquilo que alguns vêem como argumentum ad hominem mais não é do que dizer que há pessoas impermeáveis aos argumentos e factos que não confirmem os seus dogmas e que, por isso, não vale a pena argumentar com eles.

  17. Pingback: Jovem de 16 anos humilha Raquel Varela | Ricardo Campelo de Magalhães

  18. Leitor

    “Que Impostos se deveriam aumentar para poder manter o nível actual de financiamento das escolas públicas em Portugal?”

    A resposta é simples e uma pessoa séria e atenta sabe-a: não é preciso aumentar impostos. Basta um combate sério e eficaz à corrupção, peculato e negociatas associadas.

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